Como
morrem as religiões – Parte 1
Theóphilo
Siqueira
Reformador
(FEB) Maio 1937
Conta Renan que, na igreja de sua
terra natal, reunia-se o povo, à meia noite, no dia
de S. lvo e o Santo estendia os braços para abençoa-lo. Mas, se houvesse ali
alguém que
duvidasse, erguendo os olhos para verificar o milagre, o Santo se ofendia do ato
e não
se movia, perdendo-se por esta causa a benção. (Recordações da infância.)
O catolicismo romano plantou, na
subconsciência dos povos a que serve, infelizmente, a crendice, a superstição
religiosa. Criou o materialismo-religioso, pior, talvez, que
o materialismo puro, pois este nega, mas aquele desfigura, deturpa e conspurca.
A crença cega, sem raciocínio,
estratificou-se. Da ortodoxia impenitente, os bons espíritos se afastaram;
mirrou-se a delicada flor da pura intuição, que vai brotar algures. Surge
o profetismo fora da Igreja, por isso que igreja não é templo, não é casa de
pedra e argila, mas o próprio profetismo. “Tu
és Pedro e sobre esta pedra edificarei a minha igreja e as portas do inferno
não prevalecerão sobre ela.” Isto é: sobre este teu profetismo. Pedro, esta
tua intuição, esta tua mediunidade, em suma, a minha igreja será edificada e
nada, nenhum erro, nenhum interesse inferior a destruirá. Eis fundada, desde
esse momento, a verdadeira Igreja, do divino Salvador.
Não importam as falsas “Igrejas”, os
falsos “Cristos”, os falsos profetas ou médiuns.
Os novos alicerces sobre os quais
repousará o espírito-santo são aquelas declarações peremptórias do Apóstolo
Simão, cujo nome
foi mudado para o de Pedro - pedra - pelo Senhor Jesus.
As sutilezas teológicas, essa
impenetrável ciência que teve a grande vantagem de desorientar
o povo, de turvar o que era claro, de aristocratizar o que era simples - não fora
um gênio aquele frade do XI século - S. Tomás, que com a sua Escolástica-
adaptou à Igreja os princípios de Aristóteles - estabeleceram a contrafação de
uma pura verdade, contrafação que tem durado tanto...
Mas, a evolução é, por sua natureza,
lenta, pois que a imortalidade não tem pressa. Qual
é, em suma, a duração de uma religião? Ela irá até o ponto em que se “igrejificar”.
Uma vez “igrejificada”, a esclerose começa a minar lhe o organismo. Os exemplos abundam
na História.
Constantino, em 424, iniciou a
aglutinação da “Igreja” de Roma... - Esse Imperador pagão,
politicamente adere aos cristãos, tornando-se o “Bispo externo”. Havia vencido a
Maxêncio, nos muros de Roma, e volta protetor do cristianismo romano... não
daquele Cristianismo
do Senhor Jesus, defendido pelo Príncipe da Paz.
O vero Cristianismo dispensa exércitos,
espadas, canhões, etc., porque sua força está no
Amor. Não resistir ao mal é o preceito messiânico.
Como
morrem as religiões – Parte 2
Theóphilo
Siqueira
Reformador
(FEB) Outubro 1937
A implacável lima do tempo gasta
toda obra humana. “Toda planta que o Pai não plantou
secará.. As “Religiões” são arranjos do interesse inferior do homem. As
revelações descidas do Alto se mesclam impurezas da contingência humana, pois
que Deus, na sua
onisciência, respeita os sentimentos predominantes através dos quais os
profetas e médiuns,
apesar dos pesares, inoculam ensino autêntico, que conduz à salvação. Deus, contemporizando
com humanas fraquezas, semeia verdades eternas, que germinam paulatinamente:
escreve direito por linhas tortas...
Mas, a tendência das doutrinas é a
de aglutinarem-se em “igrejas” e, assim, entram na
reta do fanatismo. Vem a intolerância. A doutrina, de perseguida, passa a
perseguidora. Eis o ciclo fatal das “Religiões”.
Previna-se o Espiritismo... Fuja da
aridez do escolasticismo. No dia em que se assentar sobre a sua verdade,
passará à História. Viverá, então, uma vida artificiosa, cheia de sutilezas
teológicas. Viva o Espiritismo como tem sido até agora, utilizando-se dos recursos
das modernas ciências, da metafísica, servida por escrupuloso experimentalismo,
despido de interesses sectários.
A metafísica já não se limita às
puras abstrações, mas desce ao terreno firme dos fatos.
O experimentalismo, em pleno domínio
da psicologia, já não se canaliza exclusivamente ao campo da ciência material.
Infelizmente, o exagero leva o homem a estratificar o pensamento humano,
criando o dogma. A Escolástica, exagerando os princípios aristotélicos,
solidificou uma “Teologia” rígida; imutabilizou a sua verdade. O racionalismo,
combatendo a Escolástica, exagerou, igualmente, o seu negativismo. O materialismo
impera dogmaticamente, se bem vá cedendo o passo a um intuitismo temperado de
sadio raciocínio, onde o espiritualismo, sem ritos nem “sacerdote”, ganha
terreno dia a dia, Espiritualismo, sem aquele privilegiado esoterismo hierárquico...
Um espiritualismo eclético, equidistante das “Escolas” (1) um pouco de escola
pônica, um pouco da eleástica; uma dose de Sócrates, com Platão, com uma
mistura de Aristóteles; adicionou-se mesmo um pouco de S. Tomás, sem se
desprezar F. Bacon.
(1)
Se do interesse do leitor, sugerimos busca no Google para detalhes sobre escolas
pônica, aristotélica, socrática etc. para evitarmos enxertos ao texto original.
O Espiritismo, estabelecendo o conceito
de verdade, dentro da concepção evolucionista, reporá o homem no caminho que o
torna verdadeiramente digno em face de seu Criador. O Cristianismo primitivo,
posto entre o panteísmo e o politeísmo, demonstrou, pelo Verbo incarnado, a
transcendência divina: Deus criando livremente, pela sua vontade onipotente, a
espiritualidade da alma e a sua liberdade. A Terceira Revelação, na pista da Verdade,
vai ampliando o ensino do Cristo. Religião e ciência já não se repelem, mas, ao
contrário, completam-se. Aí estão a geologia, a biologia, a física, a química
fornecendo ao homem elementos de inestimável valor
Ao Espiritismo estava reservado o
papel decisivo do critério experimental, para
prova
de uma religião revelada. E vai avassalando fariseus e publicanos, gregos e
romanos.
A força material das velhas “Religiões”, ele antepõe a sua força moral,
provando o fato. Convencer, eis o melhor meio de vencer.
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