sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

Cartas do outro mundo - 2

 

Cartas do outro mundo - 2

por Ismael Gomes Braga     Reformador (FEB) Fevereiro 1947

             Na carta de Abel Gomes, que damos a seguir, há ensinamentos tão preciosos que seria falta grave os conservarmos sem publicidade. Poucas são as frases que só interessam ao destinatário e que substituiremos por pontilhado. - I. G. B.

             “... Felicito-te a calma na tormenta. Deus não nos concede problemas desnecessários. “Em tudo permanecem os desígnios do Mais Alto, convocando-nos à redenção... E por enquanto, peças imperfeitas que somos na bigorna da vida, é imprescindível que o fogo purificador nos modifique, nos desgaste, nos transforme, de modo que possamos brilhar, algum dia, no serviço de nosso Pai. Nesse sentido é necessário o trabalho incessante. Se nos faltasse a temperatura de alta tensão, quem sabe? Talvez voltássemos à frieza de outro tempo, provavelmente a ferrugem nos consumiria devagar, relegando-nos ao esquecimento dos séculos. É por esse motivo que o meu coração se rejubila contigo nas realizações da atualidade. Tudo parece escuro, incerto. No entanto, vejo mais além. Noto-te a alegria do trabalhador que não desfaleceu, do semeador que prossegue, convencido de que o Senhor da Seara a tudo atenderá no momento oportuno. Guarda tua paz como um dom, no círculo de provas abençoadas que são igualmente dons divinos. O homem comum repudia o sofrimento, porque a ignorância constitui pesado véu a obscurecer lhe a mente. Nunca é demais asseverar que a dor é a escola mais nobre, e que a luta é o clima superior, onde as qualidades mais altas da alma se retemperam e aprimoram...

            “Esperemos o melhor, confiado n'Aquele que nunca nos abandonou no precipício. Continua, pois, trabalhando no ideal do bem e da fraternidade, Sejam o Espiritismo e o Esperanto as duas lâmpadas em tuas mãos de sincero servidor dos Planos Mais Elevados. O obstáculo acentua o poder criador. A dificuldade exerce funções de incentivo sempre que o servo aprendeu a ligar-se à esfera impessoal do bem coletivo, a cujo serviço permanecemos. Nossas mais belas horas são justamente aquelas em que ouvimos a Voz do Senhor no imo da consciência, quando as vozes humanas se degeneram em tormentosa inquietação. E a Voz Divina, filho meu, pede-nos trabalho, concurso e compreensão, de vez que precisamos observar que se o homem mantém a sua fé em Deus, Deus igualmente depõe a Sua fé paternal no homem (1). Atendamos ao Pai e prossigamos.

            “Meu abraço pela tua missão junto da Venina. Ela precisava de ti e fizemos votos e movimentamos providências para que te demorasses em Tomba-Morro (2). A situação assim exigia, e estou satisfeito por haveres compreendido a necessidade de ação no que se refere ao socorro aos necessitados. Tua adesão aos trabalhos diretos encheu-me de alegria. Não convém circunscrevermos o apostolado ao campo intelectual. Sofremos limitações enormes quando ensinamos a semear, esquivando-nos ao esforço ativo e sacrificial do contato com a Terra. Nossa crença é mais pura, nossa mente mais iluminada, quando aprendemos a fazer nossa a dor dos nossos semelhantes, quando vencemos os percalços da teoria para amarmos de algum modo os irmãos que necessitam. Podes crer que poucas excursões em tua vida presente foram tão ricas de bênçãos. E que continues, meu filho, nesse sagrado ministério da ação é o que desejo para que teu verbo esteja tocado do poder criador. Enriquecerás, dessa forma, a tua mordomia espiritual e administrarás os bens do Altíssimo com eficiência cada vez mais alta... (3)”

            (1) Refere-se ao fato de conceder Deus missões ao homem e deixar-lhe o livre arbítrio de cumprir a tarefa como melhor lhe parece ou até não cumpri-la . É bem original a expressão: "Deus tem fé no homem", mas parece exata.

                (2) Os Guias levaram-me a uma casa do campo, num lugar chamado Tomba-Morro, onde trabalhamos quinze dias em penosos casos de desobsessão. O mais violento dos obsessores compareceu a uma sessão cm Pedro Leopoldo e agradeceu os esforços feitos em seu benefício. Graças a Deus e aos Guias, ele está mais consciente de sua responsabilidade.

                (3) Parece haver agradado ao Espírito o fato de havermos abandonado numerosos e cultos auditórios das cidades, para trabalharmos num meio obscuro do campo, durante duas semanas, em favor de sofredores desconhecidos e tímidos. Mas, se bons resultados foram obtidos, nós os devemos exclusivamente à paciência do Guia Que tudo fez em quinze longas sessões e outros serviços de assistência.


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