terça-feira, 5 de novembro de 2019

Salvação pela fé ou pelas obras? - Parte 5



20. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais - São Paulo SP - 1941

                                                                                 

            O Bom Samaritano e o Centurião Romano bem podiam dizer ao ouvido de seus gratuitos inimigos o que escreve Tiago: “Mostrai-me a vossa fé sem as obras, e eu vos mostrarei a minha fé pelas minhas obras”.

            Essas duas criaturas, ou antes, esses dois modelos feitos por Jesus, apontam-nos a Fé, não como a entendiam os escribas e os fariseus, isto é, como simples expressão idiomática ou opinião religiosa, mas como extraordinário “poder”.

            “A Fé era característica do próprio Cristo, de cujos lábios o povo ouvia sempre frases com estas: "Ser-te-á feito segundo a tua fé”. “A tua fé te curou.” “A tua fé te salvou.” Ou, censurando aos discípulos a falta de fé, que os impedia de curar, dizia Jesus: “Oh! raça incrédula e refratária, até quando estarei convosco, até quando vos suportarei?” Diz Mélinge: “Ele tinha que os suportar, tais quais eram, enquanto vivesse no meio deles a vida terrena e tinha que os instruir. Ele, mestre superior a todos os mestres, sem nenhum resultado positivo. Muitas vezes, nas narrações de S. Marcos e de S. Lucas, como na de S. Mateus, Jesus, viajando fora da Judeia, pela Samaria e pela Síria, ou suplicado por um centurião a ir às cercanias de Jerusalém, exclama, testemunhando a fé ardente desses pagãos, que jamais encontrara crentes tais entre os Judeus (Mt. XV, 24; Mc. VII 27; Lc. VII, 9).

            “Os Judeus esperavam, queriam um Messias Judeu, que lhes desse o império do mundo. e todos os Povos por vassalos. Após a morte e a ascensão de Jesus, os Apóstolos acabaram por compreender que Ele não lhes daria tronos neste mundo e que se lhes dissipara o sonho de dominação política do povo judeu sobre todos os outros povos. Mas, esse sonho persistia sob outra forma. Desde que o judaísmo não obtém o império político e o poder temporal, terá o império religioso. Todos os homens serão submetidos à Lei Mosaica e se tornarão tributários do Templo e dos ritos judaicos, Tal o estado de espírito dos Apóstolos, ao encetarem a sua
pregação na Judéia, e tais as ideias que haviam de conservar indefinidamente.

            Era exatamente o oposto do que queria Jesus, que tinha por missão fundar o Catolicismo, isto é, o Universalismo, palavra desnaturada depois, mas cujo sentido
etimológico é esse. Jesus queria o Universalismo e não o Judaísmo. “Está escrito na vossa Lei, dizia Ele aos Judeus; mas, eu vos digo...” e prescrevia coisa diversa do que ordenava a Lei Mosaica. “E nem vós tampouco compreendestes; sois então sem inteligência!” disse Ele mais de uma vez aos seus Apóstolos, enquanto viveu, entre eles (Mt. XV, 16) - Mesmo quando lhes desaparecera das vistas, sumido nas alturas do invisível, continuavam eles a não compreender e a conservar-se ininteligentes.

            “É sem dúvida uma consolação para os Instrutores que, nisso ao menos, se assemelhavam a Jesus e veem incompreendidos seus ensinos, ou compreendidos às avessas. Mas, o motivo por que Jesus escolheu após tolos assim ininteligentes, que o compreendiam as avessas, não foi, precisamente, consolar os incompreendidos. Teve ele por objetivo demonstrar, tão claramente quanto possível, a ação do mundo invisível sobre o nosso mundo visível e a persistência dos missionários de Deus em intervir, fora dos quadros oficiais, nas coisas religiosas, depois que hão emigrado deste mundo em que nos achamos, e em continuar nas suas missões, sem reencarnarem em novos corpos.

            “Tal, para Jesus, o motivo do seu desaparecimento no invisível, antes de haver obtido o resultado da sua missão. Para nós, o motivo daquela obstinação dos Apóstolos na sua incompreensão total está em nos demonstrar a persistência absoluta da liberdade humana, a autonomia completa da nossa personalidade, seja inteligência, seja ininteligência, sob a luz mesma do Verbo de Deus e sob o influxo do Espírito de Deus. O livro dos Atos dos Apóstolos afirma que, depois de terem recebido o Espírito Santo, no dia de Pentecostes, os Apóstolos se faziam compreender até mesmo por homens cujas línguas eles Ignoravam. Mas, os atos positivos, as ações dos Apóstolos, assim depois como antes do Pentecostes, dão testemunho de que eles próprios não compreendiam o que deles queria Deus.

            “Lembrados haveis de estar da história desse estudantezinho judeu, natural de Tarso e chamado Saulo. Saul, nome do primeiro rei dos Judeus. Assim como o primeiro Saul fora feito rei pelo profeta Elias, para ser depois destituído e substituído pelo pastor David, esse outro Saul foi feito apóstolo por Jesus, lá das Profundezas do Infinito, não precisamente para destituir os primeiros apóstolos, mas, pelo menos, para os reformar, para lhes reformar o Apostolado, de maneira toda imprevista para eles e, até, bastante desagradável.

            “Não havia sido muito simpática a entrada de Saulo na história do Cristianismo. Quando os Fariseus, furiosos contra aqueles loucos nazarenos que pregavam uma realeza espiritual, não material, do Messias, lapidaram o diácono Estevão, Saulo, ainda muito jovem para ter a honra de ser admitido entre os que martirizavam os cristãos, se comprazia em aplaudir os algozes e injuriar o mártir. Obteve como recompensa ser comissionado para ir a todas as cidades da Síria acossar os cristãos e fazer que o Sinédrio os condenasse e mandasse lapidar.

            “Quando, para desempenhar essa comissão, ia ele a cavalo pela estrada de Damasco, levando consigo uma escolta de Judeus fanáticos, Jesus lhe aparece, em sua forma celestial, Espirito revestido de um corpo de luz, fala-lhe, persuade-o e, de perseguidor enraivecido, faz dele um crente, um entusiasta, um apóstolo invencível e irresistível.
           
            “Mas, apóstolo às avessas dos Apóstolos: apóstolo do Universalismo, não do sectarismo; apóstolo da liberdade cristã, não da lei mosaica. Por isso mesmo, começou desde então uma luta inexorável, incessante, sem tréguas, dos discípulos que haviam conhecido a Jesus em carne e osso, porém não em espirito, contra aquele discípulo póstumo que apenas conhecera o Jesus espírito, não o Jesus em corpo de carne. Evidentemente alguma coisa houvera faltado à divindade do Cristianismo, se ele não começasse por esse paradoxo e se o Cristo não tivesse tido de combater também os seus amigos, que não somente os seus inimigos. “Quando Pedro veio a Antioquia (depois do Pentecostes) sustentar contra mim a necessidade da lei mosaica eu lhe respondi na cara, porque ele era repreensível” escreveu S. Paulo aos Gálatas (Il,11). E toda essa Epístola, bem como as duas aos Coríntios descrevem, com uma sinceridade que vai até a cólera, a luta que ele teve de sustentar com os Judeus Cristãos, em prol do verdadeiro Cristianismo." (“O Cristianismo do Cristo e o dos seus vigários”) .

*

            Aí está o caráter da crença de Paulo, da sua fé em Jesus Cristo, bem diferente ela é da que os judeus cristãos da Galácia estavam seguindo. Continuemos por mais um pouco, a fim de verificarmos o sentido da palavra “Fé”, dado pelo grande apóstolo. Melhor que nós, fale ainda o eminente biógrafo do converso da estrada de Damasco.

            “Haveis de estar lembrados de que S. Paulo esteve três anos em Éfeso, instruindo os crentes que conquistara para o Cristianismo. Teve, pois, tempo, de ensinar, se conveniente o julgasse, a esses cristãos inteligentes de uma das mais ilustres cidades da Ásia, todos os dogmas teológicos que os catequistas de hoje pretendem ensinar até às crianças. Entretanto, tais dogmas não aparecem nas Epístolas. Muitos anos depois de haver saído de Éfeso, escreve ele de Roma, onde se acha preso, aos seus queridos Asiáticos. Escutai por que os louva ele e o que lhes prega:
           
            Tendo ouvido falar da vossa fé Nosso Senhor Jesus e do vosso amor a todos os santos (isto é: cristãos), não cesso de render graças por vós.”

            Fé no Senhor Jesus”, “amor fraternal a todos os crentes”, eis toda teologia que sintetiza o ensino apostólico. A existência de Deus era ensinada, antes de Jesus Cristo, de um lado, pelos Judeus e, de outro, em todas as grandes Escolas filosóficas. A esse ensino a pregação cristã apenas acrescentava “a fé no Senhor Jesus”, isto é, a condição de que o Deus único, Pai de todos os homens, fizera do homem Jesus o seu Messias, o seu missionário neste mundo, para ensinar aos homens que eles são todos de origem celeste, pela alma que lhes anima o corpo e se destinam à imortalidade, em união com Deus, pela graça desse Cristo Jesus, Senhor único de todos os homens.

            “É essa união com Deus e essa vida imortal que constituíam o mistério da revelação ensinada e o objeto do desvendamento pessoal, no Cristianismo primitivo. Eis o que S. Paulo escreve aos Efésios já crentes:

            Não somente rendo graças pelo que sois, como, nas minhas preces, vos recomendo nomeadamente ao Deus de Nosso Senhor Jesus Cristo, ao Pai da clara Luz, rogando-lhe dê ao vosso espirito o sentido espiritual que vê através do véu, para que aprendais a conhecê-lo.”

            “Ouvis (continua Mélinge): instruídos durante três anos por S. Paulo, instrutor que valia bem, penso eu, os vossos catequistas mais inteligentes e mais cristãos, os crentes de Éfeso ainda precisavam aprender a conhecer Deus. E essa ciência eles a aprenderiam, não dos doutores, nem das doutrinas, mas do próprio Deus, “Pai da clara luz”. E, para que a luz de Deus os iluminasse, era preciso que aos espíritos se lhes juntasse o senso espiritual, que vê através do véu, quer do véu das palavras, quer do véu das coisas. O conhecimento de Deus exige um sentido especial, que nem todos os espíritos possuem, como nem todos possuem o senso estético, o senso matemático, mesmo o senso prático.”

            Suplico-lhes, continua S. Paulo, que ilumine os olhos do vosso coração, para que saibais...”

            “Singular a expressão, não? Mas singularmente sugestiva: o coração, com efeito, é capaz de adivinhações de que o espirito não o é. E, a propósito de Deus sobretudo e das coisas divinas, é que se fazem necessárias adivinhações em que o coração adivinha o que a inteligência não vê, porque só o amor explica que Deus, o infinito, o perfeito, haja querido dar o ser e a vida aos pobres seres imperfeitos que somos. Só o coração pode adivinhar que alguma coisa houvera faltado à felicidade de Deus, se não dera a outros que não Ele a vida e a felicidade que lhe são eternamente inerentes.

            Para que saiais, prossegue S. Paulo, a que esperança ele vos chama e qual a riqueza, a glória da herança que oferece aos santos; qual a grandeza infinita da sua ação sobre nós crentes, ação sem termo, pois que é ação mesma da sua força divina, tal qual a manifestou no Cristo, reerguendo-o dentre os mortos, e fazendo-o reinar à sua direita, nos céus superiores.

            Continua Mélinge: "Aí temos uma questão científica um tanto etérea demais para os materialistas e por demais séria para os espíritos superficiais. Os Atenienses, quando lhes surgiu numa de suas praças públicas o apóstolo Paulo, aquele filósofo judeu, de quem tinham ouvido falar, pediram-lhe instantemente, curiosos que eram, lhes expusesse a nova doutrina que ele andava pregando pelo mundo. Escutaram-no de boamente, enquanto ele os cumprimentara pelo zelo com que honravam a todos os deuses, mesmo ao “deus desconhecido”; mas, quando lhes falou da sobrevivência, do juízo e da vida nova que se seguem à morte do corpo, exclamaram: "Oh! Dessas questões trataremos doutra feita!" (Atos, XVII, 19 a 32). Realmente, eles tinham mais que fazer do que pensar na vida de além-túmulo.”

            Basta o que aí está e o que atrás escrevemos para ficar bem conhecido o modo de pensar do grande Apóstolo, acerca do plano divino para salvação ou reabilitação do homem. Paulo jamais ocultou suas ideias universalistas, como jamais deixou de combater o erro que se ia infiltrando no seio das congregações por ele orientadas. Suas Epístolas refletem com admirável nitidez o seu caráter, a sua índole, todo o seu feitio moral, toda a sua formação mental, tudo isso como perfeita floração da doutrina que ele recebeu do seu Mestre, ou seja o Evangelho do Cristo Jesus, Nosso Senhor.

            Se João personificava a Caridade, e Pedro a Esperança, certamente que Paulo encarnava a Fé, a excelsa virtude (virtus - valor, força, energia, coragem, fortaleza de ânimo), o laço que, no foro íntimo une a criatura ao Criador, tornando-a merecedora do contato com o Poder Infinito, a fim de se pôr no caminho de ilimitadas possibilidades e de ilimitados recursos de acordo com a promessa do próprio Mestre: “Se tiverdes fé como um grão de mostarda, direis a este monte (uma forma para representar a remoção dos maiores obstáculos): passa daqui para acolá, e ele há de passar, e nada vos será impossível.” (Mat. XVII, 19).

            Era essa a Fé pregada e exemplificada pelo ardoroso paladino da liberdade cristã e bem diferente da que os homens conheciam, um simples artigo ou texto de credo. Foi nesse sentido que falou sempre o Mestre: “Aquele que crê em mim, esse fará também as obras que eu faço, e fará outras ainda maiores” (João, XIV, 12).

            Remover montes, fazer obras maiores do que as conhecidas, tudo isso Ele afirmou caber na verdadeira Fé de qualquer criatura, desde que aja como o Centurião, um desconhecido, um estranho, um pagão, mas que soube revelar a imensidade da sua Fé, quando foi pessoalmente em busca de Jesus, com este propósito: “Senhor, o meu criado jaz em casa doente com uma paralisia, já quase às portas da morte, e padece muito com ela. Respondeu-lhe então Jesus: “Eu irei, e o curarei.” Replicando, diz o Centurião (e aqui brilha o esplendor da Fé, impulsionada pela caridade do locutor): “Senhor, eu não sou digno de que entres na minha casa; porém, manda-o só com a tua palavra, e o meu criado será salvo. Pois eu também sou homem sujeito a outro, que tenho soldados às minhas ordens, e digo a um: Vai acolá, e ele vai; e a outro: Vem cá, e ele vem; e ao meu servo: Faze isto, e ele o faz”. E Jesus, ouvindo-o assim falar, admirou-se, e disse para os que o seguiam: Em verdade vos afirmo que não achei tamanha fé em Israel. Digo-vos porém, que virão muitos do oriente e do ocidente (como este pagão), e que se sentarão à mesa com Abraão, e lsaac, e Jacó no reino dos céus; mas que os filhos do reino (os Judeus que desprezavam a palavra do Mestre) serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá choro e ranger de dentes. Então disse Jesus ao Centurião: Vai, e faça-se segundo tu creste. E naquela mesma hora ficou são o criado.” (Mat. VIII e Luc. VII)

            Tal a Fé anunciada pelo apóstolo dos Gentios, a Fé que remove, como removeu, montanhas. Esse militar, ao declinar da honra de receber em sua casa o Filho de Deus (por não a merecer), reconheceu-lhe todo “poder” dimanado do alto. “Também” sou homem sujeito a outro, mas tenho homens sujeitos à minha autoridade... Esse adverbio conjuntivo “também” significando “do mesmo modo que tu”, “igualmente como tu”, - quer dizer que o Centurião reconhecia em Jesus um homem subordinado a Alguém, mas com plenos poderes para curar um paralítico mesmo às portas da morte e a distância, bastando, para tanto, a “palavra de ordem” do Mestre, para que os executores dessa palavra (os fluidos magnético-curativos irradiados pela vontade d'Ele) operassem o restabelecimento da saúde do criado.

            Fé como essa e dessas proporções, proclamou-a Jesus como geradora de prodígios; e, depois de ressuscitado, anunciou-a de novo, não como privativa ou exclusiva deste discípulo ou daquele outro, mas como sinal distintivo de todo aquele que crer (como o militar romano):, “Estes sinais seguirão “aos” que crerem (portanto: aqueles que crerem): falarão novas línguas, expulsarão os demônios em meu nome, e porão as mãos sobre os enfermos, e os sararão." (Marc. XVI, 17, 18)

            Esses sinais deviam ser e, de fato, tem sido, o atestado vivo, a testemunha viva dessa Fé. E o mundo aí se estupefica, ante o exemplo diário de milhares e milhares de criaturas humildes e incultas, mas espiritualizadas, que sabem repartir com seus semelhantes, máxime os carentes de assistência moral e espiritual, os tesouros da sua Fé, derramados nessa faculdade de afastar os maus espíritos ou espíritos bastantes atrasados; de aliviar a dor aos padecentes com a simples imposição das mãos; de captar e retransmitir em línguas desconhecidas as mensagens recebidas das entidades do Além.

            Essa, a Fé de Paulo, captadora dos diversos dons espirituais (1 Cor. XII, 1 a 11), dados segundo capacidade de cada um (Mt. XXV, 15).

21. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais - São Paulo SP - 1941


“Suplício eterno”
O que significa à luz do Evangelho


            Duas ideias que se chocam: a do Evolucionismo e a das penas eternas. E ambas lá estão nas páginas do Novo Testamento. Com “olhos de ver” e “ouvidos de ouvi”", não é difícil descobrir a harmonia entre elas.

            Preliminarmente, cumpre, a quem lê o volume sagrado, não confundir o sentido literal ou próprio com o sentido figurado ou simbólico.
           
            A doutrina de Jesus - ninguém o ignora - é essencialmente evolucionária. E não podia deixar de o ser, visto que ela é para todos os homens e para todos os tempos. Basta este caráter para levar o espírito do leitor à meditação acerca do antagonismo dessas ideias. Teria Jesus ensinado duas verdades contrárias, indo contra os ditames da razão? Examinemos rapidamente o caso, à luz - já se vê - do Evangelho, pois ali é que notamos o aparente conflito de ideias.

            De uma coisa já ninguém duvida hoje: que o Evolucionismo é a lei suprema da Natureza, e por Natureza entendemos o conjunto das coisas criadas nos três reinos: animal, vegetal e mineral, na Terra e no resto do Universo. É lei perfeita porque é imutável, é imutável porque é eterna, é eterna porque é divina. E o homem jamais se furtaria à ação dessa lei. O homem é pensamento e vontade. E o pensamento é sempre o homem, seja pensamento filosófico, pensamento científico, pensamento político, pensamento religioso. Não importa. O pensamento evolverá, evolucionará sempre, e eternamente - a bom grado ou a mau grado dos homens.

            No tocante à ideia do fogo eterno, praz-nos acompanhar a autorizada palavra de eminente escritor francês, que adverte muito judiciosamente: o adjetivo “eterno”, que tão frequentes vezes se encontra nas Escrituras, parece não dever ser tomado ao pé da letra, mas como uma dessas expressões enfáticas, hiperbólicas ou exageradas, familiares aos orientais. É um erro esquecer que tudo são símbolos e imagens em seus escritos. Quantas promessas, pretensamente “eternas”, feitas ao povo hebreu ou a seus chefes, não tiveram mais que uma restrita realização! Onde está essa terra que os israelitas deviam possuir “eternamente”? Onde estão essas pedras do Jordão, que Jeová anunciava deverem ser, para o seu povo, um monumento “eterno”? (Josué, IV, 7) - Onde está essa descendência de Salomão, que devia reinar “eternamente” em Israel? (l Paral; XXII, 10). Onde estão os levitas escolhidos para servirem “eternamente” ao Senhor? (II Paral. VI, 2) – Onde o montão “eterno” de ruínas e cinzas, os móveis queimados no meio das ruas? (Deut. XIII, 16)

            Em todos esses casos, a palavra “eterno” parece simplesmente significar: de longa duração, exprimindo um período cujo fim se desconhece. As penas eternas significavam então: sem duração limitada. Para quem não lhes vê o termo, o fim, são eternas.

            Nesses poucos exemplos, o adjetivo eterno não tinha absolutamente o sentido de “sempiterno”, de “sem fim”. A própria palavra inferno, em seu sentido etimológico, não encerra nem ao menos vagamente a ideia de “eterno” ou de “eternidade”. De origem latina, infernus, tem como raiz o prefixo infer, que quer dizer inferior. E de fato, simboliza mesmo estado inferior, pois que o sofrimento, máxime quando prolongado, denota um estado moral inferiorizado. Do mesmo modo, “superno", superior, ótimo, vem do latim supernus, cuja raiz é super - de cima, por cima, superior.

            Passemos em revista a expressão que serve de tema a este capítulo e cuja sinonímia é a seguinte: “fogo eterno”, “suplício eterno”, “inferno”, “prisão”, “não sairás dali até pagares o último centil”, “bicho que roi e não morre”, “trevas exteriores” “fogo que queimas e nunca se apaga”, “Geena”, “ali haverá o choro e ranger de dentes.”

            Tomemos qualquer dos sinônimos de “inferno”. Seja a expressão Geena. Ora, Geena significa imundície, e deve talvez ser identificada com o mundo inferior, de onde segundo David, Deus o havia tirado. Diz esse rei de Israel: “Não deixarás minha alma no inferno” (Salmo XV, 10 - trad. do Padre Figueiredo)

            Longa foi, pois, a evolução que o havia elevado à dignidade de profeta. Longa foi, igualmente, a evolução daqueles espíritos que pagavam o último centil, no inferno ou em estado inferior, a que se refere o apóstolo Pedro, em sua 1ª Epist., cap. III, vs. 18 a 20,
espíritos a quem Jesus foi pregar o Evangelho da redenção. Esses espíritos estiveram nas trevas exteriores durante trinta séculos, desde o tempo de Noé.

            A palavra Geena, no ensino de Jesus, tinha perfeita significação simbólica, figurada, pois se referia ao monturo existente fora da cidade de Jerusalém, onde o fogo queimava continuamente o lixo, ou seja a sujidade, as impurezas da cidade. Eis aí o perfeito símbolo, a perfeita imagem ou figura do remorso, o remordimento da consciência que sente o culpado. “Remorso”, do latim remorsus, do verbo remordere, morder às dentadas: eis o bicho que roi e não morre, na expressão de Jesus. É o primeiro brado da alma, o primeiro passo no caminho da reparação, da expiação. Geena exprime fielmente a imagem simbólica da reforma moral. O lixo que se queimava naquele monturo, não era o mesmo, mas era renovado. Assim também, o remorso vai roendo ou queimando, uma a uma, as impurezas, as imperfeições, as faltas, na consciência do culpado, até que ele possa dizer como o rei David: “Não deixarás a minha alma no inferno, oh! Senhor”!

            Perfeito o simbolismo na linguagem de Jesus. Ver-se-á que não existe relação direta entre Geena, monte de lixo, coisa material, e alma, coisa espiritual, pois ninguém ignora que alma ou espirito não poderia sofrer a ação do fogo nesse montão de lixo. A relação entre alma e Geena, é toda figurada; veja-se aí a figura que representa a extinção das sujidades da alma, pelo “fogo” do remorso, remordimento da consciência. É o “choro e ranger de dentes”, sentido figurado, visto que a alma, o espírito, não tem dentes.

            Neste século de análises e de sínteses, com a certeza que lhes oferece a experimentalidade objetiva da vida além do túmulo, os homens não admitem o antigo dogma penalista, por isso que, contra ele, militam todas as forças da lógica, do coração e... das Escrituras.

            Não podem crer que a justiça do Pai da humanidade consista em torturar eternamente no inferno, para punir alguns minutos de fraqueza humana. Não é de admirar, portanto, que nem os homens inteligentes, nem os homens de coração, aceitem o ensino do passado.

            Dando ouvido à razão, os homens chegam a esta conclusão: sendo o Mal o desacordo com a lei divina, não é obra de Deus, mas sim do homem, e não tem mais que uma existência relativa, aparente e transitória, isto é, durará enquanto durar a desobediência do homem à lei divina; sendo o Bem o acordo com a lei divina, só ele existe realmente, eternamente.

            Nestes termos, é bem de ver que o Mal, que simboliza o inferno, não pode ter existência infinita ou eterna, porque é obra humana; e, pela recíproca, o Bem, que simboliza o reino de Deus, não pode deixar de ter existência eterna ou infinita, porque não é obra do homem, mas é a essência mesma do próprio Deus. Bem o disse o grande Platão, quatro séculos antes de Cristo: “Deus é o Bem Perfeito, o Belo absoluto, a Verdade infinita.”

            Daí esta série de raciocínios, lógicos, insofismáveis: que a lei divina é inevitável e inexorável; que nenhuma transgressão dessa lei ficará impune, mas essa lei é racionalmente misericordiosa. Como objeta eminente pensadora - embora um poder caprichoso abrisse o Céu ao homem pecador, a um libertino, um sensual, um avarento, um facínora - contudo não lhe conferiria adaptação a esse estado. O Céu seria a mais aguda tortura à alma impurificada, que imploraria a suprema bênção de ser relegada à sua esfera, onde nasceu, ao meio onde se adapta, pois Céu não é lugar mas estado. No mundo da felicidade perfeita - diz Mélinge -, todos seremos igualmente ditosos, embora diversamente. A felicidade, de cuja fruição uma pessoa seja incapaz, não é para ela a felicidade. A ciência, a literatura, a arte que fazem a felicidade dos sábios, dos literatos, dos artistas, aborreceriam, em absoluto, a uma criança de sete anos, ou a um carroceiro de meia idade. O que encanta a estes não encantaria àqueles. A felicidade, para que o seja, tem que se proporcionar ao grau de evolução dos seres que se pretenda fazer felizes. Para nos servirmos de uma comparação toda material: fora completamente inútil verter cinquenta litros de felicidade num vaso que não possa conter mais de dez, ao passo que um vaso, uma alma que reclame cem litros seria infeliz, se lhe vertêssemos apenas cinquenta. A justiça é a proporcionalidade, não a uniformidade. Os espíritos que quisessem que nenhum outro os ultrapassasse dariam prova de inépcia ou de ciúme, duas qualidades que não têm entrada no Reino dos Céus. Quem quer que seja digno da felicidade celeste se sentirá feliz com a felicidade dos outros e aumentará desse jeito a sua própria felicidade. Mas, também, no Reino dos Céus, cada espirito aumentará indefinidamente a sua própria felicidade de gozar, de amar e de compreender. Dar-se-á com cada alma o que se daria com um vaso que, sempre a aumentar, se enchesse sempre, a medida que fosse aumentando. Todavia, no mundo celeste, não é a dimensão que faz a grandeza, é a qualidade. Quanto mais as almas se eterizam, se purificam, mais vibram. Tal como a luz física que, lá no
alto, muito próximo do sol, tem milhões de vibrações mais do que na nossa atmosfera terrestre, também cada vibração de nossa alma, na luz divina, será uma vibração de felicidade, de felicidade sempre crescente, sem fim, sem limites, pois que Deus é o Infinito, é o Ilimitado. Tal o eterno porvir que o Cristianismo nos patenteia. Os verdadeiros crentes creem, porque sabem e sabem porque veem, esperando, como diz Paulo, subir, à medida que se forem tornando capazes, de uma fé a outra mais alta, de uma claridade a outra maior: de claridade em claridade, de fé em fé. (ll Cor. lll, 18; Rom. 1, 17).

*

            Existe a “condenação”, sim. Não “eterna”, no sentido de “sem fim”. A própria razão diz que assim deve ser. Aquele que transgride a Lei de Deus que é a Lei do Bem, receberá condenação, não de Deus, mas da própria transgressão, porque esta traz consigo o próprio castigo nas consequências naturais e inevitáveis, como, por exemplo, a moléstia pune os excessos, a ociosidade produz o tédio, sem que haja mister de uma condenação especial para cada falta ou para cada indivíduo. Deus perdoa ao arrependido, mas não apaga, não risca, não cancela as consequências da falta. Exemplo: o ébrio inveterado, após muitos anos de excessos, abandona o mau caminho e segue a linha reta do dever traçada pela Moral; as consequências, porém, da intemperança, não desaparecem e deixam seus traços na vida orgânica, no fígado, nos rins, no estômago ou no coração, ou em todos esses órgãos.

            O crime e a punição não se separam. Causa e efeito, meios e fins, semente e fruto, não podem ser separados, pois o efeito nasce da causa, o fruto nasce da semente.

            22. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais - São Paulo SP - 1941

“O QUE NÃO CRÊ JÁ ESTÁ CONDENADO”

            Essa sentença do quarto evangelista, no cap. III, vs. 18 a 21, confirma essas assertivas. “Quem n'Ele crê não é condenado.” Não diz o apóstolo: “será condenado”, mas “já está condenado.” Não fala do futuro. Não há penalidade a espera do que não crê. Jesus não condenará ninguém, mas aquele que o recusa, já se condenou. O Mestre não julga a ninguém (João VIII, 15)

            Mas, que condenação é essa? Do “fogo eterno?” Não, que o redator sagrado não o declara: Sim, não diz que o tal irá para a Geena, mas diz a espécie da condenação: "a Luz veio ao mundo, mas os homens amaram mais as trevas do que a LUZ, porque eram más as suas obras. Porquanto todo aquele que obra mal aborrece a LUZ, e não se chega para a LUZ, para que as suas obras não sejam arguidas. Mas aquele que obra verdade chega-se para a LUZ, para que as suas obras sejam manifestas, porque são feitas em Deus."

            Como esclarece o apóstolo, a condenação não é Imposta nem por Deus, nem por Jesus, mas pelo próprio obrador do mal. “O que não crê, o que não segue a luz, já está por si mesmo condenado, porque continua na escuridão”. É' condenado, ou, condena-se a permanecer nas trevas do erro, da ignorância. Caso semelhante ao do aluno de primeiras letras, na classe de 1º ano da escola primária: preguiçoso ou desatento, resolve não dar atenção à professora, e não aprende, porque não quer. Condena-se a si mesmo, sem que a professora intervenha; no fim do ano, receberá apenas a confirmação da sua própria condenação, que é a notícia de que continuará na escuridão da ignorância, enquanto não procurar a luz da cartilha. Disse Jesus: “- Eu sou o Caminho, a Verdade e a Vida”. “- “Eu sou a Luz dos homens.” (João, cáp. XII, 46, 47 e cáp. XIV, 6)

            Voltando à citada passagem do cáp. III, podemos dizer: “E a causa desta condenação é que a Verdade, que também é Luz, veio ao mundo e os homens amaram mais as trevas do que a Luz, e quem anda no escuro não pode deixar de tropeçar.”
                         
            “A cada um segundo as suas obras” - tal a lei de perfeitíssima justiça e de amor, lei que não permite que ato algum deixe de produzir o seu efeito, seja ele embora o menor, o mais insignificante de todos os atos. A consequência é inevitável; a lei da casualidade opera infalivelmente, porque é lei de causa e efeito, de ação e reação, confirmada pelo Mestre nestas palavras: Aquele que ferir à espada, à espada será ferido, ou, quem com ferro fere, com ferro será ferido (Mt. XXVI, 52)

            - Todas as iniquidades que forem por nós injustamente toleradas, levantar-se-ão contra nós. Quem esmagou será esmagado. Quem faltou com a caridade, terá sede de caridade. Quem esqueceu a fraternidade, por ela será esquecido. E assim, o “bicho que não morre” irá “roendo” até que o culpado “pague o último centil”, a fim de poder dizer como o rei David: "Não deixará, a minha alma no inferno, oh! Senhor!"

            “Diz o Senhor que não quer a morte do ímpio, mas que ele se converta do seu caminho e viva” (Ezeq. XXXIII, 11).

            “E esta é a vontade daquele Pai que me enviou: que nenhum perca eu de todos aqueles que Ele me deu, mas que o ressuscite no último dia (ou que o faça regressar ao Mundo dos Espíritos no último dia da sua jornada terrestre) (João, VI, 39).

            “O Filho do homem não veio a perder as almas, mas a salvá-las." (Luc. IX, 56).

            “Deus quer que “todos” os homens se salvem, e que cheguem a ter o conhecimento da verdade.” (I Tim. II, 4)

            Com essas reflexões, jamais poderíamos aceitar não o dogma mas a simples ideia da condenação "eterna".

            É tão evidente o caráter evolutivo do Evangelho, que não seria possível harmonizar duas correntes antagônicas. Lá está a Lei do Evolucionismo no Sermão da Montanha: “Sede vós logo perfeitos, como também vosso Pai celestial é perfeito." (Mat. V, 48) – Aperfeiçoai-vos – eis a lei.  

            Essa perfeição moral e espiritual os Espíritos a alcançarão através das reencarnações. Diante do ensino tradicional do unicarnacionismo (ou “uma só existência”) essas palavras de Jesus não têm sentido, pois ninguém poderia conceber que uma criatura, cheia de imperfeições, de imoralidades, um canibal ou selvagem, por exemplo, que levou a vida inteira a comer os seus semelhantes depois de os torturar com todos os requintes do mais feroz animalismo -, sim, ninguém poderia conceber que esse monstro em forma humana pudesse, de um salto, atingir a perfeição do Pai celestial - numa única existência.

            O autor do quarto Evangelho, e que o é também da 1ª, 2ª e 3ª Epístolas com o seu nome, registou no cap. 22 do seu último livro, o Apocalipse ou Revelação, estas palavras incisivas sobre a marcha evolutiva dos homens: “Aquele que faz injustiça, faça-a ainda; aquele que está sujo, suje-se ainda; aquele que é justo, justifique-se ainda, e aquele que é santo, santifique-se ainda.”

            Vemos aí a ideia de movimento, sob diversas formas, e esse movimento, aparentemente regressivo, é positivamente progressivo, evolutivo, ascendente. A inércia não existe. O homem, na sua marcha para a perfeição, não tem o direito de parar. Quando infante, aprende a não se queimar na chapa quente do fogão, depois de haver sofrido a primeira queimadura. De tropeço em tropeço, de queda em queda, de soluços em soluços, tem de caminhar para a frente, como o Filho Pródigo, que, somente depois das tremendas e dolorosas derrotas sofridas em consequência do abuso que fez do seu livre-arbítrio, encontrou o caminho da casa paterna.

            A Terceira Revelação vem trazer às criaturas a certeza de que essa perfeição será atingida por todos, sem exceção, porque assim o diz Jesus. Seguindo essa direção de pensamento, escreve o grande biologista Gabriel Delanne: “Essas ideias nos obrigam a admitir a pluralidade das existências, ou seja, a lei da reencarnação. Quando se pensa, pela, primeira vez, na possibilidade de viver grande número de vezes na terra, em corpos humanos diferentes, a ideia parece bizarra; quando, porém, se reflete na distância que separa o selvagem do homem civilizado e na lentidão com a qual se adquire um hábito, logo se vê desenhar a evolução dos seres, e se concebem as vidas múltiplas e sucessivas, como uma necessidade absoluta imposta ao espírito, tanto para o saber como para o resgate das faltas cometidas.

            A vida da alma, sob este ponto de vista, demonstra que o Mal não existe, ou melhor, que ele é criado por nós, em virtude do nosso livre arbítrio.”


23. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais - São Paulo SP - 1941


                            O Evangelho das boas-obras
                A PALAVRA FINAL DE JESUS

            Para todo cristão, o Evangelho é o Código Moral por excelência, porque é o Código do Dever, cujos preceitos são permanentes no presente e no futuro. O cristão, o discípulo de Jesus, tem, pois, de anunciar a excelsitude dessa Moral não só por palavras, mas principalmente por ações, por obras. É o Mestre mesmo quem nos diz que assim deve ser, afirmando que a qualidade da árvore se revela pela qualidade dos frutos e não pela beleza das folhas. A palavra “frutos” significa concretização do querer, do sentir, do fazer... Por “frutos” entendemos ações, conduta, obras; folhas simbolizam ideias, teorias, palavras. É claro o sentido que Jesus deu a essa imagem tropológica.

            Depois de enumerar as regras morais a seus discípulos e às turbas, para que possam alcançar a verdadeira Espiritualidade ou a vida do Espirito e não da matéria, eis que o Mestre resume em poucas palavras todo o seu Evangelho e toda a Moral de Moisés e dos Profetas nesta sentença: “Assim pois, tudo o que vós quer que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas.” (Mt. VII, 12)

            Desdobremos com palavras nossas o pensamento de Jesus, vazado nessa fulgurante sentença: tudo o que queremos que os homens nos façam, isto é, todo benefício que desejamos para nós, façamo-lo aos nossos semelhantes; façamos que os dois pratos da balança tenham igual peso, e mantenham perfeito equilíbrio. Neste equilíbrio estará aquela felicidade que os homens desejam. Meditemos nessas palavras de Jesus e veremos que elas resumem perfeitamente toda a Moral. Tudo o que nós queremos, tudo o que nós desejamos, tudo o que nós aspiramos que os homens nos façam, isso mesmo devemos fazer aos outros. Está dito tudo. Ninguém quer para si o mal, mas o bem, o que é justo, o que se chama felicidade. Toda criatura só deseja alcançar uma coisa: ser feliz, viver tranquila, viver em paz. Suprema e única aspiração neste mundo de sombras e dores,

            E rematou o Mestre: “Porque” “esta” é a lei e os profetas".

            Que significa o adjetivo pronominal “esta”?

            Eis aqui o pensamento de Jesus: "Porque esta norma moral que eu estabeleço, como vosso único Mestre que sou, é, não “uma” lei mas “a lei e os profetas”; esta nova norma moral que agora vos prego, substitui a lei de Moisés e as ordenanças dos Profetas. A lei de Moisés, escrita com pena de fogo, bem como a moral dos pregoeiros do profetismo, envolta em normas severíssimas, desaparecem de vez, por isso que, doravante a minha norma, expressa nessa sentença, que não ameaça, que que manda matar, que não impõe o temor, que não anuncia um Deus irado, mas o Pai de todos; sim, minha norma apela para o amor fraterno que é o meu amor, fonte que faz brotar a simpatia, a solidariedade, a afeição, a renúncia, o sacrifício. Nada mais de holocaustos, nada mais de sacrifícios como estatuiu Moisés. Está terminado o tempo do formalismo. É chegada a hora do concretismo; Lei e profecias tiveram a sua vigência naqueles tempos, quando o homem estava ainda na sua infância mental. Nada mais de símbolos nem de cerimonialismo. A minha norma é essa: tudo o que quereis para vós, isso mesmo desejai fazer a vossos semelhantes.

            O Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo manda que o amor a Deus se revele no amor ao próximo. E Jesus confirmou o seu ensino resumido nessa sentença, não só por meio de outras tantíssimas sentenças, como principalmente por aquela forma encantadora e eficiente que é a parabólica. Em muitas parábolas Ele fez brilhar a verdade anunciada nessa sentença. Basta que nos lembremos da parábola do Filho Pródigo, uma das mais finas e lindas joias da literatura religiosa de todos os tempos, porque é a que nos mostra a infinitude do amor de Deus, ao mesmo tempo que nos apresenta a solicitude, a magnanimidade e imutabilidade do Pai Celestial, pela reabilitação de seus filhos, na estrada do evolucionismo, pois que cada filho tem que caminhar para a frente e para o alto, mas só o conseguirá a custo de quedas sobre quedas, de esforços, de tropeços e de sofrimentos. Esta parábola simboliza o amor do Pai para com os filhos. E Jesus fez derivar dessa parábola aquela outra, de inimitável beleza que é a parábola do Bom Samaritano e que simboliza o amor de irmão para com seus irmãos. Tudo o mais que nos é apresentado pela doutrina do Evangelho, gira em torno do ensino fundamental dessas duas parábolas.

            Vamos ver a confirmação desta assertiva. É o Evangelho mesmo que nos vai dar essa confirmação. Dizendo “Evangelho”, queremos dizer que é Jesus quem nos dá diretamente o seu ensino. É a chave de luz com que encerra aquelas divinas lições contidas no Sermão da Montanha, esse Evangelho sumariado, sintetizado em três capítulos apenas (Mt., V, VI e VII).

            É lá no cáp. XXV do Evangelho segundo Mateus que encontramos a síntese de toda a doutrina pregada por Jesus sobre a obra de salvação ou de redenção da raça humana.

            Registra Mateus este pequeno discurso de Jesus, dirigido não só aos discípulos, mas às turbas, pois que Ele viveu cercado de grandes multidões, e eis explicado o caráter de generalidade do seu ensino.

            Diz o Mestre: “Mas quando vier o Filho do homem na sua majestade, e todos os anjos com ele, então se assentará sobre o trono da sua majestade, e serão todas as gentes congregadas diante dele, e separará uns dos outros, como o pastor aparta dos cabritos as ovelhas, e assim porá as ovelhas à direita, e os cabritos à esquerda. Então dirá o rei aos que hão de estar à sua direita: Vinde, benditos de meu Pai, possuí o reino que vos está preparado desde o princípio do mundo; porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; era hóspede, e me recolhestes; estava nu, e me cobristes; estava enfermo, e me visitastes; estava no cárcere, e viestes ver-me.”

            Então lhe responderão os justos, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto e te demos de comer, ou sequioso, e te demos de beber? E quando te vimos hóspede, e te recolhemos, ou nu, e te vestimos? Ou quando te vimos enfermo, ou no cárcere, e te fomos ver? E respondendo o rei, lhes dirá: Na verdade vos digo, que quantas vezes vós fizestes isto a um destes meus irmãos pequeninos, a mim é que o fizestes.

            Então dirá também aos que hão de estar à esquerda: Apartai-vos de mim, malditos, para o fogo eterno que está aparelhado para o diabo e para os seus anjos; porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber; era hóspede, e não me recolhestes; estava nu, e não me cobristes, estava enfermo, e no cárcere, e não me visitastes.

            Então eles também lhe responderão, dizendo: Senhor, quando é que nós te vimos faminto, ou sequioso, ou hóspede, ou nu, ou enfermo, ou no cárcere, e deixamos de te assistir? - Então lhes responderá ele, dizendo: Na verdade vos digo que quantas vezes o deixastes de fazer a um destes mais pequeninos, a mim o deixastes de fazer.

            E irão estes para o suplício eterno, e os justos para a vida eterna.”

*

            Aí temos, num resumo perfeito, numa síntese belíssima, todas aquelas máximas morais, todas aquelas parábolas, toda a doutrina do Evangelho. Essa síntese foi feita pelo próprio Mestre, como para indicar que, a fim de conservar a inteira autoridade do Evangelho, era preciso que outro não tomasse parte em obra dessa magnitude, mas o próprio Autor do Evangelho. E por essa forma ficou plena e magistralmente resumida a excelsa doutrina. Naquela vida de santidade e de sabedoria, naquele amor que se manifestava na completa renúncia de si mesmo e no sacrifício por todos, Jesus basificou toda a obra para a edificação moral e espiritual da humanidade.

            Esse capítulo de Mateus é de máxima significação, por encerrar o ensino completo de Jesus acerca da vida futura. As cores com que o Mestre pinta aquelas cenas, espelham fielmente o estado moral e espiritual daquela época, estado esse que se estende pelos séculos em fora, visto que a índole, o caráter, as tendências, os pendores, dos homens, guarda a mesma fisionomia, a mesma estrutura, em' uma palavra - a mesma tara da consanguinidade. O tempo passa, os séculos escorrem, mas o homem é sempre o lobo para o homem. Escudado nessas razões é que o Filho do homem apresentou o quadro da vida futura. A vida de cada um, aqui ou no Além, é obra sua, é tal como ele mesmo a compôs. Encarnados e desencarnados, sofrem as consequências naturais de seus atos. Aquilo que o homem semear, diz Paulo, isso mesmo colherá. É o ensino do Mestre: a cada um segundo as suas obras. A situação do espírito depois da morte do corpo é a resultante das aspirações e gostos que desenvolveu em si.

24. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
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INTERPRETEMOS O “JUÍZO FINAL”

            Sim, as palavras de Jesus devem ser entendidas em espírito e verdade. Traçando para os seus discípulos e para as turbas um quadro imponente do juízo final, quis o Mestre deixar nas inteligências uma impressão forte e que não se apagasse facilmente. “Quando o Filho do homem vier na sua majestade, acompanhado de todos os anjos, etc.” São palavras simbólicas.  Jesus falava das épocas que se hão de suceder até o momento em que a luz suave e verdadeira virá iluminar o mundo. O trono da sua glória é a época em que todos os povos estarão sob o jugo da sua lei. Esse trono terá então a sua base no fundo do coração de todas as criaturas e os anjos do Senhor (espíritos, mensageiros) o cercarão e descerão ao meio destas.

            Não começou já esse período? O trono do Salvador não está sendo preparado para recebê-lo? Os anjos do Altíssimo não descem já até nós, para nos ensinar a cantar a glória do Onipotente, preparando-nos, por meio da prática da justiça, da caridade e do amor, para o advento ou chegada do espirito; abrindo-nos, pelo progresso moral, todas as fontes do progresso intelectual; ensinando-nos a ser brandos e humildes de coração, desinteressados e dedicados aos nossos irmãos?

            Quanto à determinação da época dessa separação, que se interpretou erroneamente como sendo um fato único, súbito e instantâneo - diz um piedoso exegeta -, não passou de uma figura. Para a realização de semelhante obra, que é progressiva e sucessiva, não pode haver época predeterminada, segundo a maneira humana de calcular. Ela corresponde ao período que precederá a depuração completa da terra. Jesus voltará ao mundo, quando a humanidade estiver prestes a atingir a perfeição moral e ela aclamará a sua vinda, entoando aquele cântico de júbilo, de alegria, imenso e unanime: Bendito o rei que vem em nome do Senhor!

            À direita e à esquerda são expressões figuradas, indicativas dos lugares reservados aos bons e aos maus. Por suplício eterno devemos entender os lugares, ou as condições, em que o espírito sofre, durante um período mais ou menos longo, durante uma eternidade relativa, no espaço, ou encarnado em mundos de expiação e de prova, até se regenerar. Um exemplo ilustrativo e irrecusável nos é dado pelo apóstolo Pedro, em sua 1ª Epístola, cap. III, vs, 18 a 20. Fala dos espíritos a quem Jesus foi pregar o Evangelho, os quais sofriam ou expiavam as suas faltas no “inferno” isto é, num mundo inferior, durante trinta séculos, ou desde a época de Noé, Foi o “suplício eterno”, o “último centil”, “a prisão”, a “Geena” por que passaram, mas que terminou quando o Filho de Deus lhes pregou a Verdade que os tornou livres da prisão das trevas. Estava cumprida a prova expiatória.

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por Romeu A. Camargo
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   O CRITÉRIO PARA A SENTENÇA CONDENATÓRIA

            Mas, o que ressalta evidente, límpido, puro, cristalino, nessa importante passagem de Mateus, é o ensino sobre as razões em que o “Rei” firmará a sua sentença. Trata-se do destino da alma logo após a desencarnação, que é aquele “ressuscitar no último dia” (João, VI, 39). Cada um levará consigo o seu destino.

            O Presidente do Tribunal não perguntará às criaturas se frequentavam este ou aquele templo, ou se eram assíduas às sessões espiritas; não perguntará se conheciam bem o catecismo ou o Livro dos Médiuns; se davam boas somas nas coletas ou se comiam carne às sextas-feiras; não indagará da crença, si eram professantes do catolicismo, do budismo, do protestantismo ou do espiritismo, nem quererá saber se adotavam o lema “fora da Igreja não há salvação” ou o outro, “fora da caridade não há salvação”.

            Não! Jesus não diz que haverá prestação de contas quanto ao “depósito da fé”, se grande ou pequeno, mas, sim, será exigido o “depósito das obras”. Diz, e de modo claríssimo, que as criaturas serão julgadas, não segundo a sua cultura religiosa, mas, segundo as suas obras!

            Tal o critério, seguro critério, que presidirá ao Supremo julgamento. Cada um “se pesará” na balança da Justiça, segundo a vida que levou entre seus irmãos. Eis aí o que nos ensina Jesus, o Mestre, sobre o seu método de salvação ou de redenção. E esse método não foi criado para esse grande dia, mas foi sempre o mesmo, processado durante a sua atividade evangelizadora. Lembremo-nos de que o moço rico, referido por Mateus, no cap. XIX, sabia apregoar a sua fé, através dos mandamentos que conhecia muito bem, de cor e salteado, Mas Jesus não ligou importância à profissão de fé desse jovem, rico em dinheiro e em teologia, e disse que fizesse boas obras... e O seguisse...

            O sertanista, lá na estrada, longe de Jesus, não conhecia a crença de João e Tiago, e por isso... estes lhe proibiram de continuar a fazer boas obras e de afastar os espíritos obsessores que molestavam os pobrezinhos dos campos. Mas Jesus repreendeu esses apóstolos e louvou o sertanista desconhecido...

            O Bom Samaritano foi elogiado, e padronizado como filho de Deus, só porque fazia boas obras, sem revelar o seu modo de crer...

            Na parábola do rico e Lázaro, não há nenhuma referência à crença de ambos, mas o rico foi para a Geena por não ter feito boas-obras...

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                                        JESUS E A MEDICINA  

                                                       “Dai de graça o que de graça recebestes." Não sendo médicos                                                                   nem operadores, porquê os espíritas se metem a curar?”

                   PAULO TRATA DAS SESSÕES ESPÍRITAS


            Quando Jesus teve de escolher os seus auxiliares para o apostolado, não os procurou na classe dos sábios e poderosos, mas entre os pobres e humildes.

            Como Médico das almas, queria para seus seguidores, e depois continuadores, criaturas despidas da vaidade e do orgulho, comuns entre os chamados sábios, e que fossem dotadas de caráter pacífico, pois a missão que lhes estava reservada era dupla, isto é, teriam de ensinar com a palavra e com o exemplo, e, da mesma sorte que seu Mestre, teriam de operar curas de enfermidades. Mas forçoso é advertir: Jesus não veio instituir o exercício ilegal da Medicina, mas veio ensinar que as enfermidades da alma devem ser tratadas pela terapêutica espiritual, como Ele exemplificou. Durante toda a sua vida entre os homens, revelou sempre o mais absoluto respeito às autoridades constituídas e às leis humanas, pois que neste mundo é que os espíritos a ele destinados tomam o indumento ou vestuário da carne - encarnação ou reencarnação -, para continuarem o seu aprendizado, o seu aperfeiçoamento, o seu progresso, a sua carreira evolutiva, a sua escola de preparatórios, de acordo com a lei ratificada pelo Mestre: “Sede perfeitos, como perfeito é o vosso Pai Celestial.” Aperfeiçoai-os, tal a lei.

            Pelo estudo e pelo exame do que está escrito no Evangelho, pela análise dos fatos referidos pelos quatro evangelistas acerca das curas realizadas pelo Cristo, e mais ainda, e acima de tudo, diante da recomendação expressa que Ele fez aos apóstolos, em caráter imperativo (“curai os enfermos”), - verifica-se que o Mestre jamais confundiria Medicina com Mediunismo.

            A pregação de sua doutrina, seguida sempre de exemplificação pelas obras, anunciava ao povo e ao mundo que, para enfermidade da alma, do espírito, existe a Medicina do Espirito, que não se confunde com a das academias dos homens, porque é do Céu, do Reino Espiritual. “Meu reino não é deste mundo”, disse Jesus: Teve de referir-se a “céu” e “inferno”, isto é, à felicidade e infelicidade, à perfeição e imperfeição, a gozo e sofrimento, sinônimos não de lugares mas de sensações, modos de sentir, derivados de nossas próprias obras, de conformidade com a lei de causalidade ou de causa e efeito: “A cada um, segundo as suas obras”. Lei que não admite exceções.

            Ora, dizendo Jesus: “o reino de Deus está dentro de vós”, afirmou que o Céu é um estado de espírito, estado de consciência, estado moral. Se o inferno existe no coração dos maus, como estado inferior que é, de “remordimento” da consciência - para torná-los bons -, claro é que Jesus prescreveu remédios para as enfermidades do espírito e não do corpo. E, se o estado de perturbação do espírito, agravado pela ação dos maus espíritos, determina distúrbios físicos ou orgânicos, ainda assim Ele não sai dos limites da sua Medicina Espiritual, pois que os doentes que Ele quer curar não receberão remédio pela boca nem por injeção. E da confusão que os homens fazem, de fenómenos físicos com fenômenos psíquicos, resultam os Insucessos e os fracassos diários nos domínios da ciência oficial, apoiada em princípios rigidamente materialistas. E, em nome do infalibilismo científico, a palavra “alma” ou “espírito” não tem permissão para subir as escadas da Academia, E qual o resultado desse materialismo? Não se faz esperar: crivam-se os braços ou a região glútea de injeções, para curar o doente portador de... perturbações da alma! E lá vem o diagnóstico de epilepsia, de ataques epileptiformes, de neurastenia, de ergastenia ou sobernal - quando as perturbações do corpo são o reflexo das perturbações do espírito, este sob a influência de espíritos obsessores. Seja-nos permitido um símile ilustrativo, Que juízo deveríamos fazer, se, em viagem pela rodovia São Paulo-Rio, víssemos parado um automóvel, à margem da estrada, e um médico aplicando injeção de óleo canforado em um dos pneumáticos dianteiros, a fim de reduzir o abatimento físico e mental  do motorista?

            Não estamos exagerando nem argumentando com irrealidades. Estamos discorrendo com lealdade, com a honestidade mental de quem quer falar a verdade, só a verdade. Não figuramos uma novidade nesse exemplo simbólico; a imagem comparativa é feliz. E, como os não diplomados não podem discutir diagnósticos – por que o dogmatismo científico não dá licença, e dogmatista é aquele que não admite discussão do que afirma, aí continuam perambulando, de Herodes a Pilatos, os pobres obsidiados, até que um dia a razão consiga levar os sacerdotes do cientificismo materialista a procederem como o Mestre da Galileia, que afastava a “causa” das perturbações dos padecentes, porquanto, “suprimida a causa, cessa o efeito” - aforismo que figura nos quadros da medicina com a moldura da língua clássica: sublata causa tollitur effectus.” (Eliminada a causa, desaparece o efeito.)

            O procedimento do excelso Médico das almas era um expressivo apelo aos doutores daqueles dias e daqueles lugares, para que o imitassem, visto como, já a deontologia médica, como a deontologia (é a parte da Medicina Legal que se ocupa das normas éticas a que o médico está sujeito no exercício da profissão) jurídica (tratado dos deveres profissionais), aconselhou sempre ao profissional a preferir dizer antes: “- Não sei”, a dizer mais tarde: “- Não sabia!”

            Os exemplos dados pelo Mestre tiram toda dúvida. Antes de citá-los, vejamos o que diz o Evangelho acerca da ordem dada aos discípulos para o exercício da Medicina Espiritual.

            “Convocados os seus doze discípulos, deu-lhes Jesus poder sobre os espíritos imundos, para os expelirem, e para curarem todas as doenças e todas as enfermidades. A estes doze enviou Jesus, dando-lhes estas instruções, dizendo: “Não ireis caminho de gentios, nem entrais nas cidades dos samaritanos, mas ide antes as ovelhas que pereceram da casa de Israel. E, pondo-vos a caminho, pregai, dizendo que está próximo o reino dos céus. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; dai de graça o que de graça recebestes”. (Mt, cap. X, Mc. cap III, Lc. cap IX):

            Essas prescrições feitas pelo Mestre aos seus discípulos estão dentro da terapêutica espiritual, e nada tem com a terapêutica dos médicos terrenos. Sim. Jesus sabia muito bem que seus discípulos, escolhidos na classe dos iletrados, dos incultos pescadores e até dos publicanos (cobradores de impostos), não teriam capacidade para praticar a profissão dos médicos e, mesmo, estaria Ele, como Mestre, violando as leis civis, se recomendasse o exercício da medicina a homens incompetentes para tal. Sabia o Mestre do estado enfermiço das ovelhas de Israel como consequência da Ieprosidade moral que lavrava nos domínios espirituais dos escribas e fariseus. E, para provar que causas danosas produzem efeitos danosos Ele deu o exemplo de como devem proceder os homens de fé e de moral, em favor dos decaídos e dominados pelos espíritos obsessores, cuja ação maléfica é uma atestação viva da lei das afinidades, pois que os semelhantes se atraem, ou os que se assemelham se juntam. Cré com cré e lé com lé.

            Jesus curou inúmeros portadores dessas enfermidades espirituais. Vejamos alguns casos:

            “E tendo Jesus chegado à casa de Pedro, viu que a sogra dele estava de cama, e com febre; e tocou-lhe na mão e a febre a deixou, e ela se levantou e se pôs a servi-los. Sobre a tarde, porém, lhe puseram diante muitos endemoninhados, e Ele com a sua palavra expeliu os espíritos, e curou todos os enfermos.” (Mt. VIII, 14-16).

            “E logo que saíram, lhe apresentaram um homem mudo, possuído do demônio (espírito obsessor). E depois que foi expelido o demônio, falou o mudo e o povo dizia: “Nunca tal se viu em Israel!” (Mt. IX, 32-33).

            De joelhos, pede um homem: Senhor, tem compaixão de meu filho, que é lunático (maníaco, visionário), e cai ora no fogo, ora na água. E Jesus curou o moço, expelindo o demônio." (Mt. XVII, 15-17).

            Dentro da própria sinagoga ou igreja de Cafarnaum, Jesus cura um possesso, dizendo ao espírito imundo:

            “Cala-te, e sai desse homem. Então o espírito, em meio de violentas convulsões, e dando um grande grito, saiu dele." (Mc. I, 23-26).

            “E vindo (Jesus) a seus discípulos, viu perto deles uma grande multidão de gente, e que os escribas estavam disputando com eles. E logo todo o povo, vendo Jesus, ficou espantado, e todos se encheram de temor, e correndo a Ele, o saudavam. E Ele lhes perguntou: Que é o que vós estais disputando entre vós outros? E respondendo um dentre a gente, disse: Mestre, eu te trouxe meu filho possuído de um espírito mudo; o qual onde quer que o apanha, o lança por terra, e o moço deita espuma pela boca e range com os dentes, e vai-se mirrando; e roguei a teus discípulos que o expelissem, e eles não puderam. Respondendo-lhe Jesus, disse: Ó geração incrédula, até quando hei de eu estar convosco? Até quando vos hei de sofrer? Trazei-o cá. - Trouxeram-lhe então. E ainda bem ele não tinha visto Jesus, quando logo o espírito imundo o começou a agitar com violência, até que caiu por terra, onde se revolvia babando-se todo. - E perguntou Jesus ao pai dele: Quanto tempo há que lhe sucede isto? E ele disse: Desde a infância; e o demônio o tem lançado muitas vezes no fogo, e muitas na água, para o matar; porém se tu podes alguma coisa, ajuda-nos, tem compaixão de nós. - Disse-lhe pois Jesus: Se tu podes crer, tudo é possível ao que crê. E imediatamente o pai do moço, gritando, dizia com lágrimas: “Sim, Senhor, eu creio; ajuda tu a minha incredulidade.” E Jesus, vendo que o povo concorria, ameaçou o espírito imundo, dizendo-lhe: Espírito surdo e mudo, eu te mando, sai desse moço, e não tornes a entrar nele. - Então, dando grandes gritos, e maltratando-o muito, saiu dele, e ficou como morto, de sorte que muitos diziam: “Está morto.” Porém, tomando-o Jesus pela mão, o levantou e ele se ergueu.” (Mc. IX, 13-28).

            - Ainda que leigo em medicina, mas pelo que temos lido e observado, podemos afirmar que esse moço teria sido classificado como “epiléptico”, pelos médicos daquele lugar. E hoje... não seria outro o diagnóstico. Essas citações do Evangelho espelham nitidamente o estado moral e espiritual daquela época, bem semelhante à atual. Tudo isso é consequência do afastamento dos homens da Lei de Deus, da lei do dever. Encarnados hoje, e desencarnados amanhã, continuam a sofrer as consequências naturais de seus atos. Somos todos solidários uns com os outros. Sofremos os efeitos de nossas faltas passadas; mas, como vivemos imersos no meio social, as faltas coletivas repercutem sobre nós.

            E, como Jesus é o Bom Pastor das ovelhas que estão neste mundo e no outro, não quer que se interrompa o trabalho de evangelização que é trabalho educativo, em cujo programa toma parte importantíssima a terapêutica espiritual, em prol de todos os que têm fome e sede de progresso. Os padecimentos morais determinados pela ação dos espíritos inferiores, abalam a saúde física, e, como Ele continua sendo Médico das almas, Sua obra de regeneração dos homens continuará, e continuarão os seus discípulos, que surgem de todas as camadas sociais, a exercer esse apostolado de amor, auxiliando o seu próximo a conhecer a causa de seus males espirituais. E, para que o mundo não supusesse que aquelas recomendações e aqueles poderes terapêuticos finalizaram com a morte do último dos apóstolos, eis que o evangelista e não apóstolo, Marcos, instruído e guiado por Pedro, no cap. 16 ou o último do seu livro, nos diz que Jesus não concedeu privilégio nem exclusividade a este ou aquele.
           
            Escutemo-lo.

            “E disse-lhe (depois de ressuscitado!) Pregai o Evangelho a toda a criatura. E estes sinais seguirão “aos que crerem”: expulsarão os demônios “em meu nome”; falarão novas línguas; porão as mãos sobre os enfermos e os sararão.”

            Por essas palavras de sentido claro e não figurado, Jesus declara: todas as criaturas que crerem n'Ele, sejam homens ou mulheres, brancos ou de cor, letrados ou analfabetos, ricos ou pobres, nacionais ou estrangeiros, desta ou daquela crença, estarão sob o influxo dos poderes que couberam aos discípulos, de acordo com a dispensação ou concessão feita pelo Espirito.

            Escutemos a palavra do grande Paulo, em I Cor. XII, capítulo que trata da diversidade de “dons espirituais” ou “faculdades mediúnicas”.

            Depois de responder a questões propostas, sobre casamento, carnes sacrificadas aos ídolos, etc., passa o epistológrafo a tratar dos diferentes modos de comunicação dos espíritos no meio da congregação, a ordem a ser observada durante a sessão. Diz ele: “E sobre os dons espirituais, não quero, irmãos, que vivais em ignorância. Sabeis que, quando éreis gentios (ou pagãos, politeístas), concorríeis aos simulacros mudos (imagens, ídolos), conforme éreis levados. Há pois repartição de graças, mas um mesmo é o Espírito. E os ministérios são diversos (funções diversas, cada um com seu trabalho ou mister), mas um mesmo é o Senhor. Porque a um, pelo Espírito, é dada a palavra de sabedoria, a outro porém a palavra de ciência, a outro, graça de curar as doenças, a outro, a profecia, a outro, o discernimento dos espíritos, a outro a variedade de línguas (xenoglossia), a outro, a interpretação dos palavras.”

            Nesses dois cáps., (XII e XIV) dá o apóstolo desenvolvidas instruções aos crentes da cidade de Corinto, para se portarem convenientemente durante a comunicação dos espíritos, não esquecendo a hipótese de se comunicar um espirito pela mediunidade de um crente assentado no meio da congregação, ou afastado da mesa que dirige os trabalhos (em torno da qual estão os médiuns). E, em linguagem simplíssima para ser bem entendida, Paulo descreve uma sessão espírita, dá regras para os trabalhos, e aconselha muita ordem e muito respeito no momento da “revelação” ou comunicação dos espíritos. Essas instruções e recomendações, por assim dizer, são o complemento do que Marcos refere no citado cáp. XVI do seu livro (últimos versículos) no tocante à declaração do Ressuscitado de que “aqueles que crerem curarão os enfermos, com a imposição das mãos, e falarão línguas estranhas”, etc.

            Explicada está a razão por que os espíritas exercem a Medicina Espiritual. Crentes em Jesus e não em Allan Kardec, revelam a sua fé - não a fé mística, apenas baseada no incognoscível e no sobrenatural, fé como “crença no mistério” -, sim, revelam a sua fé como virtude que é (virtus - valor, força, coragem, energia), como confiança absoluta no amor e no poder de Jesus, no poder sobre que repousa o Universo, confiança e certeza de alcançar todas as possibilidades, todas as realizações como a fé do Centurião Romano, como a do Bom Ladrão, como a de Zaqueu, como a desse pobre pai, abençoado pai, do cáp. IX de Marcos, há pouco referido; sim, os espiritas não fazem mais do que obedecer aos impulsos irreprimíveis, incoercíveis, da maior de todas as virtudes - segundo Paulo - a caridade. Proceder por essa forma é procurar cumprir o mandamento máximo do Mestre, vivendo em caridade, porque Deus é caridade. (I Epíst. João, IV, 8).

            Explicada está a operosidade dos espiritas nos vastos domínios da Medicina do Espírito. -Todo mundo já se vai habituando a ver nas atividades do Espiritismo a interferência de “um poder” que não é da Terra, que não vem dos homens. Casos como esse, do moço possesso do espírito que o tornou surdo e mudo - contam-se às dezenas, às centenas, e que são curados segundo a terapêutica de Jesus, e muitas vezes, por criaturas humilíssimas, não raro analfabetas, ou, sem as luzes da Terra, mas com o fogo do Céu: a caridade. Explicada está a existência de médiuns curadores, ou melhor, de criaturas instrumentalizadas pelos Espíritos que querem praticar na Terra o “aliviar a dor é obra divina”, Divinum opus est sedare dolorem.

            Afigura-se nos esclarecida suficientemente a razão por que os espíritas, não sendo médicos nem cirurgiões, mas apenas médiuns, exercem a Medicina de Jesus, inspirada por Jesus, recomendada por Jesus, praticada por Jesus: a Medicina Espiritual.

            Uma objeção, porém, soa aos nossos ouvidos: “como explicar as intervenções cirúrgicas por médiuns sem instrução?”

            O caso é diferente, mas daremos a resposta que nos parece plausível.

            Obedecendo a razões de ordem moral, ninguém esperará que os códigos e as leis comuns ordenem a prática do bem. Tal assunto poderia ajustar-se ao espírito do direito natural e não do direito civil; aquele, nasce com o homem; este, nasce dos homens -, mas baseado ou inspirado no espírito do primeiro. Para fazer o bem, para praticar uma ação boa, ninguém vai pedir licença às autoridades, nem consultar o Código Civil. Se existem - e de fato existem -, médiuns que realizam operações de alta cirurgia - isso é lá com os doutores que já se acham no Outro Lado, e que se servem desses médiuns para continuarem a aliviar os padecimentos de seus semelhantes, como o faziam quando estavam neste lado, mas agiam com menos interesse do que hoje, visto ser maior a compreensão e maior o sentimento de solidariedade que hoje os animam. De uma coisa estejamos certos: sem a permissão do Médico das almas os cirurgiões do Além não viriam trabalhar na terra: se realizam curas dependentes da sua capacidade operatória, é que estão dentro da Lei do Amor... E não há mal em fazer o bem.. A propósito, queremos dar o nosso testemunho: vimos a cicatriz no abdômen de um moço, nosso amigo e também formado pela nossa Faculdade de Direito, o qual foi operado de uma úlcera gástrica, pela instrumentalidade de um humilde operário que, ali no subúrbio da Lapa, exercia a sua atividade de comprador e vendedor de ferro velho. Esse jovem esteve antes sob as vistas dos profissionais da cirurgia, desta Capital e da Capital Federal, mas nenhum se aventurou a operá-lo. E, em consequência dessa extraordinária cura, eis que um amigo dele e que superintende os interesses de poderosa, conhecida e muito antiga organização industrial desta Capital, já desenganado pela Medicina da Terra -, com os dias e horas quase contados, é operado pelo cirurgião desencarnado, através da mediunidade do mesmo operário. Uma operação que causou assombro. Sabemos que esse industrial não era e não é espírita, mas ficou radicalmente curado e estonteantemente estupeficado, com este acréscimo: terminada a intervenção cirúrgica, no estômago, teve autorização do Dr. invisível para locomover-se no dia seguinte (sábado), e reassumir a sua atividade industrial na segunda-feira seguinte. E assim foi cumprido, e este bem aventurado aí vive satisfeito e alegre, entretido com as delícias do seu lar feliz e com as mil e uma preocupações da sua vasta organização industrial.

            Ao figurado objetante diremos mais: esse comprador de ferro velho (operário, hoje, em outro setor), não é charlatão, não é intrujão, não é explorador, não procura clientes, não apregoa virtudes que não possui, não recebe um níquel que seja, nem mesmo indiretamente, isto é, não aceita nem ao menos um sabonete. Porquê? Responde ele: Eu não sou nada, não faço nada de mim; não procuro curar ninguém, porque não sou médico mas um mísero operário pouquinho menos que analfabeto, mas as ordens de Cima eu tenho que obedecer, para não sofrer como sofri, quando tentei fugir desse trabalho. E não recebo, não posso receber nem um vintém que seja, porque o operador não sou eu mas o que está no Outro Lado; além disso, tenho que cobrar o preço marcado por Nosso Senhor, que é este: “Dai de graça o que de graça recebestes.”

            Ao objetante “desconhecido” e a mais alguém diremos: não esbugalhemos os olhos diante de casos como esse - e que se multiplicam de maneira impressionante, com pleno conhecimento de muitos e muitos médicos da Capital -, sim, não arregalemos os olhos diante de fatos tidos como miraculosos. Tudo isso não é para causar tamanho assombro, desde que sabemos estar subordinado a leis naturais. Esses “milagres” foram prometidos por Jesus “aos que crerem”, Ilustrado ou sem ilustração, rico ou pobre, médico ou sapateiro, cirurgião ou operário de ferro velho, a esses a solene promessa do maior Médico do planeta:

            “Em verdade em verdade vos digo que aquele que crê em mim “esse” fará “também” as obras que eu faço e “fará outras ainda maiores”, porque eu vou para o Pai.” (João, XIV, 12).

27. Salvação pela fé ou pelas obras?
por Romeu A. Camargo
Empresa Gráfica da “Revista dos Tribunais - São Paulo SP - 1941

No dia de Juízo

            Estas derradeiras páginas não trazem novidade do ponto de vista da exegese bíblica. Apenas, lembram ao leitor as palavras do Mestre, ditas depois daquela lição extraordinária, cheia de imagens fortes e impressivas, no cap. XXV do Evangelho segundo o apóstolo Mateus e já por nós comentado, em capítulo anterior. Nestas linhas o leitor encontrará a confirmação plena e cabal do ensino de Jesus, nesse capítulo, sobre o destino que as criaturas determinam pela sua própria conduta na Terra.

            Há mais uma personagem mencionada no livro histórico do Novo Testamento, e que merece referência nestas linhas.

            Quando o pagão Cornélio, comandante de um batalhão italiano, orava em sua casa, eis que lhe aparece materializado um “espirito”, vestido de branco, e fala-lhe: “Tua oração foi atendida, e tuas esmolas (ou boas obras) foram lembradas diante de Deus”. (Atos, X, 30, 31).

            Depois disso é que esse capitão, obedecendo à recomendação do “espírito”, mandou três de seus comandados à casa de Pedro - na cidade de Jope -, para convidá-lo a ir à sua presença, pois queria conhecer o que ignorava, isto é, a palavra de Jesus, o Nazareno rejeitado pelos Judeus.

            Antes de conhecer o “abc” do Evangelho -, o militar italiano era já considerado verdadeiramente filho de Deus e irmão de Jesus, porque era praticante de boas obras. O enviado celeste anunciou que as boas obras ecoaram lá nas Alturas, antes que o seu praticante conhecesse o Evangelho.

            Sim. As boas obras são as páginas do livro que nos deve julgar, intitulado “nossa vida na Terra”. Seremos julgados no último dia desta caminhada terrena, logo que regressemos à Pátria Espiritual (João, VI, 39).

            Seremos “julgados”, ou, nós mesmos nos julgaremos, não segundo o “nosso” modo de “crer” - mas a vista do que houvermos escriturado nas páginas desse livro...

            O índice, que será a última página, indicando a nossa vida inteira, será lido lá, no Outro Lado, pelos olhos desse Juiz severo e inexorável, e que acompanhou sempre os nossos pensamentos e os nossos atos, como testemunha silenciosa: a nossa Consciência!

            E Jesus, “que não julga a ninguém” (João, VIII, 15), estará presente nesse momento, para ratificar a “nossa” sentença...

            Diz Paulo que os homens morrerão uma só vez (é lógico: em cada existência) e que, logo
após a morte, que é o regresso ao Mundo Espiritual, siga-se o Juízo. Não fala num Juízo em futuro “indeterminado" (como ainda o supõem muitas criaturas na Terra), mas, no Juízo imediato, deixado que seja este mundo material. (Epístola aos Hebreus, cap. IX, 27).

            Então o “nosso” julgamento será feito, mas com toda a simplicidade, nos termos do cap.  XXV do Código Moral segundo S. Mateus, vv. 34 a 46, combinados com os textos posteriormente ditados pelo mesmo Mestre: “E foram julgados os mortos, pelas coisas que
estavam escritas nos livros, segundo as suas obras.” (Apoc., XX 12).

            “E o meu galardão anda comigo, para recompensar a cada um, segundo as suas obras. (Cap. XXII, 12).

            “E se fez juízo de cada um deles, segundo as suas obras. (Cap. XX, 13).

            “E retribuirei a cada um de vós, segundo as suas obras. (Cap. II, 23).

            “Bem-aventurados os mortos que morrem no Senhor. De hoje em diante, que descansem dos seus trabalhos, porque as obras deles os seguem. (Cap. XIV, 13).

FIM


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