Espiritismo
por Carlos Imabassahy Reformador (FEB) Junho 1924
O Espiritismo não se resume, a meu ver, unicamente, num
corpo de doutrina.
Esta é, sem dúvida, a
parte principal, a mais importante do edifício em construção. Mas, não é a única;
há outras, no grande todo, que não podem ser postas à margem.
Todas elas, as partes, as vigas do grande monumento
espiritualista se acolchetam, formando um conjunto harmônico.
Tende tudo para um fim único: - a convicção, nos homens,
que devem praticar a lei do amor.
É esse, necessariamente, o alvo a que miram os espíritos
superiores, encarregados pelo Mestre da missão grandiosa de regenerar o planeta.
Mas, esse edifício, que se principia a erigir com um
pouco de boa vontade aqui na Terra e com maravilhosa energia no Espaço, precisa
de alicerces; são neles que assenta o organismo que agora começa a desenvolver-se.
Os alicerces do Espiritismo são a parte experimental, são
os fatos mediúnicos, que surgem por toda a parte, trazendo à pobre humanidade sofredora
a prova da sobrevivência, com todas as consequências que dela dimanam: -as tristezas,
as angústias, as dores para os maus; a paz, as alegrias, a felicidade para os
bons.
Sem os casos da mediunidade, não teria surgido o
Espiritismo. Existisse somente a doutrina, bela, não obstante, como é, e não
passaria de uma abstração filosófica, pouco mais valiosa que a de Sócrates ou
Platão, cuja recordação histórica nos impressiona ainda, mas de pequenos frutos
para o progresso do gênero humano.
Na
sua onisciência, o Criador achou que já era tempo de revolver, de sanear esse marnel (lodaçal) em que vivemos.
E mandou-nos, então, a Nova Revelação pelo Espírito da Verdade; transmitiu-nos
e transmite-nos os ensinamentos do Além, pela comunicação dos Espíritos.
E que são as comunicações dos Espíritos? -São as
mensagens, são o intercâmbio entre vivos e mortos, são o fenômeno espirita.
É esse fenômeno que, a meu ver, se não pode abandonar;
pelo contrário, todos os espíritas deveriam estudá-lo, ampara-lo, encaminha-lo,
promove-lo, com os recursos de que dispomos, auxiliando por um lado a ciência,
em vez de hostiliza-la, e, por outro, procurando trazer a todos os experimentadores,
os ensinamentos de Allan Kardec, que se encontram no Livro dos Médiuns, para que seja de bons resultados, celeiro de
provas fecundas, a parte prática, base onde assenta toda essa obra divina.
Na ‘Vie d'Outre
Tombe’, órgão da Federação Espírita Belga, o brilhante colaborador da Revue
Spirite, Sr. Luiz Gastín, publicou interessante artigo, há pouco traduzido e
remetido à ‘Aurora’ pelo confrade C.
de Brito.
Nele se lê o seguinte tópico, de acordo com as ideias que
vimos de expor:
Não é
exagero supor que os desmembramentos acima citados têm sido de setenta anos
para cá - suscitados, inspirados ou favorecidos pelos adversários do
Espiritismo, querendo enfraquece-lo destruindo sua unidade, procurando diminuir
seu poder de ação, a importância de seu movimento social e seu alcance,
encurralando-o, limitando-o à comunicação entre os vivos e os mortos.
Era incontestavelmente estreitar o campo dos estudos
espíritas, ao mesmo tempo que sua influência na evolução do pensamento
contemporâneo. O domínio do Espiritismo sendo restringido de diversos lados e
desmembrado, ele ficaria logo reduzido a não ser mais que uma teoria filosófica
ou uma tese religiosa explicando o que se passa depois da morte.
Semelhante
situação, à medida que os ramos destacados do Espiritismo fossem crescendo com
um caráter quase exclusivamente científico, concorreria para que o Espiritismo
fosse absorvido pela metapsíquica - como o magnetismo foi absorvido pelo hipnotismo
- suprimindo, bem entendido, todas as conclusões filosóficas e morais da nossa
doutrina.”
Aos espíritas incumbe o dever de trazer a colaboração do
seu esforço e de suas luzes, onde quer que haja um movimento, onde quer haja manifestações
espíritas, surjam elas por meio da ignorância e tome o nome de feitiço,
apareçam no seio do orgulho e do ceticismo e se rotule com o nome de Ciência.
O que colimamos, nós, espiritas, é o Bem. Vamos procura-lo,
alimenta-lo, robustece-lo, onde se encontre, esforçando-nos por que se não
apaguem essas fagulhas que nos principiam agora a iluminem e donde surgirá mais
tarde o grande clarão, o imenso incêndio que abrasará em amor puro e desinteressado
todas as criaturas da terra.
Deveríamos aproveitar tudo o que concorresse para a
demonstração dessa grande verdade: - que só pelo Amor podem os homens ser
felizes.
*
A prudência é uma virtude, mas o recuar é medo.
Deixamos de mão aquilo que não é possível enfrentar. Mas
isso se não dá com as experiências psíquicas, que sabemos onde ir estuda-las,
que temos onde aprende-las. E se Kardec nos ensinou como pratica-las, não me
parece curial pô-las à margem pelos contratempos a que nos podemos expor.
Um corpo de doutrina, muito belo, mas insulado, parado,
estagnado, no meio do caminhar constante da Natureza. Com os tempos, os seus
raios irão perdendo o brilho, como ja se extingue o das religiões do
passado.
E
quando chegasse o Futuro, com os ensinamentos acumulados pelos séculos, encontrariam
os pósteros apenas, de nossa passagem pela Terra, pálida e fugitiva lembrança,
perdida, como lenda, nas páginas da história universal.
Felizmente
tal não se dá. Quando nos entibiem (entorpeçam) os perigos da
mediunidade, quando nos tragam o desânimo a sua má aplicação; quando nos façam
esmorecer e fraquejar o muito que há por fazer, por construir, aí estão os nossos
amigos do Além para amparar-nos e alimentar a fé vacilante; aí estão os fatos
psíquicos surgindo continuamente como a demonstrar que é por esse meio que o Criador
pretende ferir a atenção dos homens; aí está toda a fenomenologia espírita, aparecendo,
provocada ou espontaneamente, pela vontade ou sem a vontade das criaturas,
embora oponham-lhe ainda as maiores barreiras os seres que povoam a Terra,
deste lado ou do outro lado da vida.
O movimento que se iniciou não pode parar.
A cada um a sua tarefa: a este, as pesquisas científicas;
àquele, a propaganda pela pena ou peja palavra. Tal dedicar-se-á à
experimentação, tal outro à doutrinação. Todos, porém, como vários rios que se
dirigem para o mesmo estuário, tendem para o mesmo fim - o Progresso.
Aos construtores do grande edifício foram confiados
misteres diferentes: cabe a cada um sua missão.
Mas a obra, no seu conjunto, é uma única; todos concorrem
para o Bem, todos contribuem com a sua quota parte, para que possa ser colocado
no topo do monumento a formosa inscrição, que já liam os antepassados no
coração de Jesus:
- Amai-vos uns aos outros.
Nenhum comentário:
Postar um comentário