Os cento e vinte anos do Grupo
Ismael
por Sérgio Thiesen
A história do
Espiritismo no Brasil, no que tange às realizações humanas, tem por marco a
criação do primeiro grupo de trabalhos espirituais no Rio de Janeiro, o que
ocorreu em 1873, a 2 de agosto.
Eram homens simples que se propunham o estudar e divulgar
uma Doutrina de apenas dezesseis anos é a reunir aqueles poucos que cedo se
aperceberam da sua importância e eram os primeiros espiritistas do Império.
Operava-se a materialização, na crosta densa do Planeta, do ideal de homens
que, com o seu esforço e dedicação, viriam a sedimentar as bases de um plano que
tinha sua origem no Mundo Invisível e que se destinava à evangelização e redenção
ao Humanidade, com desdobramentos que os encarnados não poderiam imaginar. A
árvore começava a ser replantada, agora em terras de um continente novo...
Já no dia de sua fundação, um dos emissários de lsmael,
que adotou o pseudônimo Confúcio e o próprio Allan Kardec, entre tantos
Espíritos que participavam daquele evento, se comunicaram mediunicamente. Como
não poderia deixar de ser, e se tornou evidente com o passar do tempo, a
pujança das manifestações mediúnicas era uma de suas principais
características. Logo ficaria claro, na palavra de Confúcio, que aqueles homens
tinham uma tarefa especial a cumprir:
“Nossa missão,
assim como a vossa, é de secundar toda boa vontade. Disse o Cristo: “Quando vos reunirdes em meu nome, estarei
no meio de vós”. Se bem nos falecem as qualidades do Mestre, cumpre-nos o dever
de assistir-vos, encorajar-vos e dizer-vos: Homens de boa vontade, que a fé, a caridade e
a união animem vossos corações a fim de que bons Espíritos sejam convosco. Movidos
desses verdadeiros sentimentos que esperamos morem em todos vós, veremos
aumentados as vossas forças, decuplicados os vossos meios de fazer o bem, e se
tiverdes humildade, que vos permitirá reconhecer que tudo são dádivas do Pai
celestial e não o efeito do merecimento que possais ter, bênçãos descerão sobre
vós e sentireis a ventura de vos terdes empenhado na obra do regeneração, de
terdes colaborado com a lei do progresso.
Coragem,
fé, perseverança, e seremos sempre convosco.”
Estava formada a Sociedade
de Estudos Espiríticos - Grupo Confúcio, com sua Diretoria e Regulamento e
o artigo 28 deste frisava que o Espírito protetor do grupo era lsmael.
Humberto de Campos (*) esclarece que “nem todos os espiritistas
modernos conhecem o fecundo labor daqueles humildes arroteadores dos terrenos
inférteis da sociedade humana. A realidade é que eles lutaram denodadamente contra
a opinião hostil do tempo, contra o anátema, o insulto e o ridículo e,
sobretudo, contra as ondas reacionárias das trevas do mundo Invisível, para levantarem
bem alto a bandeira de Ismael, como manancial de luz para todos os espíritos e
de conforto para todos os corações."
(*) Francisco Cândido Xavier, “Brasil Coração do Mundo, Pátria
do Evangelho” FEB, 19ª ed., pág. 184.
Transcorridos os três primeiros anos, algumas dificuldades
surgidas entre os seus próprios integrantes não puderam ser superadas, com
reflexos nas atividades em curso. Sob a égide de Ismael, a 23 de março de 1876,
um novo grupo de trabalhadores fundava a Sociedade de Estudos Espíritas Deus,
Cristo e Caridade, sob a orientação de Francisco Leite de Bittencourt Sampaio,
que havia participado da primeira diretoria do Grupo Confúcio.
Pedro Richard refere que, nessa Sociedade ocorreram
inúmeros “prodígios”. A misericórdia divina se fazia sentir incessantemente e a
luz, a jorros, deslumbrava os assistentes. Era tal a impressão que causava nos
participantes, que estes se impunham à obrigação moral de inabalável conversão.
Mas, ao mesmo tempo, despertaram a atenção dos aborrecidos da luz e inimigos da
redenção humana pelo Evangelho restaurado.
"As fraquezas humanas, o orgulho, a vaidade, o
egoísmo, a presunção foram as portas por onde entraram os inimigos do
Bem", informa-nos ainda Richard.
Em 3 de outubro de 1879 o Grupo Confúcio deixou de
existir quando se fundiu a três outras Instituições: a própria Sociedade de Estudos Espíritas Deus, Cristo
e Caridade, a Congregação Espírita
Anjo Gabriel e Grupo Espírita
Caridade. Estas últimas deram origem à Sociedade
Acadêmica Deus, Cristo e Caridade.
“Desvairados, levantaram um templo à Ciência e constituíram
uma academia cujos membros não mais se distinguiriam pelas virtudes de cada um,
mas pelo cabedal científico”, continua Richard.
Antônio Luiz Sayão e Bittencourt Sampaio permaneceram
nesta última menos de um ano, haja vista que não comungavam com as ideias academicistas
e de culto à Ciência em detrimento da preocupação com o estudo e a exemplificação
do Evangelho de Jesus, à luz da Doutrino Espírita. Fundaram o Grupo dos
Humildes, vulgarmente conhecido por "Grupo Sayão”, por ele dirigido, mas para
onde se transferiu a tutela do anjo lsmael porque com eles identificado em seus ideais evangélicos e com o que estava por ele planejado.
O primeiro livro, de título “Trabalhos Espíritas”
descreve a fase inicial, mais delicada, e que motivou muito sofrimento ao seu
condutor, Sayão. Mas, ainda assim, trata-se de magnífico repositório de
luminosas comunicações dadas por Espíritos da maior elevação, dentre os quais
lsmael, Allan Kardec, Urias, Romualdo, Gabriel, Judas, Mateus, Lucas, Pedro e
muitos outros.
O livro “Estudos Evangélicos” marcou a etapa seguinte e tomou-se
mais conhecido dos estudiosos da Doutrina como "Elucidações Evangélicas”
que atravessou o século e nos resume a obra da Revelação da Revelação de J. B.
Roustaing. Após a desencarnação de Bittencourt Sampaio, o período seguinte
caracterizou-se por intensa luta de Sayão contra opositores da produção mediúnica
que resultou nos livros “Jesus perante a Cristandade”, “De Jesus para as Crianças”
e “Do Calvário ao Apocalipse” de autoria do próprio Bittencourt, ora Espírito e
através do notável e serena mediunidade de Frederico Pereira da Silva Júnior,
que por mais de três décadas esteve a serviço da Casa, da Causa e do Cristo.
Importante ressaltar que ao Grupo Confúcio se devem as
primeiras sessões de doutrinação de Espíritos, a primeira assistência
homeopática gratuita, a primeira tradução das obras de Kardec, a primeira
manifestação de lsmael bem como a primeira entidade organizada com objetivo de
incentivo e orientação do movimento que começava a germinar.
Algum tempo após a transmissão daquela tríade admirável e
empolgante sob todos os aspectos, desencarnava o médium Frederico Jr.
Transcorrido não longo período, desencarnava também exatamente
há 90 anos (atenção, estávamos em 1993) , em 31 de março, com a serenidade de
verdadeiro justo, aquele que durante 23 anos dirigia os trabalhos do Grupo, que
passara a denominar-se “lsmael”, desde que se incorporara à Federação Espírita
Brasileira, fundada em 1884, incorporação que se verificou depois que Bezerra
de Menezes firmou em definitivo os passos da instituição que, posteriormente,
viria também a denominar-se, Casa de Ismael. Com o regresso de Sayão à pátria
espiritual, encerrou-se a segunda fase de existência do já então Grupo Ismael.
Outras fases se seguiram até os nossos dias. Em quase
todas, períodos de fartíssima produção mediúnica, de lições e experiências
dignificantes, de testemunhos de coragem e fé viva, de participações apostolares,
de trabalho incessante voltado ao soerguimento de falanges imensas de Espíritos
carentes de entendimento e sem rumo.
A história do Grupo Ismael, uma vez conhecido pelos espíritas,
permite melhor nos situarmos quanto aos desígnios superiores e aos planejamentos
de Mais Alto paro com a estruturação das bases sólidas sobre as quais se erigirá
o edifício da nossa redenção em Humanidade. Além disso, é-nos precioso alerta no
sentido de evitarmos erros desnecessários que ocorreram naqueles tempos e
motivaram estagnação e prejuízo ao progresso dos interesses do Mundo Maior e
dos quais não estamos necessariamente imunes, requisitando providências adicionais
dos Benfeitores do Cúpula Sublime do Cristo e de Ismael.
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