segunda-feira, 25 de maio de 2020

O espírito não morre



O espírito não morre
por Deolinda Tosta da Silva
Reformador (FEB) Abril 1918

            O ponto de vista materialista, com respeito à morte, é por demais absurdo. Não se pode conceber a ideia, de que, havendo um criador de tantas maravilhas, tivesse criado o homem, para depois dar-lhe um fim tão miserando.

            O sepulcro nunca será o último pouso do peregrino da vida, porque, além do corpo falível, que à terra pertence, temos o espírito imortal.

            A tumba pode conter a matéria, mas a alma, não, esta irá livremente deslizando pelo espaço n fora, a descortinar sempre novos horizontes e buscando no grande laboratório da criação de Deus os fortificantes que irão curar as falhas nela existentes como frutos de suas más ações enquanto inexperiente. O cemitério para muitos é aterrador.

            Os ciprestes, estas árvores esguias, eretas para o céu, as flores, que são as últimas homenagens prestadas a quem morre, tudo lhes faz medo e horror.

            Mas, lá mesmo no Campo Santo, impera, ainda, o orgulho do homem.

            Até aí vamos encontrar os grandes mausoléus, com inscrições esculpidas no mármore, mostrando o nome daquele cujo corpo ali jaz. Tudo isto é vaidade e podridão, porque o verme que corrói o organismo do pobre em cova rasa também corrói o do rico em sua carneira sob suntuoso monumento. Eu, porém, sou diferente de muitos.

            Apraz-me visitar as necrópoles, estar ali pensando algum tempo no destino do Homem. Ali, só há matéria inanimada, na qual o espírito perpetra tantos crimes.

            É este o destino do corpo, enquanto a alma vai dar conta da missão confiada, e haurir novas forças para recomeça-la quando não cumprida. São todos iguais perante a morte, porque desta ninguém escapa. O rico não humilhará o pobre com sua fortuna, pois não pode dispor mais dela.

            Os bons o bem terão, e os maus, terão que sofrer, até que chegue o dia do seu arrependimento.

            Tempo virá, que em vez da tristeza, reinará a alegria na chamada cidade dos Mortos, e todos compreenderão que o “eu” não é o corpo e sim o espírito que não morre nunca.

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