O
Corpo de Jesus
Victor
Hugo por Zilda Gama
Reformador (FEB) Maio 1946
Jesus não possuía o organismo tangível ou carnal -
sujeito às contingências fisiológicas - mas um organismo sideral, de
sensibilidade quintessenciada, no qual os pensamentos cruéis de seus
adversários atuavam maleficamente ocasionando-lhe sofrimentos e torturas morais
indefinidos. Como, porém, já estava de posse de todos os atributos, Ele os
exteriorizava como se, realmente, os seus tecidos fossem materiais: apresentava
equimoses, chagas, perfurações nos membros superiores e inferiores. Tudo isso,
que não passava de reprodução psíquica, Ele o padeceu, porque seu corpo
tangível estava em contato com o ambiente terreno. Se Ele o quisesse, não
sofreria nenhuma dor, insulando-o pelo poder da volição, que, logo, eliminou
todos os vestígios dos martírios por que passou, novamente patenteados na
presença do incrédulo Tomé; mas a sua missão era bem outra, não a de convencer
pelos olhos, qual se fora um mago, mas pelo coração e pela Fé; e, ao mesmo
tempo, deixou o eterno exemplo de como se pode conquistar a redenção:
praticando o bem, padecendo injustiças, calúnias, traições, tendo na alma
piedade infinita por todos os delinquentes; e, em permuta, receber escárnios e
bofetadas, sem ter, no plano material, dedicados amigos que com Ele sofressem e
que ficassem vigilantes nos momentos de dor infinita... Tudo isso, Pedro, se
passou diante de teus olhos... E não ouviste: Também tu o abandonaste e lhe foste
infiel... o que ora relembro, não para te censurar, mas apenas avivando o
passado e a realidade. Não te comovas assim, até às lágrimas, irmão! Escuta-me:
de Jesus foi encerrado no sepulcro apenas seu corpo condensado ou
materializado, amortecido voluntariamente, e, mal se achou insulado, logo despertou.
Jesus não era um ser igual aos entes humanos, porquanto,
quando baixou ao Planeta de Sofrimento, já possuía todos os atributos
espirituais, muitos dos quais ainda ignorados pelos que o conheceram. Mais
tarde, porém, todos os sucessos relativos ao nascimento e à morte, isto é, ao
início e ao termo da missão do Nazareno, serão elucidados plenamente, na Terra.
Algo direi sobre o que tanta admiração te causa: a derradeira cena do Calvário.
Não conheces, Pedro, a vida do pequeno inseto que fabrica
a seda, a maravilha dos tecidos feitos com elementos gerados nas entranhas de
uma das espécies do bombyx-mori? (O
bicho-da-seda é a larva ou lagarta da mariposa doméstica Bombyx mori). Pois bem, não fica ele entorpecido, durante algum
tempo, no próprio estojo que engenhou, e os homens mais cultos e inteligentes
procuram vãmente imitar? Onde se ocultam as suas asas que, durante a letargia,
se desagregam de seu próprio organismo, pétalas que desabrochassem em um cálice
de flor, para, então, a falena (mariposa) já desperta, ansiosa por liberdade, ébria de amplidão,
corroendo o envoltório que a constringia, expandir os seus adejos (o bater de asas ligeiros para manter-se no ar) sobre as mais encantadoras filhas dos jardins e dos
prados?..
Assim, Pedro, no paralelo do mágico produtor da seda,
calcula o que se passou
com o Mestre bem-amado que
já era um dos Emissários divinos.
Tomado o seu corpo de um torpor ou de um esmorecimento
que Lhe deu a aparência de rígido cadáver, foi
levado ao sepulcro. Mas realizado seu despertar, dissolveu-se o envoltório materializado,
recobrando o Espírito todas as suas portentosas faculdades.
(Extraído da obra Dor Suprema - Livro VIII, capítulo
VIII, obra essa recebida de Victor Hugo, Espírito, pela médium brasileira -- Zilda
Gama, a quem os espíritas devemos inúmeros trabalhos recebidos mediunicamente,
todos de grande valor doutrinário e literário).
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