Universalidade
do Espiritismo
Ismael
Gomes Braga
Reformador
(FEB) Novembro 1942
Um amigo muito culto, portador com
dignidade de diploma de uma das nossas escolas superiores, católico-romano
praticante relatou-nos dois fatos por ele verificados, de comunicações de
mortos, fora de rodas espíritas. São estes os fatos: alguns meses depois de
falecido o chefe de uma família católica, a viúva admitiu a seu serviço uma criadinha
que não conhecera o morto e nada sabia dos negócios dos esposos. Certo dia essa
jovem criada caiu desmaiada. Socorrida pelas pessoas da família, pôs-se a falar
com a voz, os modismos, os pensamentos do morto, sobre assuntos materiais do
Inventário de seus bens. Não só declarou que era o falecido chefe da família,
como o demonstrou pelos conhecimentos que revelou de todos os negócios e interesses
da viúva. Se bem todos na família desconheçam o Espiritismo, não ficou dúvida
de que tenham recebido longa comunicação de seu chefe, por intermédio de uma
pessoa que não sabia coisa alguma de mediunidade.
O nosso relator, igualmente, não
duvida da autenticidade da comunicação e limita-se a dizer que não quer
aprofundar-se nesses assuntos.
Ainda o mesmo cavalheiro nos relata
o caso de uma pessoa conhecida, que no momento da morte falou em voz direta com
uma senhora amiga e dela se despediu, em outra cidade. Ambos os casos ocorreram
entre pessoas dignas de toda a fé e boas católicas.
Esses dois relatos nos trouxeram à
lembrança uma multiplicidade de casos semelhantes, que temos ouvido em rodas católicas,
de pessoas que desconhecem o Espiritismo. Quase que todas as famílias possuem
um ou alguns casos de manifestações de Espíritos. São aparecimentos, vozes
diretas, sonhos premonitórios, incorporações espontâneas
e outras modalidades dos mesmos fenômenos que o Espiritismo estuda e
classifica. É assim e não poderia ser de outro modo, porque os fenômenos
espíritas são eternos e universais deram-se e dão-se em todos os lugares e em todos
os tempos. Foram a base inicial de todas as religiões e são igualmente o
alimento de todas as crenças religiosas em todos os tempos. Sem esses fenômenos,
que confirmam os livros sagrados, as ideias religiosas teriam morrido no mundo,
o materialismo absoluto teria dominado todas as consciências.
Portanto os fenômenos básicos do
Espiritismo se dão sempre e mantêm vivas as religiões em toda a face do
planeta. São as comunicações de santos que enchem a literatura católico-romana
e sustentam a fé nos fieis. Uma das formas de comunicação mais comuns entre os
católicos são as curas de enfermidades obtidas por intercessão de um santo.
Cada santo tem a sua história de curas milagrosas bem documentada. É a mais
comum, mas não a única. As aparições de mortos aos vivos são registradas nos
anais da Igreja e em
muitos processos de canonização.
Fora de discussão, pois, está que os
mesmos fenômenos do Espiritismo são igualmente do Catolicismo e de todas as
religiões. Outra coisa, porém, é a filosofia propriamente dita. Os Espíritos
sempre se comunicaram em todos os meios e em todos os tempos mas a formação da
filosofia espírita é recente e foi elaborada pelo confronto das comunicações de
muitos Espíritos em muitos lugares, não em fatos isolados de indivíduos que se
manifestam.
Virá a ser universalmente aceita a
filosofia espírita, assim como está aceita a "ciência", isto é, o
conhecimento das manifestações de mortos? A ciência consiste no conhecimento da
verdade bem verificada e não passa além. A filosofia, porém, vai muito além e
justifica a religião, esclarece os caminhos a percorrer, estabelece regras de
conduta, transforma o indivíduo e consequentemente as coletividades.
A universalidade dos mesmos fenômenos
até agora não conduziu à unidade de crenças, deixou a humanidade dividida em múltiplas
seitas, que reciprocamente se hostilizam e cada uma delas pretendendo o monopólio
exclusivo da verdade. Virá o Espiritismo a reunir todos os filhos de Deus sob
uma única bandeira no futuro? Para
esta
pergunta procuramos resposta nas comunicações dos Espíritos superiores. Em 1857
apareceu a primeira edição de "O Livro dos Espíritos"; logo há mais
de 85 anos que foram escritas as palavras que vamos ler.
Sob o número 798, Allan Kardec
pergunta: "O Espiritismo se tornará crença comum ou ficará
sendo partilhado, como crença, apenas por algumas pessoas?"
Resposta dos Espiritos:
"Certamente que se tornará
crença geral e marcará nova era na história da humanidade, porque está na
natureza e chegou o tempo em que ocupará lugar entre os conhecimentos humanos.
Terá, no entanto, que sustentar grandes lutas, mais contra o interesse, do que
contra, a convicção, porquanto não há como dissimular a existência de pessoas
interessadas em combate-lo, umas por amor próprio, outras por causas inteiramente
materiais. Porém, como virão a ficar isolados, seus contraditores se sentirão
forçados a pensar como os demais, sob pena de se tornarem ridículos".
A essas palavras ditadas do Alto há perto
de um século, poderíamos juntar hoje a luz da experiência. O número de
estudiosos do Espiritismo cresceu sempre e vem formando uma literatura
imponente. Nota-se pelos serviços de livraria que os intelectuais, os
pensadores, tomam interesse cada vez maior por esse estudo. A literatura dos
adversários, contestando o Espiritismo, tem diminuído sempre. Hoje no Brasil
não há um livro, contra o Espiritismo, em pleno vigor, esgotando edições. Todos
os que apareceram, viveram pouco tempo e desapareceram. Ao contrário, os livros
de defesa do Espiritismo se contam sempre vivos, sempre no cartaz, esgotando
edições, há mais de meio século. Há obras espíritas em português que já
alcançaram muitas edições e continuam em pleno vigor. Há obras novas que já
esgotaram diversas edições. Referimo-nos somente ao Brasil, por falta de dados seguros
para examinar o assunto noutros países; mas, a situação em outros países é
muito semelhante à nossa: o combate contra o Espiritismo diminui e a propaganda
cresce. Não seria exagero dizermos que, sobre o Espiritismo, se esgotam mais
livros do que sobre todos os outros movimentos religiosos juntos, com exceção
somente da Bíblia entre os protestantes. A Bíblia, porém, é aceita pelos espíritas
como obra de interesse a favor do Espiritismo, e não como obra contrária.
Esse crescimento constante da
literatura espírita e sua aceitação cada dia maior demonstra que o nosso
movimento ganha terreno entre os intelectuais, entre os pensadores, isto é,
entre os homens que consciente ou inconscientemente dirigem a humanidade. Em
outras palavras: como movimento intelectual, o Espiritismo já ocupa
um dos
primeiros lugares entre os movimentos religiosos do mundo, se bem que como
movimento social, sua posição ainda seja modesta.
A influência social do Espiritismo é
ainda pequena e disso temos prova nas guerras que se desencadeiam por toda
parte. Quando a influência social do Espiritismo for grande, a guerra será
abolida da face da terra. Ninguém pode supor que os espíritas de um país se reúnam
de armas na mão para atacar os espíritas de outro país. O triunfo do Espiritismo
será o estabelecimento da paz universal. Talvez esse futuro esteja longe, mas
virá um dia.
Para o momento, o que mais nos
interessa é verificar se o Espiritismo tem assegurado o seu futuro, se não está
sujeito a que algum Constantino o ponha a serviço de sua política, matando-o assim.
Em muitos países a propaganda do
Espiritismo é proibida e nisso não há grande mal, porque seria impossível
harmonizar o ideal espírita com o ideal político de tais países. É mesmo preferível
desaparecer da propaganda pública, a ter que se submeter a ideologias
completamente opostas às do Cristianismo. Dizemos da "propaganda pública"
porque a propaganda privada é feita pelos Espíritos e não está sujeita a limitação
alguma dos Estados. Na Alemanha, na Itália, na Rússia, no Japão, apesar, de
todas as proibições, os Espíritos se comunicam e não podem ser presos, nem
fuzilados, nem queimados. Somente, as comunicações não podem ser publicadas,
permanecem nos lares, nas rodas íntimas, esperando o tempo oportuno para se
divulgarem.
Semelhante proibição, e mais
violenta ainda, teve o Cristianismo nos primeiros séculos, mas isso não impediu
a sua perpetuação no mundo. Mais perseguido ainda do que o Cristianismo tem
sido o Judaísmo, e não desapareceu do mundo.
O Espiritismo igualmente não
desaparecerá nem mesmo nos países onde é violentamente perseguido, e sempre
permanecerá a liberdade em alguns pontos do planeta para conservar a nossa
literatura. Hoje em todos os países da América, na Grã-Bretanha e em outros
lugares, é livre a propaganda espírita. Assim, pois, o futuro do Espiritismo
está assegurado no mundo todo, porque não cremos que o mundo todo venha a cair
em poder da tirania, e porque a tirania é impotente para impedir as
manifestações dos
Espíritos.
Graças a Deus, em nossa Pátria,
desde os tempos do Império até os nossos dias, foi sempre assegurada aos espíritas
ampla liberdade de propaganda. Nem durante os estados de guerra, quando todas
as liberdades individuais sofrem limitações em favor do bem comum, sofremos qualquer
limitação de ensinar e pregar da tribuna e da imprensa as consoladoras verdades
do Espiritismo. Cumprem-se, portanto, as profecias escritas há 85 anos passados
e o Espiritismo se vai incorporando aos conhecimentos humanos que hão de
estabelecer uma nova era para a humanidade. Os fenômenos multiplicam-se dentro e
fora das nossas fileiras; e os fenômenos são fatos e os fatos não se destroem
com palavras.
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