Verdades indiscretas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Setembro
1953
As sessões espíritas devem ter um objetivo elevado, como,
por exemplo, o de retificar sentimentos e educar a alma num sentido superior de
fraternidade e cooperação. Fazer sessões sem um fim verdadeiramente digno, será
perder tempo e arriscar-se a dissabores. Até hoje, as melhores sessões a que
assisti foram as que se subordinam à orientação evangélica aconselhada pela
Federação Espirita Brasileira. As comunicações trazem sempre, ou na maioria dos
casos, um cunho de austeridade capaz de tranquilizar o ambiente. Os que
participam de tais reuniões experimentam um bem-estar espiritual difícil de ser
descrito. Tudo se aprimora, tudo alcança um refinamento extraordinário, pois parece
que até os fluidos se tornam muito mais leves e benéficos do que em sessões
onde não há o mesmo cuidado e a mesma orientação.
Certa feita fui à um centro espírita, atendendo a
instante convite dum amigo. Quando lá cheguei, todos se mostravam exuberantemente
palradores. Os “donos” do centro fazia pilhérias, tinha “piadas” que arrancavam
gargalhadas. De repente, sem mais nem menos, ele se punha sério, gargarejava a
prece de “Cáritas”, com voz trêmula, como se tivesse o coração sangrando. Em
seguida, citava Jesus com tamanho enternecimento teatral, que seria capaz de
levantar das tumbas mortos milenares...
Prosseguia a sessão e, logo após seu encerramento, outra
vez com a prece de “Cáritas”, espoucavam risos, gargalhadas, piadinhas, etc.
Ora, francamente, meus amigos. Seria melhor, em vez de
realizar sessões desse Espiritismo curioso, que se fizessem reuniões recreativistas
evitando referências a nomes que devem merecer acendrado respeito.
Mais tarde, levaram-me a outra sessão, O mesmo ambiente
de “cordialidade social”. As entidades espirituais, agora, é que faziam graças,
provocando risos com os seus trocadilhos.
De edificante para a formação do espírito, rigorosamente
nada. Não se estudava o Evangelho, não se analisava nenhuma passagem de “O
Livro dos Espíritos” ou de “O Livro dos Médiuns”. Só futilidades, gracinhas,
como se isso fosse na verdade Espiritismo, porque as consultas sobre negócios,
questões de família, receitas para cachorrinhos (!) e outros disparates,
ocuparam cerca de duas horas de “projeção”!
Tais fatos demonstram a necessidade de muito esforço e
muito trabalho doutrinário, principalmente daqueles que se consideram capazes de
dirigir trabalhos práticos e formam sua “entourages”, como se as sessões
espíritas, pudessem ter qualquer semelhança com esses clubes americanos para “passar
o tempo”... O mal é que qualquer pessoa se intitula capaz de fundar centros ou
grupos, de dirigi-los (!), passando a depositários de todas as atenções, como
se tivesse o monopólio das manifestações espíritas em seu ambiente. Sua vontade
prevalece sempre, seus desejos são leia...
Muitos e muitos exemplos eu poderia aduzir a este
comentário. Não adiantaria, porém. Se faço menção a tais fatos ê com o objetivo
único de chamar a atenção dos espiritas que preferem orientar-se pela Doutrina,
no sentido de eles se tornarem, cada vez mais, colaboradores da grande obra de
elucidação dos iniciantes, através dos ensinos contidos em “O Livro dos Espíritos”
e em “O Livro dos Médiuns”, tendo como fundamento desse trabalho o Evangelho.
Não devemos ser dogmáticos nem intolerantes, mas, para resistirmos à onda de dissolução
dos princípios espíritas, é mister que proclamemos, pela palavra e pelo
exemplo, as verdades contidas nas obras de Allan Kardec e confirmadas por J. B.
Roustaing na monumental obra. “Os Quatro Evangelhos”.
A preparação doutrinária é indispensável à formação de
uma legítima mentalidade espírita, sem que nos fechemos num círculo de ferro,
mas que saibamos abrir os braços àqueles que buscam a Luz, ainda perdidos por
atalhos. Nosso dever é de guiar, confraternizando; nunca, entretanto, de condenar,
combatendo: Se desejamos vencer, temos de persistir no esclarecimento
evangélico. Elucidar, explicar, explanar, orientar, guiar, trabalhando fraternamente,
é o dever do espírita kardequiano. Todos somos dotados de livre arbítrio,
mas não é por isto que devamos deixar que alguém se atire num precipício sem,
antes, realizarmos todos os esforços para evitar que a loucura se consuma.
As sessões espíritas de estudo são muito importantes. As
de trabalhos práticos, também. Todavia, ninguém deveria jamais entregar-se a estas
sem haver, primeiramente, adquirido o indispensável passaportes naquelas,
alargando seus conhecimentos, firmando sua instrução evangélico-doutrinária.
Para o futuro de cada um de nós, parece-me, modéstia à parte, ser esse o
caminho mais aconselhável.
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