Responsabilidade
solidária
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes) Reformador (FEB) Dezembro 1976
As dores que dominam a humanidade nascem de cada um de nós, dos erros que praticamos, das omissões em que incorremos, da desatenção que pomos em tudo o que não nos interessa frontalmente. Por isso é que, entra ano, sai ano, temos a impressão de que a Terra piora, os homens se tornam mais frios e calculistas, mais interesseiros e egoístas.
Na realidade, porém, o número dos
que confiam em Deus e dão alguma coisa de si, do seu esforço, para a melhoria
do mundo tem crescido, ainda que nem todos disso se apercebam. Dizemo-lo pelo
desenvolvimento que o Espiritismo Cristão vem registrando, principalmente neste
campo de observação mais ao alcance da nossa análise. Acontece que hoje se faz
às escâncaras o que, em outros tempos, era feito ocultamente. Agora; o despudor
é maior, graças à influência mais forte e decisiva dos meios de comunicação que
divulgam depressa e amplamente ideias tidas como importantes alterando
negativamente, às vezes, os costumes e impondo hábitos de desbragada liberdade
ao homem, à mulher, aos jovens e crianças em geral. Teorias anticristãs exaltadas
por corifeus do materialismo, invadiram todos os países ocidentais, propugnando
o abandono da educação moral, a pretexto de resguardar a criatura humana da compressão
psicológica; notem que tudo isso sucede preponderantemente nesses países, ditos cristãos.
O “berço”, a “educação de berço”
como se dizia em outros tempos, tem sido abandonada em muitos lares, porque os
pais nem sempre se capacitam das responsabilidades que assumem ao contraírem
casamento. Há propaganda contra o casamento tradicional no cinema, no teatro;
na televisão e no rádio. Defende-se o adultério e as aberrações sexuais. A
procriação é encarada quase que como um erro clamoroso e são estimulados abusos
que rebaixam a espécie humana, das quais resultam consequências tristes,
dramáticas, dolorosas, fáceis de imaginar. Homens e mulheres procedem como
animais, irmãos irracionais que, fiéis às leis da Natureza são, nesse
particular, superiores às criaturas humanas degeneradas pelo vício.
Somos vaidosos, por aceitarmos que o
homem foi feito à imagem e semelhança de Deus. Não devemos interpretar ao pé da
letra o que é de caráter implicitamente simbólico, como, por exemplo, que Deus nos
fez à Sua imagem e semelhança, conforme diz o “Gênesis”1:26: “Disse também Deus:
Façamos o homem à nossa imagem, conforme a nossa semelhança” e (v. 27) criou,
pois, Deus, o homem à sua imagem, à imagem de Deus o criou; homem e mulher os
criou”. Mas na Bíblia está, outrossim, que Deus, depois de haver formado o
homem do pó da terra, compreendendo que não seria bom que o homem estivesse só,
adormeceu-o e... eis o trecho: “Disse, mais Deus Jeová.: Não é bom que o homem
esteja só; far-lhe-ei uma adjutora que lhe seja idônea. (...) Fez Deus Jeová cair
um sono pesado sobre o homem, e este adormeceu; então tomou uma das costelas do
homem e fechou a carne no lugar dela. Da costela que Deus Jeová tinha tomado do
homem formou a mulher, e a trouxe ao homem. (...) Portanto, deixa o homem a seu
pai e a sua mãe, e se une a sua mulher; e são uma só carne.” (2:18. 21, 22 e
24).
Apreciamos e respeitemos o que está na Bíblia, sem,
contudo, deixar de exercer o discernimento que Deus nos deu. Mas, se Deus disse
“Façamos” e “nossa semelhança”. então, amigos, dar-se-á o caso de não haver
estado Ele só, quando operou essas criações? Quem seria o seu acompanhante,
ajudante, assistente, assessor ou que melhor nome tenha? Chi lo sa? É natural que estranhemos, pois, lá por volta dos
séculos IV e V r um poeta cristão, de nacionalidade espanhola - Aurélio Clement
Prudêncio -, apresentou uma teoria imaginosa, come tantas outras que andam por
aí, segundo a qual o Diabo fizera crer aos outros anjos que ele era o autor e
criador de si mesmo e que não devia por isso a Deus a sua existência. O Diabo
também se gabava de haver sido o criador da matéria extraindo-a do seu próprio corpo.
Não há dúvida de que o Diabo, Satã,
Demônio ou outro qualquer nome, foi uma das invenções mais célebres da história
da humanidade. Tem servido para muita coisa, uma das principais a chamada “política do campanário”. Com o que se
gastou com esse mito e suas terríveis proezas poder-se-ia ter acabado com a
fome e a miséria na Terra. Mas os “teólogos” da antiguidade precisavam de
alguma coisa que assustasse as criaturas humanas e as tornassem, pelo medo,
submissas e manobráveis aos planos dos que mandavam e desmandavam, ao sabor de
interesses que variavam entre o desejo de reprimir o mal com a aplicação do mal
e o de encontrar uma solução cômoda, transferindo para o Diabo, um mito, a
responsabilidade dos vícios e erros humanos.
No fundo, na encenação alegórica apresentada
pela Bíblia, há a verdade oculta pelo véu da letra. O homem, uma vez formado e
em condições de exercer o livre-arbítrio que lhe é dado com oportunidade, passa
a ser responsável por seus atos. Instruído sobre a conveniência de seguir o caminho
reto, quando falha, torna-se responsável por sua falta. De acordo com a Lei,
que o pune na proporção da gravidade da infração cometida, sofre. Quanto mais
reincide, mais padece. De nada adiantará gritar contra a dor, se não tomar a
resolução de mudar seu comportamento. Foi isto que Jesus veio esclarecer e
esclarece com extraordinária lucidez em seu Evangelho. Ele não veio modificar a
lei transmitida através de Moisés, veio cumpri-la dando-lhe correta interpretação.
Porque o Diabo é um símbolo apenas.
Eis por que devemos ter cuidado até com o que pensamos,
porque o pensamento tanto pode exercer influência favorável, positiva, como
desfavorável, negativa, contra e a nosso favor, contra e a favor de terceiros.
O mal que podemos causar a outras pessoas quando emitimos pensamentos de inveja,
ódio, despeito, antipatia, etc., recai sobre nós, aumenta o nosso débito cármico.
O Evangelho de Jesus veio para que a humanidade pudesse ter mais operantes
elementos de auto educação moral e, igualmente, para, colaborar na educação e
reeducação de seus semelhantes. Desde que nos eduquemos para o bem, higienizando
as ideias que emitimos, as palavras que proferimos e os atos que praticamos,
impediremos a poluição da nossa mente e da mente daqueles que recebem nossas
vibrações.
Ajudando-nos a melhorar, também contribuiremos
para melhorar o ambiente em que estamos e, concomitantemente, colaboraremos
para ajudar a humanidade a melhorar também. A felicidade do mundo não é conquista
fácil e a curto prazo. Pelo contrário. Mas, se cada qual, a despeito das
dificuldades e até dos insucessos, não desistir de procurar realizar o bem,
mesmo quando o mal aparente ou não seja o resultado provisório dos seus esforços,
plantará semente benéfica, cujos frutos surgirão fatalmente, mais cedo, ou mais
tarde.
Os que acreditam na existência real
do Diabo e os que possam acreditar na fantasia de ele ter sido o criador de si
mesmo, poderão admitir, talvez, que tenha sido ele o “outro” que estaria com Deus
quando o homem foi criado? Quantos absurdos juntos! Mais ainda: se o Diabo foi
o criador de si mesmo é porque já existia quando se criou... E caímos ainda
mais na confusão de palavras, tentando dar nexo a esse contra senso.
Pensemos
no que temos a modificar em nós, ao me8mo tempo procurando consolidar as virtudes,
se é que já possuímos alguma. O mal do mundo é derivado do mal dos homens, que
ainda persistem em não reconhecer a realidade de uma Inteligência Prodigiosa -
DEUS, que dirige os mundos e a vida. Mas porque Deus? - perguntarão os céticos.
Porque foi esse o nome que se convencionou dar a essa Inteligência Superior que
excede a qualquer definição humana. Como pode o inferior negar o superior, o finito
contestar o infinito, o mal sobrepujar o bem? Tudo é questão simples de lógica
mais elementar. Deus não deixará de existir só porque os materialistas O negam,
apegados ao ateísmo tolo de quem contesta o que está além da sua capacidade de
julgar. Mas, como todos estamos sujeitos a reencarnações progressivas, nós e os
que negam a Deus, dia virá em que os contestadores compreenderão o que hoje
recusam aceitar, com empáfia ridícula, pois estamos todos subordinados ao
mecanismo psicovibratório da Lei de Causa e Efeito, que registra, aceita e
devolve a cada um os sentimentos experimentados e externados no curso de sua
existência. Os sentimentos, que são forças vibratórias que saem de nós, voltam
para nós, beneficiando-nos ou castigando-nos conforme sua natureza.
Tudo quanto de mais secreto
queiramos saber de Deus poderá ser, um dia, do nosso conhecimento, quando nos
encontrarmos suficientemente evoluídos para suportar o impacto de tão transcendentais
revelações.
Não nos esqueçamos, entretanto, de
que somos responsáveis na situação atual do mundo, por nosso passado espiritual
ou por nosso presente delituoso. E há somente um caminho de alívio até que seja
eliminado o peso dessa imensa cumplicidade: praticar o bem, exercitar sem esmorecimento
a fraternidade, fazendo pelos outros pelo menos o que desejamos que os outros
nos façam. Fora daí nada conseguiremos, a não ser sobrecarregar o fardo que carregamos,
multiplicando nossas preocupações e nossos sofrimentos, porque estamos num mundo
em que tudo tem de ser solidário. Busquemos o melhor, sendo solidários com o
bem.
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