Sugestões cristãs - 2
por Luiz de Oliveira Reformador (FEB) Junho 1924
“Meus amigos, Não vos descuideis. Orai e vigiai,
acautelando com prudência os vossos pensamentos e atos, porque os mensageiros
do divino Mestre determinando que vos procuremos filar, investigam o vosso foro
íntimo, pois o momento predito já se faz sentir e os que desejam aparelhar-se
para a vitória espiritual, nas escaladas da existência pelo Infinito, precisam
de se levantar para o cumprimento do dever perante Deus.
A hora chega em que os trabalhadores da Seara de Jesus
deverão formar à frente das fileiras humanas, para exemplifica-las e conduzi-las
por meio de ações cristãs e não de palavras!..
Nessas fileiras, não se admitem negligentes e relapsos
que tudo prometem e nada fazem.
Elevado é o número dos que apregoam a excelência da
Terceira Revelação; multidões concorrem avidamente às sessões espíritas e, apesar
disso, doloroso é o espetáculo que observamos; a romaria dos que se insinuam na
hora da prece é grande mas.., os trabalhadores são poucos!
Que está escrito na lei? Para disciplina da humanidade,
não disse o Cristo que os últimos seriam os primeiros? Não afirmou que os
deserdados pelos homens terrenos teriam galardão na morada espiritual? Não recomendou
que nos amassemos uns aos outros e não desejássemos a outrem o que para nós não
desejássemos? Preceituando a humildade, não a exemplificou, deixando claramente
expresso, em todos os seus ensinamentos, que o levantamento moral, meritório
perante Deus, exige tolerância e amor aos próprios inimigos? Para que se não
olvidassem estas admoestações e conselhos e se cumprissem os dispositivos
divinos, não se submeteu à obscuridade de deserdado da Terra, nascendo numa manjedoura?
Mais tarde, exemplificando a cordialidade fraterna, não lavou os pés de seus
discípulos e, significando amor aos inimigos, para que o imitássemos, não
perdoou, no suplício da cruz, a seus perseguidores?
Considerem os espíritas e espiritualistas cristãos estas
ocorrências, que a História registrou e os séculos, através das gerações, vem
conservando respeitosamente para edificação dos povos.
Analisemos o alcance desses ensinamentos e perguntemos a
nós mesmos, perante o tribunal da consciência, se, na atividade que empregamos
para difusão do Evangelho, modelam-se os nossos atos pelas ações do Cristo.
Consideremos isto, meus amigos, e chegaremos à conclusão
de não nos acharmos ainda suficientemente preparados para os trabalhos da Seara!
Cumpre, pois, que os adeptos e pregadores da Terceira
Revelação se não descuidem, porque a hora vai adiantada e na noite do túmulo
não há repouso: há sono aparente...
Para quem se não alteia nos arroubos da. fé, em que a
alma combate os arrastamentos da animalidade e do materialismo, os que baixam à
sepultura dormem profundamente ... Mas, em verdade, os que, assim, descem os
soturnos degraus de um jazigo, no silêncio dessa noite deixam, apenas, ficar os
despojos terrenos que se transformam... Livres do corpo com que palmilharam
essa mesma terra aberta em cova para lhes receber o caixão, despertos do sono
que lhes paralisara os sentidos, sentem-se vivos para a eternidade, onde os que
não atendem ao chamamento do Alto, nesta hora em que as revelações se estendem
por todo o orbe, encontram perspectivas tenebrosas de uma existência horrível,
pejada de amargores, de aflições tremendas, piores que todas as torturas da
indigência que suplica nas desertas florestas deste mundo!
Em face deste arrazoado, facilmente se percebe que a
pedra tumular oculta somente, o invólucro terreno, em seu regresso ao pó. A
alma retoma as energias que lhe pertencem e, ingressando na pátria espiritual,
se para essa romagem não se habilitou nas travessias do mundo; se, egoísta e
ambiciosa, considerou de maior valia os bens que constituem as riquezas materiais;
se por estas se deixou dominar, indiferente e surda aos incitamentos fraternos;
se nessa lastimável ignorância e atraso se emancipa da peregrinação terrena; se
não possui, enfim, para seu equilíbrio e orientação, na imensidade dos céus que
se lhe defronte, as iluminações interiores que se adquirem pelo exercício das
virtudes cristãs, inteiramente nua dos atrativos da bondade - que constituem a túnica
nupcial -ao ter conhecimento da sua desencarnação, desorientada e confusa,
percebe lhe estar o ingresso vedado para o banquete divino...
E, assim, os que desse modo se apresentam e desejam tomar
parte ao lado dos que trabalham no reino do Senhor, atônitos reconhecem que a paz
nessa região bendita não é permitida aos que na Terra se fazem maiores. E, nessa
confusão tremenda, de conformidade com o que nos relata o Evangelho de Mateus, no
cap. 18, v. 1 a 10, passam a compreender o motivo por que Jesus, quando os
discípulos lhe chegaram ao pé, perguntando-lhe qual seria o maior no reino dos
Céus, designando um menino, para simbolizar a simplicidade, a inocência e a submissão,
por esta forma lhes respondeu: - “Em
verdade vos digo que, se não vos converterdes e não vos fizerdes como meninos,
de modo algum entrareis no reino dos Céus; portanto, aquele que se humilhar,
como este menino, será maior no reino dos Céus e o mesmo sucederá a qualquer
que receber em meu nome um menino tal como este que a mim recebe. Mas, qualquer
que escandalizar um desses pequeninos, que creem em mim, melhor ficará se ao
pescoço lhe pendurassem uma mó e o submergisse na profundeza do mar. - Ai do
mundo por causa dos escândalos; porque, é mister que estes venham; mas ai
daquele homem por quem o escândalo vem! Assim, se tua mão ou teu pé te
escandalizar, corta-o e atira para longe de ti: melhor te é entrar na vida coxo
ou aleijado, do que com duas mãos ou dois pés, para seres lançado ao fogo
eterno! - Se tua vista te escandalizar, arranca-a e atira-a para longe de ti. Melhor
te é entrar na vida com uma vista do que com a posse de duas e seres lançado ao
fogo do inferno.”
E, de fato, a vida na erraticidade transmite à alma do
homem que no mundo se deixa arrastar pelas sugestões do vício e da grandeza,
desprezando, orgulhosamente, os que supõe pequenos, a sensação de uma caldeira
infernal em que se tenha precipitado para toda a eternidade e onde, por forma alguma,
poderá escapar à ação do corretivo divino, pois, conforme ainda observa Mateus,
referindo os ensinos do Mestre, no cap. X, v. 26 e 27, - “Nada há encoberto que se não haja de descobrir e nada oculto que se não
haja de saber”, convindo por isso, que lhe acatemos a recomendação: - “O que vos digo em trevas, dizei-o em luz e o
que ouvirdes ao ouvido, pregai sobre os telhados.”
Transmitamos, pois, os avisos do Alto, porque através das
ocorrências que, nestes últimos tempos, agitam e conturbam as sociedades
terrenas, claramente se verifica que algo de anormal se está passando. Colunas
de fogo ameaçam devorar o homem retardatário nesta hora que transcorre!
Oremos e vigiemos.
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