sexta-feira, 16 de outubro de 2020

Sugestões cristãs - 2 - Deveres espirituais

 

Sugestões cristãs - 2

por Luiz de Oliveira      Reformador (FEB) Junho 1924

  -Trecho de uma palestra sobre os deveres espirituais-

             Agasalhando as instruções que do Alto promanam e nos vêm Incessantemente dizer: “Amai-vos uns aos outros” -alteando o espírito para o Senhor, em procura de luz para nosso evoluir, ao colocarmos a pena sobre o papel, a fim de transmitir, aos que nos distinguem com a sua atenção, o que a misericórdia divina nos permita, sentimos a ação de um homem novo, de um companheiro de outrora, que, das paragens espirituais, associando-se aos nossos trabalhos, tocado pelos fulgores cristãos dos sentimentos fraternos, envolvendo-nos a alma na centelha de compassivo afeto, junto a nós se coloca e assim nos fala:

            “Meus amigos, Não vos descuideis. Orai e vigiai, acautelando com prudência os vossos pensamentos e atos, porque os mensageiros do divino Mestre determinando que vos procuremos filar, investigam o vosso foro íntimo, pois o momento predito já se faz sentir e os que desejam aparelhar-se para a vitória espiritual, nas escaladas da existência pelo Infinito, precisam de se levantar para o cumprimento do dever perante Deus.

            A hora chega em que os trabalhadores da Seara de Jesus deverão formar à frente das fileiras humanas, para exemplifica-las e conduzi-las por meio de ações cristãs e não de palavras!..

            Nessas fileiras, não se admitem negligentes e relapsos que tudo prometem e nada fazem.

            Elevado é o número dos que apregoam a excelência da Terceira Revelação; multidões concorrem avidamente às sessões espíritas e, apesar disso, doloroso é o espetáculo que observamos; a romaria dos que se insinuam na hora da prece é grande mas.., os trabalhadores são poucos!

            Que está escrito na lei? Para disciplina da humanidade, não disse o Cristo que os últimos seriam os primeiros? Não afirmou que os deserdados pelos homens terrenos teriam galardão na morada espiritual? Não recomendou que nos amassemos uns aos outros e não desejássemos a outrem o que para nós não desejássemos? Preceituando a humildade, não a exemplificou, deixando claramente expresso, em todos os seus ensinamentos, que o levantamento moral, meritório perante Deus, exige tolerância e amor aos próprios inimigos? Para que se não olvidassem estas admoestações e conselhos e se cumprissem os dispositivos divinos, não se submeteu à obscuridade de deserdado da Terra, nascendo numa manjedoura? Mais tarde, exemplificando a cordialidade fraterna, não lavou os pés de seus discípulos e, significando amor aos inimigos, para que o imitássemos, não perdoou, no suplício da cruz, a seus perseguidores?

            Considerem os espíritas e espiritualistas cristãos estas ocorrências, que a História registrou e os séculos, através das gerações, vem conservando respeitosamente para edificação dos povos.

            Analisemos o alcance desses ensinamentos e perguntemos a nós mesmos, perante o tribunal da consciência, se, na atividade que empregamos para difusão do Evangelho, modelam-se os nossos atos pelas ações do Cristo.

            Consideremos isto, meus amigos, e chegaremos à conclusão de não nos acharmos ainda suficientemente preparados para os trabalhos da Seara!

            Cumpre, pois, que os adeptos e pregadores da Terceira Revelação se não descuidem, porque a hora vai adiantada e na noite do túmulo não há repouso: há sono aparente...

            Para quem se não alteia nos arroubos da. fé, em que a alma combate os arrastamentos da animalidade e do materialismo, os que baixam à sepultura dormem profundamente ... Mas, em verdade, os que, assim, descem os soturnos degraus de um jazigo, no silêncio dessa noite deixam, apenas, ficar os despojos terrenos que se transformam... Livres do corpo com que palmilharam essa mesma terra aberta em cova para lhes receber o caixão, despertos do sono que lhes paralisara os sentidos, sentem-se vivos para a eternidade, onde os que não atendem ao chamamento do Alto, nesta hora em que as revelações se estendem por todo o orbe, encontram perspectivas tenebrosas de uma existência horrível, pejada de amargores, de aflições tremendas, piores que todas as torturas da indigência que suplica nas desertas florestas deste mundo!

            Em face deste arrazoado, facilmente se percebe que a pedra tumular oculta somente, o invólucro terreno, em seu regresso ao pó. A alma retoma as energias que lhe pertencem e, ingressando na pátria espiritual, se para essa romagem não se habilitou nas travessias do mundo; se, egoísta e ambiciosa, considerou de maior valia os bens que constituem as riquezas materiais; se por estas se deixou dominar, indiferente e surda aos incitamentos fraternos; se nessa lastimável ignorância e atraso se emancipa da peregrinação terrena; se não possui, enfim, para seu equilíbrio e orientação, na imensidade dos céus que se lhe defronte, as iluminações interiores que se adquirem pelo exercício das virtudes cristãs, inteiramente nua dos atrativos da bondade - que constituem a túnica nupcial -ao ter conhecimento da sua desencarnação, desorientada e confusa, percebe lhe estar o ingresso vedado para o banquete divino...

            E, assim, os que desse modo se apresentam e desejam tomar parte ao lado dos que trabalham no reino do Senhor, atônitos reconhecem que a paz nessa região bendita não é permitida aos que na Terra se fazem maiores. E, nessa confusão tremenda, de conformidade com o que nos relata o Evangelho de Mateus, no cap. 18, v. 1 a 10, passam a compreender o motivo por que Jesus, quando os discípulos lhe chegaram ao pé, perguntando-lhe qual seria o maior no reino dos Céus, designando um menino, para simbolizar a simplicidade, a inocência e a submissão, por esta forma lhes respondeu: - “Em verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos, de modo algum entrareis no reino dos Céus; portanto, aquele que se humilhar, como este menino, será maior no reino dos Céus e o mesmo sucederá a qualquer que receber em meu nome um menino tal como este que a mim recebe. Mas, qualquer que escandalizar um desses pequeninos, que creem em mim, melhor ficará se ao pescoço lhe pendurassem uma mó e o submergisse na profundeza do mar. - Ai do mundo por causa dos escândalos; porque, é mister que estes venham; mas ai daquele homem por quem o escândalo vem! Assim, se tua mão ou teu pé te escandalizar, corta-o e atira para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo ou aleijado, do que com duas mãos ou dois pés, para seres lançado ao fogo eterno! - Se tua vista te escandalizar, arranca-a e atira-a para longe de ti. Melhor te é entrar na vida com uma vista do que com a posse de duas e seres lançado ao fogo do inferno.”

            E, de fato, a vida na erraticidade transmite à alma do homem que no mundo se deixa arrastar pelas sugestões do vício e da grandeza, desprezando, orgulhosamente, os que supõe pequenos, a sensação de uma caldeira infernal em que se tenha precipitado para toda a eternidade e onde, por forma alguma, poderá escapar à ação do corretivo divino, pois, conforme ainda observa Mateus, referindo os ensinos do Mestre, no cap. X, v. 26 e 27, - “Nada há encoberto que se não haja de descobrir e nada oculto que se não haja de saber”, convindo por isso, que lhe acatemos a recomendação: - “O que vos digo em trevas, dizei-o em luz e o que ouvirdes ao ouvido, pregai sobre os telhados.”

            Transmitamos, pois, os avisos do Alto, porque através das ocorrências que, nestes últimos tempos, agitam e conturbam as sociedades terrenas, claramente se verifica que algo de anormal se está passando. Colunas de fogo ameaçam devorar o homem retardatário nesta hora que transcorre!

            Oremos e vigiemos.


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