Indalício Mendes
O Espiritismo
cristão e o homem
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Janeiro 1972
O Espiritismo cristão, do qual Allan Kardec, por
delegação de Espíritos superiores, foi o Codificador; tem uma função social muito
importante na vida humana, principalmente, como acontece nestes dias tumultuosos
nas épocas de aguda crise moral, quando o mundo parece haver ensandecido, sob a
influência maléfica de entidades trevosas. Dentro do equilíbrio salutar que
decorre da Doutrina Espírita, não deve a Terceira Revelação ser confundida com
certas práticas incompatíveis com o legítimo sentido de “O Livro dos Espíritos”,
repositório precioso do pensamento, ético e espiritual, condensado em “O Novo
Testamento”, conforme se poderá verificar, de pronto, nas páginas iluminadas de
“O Evangelho segundo o Espiritismo”.
A melhor maneira de o espírita andar certo, na caminhada
desta vida cheia de sacrifícios, é não se afastar da Doutrina, buscando pôr em
ação, tanto quanto possível, preceitos morais nela contidos, não desanimando
ante os erros que possa cometer, mas conservando a decisão inflexível de procurar
errar cada vez menos.
O espírita não deve iludir-se esperando que tudo lhe
corra maravilhosamente. A prática da Doutrina, numa era de tantas perturbações,
como a que atravessamos, é difícil, porém, se cada qual insistir em vencer os
obstáculos que se apresentarem ao seu esforço por melhorar adquirirá uma
serenidade capaz de lhe propiciar melhor visão dos acontecimentos cotidianos.
Dentro do Evangelho e da Doutrina, podemos renovar, diariamente,
as nossas perspectivas do momento e do futuro. Isto significa evitar a ferrugem
da rotina, responsável, na maioria dos casos, pelo envilecimento do trabalho,
em virtude de provocar a automatização do esforço e, por isto mesmo, acarretar
a falta de estímulo, de entusiasmo, de motivação, condenando-se a uma inércia
prejudicial ao progresso.
Impõe-se a vivência do lema kardequiano – “Sem caridade não há salvação”. E a Caridade pode ser exercida
a qualquer momento, através das suas múltiplas formas.
Fazer a caridade,
portanto, é uma das inúmeras maneiras de praticar a Doutrina Espírita. Se cada um de nós adotar o
critério de não se desligar dos deveres doutrinários e esforçar-se por melhorar
progressivamente, a pouco e pouco a própria mentalidade chegará à conclusão de
que somente a nós cabe a tarefa da reforma íntima, e essa reforma individual,
desenvolvida, contribuirá para aperfeiçoar a humanidade inteira. Cada pessoa,
consequentemente, pode colaborar em favor da transformação da mentalidade
predominante, ainda, no mundo de hoje. Acresce a circunstância de que não há
outra maneira de ajudar a humanidade a aproximar-se da paz e da felicidade. Decretos
governamentais, leis sociais, tudo quanto de belo se pode fazer para orientar o
homem pouco valerá se cada indivíduo não tentar a própria reforma moral, que
lhe ensejará a compreensão da vida pelo prisma da fraternidade cristã
verdadeira, sem guerras, sem perturbações violentas, sem choques ideológicos,
nem anseios de hegemonia, nem a imposição de sistemas políticos não condizentes
com o roteiro do “Sermão da Montanha”, o roteiro do Evangelho do Cristo, que se acha integrado na Doutrina que Allan Kardec codificou.
Fazer o bem, nunca fazer o mal; transformar em bem o mal
que nos atingir - eis
o caminho para prestigiar
a educação evangélica, a educação espírita, porque o maior
problema da vida é
justamente o Homem. O Espiritismo cristão prepara o indivíduo para a vida terrena,
porque lhe dá todos os elementos indispensáveis ao entendimento com os seus
semelhantes. A nossa Doutrina é o mais perfeito instrumento de relações
humanas. Ao mesmo tempo, ela nos ensina a entender os problemas da vida de além-túmulo,
porque, na realidade, a vida é uma só, em dois aspectos: o terreno e o
espiritual. Tanto assim que a Doutrina, educando o homem, prepara-o para viver
bem e utilmente com as demais criaturas humanas, sem choques, sem conflitos –
sem desarmonia. Quando os homens estiverem mais esclarecidos, todos os seus
problemas, locais, nacionais ou internacionais, serão resolvidos pacificamente,
sem o concurso da violência, que nada resolve em definitivo. E a prova simples
e direta disto está em que a humanidade tem feito guerras terríveis pela paz e
cada vez se distancia mais da tranquilidade, dentro e fora do lar. Vale
recordar um aforismo latino: “Si vis pacem, para bellum”
(Se queres a paz, prepara-te para a
guerra). E tudo caí num irremissível círculo vicioso: fazer guerra para
obter a paz; conquistar uma paz aparente, poluída (esta é a palavra da moda) pelos
resíduos do conflito antecedente, que leva a nova guerra.
Não. Só pela educação do ser humano será possível estabelecer,
no mundo, uma era de paz definitiva. E esse
é o trabalho extraordinário do Espiritismo cristão.
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