Disciplina
e Liberdade
por Indalício Mendes
Reformador (FEB) Julho
1967
Não há incompatibilidade
nenhuma entre liberdade e disciplina. Pelo contrário, ambas se
interpenetram, ambas se sustentam, porque uma é indispensável à outra, tanto
que somente podem sobreviver sem perder a sua legítima substância, quando
coexistem unidas. Tanto isso é verdade que a ausência da disciplina, no exercício da liberdade
provoca inevitavelmente o abuso, a confusão. Da mesma maneira, se o sentido da
liberdade abandona a disciplina, esta se transforma em sujeição, em coação, em
escravidão, enfim, na supressão total do respeito à pessoa humana e, obviamente,
aos mais elementares e imprescindíveis direitos humanos.
A Doutrina Espírita respeita a liberdade da criatura
humana, dando-lhe como pauta de seu comportamento cotidiano o livre-arbítrio, isto
é, conferindo-lhe a exclusiva responsabilidade pelos próprios atos. Entretanto,
ensina como adotar um procedimento, tanta quanto possível isento de erros,
armando cada criatura humana dos recursos morais necessários à conservação da
boa liberdade e ao seu uso correto. Esses meios nada mais são que a disciplina
a que todos temos o dever de seguir, a fim de assegurarmos a limpeza do nosso
carma, suportando com coragem e fé as provações e sustentando a mesma vontade
enérgica para não infringir os preceitos disciplinares e, concomitantemente,
para se assegurar a posse da legítima liberdade.
Há quem tenha noção deturpada da disciplina. Suponhamos
que, numa reunião, se estabeleça o silêncio como regra para a manutenção da
ordem dos trabalhos. Isso, evidentemente, não quer dizer que todos devam
comparecer à sessão com a boca fechada a esparadrapo. Se houver real
necessidade de um pedido de informação ou por qualquer outro motivo verdadeiramente
ponderável, poder-se-á falar, muito baixo, apenas o imprescindível, sem que tal
importe em perturbar o silêncio necessário, porque, afinal, numa sessão, o
silêncio é valioso, mas não se deve ir ao absurdo de exigir que todos emudeçam inexoravelmente,
porque sempre poderá surgir um motivo respeitável para falar, sem quebra da
disciplina determinada.
A Doutrina Espírita é admirável também como norma de
respeito à liberdade e à disciplina, porque ambas são absolutamente essenciais onde
quer que se procure união, ordem, eficiência e entendimento. Uma sessão
espírita, seja simplesmente de estudos doutrinários, seja de trabalhos mediúnicos,
necessita de silêncio e ordem, que subentende disciplina. Todavia, pode-se
alcançar a disciplina e a ordem sem afetar a liberdade natural dos que a
frequentam, desde que haja um serviço de orientação dos assistentes, sem
repúdio à tolerância esclarecida, que Kardec prescreveu no lema “Trabalho - Solidariedade
- Tolerância.” - Essa liberdade não pode nem deve ferir a disciplina preestabelecida,
devendo-se, amistosamente, amorosamente mesmo, procurar a conciliação da liberdade
com a disciplina, para alcançar-se a ordem que propiciará a eficiência das
reuniões.
É do equilíbrio geral que emerge a solidariedade
indispensável à formação dum ambiente elevado e homogêneo. Desde que possa haver
constrangimento íntimo de coação, descontentamento secreto, sopitada irritação,
estará comprometido o ideal de homogeneidade perseguido, em virtude de provocar
a incapacidade de uma concentração compatível com a finalidade da reunião.
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