Unificação dos
Trabalhos Espíritas
Túlio Tupinambá (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Novembro 1957
É'
muito louvável a multiplicação de núcleos de trabalhos espíritas, onde os
médiuns possam desenvolver-se e cumprir suas tarefas mediúnicas. Entretanto, é
isso que tudo se faça rigorosamente dentro das determinações doutrinárias, a
fim de que não sobrevenham perturbações decorrentes da má orientação dos
trabalhos. No Espiritismo, a qualidade é sempre preferível à quantidade. O
espírita consciente de seus deveres jamais se deve afastar da Doutrina codificada
por Allan Kardec. O Espiritismo não adora ídolos nem qualquer imagem... Não
possui ritos, não apresenta similaridade alguma com certas práticas religiosas
herdadas do paganismo e muito comuns na religião dominante, isto é, o Catolicismo.
Há
dias, convidado para assistir a uma sessão espírita, comparecemos a um grupo
recém-formado. O presidente dos trabalhos, antigo católico, ainda não se
desvencilhou dos hábitos adquiridos no credo de onde proveio. Ao iniciar-se a sessão
ele e todos os que fazem parte do grupo, persignaram-se! (benzer-se, fazendo, com o dedo
polegar, três sinais em cruz (o primeiro na testa, o segundo na boca, o
terceiro no peito). Ora, se esse
diretor de trabalhos estivesse perfeitamente enfronhado nos preceitos da
Doutrina Espírita, agiria de outro modo. O que está fazendo é um Espiritismo
mesclado de Catolicismo. Espiritismo, porque há trabalhos de incorporação
mediúnica, passes, etc.; Catolicismo, porque ali se fazem coisas que seriam compreensíveis
num ambiente clerical, nunca, porém, em ambiente kardecista.
Nós,
espíritas, temos de cingir a nossa conduta pelos postulados de Kardec. A
Doutrina Espírita tem de ser a bússola de todos os adeptos do Espiritismo. Não
é recomendável que cada grupo tenha a sua maneira de trabalhar, porque isso não
deve ficar ao sabor dos caprichos e das preferências de cada organizador de
centro. Se não houver uniformidade de orientação no Espiritismo, começaremos a
enfraquecer e seremos, assim, mais facilmente atacados pelos inimigos da nossa
Doutrina.
As
sessões devem começar e terminar com uma prece. Depreca-se (suplica-se, implora-se) a proteção do Guia dos trabalhos, no
princípio, e termina-se agradecendo a ajuda prestada, Nessas preces, coloque-se
sempre presente o nome de Jesus, que é a figura máxima depois de Deus, no
Espiritismo cristão. Deve ser feita a leitura e o estudo de trecho de “O
Evangelho segundo o Espiritismo”, de “O Livro dos Espíritos”, de “O Livro dos
Médiuns” e de todos os livros de Kardec ou de
grandes vultos do Espiritismo. Na hipótese de se estabelecer uma norma para
esses estudos, comentários curtos devem ser realizados, não só para a elucidação
dos assistentes desencarnados como dos encarnados. Eis aí, em síntese, a
prática a seguir. É de boa recomendação jamais adotar qualquer fórmula que não
esteja conforme com os ensinamentos de Allan Kardec. Eis dois livros úteis e
aconselháveis, que muito podem esclarecer: “As sessões práticas do
Espiritismo" de Spartaco Banal, e “Sessões práticas e doutrinárias”, de
Aurélio Valente.
A
força do Espiritismo está na compreensão e prática da Doutrina Espírita. É preciso
que ela seja insistentemente estudada e explicada por aqueles que já se
encontram no pleno conhecimento de seu conteúdo. Os elementos neo espíritas, provenientes
do Catolicismo, do Protestantismo e de outros credos, são sempre merecedores de
simpatia. mas é necessário que se libertem completamente de hábitos e
preconceito adquiridos na antiga religião, para que possam ser verdadeiramente
espíritas, para que possam usufruir integralmente todos os beneficias que o
Espiritismo pode proporcionar.
Uma
boa obra, para orientação dos neo espíritas e esclarecimento daqueles que,
embora mais velhos no Espiritismo, ainda não consolidaram seus conhecimentos
doutrinários, é “Estudando a Mediunidade", de Martins Peralva. Nela se
encontram, à guisa de prefácio, magníficas palavras de Emmanuel, o iluminado
Espírito que tantas lições profundas nos tem dado. Chamamos a atenção dos
espíritas em geral, e principalmente dos médiuns, para as seguintes, relativas
à mediunidade:
“Não é patrimônio exclusivo de um grupo, nem
privilégio de alguém. Desponta
aqui e ali, adiante e acolá, guardando consigo revelações convincentes e possibilidades
assombrosas. Contudo, para que se converta em manancial de auxílio perene é
imprescindível que a Doutrina Espírita lhe clareie as manifestações e lhe governe
os impulsos. Só então erige em fonte contínua de ensinamentos e socorro,
consolação e bênção.
Estudemo-la, pois, sobre
as diretrizes kardequianas que nos traçam seguro caminho para o Cristo de Deus
através da revivescência do Evangelho simples e puro, a fim de que mediunidades
e médiuns se coloquem, realmente, a serviço da sublimação espiritual.”
Anote-se
o cuidado a referência que Emmanuel faz à necessidade do estudo da Doutrina
Espírita. Embora a liberalidade ampla do Espiritismo, que modo algum coage ou
violenta o livre arbítrio e quem quer que seja, pois cada qual é responsável
por seus atos, é nosso dever, como profitente (que professa) do Espiritismo, acenar para os que, voluntária ou involuntariamente,
se afastam dos preceitos rigorosamente doutrinários, lembrando-lhe que, por
muito respeitáveis que sejam os orientadores terrenos dos núcleos de trabalho
espírita, e não pomos dúvida, a tal respeito, a orientação certa, a que é a
orientação constante da Doutrina Espírita encontra-se na Federação Espírita
Brasileira, casa mater do Espiritismo, amparada pelas luzes de Ismael e
abençoada pela misericórdia de Jesus.
Temos
de trabalhar afinadamente pela unificação cada vez maior dos trabalhos espíritas
no Brasil e no mundo. Essa unificação somente será possível pela irrestrita,
fiel e devotada observância da Doutrina Espírita, legado dos Espíritos a Allan
Kardec e à Humanidade.
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