quarta-feira, 13 de maio de 2020

Pandemias 1918-2020



Os Esculápios, a Epidemia e o Espiritismo
Reformador (FEB) Dezembro 1918

            A nossa doutrina tem dois inimigos natos - o padre e o médico.          

            Um pretende curar as almas. O outro reserva-se o privilégio de curar os corpos.

            A cura das almas, estamos vendo como ela se tem feito e faz pelos inúmeros benefícios que fazem deste mundo um Éden de virtude – e a cura dos corpos, pelo progressivo prolongamento da vida humana e consequente despovoamento dos cemitérios.

            As enfermidades também decresceram e a sua classificação tornou-se tão caracteristicamente racional que entrou na ordem numeral, e, daí, a quarta, a quinta, ou então etinográfica (é o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, hábitos etc.) como, por exemplo: - a espanhola...

            Justamente a propósito desta última, um ilustrado e, dizem que opulento médico homeopata - o Dr. Licínio Cardoso veio pelas colunas do Jornal do Comércio de 17 de Janeiro pp., aliás num excelente artigo, proclamar o triunfo da terapêutica hanemanniana  sobre a clássica alopatia.

            Amigo da verdade, o ilustre esculápio não quis negar aos espíritas um lugar modesto ao sol tépido do seu preconício, embora os nivelando aos curandeiros.

            Certo, não vai nisso desdouro algum, quando há curandeiros que curam e médicos que não curam, tanto quanto não sabendo uns por que o fazem, ignoram outros por que o não o fazem.

            Mas, como também por princípio somos amigos de verdade, precisamos dizer ao Dr. Licínio os seguintes itens, não quanto às suas conclusões que são verdadeiras, mas quanto às suas premissas que são falsas:

            1º - Não é certo, ao menos para os médiuns que aqui trabalham, que eles fossem - como jamais o fazem - buscar inspirações no receituário da patogenia clássica.

            2º - Conquanto houvesse para o tratamento da gripe um certo número de medicamentos uniformemente prescritos, o receituário mediúnico sempre variou atendendo a sintomas peculiares a cada caso, ou, por outra, não houve o empirismo do quinino e chá de canela.

            3º - Os médiuns espíritas desse nome não podem ser equiparados aos curandeiros, já porque são meros instrumentos de uma inteligência (espírito desencarnado) que receita conscientemente como o comprovam diagnósticos e curas reputadas impossíveis pelos médicos da Terra, já porque o fazendo por espírito de caridade, como determina o Evangelho, nada recebem em pagamento e, às vezes, até se contentam com a ingratidão de uns e a ridicularia de outros, como legítimo apanágio da presunção e vaidade humanas.

            Outros itens ainda se impunham para que o ilustre médico, engenheiro e pedagogo pudesse avaliar a inanidade dos seus conceitos e conclusões, mas nós nos abstemos de os formular na convicção que seriam inúteis, embora a adesão de um médico notável como S.S. não constituísse fato inédito, por isso que o Espiritismo os conta e dos mais abnegados e sinceros, no seu vasto proselitismo.

            Que isso e a consciência de um dever honestamente cumprido nos baste para prosseguir, dando graças a Deus e parabéns ao Dr. Licínio pela infalibilidade da sua ciência.
...................................................................
Ecos da Pandemia
Reformador (FEB) Novembro 1918

            Comunica-nos o Grêmio de Propaganda Espírita, de Bangu, ter atendido a cerca de 800 doentes de gripe diariamente, funcionando a sua farmácia noite e dia na distribuição de medicamentos homeopáticos, cuja aplicação, graças à misericórdia do Pai, foi coroada do melhor êxito.

            Além da satisfação justa de terem bem cumprido o seu dever durante os calamitosos dias que, graças a deus, já se foram, os nossos irmãos de Bangu encontrarão por certo neste fato mais um motivo para prosseguir porventura mais firmes na tarefa de servir à Causa de Jesus, a quem rogamos os abençoe e ilumine.

..............................................................
A Assistência aos Necessitados e a Pandemia  
Reformador (FEB) Dezembro 1918

            Grandes foram as graças que Jesus derramou sobre esta casa.
           
            Os suaves eflúvios dos nossos Guias nos envolveram a todos, dando-nos os elementos precisos para que, nesse transe doloroso, causado pela pandemia que se desenvolveu nesta cidade, pudéssemos confrontar os numerosos enfermos do corpo e da alma que às nossas portas bateram.

            Felizes nos sentimos termos cumprido com o nosso dever de cristãos, afagando os nossos irmãos aflitos, consolando-os nas suas provas e recebendo para o conforto das nossas as bênçãos serenas que do Alto baixaram sobre os nossos espíritos.

            Quem passasse pela nossa porta nos dias de maiores angústias para o povo desta Capital, veria a grande, a enorme romaria de doentes e de pessoas a quem os mesmos estavam confiados, encher os salões da Assistência e como uma onda volumosa estender-se até o meio da rua, todos a suplicarem por nosso intermédio à misericórdia de Jesus.

            E Jesus tão meigo, não obstante a fraqueza dos seus servos, por nós prestou os necessários socorros a esse bando de aflitos, cujos prantos enxugamos, confundindo com eles as nossas lágrimas, vibrando numa só voz, pediam que a caridade do alto para quantos, numa só voz, pediam a caridade do alto para os seus lares desolados.

            E, cada um no seu posto, cumpriu com devotamento o seu dever, cooperando, assim para que fôssemos todos amparados nessa grande e útil prova coletiva que, para depuração dos males dos nossos espíritos, em boa hora baixou para confundir o nosso orgulho e amortecer a nossa vaidade.

            Veio a prova tremenda, terrível, com todo o seu negro préstito de horrores, mas com ela também baixou o conforto e o consolo indispensáveis para o abrandamento das desditas procuradas pelas nossas próprias misérias.

            Entoemos, pois, louvores ao Senhor, que às mancheias derramou sobre esta casa as bênçãos puríssimas da sua ternura e do seu amor.
................................................................................................................

           Deixaremos aos nossos leitores algum comentário sobre a diferença de postura entre os Centros espíritas em 1918, muitos deles atuantes no atendimentos aos doentes da gripe 'espanhola' e os Centros Espíritas de hoje, com suas portas cerradas à exceção de alguns trabalhos na área social como, por exemplo, a distribuição de cestas básicas. Não é uma crítica ao movimento espírita mas sim um pedido de esclarecimento que fazemos  por este instrumento.

Nenhum comentário:

Postar um comentário