quarta-feira, 2 de setembro de 2020

A quem se aproxima



A quem se aproxima

Kelvin Van Dyne
por W. Vieira
Reformador (FEB) Julho 1964

            Muitos, em se aproximando das revelações espirituais, julgam que, imprimindo seriedade à vida, matam a alegria de viver. Sem dúvida, os dias humanos são desfrutáveis, em júbilo sadio. Mas aparecem excessos e distorções.
            Há quem viva na festança irresponsável, no abuso sistemático ou na excitação absorvente; em certo instante surge o desastre, a crise e a alteração perigosa, por desafios do destino convidando ao balanço moral. E o espírito mergulha em reflexões e confissões inaudíveis para os outros. E sofre. Para que sofrer sem necessidade?
            A alegria real, que nunca foi simplesmente agitação de músculos faciais, há de partir da aceitação da vida continuada, à luz da consciência em paz. Regozijos de convenção quase sempre não passam de exibições fantasistas, fugazes, falsas. E, por trás deles, insatisfações inarredáveis perduram.
            A intuição vulgar determina sejamos capazes de servir ao bem numa parada de máscaras. Já embriagar-se de ilusões dentro dela será mistificar a nós próprios, adiar o Inadiável. Ninguém condena o conforto: ideal de todos para todas. Apenas carecemos de orientação para evitar futuros infortúnios.
            Esposar as realidades do espírito não implica refugiar-se a criatura em padrão claustral de solidão e tristeza. Vivamos como os demais renovando o que exige renovação. Em qualquer parte, a ausência do bem é maior e tão grave quanto a presença do mal.
            Não se descure da conta corrente da sua encarnação. Ninguém encontra a tarefa pronta. Felicidade não mora na estação do menor esforço, à nossa espera. Os urubus acham prato feito, mas nós, consciências responsáveis, jamais somos chamados a banquetear-nos com vitórias fáceis e sim conclamados a bater-nos pelo triunfo legítimo de nossas aspirações com o risco onipresente de fracasso.
            Se se ordena tudo que o homem faz porque deixar ao sabor das circunstâncias a execução do melhor? Porque somente ajudar aos outros nos instantes trágicos, nos repentes da emoção? Necessário escolher entre as duas veredas: viver em si ou fora de si, para si só ou para os outros também.
            Compense o máximo de palavras batidas com um mínimo de ações novas, pelo menos. Que pessoas você fez mais felizes, na semana? Que exemplos de maturidade espalhou? Que atitudes assumiu para educar-se e beneficiar os que lhe partilham a convivência? A vida é jornada no Sempre. Todo ato faz-se companheiro invisível. Vejamos os companheiros que elegemos hoje para a viagem.

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