Os
Esculápios, a Epidemia e o Espiritismo
Reformador (FEB) Dezembro 1918
A nossa doutrina tem dois inimigos natos - o padre e o médico.
Um pretende curar as almas. O outro reserva-se o privilégio
de curar os corpos.
A cura das almas, estamos vendo como ela se tem feito e faz
pelos inúmeros benefícios que fazem deste mundo um Éden de virtude – e a cura
dos corpos, pelo progressivo prolongamento da vida humana e consequente
despovoamento dos cemitérios.
As enfermidades também decresceram e a sua classificação
tornou-se tão caracteristicamente racional que entrou na ordem numeral, e, daí,
a quarta, a quinta, ou então etinográfica (é
o estudo descritivo da cultura dos povos, sua língua, raça, religião, hábitos
etc.) como, por exemplo: - a espanhola...
Justamente a propósito desta última, um ilustrado e,
dizem que opulento médico homeopata - o Dr. Licínio Cardoso veio pelas colunas do
Jornal do Comércio de 17 de Janeiro pp., aliás num excelente artigo, proclamar
o triunfo da terapêutica hanemanniana sobre a clássica alopatia.
Amigo da verdade, o ilustre esculápio não quis negar aos espíritas
um lugar modesto ao sol tépido do seu preconício, embora os nivelando aos
curandeiros.
Certo, não vai nisso desdouro algum, quando há curandeiros
que curam e médicos que não curam, tanto quanto não sabendo uns por que o
fazem, ignoram outros por que o não o fazem.
Mas, como também por princípio somos amigos de verdade,
precisamos dizer ao Dr. Licínio os seguintes itens, não quanto às suas
conclusões que são verdadeiras, mas quanto às suas premissas que são falsas:
1º - Não é certo, ao menos para os médiuns que aqui
trabalham, que eles fossem - como jamais o fazem - buscar inspirações no receituário
da patogenia clássica.
2º - Conquanto houvesse para o tratamento da gripe um certo
número de medicamentos uniformemente prescritos, o receituário mediúnico sempre
variou atendendo a sintomas peculiares a cada caso, ou, por outra, não houve o empirismo
do quinino e chá de canela.
3º - Os médiuns espíritas desse nome não podem ser equiparados
aos curandeiros, já porque são meros instrumentos de uma inteligência (espírito
desencarnado) que receita conscientemente como o comprovam diagnósticos e curas
reputadas impossíveis pelos médicos da Terra, já porque o fazendo por espírito
de caridade, como determina o Evangelho, nada recebem em pagamento e, às vezes,
até se contentam com a ingratidão de uns e a ridicularia de outros, como
legítimo apanágio da presunção e vaidade humanas.
Outros itens ainda se impunham para que o ilustre médico,
engenheiro e pedagogo pudesse avaliar a inanidade dos seus conceitos e
conclusões, mas nós nos abstemos de os formular na convicção que seriam
inúteis, embora a adesão de um médico notável como S.S. não constituísse fato
inédito, por isso que o Espiritismo os conta e dos mais abnegados e sinceros,
no seu vasto proselitismo.
Que isso e a consciência de um dever honestamente
cumprido nos baste para prosseguir, dando graças a Deus e parabéns ao Dr. Licínio
pela infalibilidade da sua ciência.
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Ecos da
Pandemia
Reformador (FEB) Novembro
1918
Comunica-nos o Grêmio de Propaganda Espírita, de Bangu,
ter atendido a cerca de 800 doentes de gripe diariamente, funcionando a sua farmácia
noite e dia na distribuição de medicamentos homeopáticos, cuja aplicação,
graças à misericórdia do Pai, foi coroada do melhor êxito.
Além da satisfação justa de terem bem cumprido o seu
dever durante os calamitosos dias que,
graças a deus, já se foram, os nossos irmãos de Bangu encontrarão por certo
neste fato mais um motivo para prosseguir porventura mais firmes na tarefa de servir
à Causa de Jesus, a quem rogamos os abençoe e ilumine.
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A Assistência
aos Necessitados e a Pandemia
Reformador (FEB) Dezembro
1918
Grandes foram as graças que Jesus derramou sobre esta
casa.
Os suaves eflúvios dos nossos Guias nos envolveram a
todos, dando-nos os elementos precisos para que, nesse transe doloroso, causado
pela pandemia que se desenvolveu nesta cidade, pudéssemos confrontar os
numerosos enfermos do corpo e da alma que às nossas portas bateram.
Felizes nos sentimos termos cumprido com o nosso dever de
cristãos, afagando os nossos irmãos aflitos, consolando-os nas suas provas e recebendo
para o conforto das nossas as bênçãos serenas que do Alto baixaram
sobre os nossos espíritos.
Quem passasse pela nossa porta nos dias de maiores angústias
para o povo desta Capital, veria a grande, a enorme romaria de doentes e de
pessoas a quem os mesmos estavam confiados, encher os salões da Assistência e
como uma onda volumosa estender-se até o meio da rua, todos a suplicarem por nosso
intermédio à misericórdia de Jesus.
E Jesus tão meigo, não obstante a fraqueza dos seus servos,
por nós prestou os necessários socorros a esse bando de aflitos, cujos prantos
enxugamos, confundindo com eles as nossas lágrimas, vibrando numa só voz,
pediam que a caridade do alto para quantos, numa só voz, pediam a caridade do
alto para os seus lares desolados.
E, cada um no seu posto, cumpriu com devotamento o seu
dever, cooperando, assim para que fôssemos todos amparados nessa grande e útil
prova coletiva que, para depuração dos males dos nossos espíritos, em boa hora
baixou para confundir o nosso orgulho e amortecer a nossa vaidade.
Veio a prova tremenda, terrível, com todo o seu negro préstito
de horrores, mas com ela também baixou o conforto e o consolo indispensáveis
para o abrandamento das desditas procuradas pelas nossas próprias misérias.
Entoemos, pois, louvores ao Senhor, que às mancheias derramou
sobre esta casa as bênçãos puríssimas da sua ternura e do seu amor.
................................................................................................................Deixaremos aos nossos leitores algum comentário sobre a diferença de postura entre os Centros espíritas em 1918, muitos deles atuantes no atendimentos aos doentes da gripe 'espanhola' e os Centros Espíritas de hoje, com suas portas cerradas à exceção de alguns trabalhos na área social como, por exemplo, a distribuição de cestas básicas. Não é uma crítica ao movimento espírita mas sim um pedido de esclarecimento que fazemos por este instrumento.
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