O Progresso e o Espiritismo
Gustavo Macedo
Reformador (FEB) Novembro 1935
“Não digais: bem aventurados os que podem viver sem saber e sem perguntar.
Dizei antes: bem aventurados aqueles cujo espírito nunca se sacia de conhecimento e de bem, que lutam e sofrem por uma conquista sempre mais elevada.” (‘A Grande Síntese’, Reformador de 16 de Setembro de 1935, página 413).
Abroquelado nessas palavras, não tememos a exposição, por estas colunas, de nossos pontos de vista doutrinários. Os neófitos, os moralmente atrasados, como o obscuro signatário destas linhas, não têm asas para subir, em remígios (voo das aves) alcandorados (em grandes alturas), às esferas luminosas dos assuntos morais. Devem-se contentar com os voos curtos das aves de galinheiro, voos que são a véspera dos grandes surtos, em obediência ao ritmo ascensional do progresso.
Assim, versando embora uma tese puramente dialética, não nos sentimos a contragosto. Cada qual dá o que tem. Não podendo ainda aconselhar, resignamo-nos a ser aconselhados.
Eis o que pedimos: conselho e correção.
Ávido de conhecimentos e esforçado na prática do bem, estaremos enquadrados na diretriz de “A Grande Síntese”.
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Tem o Espiritismo influído no Progresso?
No progresso material da humanidade e no progresso físico do planeta - não.
Ainda mesmo que esse prisma do progresso estivesse contido no campo de ação do Espiritismo (e diretamente não está) não haveria tempo para qualquer influência:
a) porque as transformações materiais da humanidade e físicas da Terra têm sido lentamente operadas, especialmente estas últimas, só verificáveis sob o império de leis geológicas e biológicas.
É certo que as conquistas materiais se acham, de fins do século passado para cá, numa fase de aceleração.
Largamente contribuíram para isso alguns Espíritos missionários, dentre os quais sobressai a figura excepcional de Edison, o Inventor da Paz, cujas 1200 invenções se prendem todas a assuntos científicos, industriais, práticos, recreativos - nenhuma à guerra! Talvez, nesse sentido, o da revelação de segredos fundamentais da natureza, possamos aplicar a expressão bíblica: Os tempos são chegados.
b) porque o Espiritismo propriamente dito é doutrina recente, ou, pelo menos, recentemente sistematizada. Não se concebe, com caráter doutrinário, Espiritismo antes de Kardec, como Positivismo antes de Augusto Comte, nem Reformismo antes de Lutero. Sem dúvida, vida, sempre houve Espíritos, sempre houve médiuns, sempre houve a matéria prima para o intercâmbio entre o plano espiritual e o terreno. O Evangelho e a história profana estão repletos de exemplos. Que foi a transfiguração do Tabor, o aparecimento de Moisés e Elias, senão um fenômeno caracteristicamente espírita? Que foi, senão um fenômeno caracteristicamente espírita, a inspiração de Jeanne d'Arc, anatematizada e canonizada pela mesma igreja infalível? Que foi o próprio Cristo, senão o médium de Deus?
Mas, tudo estava condicionado ao mérito, ao esforço da humanidade para receber essa explicação da vida, que é o Espiritismo. Sem o esforço intelectual, sem conhecer certos rudimentos sobre éter, sobre a eletricidade, como admitir a existência do fluido, compreender a natureza superfísica do Espirito? Sem o influxo das ideias democráticas (em grande parte devidas a Lutero, verdadeiro pai da democracia moderna) como implantar o princípio de que todos somos iguais, não só quanto ao começo (ignorância, ingenuidade absoluta), como também quanto ao fim (progresso moral perfeito)? Sem o florescimento de virtudes, sem a preparação pela dor, a qual pode fazer o homem progredir até malgrado seu, como tornar inteligível uma doutrina de humildade, renúncia e perdão? Moisés, proibindo a comunicação com os mortos e consignando assim a sua possibilidade, fê-lo por conhecer o atraso mental dos hebreus de então. O Cristo, permitindo o advento do Espiritismo, fá-lo porque o momento já é oportuno. Nada vem antes, nem depois da hora. Os tempos são chegados.
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Sob o ponto de vista do progresso intelectual, dupla e recíproca é a influência: o Espiritismo reage sobre o conhecimento intelectual e vice-versa. Recebidas as primeiras manifestações espíritas com incredulidade, com indiferença, com zombaria, as vezes com rancor, pouco a pouco alguns homens eminentes foram se sentindo atraídos para a multiplicidade dos fatos e sua impressionante uniformidade em todas as latitudes do globo.
A verdade se apresentava com característicos insólitos. Contudo, nem sempre a verdade parece verosímil.
A ciência, que caminha sobre as ruínas das hipóteses, na frase de Poincaré; está sempre desmentindo a si mesma.
Dizia-nos há pouco ilustre médico que a tuberculose pode ser considerada moléstia recentíssima. Até 1927 ou 1928, tudo o que se conhecia a respeito dela era falsíssimo, afirmando-se, por exemplo, que ela nasce de baixo para cima, quando nasce de cima para baixo...
No rádio, antigo agente terapêutico contra o câncer, os atuais especialistas veem uma das causas de formação do câncer...
Os pensadores e artistas que, em vez de negar a priori, têm versado o Espiritismo, são, pois, os representantes da verdadeira Ciência, eminentemente analítica. E a análise pressupõe conhecimento...
Núcleos espíritas bem orientados, compostos de cientistas, poderão receber deslumbrantes revelações, que imprimirão inapreciáveI impulso à ciência contemporânea. Só o conhecimento e aplicação dos fluidos - que espantoso manancial de segredos!
Mesmo o horizonte de algumas das artes intelectuais foi amplamente aumentado pela influência do Espiritismo. Cabe aos críticos literários assinalar a revolução na técnica do romance, causada pela descrição de cenários e aspectos da vida chamada de além-túmulo.
Tais romances, hoje comuns, não são fantasistas, à moda de Wells, nem propriamente precursores, à feição de Júlio Verne. Descrevem, indutivamente, logicamente, paisagens e usos de uma vida tão possível a nosso lado, como a presença do éter, dos micróbios, até há pouco negados, porque não eram visíveis.
Um romancista do tipo de Machado de Assis, incapaz de sentir e descrever a paisagem; todo ele observação e psicologia, não estaria apto a transmudar-se, caso chegasse a sentir a paisagem de outro plano?
Que estupendo acréscimo ao romance, em perspectiva! Apenas isto: a descrição da vida cósmica, e não meramente da vida terrena!
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Quanto ao progresso moral, é o legítimo progresso.
As transformações físicas dos seres e das coisas denominam-se Evolução.
O progresso material dos povos denomina-se Civilização.
O progresso intelectual denomina-se Ciência.
O progresso moral é o gradativo domínio do egoísmo. Nele o Espiritismo influi decisivamente. É o que tentaremos demonstrar ainda, se nos for permitido.
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