Médium Vigilante
por Indalício Mendes Reformador (FEB) Dezembro 1963
Uma das condições mais importantes para assegurar a normalidade do exercício mediúnico consiste na conservação da saúde. Qualquer médium, pelas responsabilidades que tem no campo mediúnico, não deve descurar-se da saúde. Ela é imprescindível ao seu trabalho. Sem ela, tornar-se-á inseguro, vacilante e sujeito a falhas que lhe serão prejudiciais em muitos aspectos.
Tem-se dito que um médium
enfermo não deve entregar-se ao exercício mediúnico. Aliás, em qualquer
atividade, a pessoa enferma não se mostra apta a fazer o que faz quando se
encontra bem de saúde. Portanto, nada de mais que o médium abstenha de qualquer
esforço mediúnico quando suas condições de saúde não forem boas. Será um
benefício para ele e para aqueles que recorrem à sua mediunidade.
A mediunidade, entretanto, não
afeta a saúde. O que pode afetá-la é o exercício exagerado, contínuo, dessa faculdade.
Esclarecem e ensinam os Espíritos (ver “O Livro dos Médiuns” cap. XVIII): “O exercício muito prolongado de qualquer faculdade
acarreta fadiga; a mediunidade está no mesmo caso, principalmente a que se aplica
aos efeitos físicos; ela necessariamente ocasiona um dispêndio de fluido que
traz a fadiga, mas se repara pelo repouso.”
Assim como o estado físico,
também o estado moral do médium pode aconselhar o não exercício da mediunidade
ou, conforme o caso o exercício moderado. “Há
pessoas relativamente às quais se devem evitar todas as causas de sobre excitação
e o exercício da mediunidade é uma delas.”
Certa feita, uma médium do nosso conhecimento, acicatada
por sérios problemas na esfera doméstica, foi tomada de uma apatia profunda. Ficou
indiferente a questões que, em outra ocasião, lhe teriam suscitado providências
enérgicas e salutares. Mostrava-se deprimida, acabrunhada, vencida e sem
esperança. Todavia, esforçava-se por uma recuperação e buscava na prece a ajuda
de que necessitava. Entretanto, o quadro permanecia negro. Talvez o seu estado
mental, transtornado pelo nervosismo decorrente dos sérios problemas que
enfrentava, não lhe permitisse orar com todo o empenho da alma. Foi aconselhada
a não persistir, mas a renunciar provisoriamente a qualquer trabalho mediúnico,
embora devesse socorrer-se da mediunidade alheia para reagir e sobrepujar a
profunda astenia em que caíra.
A sua tenacidade é digna de louvor. Jamais perdeu a. fé, ainda que, por vezes, titubeasse, revelando incerteza quanto ao desfecho da luta íntima que a afligia. Via em seu redor pessoas queridas da família submetidas a provações ásperas, tudo a um só tempo. Acabou por se sentir envolvida também pela onda de fluidos negativos. O seu mérito, contudo, estava e está no fato de jamais haver esquecido as lições recebidas através das obras espíritas, principalmente as de Kardec. Mesmo sentindo o peso de angústias terríveis, continuava a realizar tentativas de reerguimento. Está sendo feliz, porque já vai reconquistando o terreno perdido. A batalha tem sido árdua e os progressos lentos e difíceis. Mas progride. O essencial é que avance. Esse avanço é prova de que está vencendo a crise, e dia virá, muito próximo, em que o progresso será mais rápido. Uma vez que readquira a firmeza, não tardará a eliminar de vez os efeitos nocivos de influências espirituais depressivas.
A luta do espírita que quiser
manter-se fiel à Doutrina é permanente. Não há nenhum, por mais familiarizado
que se encontre com os ensinamentos espíritas, que não experimente, às vezes,
um deslize, não cometa um recuo, forçado pela sua própria condição humana,
pelas contingências da vida material quando em antagonismo com as exigências
espirituais. Espíritas infalíveis, não os conhecemos. Se os há, então já
ultrapassaram o limite imposto pela condição humana e estão a caminho da “santificação”.
Basta encarnar para ficar sujeito a fraquezas, maiores ou menores, consoante o
grau de espiritualidade já alcançado.
Não há vantagem que o homem
recolhido ao convento, fora da vida profana, possa errar menos do que aquele
que se acotovela diariamente com o mundo agitado e egoísta. Mais valor tem
aquele que, enfrentando esse mundo, não se deixa corromper por ele, errando
pouco do que os outros que, segregados dos perigos inerentes aos contatos com a
Humanidade ainda não educada espiritualmente, são tidos e havidos como puros e
irreprocháveis.
O médium que zela por si mesmo, pela
saúde física e moral, este, sim, estará desempenhando com acerto e segurança o
papel importante que lhe foi confiado na vida. Seu dever não é evitar os
perigos do mundo, mas enfrentá-los para alcançar mérito na luta, em sua defesa
e na defesa daqueles que confiam na sua mediunidade. Esta é a atitude real do
médium vigilante.
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