Kardec
– Roteiro da Verdade
Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Outubro 1952
Fiel à sua missão na Terra, Allan
Kardec não foi um nome que passou. Podendo ter brilhado, se acompanhasse as
ideias de seu tempo, preferiu os desassossegos da luta ao tranquilo bem estar
dos acomodatícios. Portanto, foi um nome que ficou na lembrança da Humanidade,
por haver divulgado ensinamentos indispensáveis ao aprimoramento espiritual
daqueles que reconhecem a superioridade da vida do espírito. Sua glória maior
consiste em haver sido o Codificador do Espiritismo, em obediência a
determinações do Alto. Entretanto, teve o cuidado especial de impedir que
pretendessem santificá-lo, que se atribuísse à sua magnífica missão algo de
sobrenatural. Foi simplesmente um executor da Vontade do Cristo. E nesse
“simplesmente” pôs Allan Kardec todas as virtudes da sua alma, renunciando às
glórias terrenas e dando à tarefa gigantesca todos os recursos de inteligência,
toda a sua energia física, toda a sua autoridade moral. Não lhe faltaram
detratores, como ainda hoje não faltam aqueles que lançam pedras à árvore sem
conhecer-lhe a qualidade dos frutos.
Quanto mais se estuda a vida do
Codificador, mais se compreende a necessidade da luta. Não a luta agressiva,
desfraterna, Inamistosa, mas a boa luta, que exige renúncia de benefícios próprios
e recomenda tenacidade na defesa dos princípios doutrinários, na propaganda
simples e intuitiva desses princípios, quer pela palavra escrita, quer pela
palavra falada. O essencial é que a propaganda tenha por base a exemplificação.
Sem seriedade, ninguém deve entregar-se ao estudo do Espiritismo. Sem isenção de
ânimo é impossível julgar com justiça a doutrina que Kardec codificou.
Entretanto, os mais acérrimos adversários do pensamento espírita são aqueles
que se deixaram empolgar
pela
negação a priori. Condenam os fenômenos espíritas sem se haverem aprofundado na
observação atenta. Querem estar bem com o credo politicamente dominante e
ganhar a auréola de cientistas, como se pudesse a Ciência legítima avançar
negativas em questões de tamanha delicadeza. São de Kardec estas palavras: “O homem que julga infalível a sua razão,
está bem perto do erro. Mesmo aqueles, cujas ideias são as mais falsas, apoiam-se
na sua própria razão e é por isso que rejeitam tudo o que lhes parece impossível.
Os que outrora repeliram as admiráveis descobertas de que a Humanidade se
honra, todos endereçavam seus apelos a esse juiz, para repeti-la, O que se
chama razão não é muitas vezes senão orgulho disfarçado e quem quer que se
considera infalível apresenta-se como igual a Deus. Dirigimo-nos, pois, aos
ponderados, que duvidam do que não viram, mas que, julgando do futuro pelo
passado, não creem que o homem haja chegado ao apogeu, nem que a Natureza lhe tenha
facultado ler a última página do seu livro.”
(“Introdução” - O Livro dos Espíritos.)
Essa é a palavra de um sábio.
Todavia, interesses mundanos e políticos nem sempre permitem que o homem
impermeável à meditação reconheça a verdade. Negam o Espiritismo da mesma
maneira que negariam o próprio Cristo, se ressurgisse em forma visível para
lhes assegurar a solidez do Cristianismo Redivivo. Kardec não criou o
Espiritismo, mas, através da Codificação, permitiu que a Humanidade melhor se
identificasse com os seus benefícios. O Espiritismo sempre existiu mas a
palavra de Kardec foi o sopro de renovação espiritual do Cristianismo do
Cristo, vigoroso e eterno, que a deturpação de pretensos seguidores do Mestre
maculou com transigências e acomodações. Os ataques dirigidos ao Cristianismo,
redobrados no século XIX e revigorizados no século atual, não apontam falhas
nem erros na doutrina de Jesus, mas no corpo doutrinário que falseou a essência
do pensamento cristão desde a concordata com Constantino. “Os vícios de educação religiosa haviam prejudicado as noções da
criatura, relativamente ao problema da alma desencarnada. As ideias de um céu
injustificável e de um inferno terrível definiam como exilado da Terra, onde
amou, lutou e sofreu, criando profundas raízes sentimentais, o Espírito
exonerado da carne. Semelhante convicção contrariava o espírito de sequência da
Natureza. Quem atendeu às determinações da morte, naturalmente continua, além, as
tarefas começadas no caminho evolutivo, infinito. Quem sonhou, esperou,
combateu e torturou-se não foi a carne, reduzida à condição de vestidura, mas a
alma, senhora da vida imortal. Tais observações expressam, de algum modo, o
alcance grandioso da missão de Allan Kardec, considerada nos vários círculos de
aperfeiçoamento em que nos movimentamos. É justo o reconhecimento dos homens e
não menor o nosso agradecimento aos seus sacrifícios de missionário, ainda
porque em seu ministério de revelação apreciamos a atividade do apóstolo sempre
vivo. Que Deus o abençoe." (“Kardec e a espiritualidade” - Emmanuel.)
Humílimo crente do Espiritismo, curvado
ao peso das minhas inferioridades ostensivas ou ocultas, seja a minha voz
débil, nesta hora de alegria para o mundo espiritista, eco, imperceptível
embora, da minha fé no caminho do Cristo e a minha gratidão à rota abençoada a
que me conduziram as obras do Grande Codificador!
Devo-lhe
o haver conhecido o roteiro da verdade.
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