14 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XII
O Israelismo estava dividido em seitas por cujas doutrinas
Deus não
era responsável.
Exatamente! Deus não é também responsável pelas doutrinas das seitas
protestantes, porque todas elas são falsas. As presbiterianas, as batistas, as
metodistas e outras, são todas contraditórias e os seus respectivos ministros
se guerreiam mutuamente por causa dos seus princípios dogmáticos. Cada uma se
julga com direito de legitimidade! Deus, porém, não se curva à arrogância dos
homens ou às paixões humanas. "
- Os presbiterianos dizem que os batistas são mergulhadores; os batistas e os
metodistas dizem que os presbiterianos são hereges: uns e outros se maldizem e
se excomungam! Qual dessas seitas está com a verdade? Bem disse Jesus: Como
vedes o argueiro no olho do vosso irmão e não vedes a trave no vosso? Que é do
amor que o Mestre recomendou em João, XIII: 34-35? Mateus, VII, 3-5.
As três seitas que mencionei representam os três papas que ocuparam ao mesmo
tempo a cadeira de São Pedro (1), conforme citou o pastor no seu: "- Tu és
Pedro" Benedito XIII em Avignon, Gregório XII em Roma e João XXII em
Pisa! Os três papas se excomungavam mutuamente, cada qual se julgava o
legitimo. As três seitas aludidas não fazem também o mesmo?
(1) Cadeira de São Pedro! Este apóstolo teve rede, anzóis, varas, linhas e
objetos de pesca e também algum pangaio ou canoa. Os Evangelhos não nos falam
em cadeira de S. Pedro!
Também se diz: - Anel de São Pedro. Talvez tivesse tido algum anel de ferro ou
de lata, pois o Mestre ordenou-lhe abster-se de possuir ouro ou prata.
(Atos, III, 6; S. Mateus, X, 9).
Como poderia Deus sancionar essa presunção dos homens, produto do orgulho ou da
fraqueza humana?!
*
Omne regnum in seipsum divisum desolabitur, et domus supra domum cadet.
Jesus. Lucam. Caput. XI: 17.
15 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XIII
É contra o bom senso e a razão concebermos a ideia de ter o
matemático
que voltar à escola para aprender que dois mais dois são quatro.
Quanto ao fato de Sócrates ou outros filósofos e matemáticos reencarnados irem
à escola aprender o a b c, não é mesmo compreendido por quem não
pensa na extensão do tempo e da eternidade. Cérebros que não se gastam em
raciocínios, acorrentados a dogmas impostos, não gozam da faculdade límpida e
livre do pensamento; e por isso mesmo, limitados no seu acanhamento, não têm
estímulo para os surtos da águia ... Rastejam! (1)
(1) Vd. Spiritus Maledictus, de Surignac, pago 137 a 1ª. edição. -
A surpresa de Alarico de Anteguera.
Se mil anos são como um dia e um dia é como mil anos, como diz a Escritura e o
Espiritismo confirma, que fica sendo a duração de uma vida?
Nada também fica sendo o tempo que o filósofo gasta para recordar-se do que
sabia (1).
(1) Vd. “A Gênese” de Kardec: "Uranografia geral - O
espaço e o tempo.
Os conhecimentos que os Espíritos adquirem em existências sucessivas, são sua
propriedade; não os perdem ao voltar à Terra. Aliás, como se justifica a
inteligência de uns e o cretinismo de outros? (2) Por que dá Deus a uns
facilidade para aprender tudo, em pouco tempo, e nega a outros, que lutam com
dificuldade e pouco aprendem por motivo de rudez de entendimento? Como se
justificam as precocidades intelectuais?
(2) Bhagavad Gita, Parte VI, 44-45.
Passemos a responder a outra objeção, porque esta é pura infantilidade.
João
Batista respondeu aos judeus que lhe perguntaram: Sois Elias? - Não sou - foi a
resposta de João (3).
(3) Vd. "Verdade e Luz" nº 3, de 3 de junho de 1922.
Isso faz apenas supor que João, como os demais homens, não
se recordava das suas existências anteriores e só pôde responder sinceramente
não ser Elias por não se lembrar de o haver sido. Somente Jesus podia sabe-lo,
por sua natureza superior e por sabe-lo revelou-o aos discípulos quando julgou
conveniente, estabelecendo assim um luminoso farol para a ulterior inteligência
de vários pontos das Sagradas Escrituras.
Se João Batista se lembrasse de haver sido Elias, ficaria talvez triste e
desanimado com o recordar-se dos crimes que cometera quando Elias; ser-lhe-ia
isso, talvez, motivo para perturbar lhe a tranquilidade e impedir o fiel
desempenho da sua missão como precursor do Messias. (Jó VIIT: 9).
Se o Sr. pastor for visitado por alguns desconhecidos que lhe vão perguntar
quais as suas ocupações; que profissão exercia antes de ser pastor -
provavelmente responderia que não tem que dar satisfações; mas, como é um homem
educado, responderá com evasivas para não ofender aos curiosos que o
interrogam. Pois foi isso o que fez João. Não quis perder tempo em discutir com
os fariseus. Diz o texto que os tais curiosos eram fariseus. João conhecia as
suas intenções. A missão que ele viera desempenhar não era discutir e disse não
ser Elias para evitar polemica fastidiosa e dar fim à sua insistência: Não
sou Elias, não sou profeta; sou a voz que clama no deserto!
Nós lemos que ele disse aos fariseus:
"Raça de víboras! Quem vos ensinou a fugir da ira vindoura? Produzi, pois,
frutos dignos de arrependimento". (Mateus, II: 7-8).
O ser ou não Elias, pouco importava àquela raça de víboras que o interrogava; o
que mais importava era produzirem frutos dignos de arrependimento.
A essa mesma raça de víboras Jesus chamava de "sepulcros branqueados,
hipócritas, enganadores, lobos vestidos com peles de ovelhas".
Se os sacerdotes e levitas queriam saber se João era Elias, que procurassem nas
Escrituras, pois se João dissesse que de fato era Elias, eles não dariam
crédito, como ainda hoje acontece. Nada adiantaria que João dissesse: -
Eu sou Elias - Para pôr um termo à conversa, ele disse: "- Não sou
Elias". O Sr. pastor também responderia aos desocupados e levianos que lhe
dirigissem perguntas indiscretas, com palavras de acordo e na mesma altura do
valor moral dos perguntadores, para evitar discussões intempestivas, que só
servem para fazer perder tempo.
Outro argumento do Sr. pastor:
Em que critério o rev. Pastor apoia essa afirmação?
Camille Flammarion, o sábio de reputação mundial que foi amigo íntimo de
Kardec, isto é, de Hippolyte Leon Denizard Rivail, ainda existe e
poderá dizer ao Pastor se Kardec foi um ignorante (1).
(1) Vd. Biografia de Kardec e discurso de FIammarion no ''O
Principiante Espirita" e nas "Obras Póstumas". Kardec não só era
teólogo profundo, como também poliglota e distinto doutor em medicina.
B. S. - Existia ainda, em 1923 quando se imprimiu a 1ª edição deste livro, pois
faleceu em 1927.
Jan Huss foi vítima dos padres inquisidores que lhe queimaram o corpo. O mesmo
sucederia com Kardec, seria também queimado vivo se existisse a inquisição no
seu tempo.
Queimaram lhe os livros em Barcelona por não poderem queimar o corpo. Hoje,
seus adversários pretendem queimar lhe a reputação no fogo inquisitorial da
mentira, da calúnia e da maledicência.
Seu Espírito luminoso lembra-se das palavras do divino Messias e perdoa aos
seus detratores. (Mateus, V: 11).
Quanto ao delicado assunto de ser Jesus o mesmo Deus, não tratarei aqui. A um
muçulmano não se pode dizer de chofre que Maomé não foi profeta.
*
Não é possível em uma carta tratar de assunto que dá para encher volumes. Em
poucas linhas é impossível acomodar uma ciência com milhares de citações
bíblicas e seus comentários (1).
(1) Leiam-se "Obras Póstumas" - Estudos sobre a natureza do Cristo
por A. Kardec e a obra: - "Jesus Cristo será o mesmo Deus
Criador?" de ManoeI José da Fonseca - Emp. editora "O
Pensamento".'
Nesse ponto, os insultos que o pastor caridosamente lança ao
rosto dos espíritas, não os atingem.
Lastimam estes, entretanto, que os senhores ministros que estão constantemente
com a caridade nos lábios, tenham tanta facilidade em caluniar e maldizer do
que não compreendem!
A boca fala do que enche o coração, disse o Mestre. Fazem orações, cantam
hinos, pregam a caridade em seus templos, e ao mesmo tempo insultam, caluniam e
maldizem do próximo. De suas bocas procedem a benção e a maldição... fontes de
onde brotam água doce e água amargosa. (Tiago III 1-2).
Preguem os senhores protestantes o que quiserem, jamais conseguirão mudar os
planos do Criador, nem modificar as suas leis eternas e imutáveis.
16 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XIV
...Porém, quando vier o Espírito da Verdade que procede do Pai,
ele testificará de mim. Batem palmas os espíritas e dizem:
É o espiritismo! Serão sinceros? Parece que não.
Vejamos pelas Escrituras se é o Espiritismo e se os
espíritas são sinceros. São João, XIV: 26; XV: 26; XVI: 13. Todos esses
versículos anunciam o Espírito da Verdade que Jesus ia mandar, a fim de
ensinar mais tarde as coisas que Jesus não revelou aos seus discípulos e ao
povo, porque eles não as podiam compreender naquele tempo:
"Ainda
tenho muitas coisas que dizer; mas vós não as
podeis suportar agora. (João, XVI: 12). Porém, quando vier aquele Espírito da
Verdade, ele vos guiará em toda a verdade, porque não falará de si mesmo, mas
falará tudo que tiver ouvido e vos anunciará as coisas que estão para
vir", (S. João, XVI, 12).
No dizer do Mestre, o Espírito da Verdade teria de vir mais tarde explicar as
suas doutrinas e dizer muitas coisas que eles não compreendiam
ainda naquele tempo.
É
a descida do Espírito Santo no dia de Pentecostes, dizem os protestantes.
Mas, continuemos a analisar comparando versículos com versículos. São Pedro, em
seu discurso, disse: "Varões judeus, e todos que habitais em Jerusalém,
seja-vos isto conhecido e escutai as minhas palavras: Estes homens não estão
embriagados como vós pensais, sendo a terceira hora do dia, mas isto é o que
foi dito pelo profeta Joel: E nos últimos dias, diz Deus, que do meu espírito
derramarei sobre toda a carne e os vossos filhos e as vossas filhas
profetizarão, os vossos mancebos verão visões e vossos velhos sonharão sonhos.
E também do meu espírito derramarei sobre os meus servos e minhas servas e
profetizarão naqueles dias". (Atos, 11: 14; Joel 11: 28-32).
Pensem bem os senhores pastores e reflitam um pouco comigo sobre estas palavras
de Pedro. Que é o que ele disse ao povo que o escutava? Não se referiu a
profecia de Joel, que Deus derramaria, nos últimos dias, do seu espírito
sobre toda a carne?
Ora, (pensem bem) se a promessa do Espírito fora só para os que estavam
concordemente reunidos, (Atos, 11: 1), isto é, somente aos apóstolos, Pedro não
diria com Joel "Sobre toda a came". Que quer dizer: sobre
toda a came?
Se o Espírito devia ser derramado sobre toda a carne, não seria, por
conseguinte, somente aos apóstolos.
Pergunto também o que querem dizer estas palavras de Joel, confirmadas por
Pedro:
"Vossos filhos e vossas filhas profetizarão, vossos mancebos verão visões,
vossos velhos sonharão sonhos"? Os Revs. pastores não veem nestas palavras
o que está acontecendo em toda parte do mundo: o desenvolvimento da
mediunidade?
Se o Espirito Santo ou os Espíritos da Verdade, viessem somente aos apóstolos,
no dia de Pentecostes, não seria derramado sobre toda a carne: Velhos,
mancebos, homens, mulheres, filhos e filhas, servos e servas... e não seria nos
últimos dias; pois, há quase dois mil anos que houve a efusão do Espírito no
dia de Pentecostes... Entretanto, Pedro confirma: "Nos últimos dias".
É o sinal dos tempos que o protestantismo não quer ver.
Os tempos são chegados.
16b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Os Espíritos da Verdade descem sobre os profetas de hoje: nossos filhos e
filhas, nossos pais, nossos amigos (os cristãos que amam ao Senhor Jesus e que
adoram a Deus em espírito e em verdade), e que se reúnem concordemente como os
apóstolos no dia de Pentecostes, concentrados, profetizam, isto é, servem de
instrumento aos Espíritos do Senhor, que nos vêm confirmar as palavras do
Mestre, como havia prometido; e por boca dos profetas de hoje, recebemos o
ensino do Espírito da Verdade, Espíritos santos; Espíritos bons; Espíritos do
bem.
As Escrituras estão cheias de manifestações espíritas. Médiuns foram Moisés e
todos os profetas; médiuns os apóstolos; médiuns têm sido os que viram os
Espíritos do Senhor: Todos os que enxergaram os Espíritos ou Anjos, eram
médiuns.
Abundam as aparições no tempo do Cristo e dos apóstolos, como se vê pela
leitura dos Evangelhos e dos Atos, onde também se leem descrições de
extraordinários e assombrosos fenômenos de espiritismo. Não é preciso que eu
faça citação de todos, porque os senhores pastores protestantes muito bem os
conhecem.
Se em todos os tempos os Espíritos do Senhor se têm manifestado no mundo,
(Hebreus, I: 1) no tempo do Cristo, no tempo dos apóstolos, aos primitivos
cristãos e aos devotos do catolicismo romano; por que razão deixam hoje de se
manifestar e só o diabo, ou maus Espíritos são os que gozam o prazer de seduzir
e perder a humanidade com o consentimento de Deus?
Se nossos filhos, nossas filhas, nossos mancebos, (médiuns desenvolvidos,
profetas), não profetizam, não recebem os Espíritos do Senhor, quando, então,
há de cumprir-se a profecia de Joel confirmada por Pedro?
Em que tempo o Senhor derramará seu Espírito sobre toda a carne?! (1)
(1) Vd. Artigo do Dr. Viana de Carvalho, no cáp. II, pág. 11: "Argumento
talho".
Joel teria profetizado uma mentira?
Ter-se-ia Pedro enganado confirmando-a?
16c “O Protestantismo e
o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Os Espíritos da Verdade manifestam-se hoje por toda parte e continuarão a
manifestar-se, até reunir toda a humanidade sob o único estandarte de Jesus,
até acabar com as seitas, até destruir todo o erro de suas criaturas, para que
se cumpram as palavras do Cristo:
"Haverá um só rebanho e um só pastor".
Os Espíritos da Verdade continuarão a manifestar-se até fazer todo o mundo
conhecer a Deus como Jesus o conhece.
As manifestações e aparições nestes últimos tempos têm-se dado também entre os
protestantes e católicos, porém, os ministros e padres as abafam para não se
divulgarem entre os seus fiéis e crentes, porque lhes contrariam os interesses
materiais e as atribuem às emboscadas de Satã! (1)
(1) Vd. A estigmatizada de Campinas pelo Dr. Souza Ribeiro.
Jesus diz que, sendo maus, nós não damos aos nossos filhos pedra em vez de pão,
serpente em vez de peixe, assim nosso Pai celestial nos dará bons Espíritos
quando lho pedirmos (Lucas, XI: 12-13).
Não são porventura todos eles Espíritos ministradores, enviados para servirem a
favor daqueles que hão de herdar a salvação? (Hebreus, I: 14).
As igrejas, católica e protestante deviam deixar de render culto a Satã
dando-lhe um poder maior que o de Deus; maior que o do Seu Messias, e
conhecerem que só Deus é Todo-Poderoso e deu todo o poder a Jesus, como seu
médium. Que o erro, o mal, a confusão, hão de forçosamente desaparecer da face
da terra e que será firmado no coração de todos os viventes humanos o reino de
Jesus, em toda a sua plenitude, patenteado pelo amor do próximo, pela
tolerância, pelo perdão, pela caridade em todas as suas modalidades, que são a
condição única de salvação, como ensinou Jesus em Mateus, (XXV: 31-46).
Creio que o Sr. pastor não ignora que o Espiritismo está-se propagando de norte
a sul, de leste a oeste, no mundo inteiro. Em toda parte, tanto nas grandes,
quanto nas pequenas cidades, em todas as conversações, tanto de sábios como de
medíocres, desde o castelo dos opulentos à choupana dos pobres, o assunto
predileto é o Espiritismo e suas manifestações. É um assunto que, atualmente,
preocupa o pensamento de milhões de criaturas. Fundam-se jornais e
revistas, organizam-se institutos; publicam-se milhares de livros,
editam-se e reeditam-se de ano (1) em ano, estabelecem-se escolas e até os
jornais profanos das capitais e do interior, (e isto no mundo inteiro),
comentam largamente o Espiritismo triunfante... E, forçoso é confessar que o
catolicismo romano em quase dois mil anos e o protestantismo em quinhentos anos
não fizeram o que o Espiritismo fez em cinquenta anos!
(1) Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira - Rio - O Clarim de Matão
etc.
Se isso é o poder do diabo, segue-se que o diabo está tomando
conta do mundo e Deus não se importa com isso: Jesus abandonou o seu povo e o
entregou nas mãos de Satã; as profecias são mentirosas, ao cumprimento da
palavra de Joel citadas por Pedro também são coisas diabólicas...
Somente a interpretação da Escritura feita por protestantes é que é a
verdadeira.
Presunção nascida do orgulho ou do fanatismo?
16d
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
Toda a planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada, disse Jesus.
(Mateus, XV: 13).
Entre os fariseus havia também alguns médiuns inspirados. Sem conhecerem o
Cristo, eles anunciavam verdades que eram inspirações divinas. Lemos nos
"Atos dos Apóstolos" um exemplo: Perante o tribunal onde estavam
sendo julgados e condenados à morte os apóstolos, pelo motivo de anunciarem o
Evangelho, levantou-se um do conselho chamado Gamaliel, doutor da lei muito
respeitado pelo povo; este, procedendo com prudência e critério, mandou que por
um pouco levassem para fora os acusados e disse ao povo:
"Varões israelitas, acautelai-vos enquanto ao que haveis de fazer acerca
desses homens. Porque antes destes dias levantou-se Teudas dizendo ser alguém:
deste se acercou o número de uns quatrocentos homens, o qual foi morto e todos
os que lhe deram ouvidos foram dispersos e reduzidos a nada. Depois deste
levantou-se Judas o galileu, nos dias do alistamento e levou muito povo
após si; também este pereceu e todos que lhe deram ouvidos foram dispersos.
Agora digo-vos: Dai de mão a estes homens e deixai-os, porque, se esse desígnio
ou essa obra é de homens, se desfará; mas se é de Deus não podereis desfazê-la;
para que não aconteça serdes também achados combatendo contra Deus. E
concordaram com ele". (Atos, V: 33-40).
Por estas palavras do sábio fariseu Gamaliel, podemos raciocinar que, se o Espiritismo
não fosse obra de Deus ou desígnio do Altíssimo e sim, tão somente dos homens,
ele teria já acabado no seu inicio: morreria logo depois de haver nascido e não
se propagaria assim com tanta rapidez, de um a outro extremo do mundo: seria a
planta que o Pai celestial não plantou, seria arrancada como o foi a de
Teudas e a de Judas o galileu (1).
(1) Os propagandistas e pregadores não precisam viajar, pregando aqui, ali e
acolá, porque em toda parte há médiuns e há Espíritos que os fazem falar.
Se o Espiritismo é uma mentira, por que então se alastra essa mentira e se
perpetua em todas as classes da sociedade? Não se pode conceber mentira que
tenha força para convencer os incrédulos, os materialistas e os mais
desconfiados sábios e filósofos.
Por que é que Deus não arrancou essa planta daninha e deixa que ela avassale o
mundo? Então o demônio tem mais poder do que Deus? Querem os senhores pastores
protestantes ser mais justos do que Gamaliel?
Antes de tudo, devemos ser lógicos se não quisermos cair no ridículo.
17 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XV
Confundir o Espírito Santo com os espíritos que se comunicam
nas sessões espíritas é chamar o preto branco e o louco
ajuizado...
Os Espíritos que falam pela boca dos médiuns espíritas não merecem crédito aos
senhores protestantes; entretanto, como é que eles acreditam quando o Espírito
Santo fala pela boca de um quadrúpede, que nem fala nem tem inteligência?
O Espírito que falou pela boca do burro de Balaão, os senhores pastores não
dizem que era Espírito Santo ou o próprio Deus?
Diz a Escritura que só depois que o burro falou é que Balaão viu o anjo do
Senhor. (Números, XXII: 28-29-30) (1)
(1) Não deixa de ser interessante o estranho fato exarado no quarto
livro do Pentateuco de Moisés, chamados Números, entre o Levítico e o
Deuteronômio; o diálogo de Balaão com a sua jumenta; O profeta de quem diziam
ser adivinho, fazia feliz o povo que abençoasse e desgraçado o que
amaldiçoasse.
Balac, rei dos Moabitas, desejoso de se vingar dos Israelitas, mandou os
senadores de Moab e os anciãos de Madian com dinheiro para que Balaão fosse com
eles e amaldiçoasse o povo de Israel, com intuitos tendentes a lança-lo fora de
seu país. Balaão recusou as ofertas do rei; mas este reiterando teimosamente as
solicitações, acabou vencendo a obstinação do profeta, que finalmente consentiu
em satisfazer a vontade de Balac, rei dos Moabitas.
Estando em viagem para se desempenhar de insensata e perniciosa incumbência, o
profeta que cavalgava a sua jumenta, sentiu-se sobremaneira contrariado, quando
mesma empacando em caminho, não avançava para diante ou empinava apoiando-se
nas patas traseiras. É que a jumenta não podia pisar sobre o Espírito de
Senhor, que se pos adiante, impedindo decisivamente a continuação da marcha, a
fim de evitar se realizasse a hedionda obra da maldição sobre o povo de Jeová.
A besta enxergava o Espírito; o profeta, porém, não o enxergava e dava-lhe
varadas; ela apanhava a surra e procurava passar, desviando-se daquele ser angélico e
fulgurante que a detinha; comprimiu o pé do profeta de encontro ao muro e
ele, indignado, espancava ainda mais o pobre animal...
Então, a besta falou: - "Que te fiz eu? Por que me feres? Esta é já a
terceira vez que me estás batendo!"
Balaão respondeu: - "Porque o mereceste, escarnecendo-te de mim. Tivera eu
aqui uma espada e agora mesmo te mataria... "
Replicou a jumenta:
- "Acaso não sou eu a tua besta em que tu sempre costumaste a cavalgar até
hoje?
Dize-me se te fiz já cousa semelhante".
Ele lhe respondeu:
- "Nunca".
Então, os olhos de Balaão foram abertos e ele viu o Espirito do Senhor
materializado na sua frente, empunhando uma espada desembainhada e lhe
censurando por ter maltratado injustamente o animal. Números XXII:
28-29-30. Kardec - Livro dos Médiuns, cap. XII, pág. 303, 14ª ed. em português.
Antes de Balaão ver o anjo, espancava a cavalgadura. O Espírito que a fazia
empacar censurou o profeta pelo seu procedimento, logo depois de haver sido visto
por ele.
Eis aí a figura do pastor protestante simbolizada na pessoa de Balaão. (II
Pedro, II: 16).
É necessário que uma cavalgadura fale para que ele possa acreditar seja o
Espírito Santo (1).
(1) Espírito Santo - A palavra "Santo" é usada na Escritura, para
distinguir os Espíritos bons, evoluídos, aperfeiçoados, sábios, - dos levianos,
brincalhões, zombeteiros, maus e ignorantes. '
- Pobre protestantismo!..
O Sr. pastor chama a atenção para um versículo da Escritura, o único que parece
emprestar alguma força sugestiva aos seus argumentos. É aquele que destacou da
carta de Paulo aos Hebreus, IX: 27.
Os protestantes lançam mão deste versículo único como a tábua de salvação:
Agarram-se a ele como padres no "Tu és Pedro" de Mateus; IX: 27.
Analisemos, ainda, esse mesmo versículo por ele citado e vejamos a que fica
reduzida a teoria confusa do protestantismo.
Escritura:
E como aos homens está ordenado morrerem uma vez, vindo depois disso o
juízo... Hebreus, IX: 27 (2).
(2) Vd. 2ª parte desta obra, capítulo
VI: Estudo do lugar onde estava Samuel e para onde devia ir Saul.
Teologia protestante (1)
(1) Teologia, pelos Revmos, Amos Binney e Daniel Stelle, trad.
por J. J. Ramsom - Edição de 1885- (Publicação da Igreja Metodista
Episcopal do Sul).
A alma nem morre nem dorme com o corpo. Tem de ficar em lugar intermediário que
a Escritura denomina - Seio de Abraão - Paraíso - durante o tempo que medeia a
morte e a ressurreição final, depois da qual entrará em
julgamento. O dia do juízo final ou juízo universal é aquele em que deve
terminar o presente estado de existência da humanidade em geral, do passado e
do presente; julgamento geral dos anjos e dos homens justos e ímpios, de todos
os tempos." (Páginas 140 a 150).
Esta teologia está em harmonia com os versículos de Hebreus, IX: 27? Não,
porque no versículo diz que após a morte segue-se o juízo, e os teólogos
protestantes não concordam e dizem que a alma tem de esperar em um lugar
intermediário, durante um tempo incalculável, até o dia do julgamento...
e esse julgamento se dará depois da ressurreição! Não está aí uma incoerência,
unia confusão dos senhores protestantes?
O próprio autor da citada teologia diz o seguinte, explicando o que é o céu:
"Quanto a localidade exata deste lugar, a Escritura não fala e as
conjeturas humanas são várias e se contradizem. Em geral ele é representado
como sendo um lugar separado desta terra, portanto, para
cima". (Página 51).
Onde o alto ou baixo no universo? Os senhores teólogos não conhecem astronomia?
Não terão estudado as obras de Flammarion e outros? Coisa curiosa na boca de um
teólogo protestante o que consta do segundo período da mesma página citada:
"Nada é revelado deste mundo celeste para satisfazer a nossa
curiosidade nesta vida, mesmo os espíritos dos mortos, ao voltar para a terra
não tem sido permitido revelar o que se lhes foi descoberto..."
Se os Espíritos dos mortos voltam â Terra, de onde vêm eles? Onde estão? Se
alguma vez já voltaram à Terra, donde vieram? Do céu? Do inferno? Do paraíso?
Depois de julgados, ou antes disso? - Como explicam os senhores pastores estas
dificuldades, se negam a comunicação dos Espíritos?
NOTA: Se os protestantes estudassem o Espiritismo para saber e não para
combater, teriam noção, clara do que significa "morrer uma só vez;
primeira ressurreição; segunda ressurreição; primeira morte; segunda morte...
(Hebreus, IX: 27; Apocalipse, XX: 6;XX: 14; XXI: 8).
Se a Escritura não explica e as conjecturas humanas são várias e
contraditórias, como disseram os autores da citada teologia, onde os senhores
protestantes irão achar a explicação?
Qui ambulat in tenebris, nescit quo vadat. (João XII:35)
18
“O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XVI
O último argumento do Ver. Antonio Ernesto é sobre os frutos do Espiritismo.
Ele chama a atenção para o testemunho de vários médicos diretores de hospícios,
que acusam o Espiritismo como único responsável pelos casos de loucura que
enchem os manicômios.
De modo que, antes de haver Espiritismo não havia loucos?
No tempo em que Jesus pregava de cidade em cidade, havia obsidiados, a muitos
dos quais Jesus curou.
Conforme contam os livros do Novo Testamento, havia nesse tempo uma epidemia de
loucura (obsessões). Aqueles loucos ou obsidiados (endemoninhados), teriam sido
também vítimas do Espiritismo? Quererão os senhores pastores dizer que o
Espiritismo de Jesus Cristo e de seus apóstolos foi a causa que transtornou os
cérebros daquela gente, produzindo-lhe o desiquilíbrio mental? (Mateus VIII:
28-34; XV :22; XVI 14-21; Marcos, V: 1-18; VII: 25; IX: 17; Lucas, IV: 33-36;
VIII: 27-29; IX: 39-42; Atos, VIII:7; XVI: 16: XIX: 13-16 e V: 16; Os
gadarenos, o jovem lunático, a filha da mulher cananeia e muitos outros.
Se houvesse hospícios e médicos psiquiatras no tempo do Cristo, acusá-lo-iam
como responsável pelos loucos neles contidos... Veja Mateus, VIII; 34: Mandaram
o Cristo embora por ser ele o culpado da morte e perda da tropa de suínos e do
prejuízo do seu proprietário, e diziam que ele expulsava os maus espíritos em
virtude do príncipe dos demônios. Tudo quanto diziam contra o Cristo dizem
igualmente contra o Espiritismo.
Os apóstolos também foram várias vezes metidos na cadeia, acusados de andar
pervertendo o povo e perturbando a tranquilidade pública, como Sócrates
condenado a beber a cicuta, da mesma fôrma, os primeiros cristãos acusados como
autores responsáveis pelo incêndio de Roma...
Será também o Espiritismo responsável por todos os tuberculosos, cancerosos,
paralíticos, cegos, sifilíticos e estropiados de todo o gênero, que enchem os
hospitais? .
Isso faz lembrar o caso de um moribundo, prestes a expirar, ao qual o padre
levara um deus de metal: Era noite e a casa de campo paupérrima. Não havia luz
outra que fumarenta lamparina de querosene. "Beije" - dizia-lhe o
padre - este é deus crucificado, trouxe-o para ajudar-te a bem morrer. Por tua
culpa é que ele foi pregado nesta cruz: Olhe aqui suas mãos varadas pelos
cravos; olhe estes pés pregados a marteladas. Tudo isto por causa dos teus
pecados. E o padre ora levantava, ora abaixava a lamparina, e a chama da
gordurenta e suja lamparina tingia a imagem metálica apresentada ao moribundo.
Em dado momento, o moribundo arregalou os olhos e disse ao padre:
"O senhor está queimando as mãos e os pés do seu deus; e quando se
formarem aí as feridas da queimadura, o senhor dirá que sou eu o culpado!"
Nos manicômios tanto pode existir espíritas como católicos romanos,
protestantes e também incrédulos e ateus! Tem-se visto muitas pessoas ficarem
obsidiadas em consequência de pregações fanáticas de frades e protestantes (1).
(1) Vd. "Doenças Mentais", página 22 - Dr. Julio de Matos, ilustre
médico português. - Briand e Chaudé - "Medicina Legal" - "O
Espiritismo e o Padre" de B. Fonseca, Cap. II - Artigo A loucura e
as religiões. Vd. Cap. XV da mesma obra.
Quem tem a tara hereditária, tanto pode ficar louco no seio do protestantismo
ou do espiritismo, como do catolicismo romano; do maometismo, do budismo ou do
positivismo. Não são poucos os obsidiados curados pelo Espiritismo; coisa que
os padres e os pastores protestantes não podem fazer.
Em vários sanatórios espiritas se hão operado verdadeiros prodígios por meio do
Espiritismo: Loucos neles internados e tratados pelos espíritas, em pouco tempo
saem completamente restabelecidos.
Eu mesmo, com auxílio de alguns médiuns, tenho tratado com êxito vários
obsidiados considerados perdidos pelos diagnósticos clínicos, como
completamente incuráveis; entretanto, os mesmos, em juízo perfeito podem
atestar o seu integral restabelecimento. O fato destas curas pode ser
comprovado por todos os habitantes do bairro onde resido.
Portanto, o argumento da loucura não tem valor algum. A loucura não é fruto do
Espiritismo: é acidente que pode atingir tanto a uns como a outros prosélitos
de quaisquer seitas religiosas. Todos os espiritas não estão nos manicômios,
assim como toda a humanidade não está nos hospitais.
19 “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
CAPÍTULO XVII
Muitos protestantes têm-me perguntado em que lugar das Escrituras se encontram
sessões espiritas presididas por Jesus. Todos eles tem saído pensativos e
desnorteados com as passagens que lhes tenho mostrado. São fatos que os
senhores protestantes leem sempre e não compreendem.
Raciocinemos sobre a passagem de Mateus, XVII: 1-9:
"Seis dias depois, Jesus levou consigo a Pedro e a Tiago, e a João seu
irmão, e os conduziu em particular a um alto monte (1). E transfigurou-se diante deles
e o seu rosto resplandeceu como o sol, e os seus vestidos se tornaram brancos
como a luz. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias falando com ele, Pedro
tomando a palavra, disse a Jesus: Se queres, façamos aqui três tabernáculos: um
para ti, um para Moisés e outro para Elias. Estando ainda a falar, eis que
uma nuvem luminosa os cobriu. E eis que uma voz da nuvem disse: Este é o meu
filho amado em quem me comprazo: escutai-o. E os discípulos isto ouvindo caíram
sobre seus rostos e tiveram grande medo. E Jesus aproximando se lhes, tocou-os
e disse: Levantai-vos e não tenhais medo. E erguendo eles os olhos, a ninguém
viram senão unicamente Jesus. E descendo do monte, Jesus lhes ordenou, dizendo:
A ninguém conteis a visão, até que o filho do homem tenha ressuscitado dos
mortos". (Mateus, XVII 1-9).
(1) O Monte Tabor, ao S. O. do Lago de Tabarich, a 11 km; S. E. de
Nazaré, com perto de 1000 metros de altura!
***
Jesus conduziu os seus três médiuns a um alto monte, a um lugar particular,
longe da curiosidade ignorante da multidão incrédula e estúpida - um lugar onde
pudessem ficar em silêncio, em recolhimento, onde não houvesse nenhuma
perturbação que embaraçasse os fluídos mediúnicos. Postos em concentração, os
médiuns ficaram em transe. O ambiente ficou preparado e em condições de receber
os altos Espíritos de Moisés e Elias. A luz do céu irradiou ali. Os médiuns
viram o rosto de Jesus resplandecer como o sol e as suas vestes se
tornarem brancas como a luz. Eles pensaram que eram o rosto e a roupa materiais
do Mestre que eles viram transfigurados. Jesus e os antigos mortos, Moisés e
Elias, ali se manifestaram visíveis aos médiuns, com os seus corpos espirituais
(corpos astrais; perispíritos).
Os Espíritos de Moisés e Elias conversavam com Jesus e Jesus com eles.
Terminada a conversação do Mestre com os Espíritos, um clarão os cobriu. Um
fluído luminoso envolveu os corpos fluídicos daqueles Espíritos Santos: Uma
nuvem luminosa escondeu, tanto a Moisés e Elias como também a Jesus:
desapareceram das vistas dos três médiuns concentrados. Estes, tomados de
grande medo, (pois não sabiam o que isto significava). Para Pedro, Tiago e
João, isso era uma coisa estranha! Caíram sobre seus rostos;
ficaram assombrados com aquela manifestação, porque não estavam
familiarizados com sessões espiritas; talvez duvidando, supondo-se alucinados.
Uma voz que saiu da nuvem luminosa, disse-lhes: Este é o meu filho amado em
quem me comprazo: Escuta-lo”.
Para realizar uma sessão espírita como esta, é necessário um local longe do
barulho, um lugar muito particular, com médiuns virtuosos e bem desenvolvidos,
entre pessoas que não pensem no mal, que possam concentrar-se em verdadeiro
recolhimento - longe dos lugares profanos; distanciado dos meios onde haja
discussões, maledicências, blasfêmias, juízos temerários, calúnias, injúrias,
inveja; enfim, longe do bulício criminoso e mau da sociedade corrupta. Foi por
isso mesmo que Jesus subiu a um lugar particular, conduzindo os seus
médiuns ao cimo de um monte de perto de mil metros de altura. Sem essa condição
não se efetuaria o aparecimento de Moisés e Elias.
19b “O Protestantismo e o Espiritismo”
por Benedito A. da Fonseca
Edição da Federação Espírita Brasileira 1941
S. Paulo escrevendo aos coríntios, recomendou cuidado nas sessões que eles
realizavam:
"Falem dois ou três profetas e os outros julguem; porém, se a outro dos
que estiverem assentados for revelado alguma coisa, cale-se o que
falava primeiro; porque todos podeis profetizar, uns depois dos outros, para
que todos aprendam e todos sejam consolados. E os espíritos dos profetas estão
sujeitos aos profetas. (I Coríntios, XIV: 29-32) .
Quando os cristãos de Corinto se reuniam para sessões, os profetas (médiuns)
deviam falar - um depois outro - e quando fosse revelada alguma coisa a outro
que estivesse assentado, o primeiro que estivesse falando deveria calar-se.
Não devem todos os médiuns aceitar ao mesmo tempo os Espíritos, mas, cada um
por sua vez. O médium pode resistir à influência do Espírito, enquanto outro
estiver dando comunicação, porque os Espíritos dos profetas estão
sujeitos aos profetas.
Falem dois ou três médiuns, cada um por sua vez, diz S. Paulo; e os outros
julguem, isto é, os que não são médiuns analisem as comunicações e vejam,
provem se são verdadeiras, porque, nem todos os Espíritos são verdadeiros e
pode algum ser mistificador - diz São Paulo: e os outros julguem.
São João diz:' "Não acrediteis em todos os Espíritos, mas provai se o são
de Deus. (I Ep. João, IV: 1). Por isso mesmo, Deus deu o dom do discernimento
dos Espíritos. Ele dá o dom da mediunidade a uns, a outros dá o do
discernimento, nas manifestações que são dadas a cada um para o que for
útil. (I Coríntios, XII: 7-9-10).
Ora, analisando e comparando versículo com versículo, acha-se aí a doutrina do
Espiritismo praticada pelos cristãos de Corinto. Se não for assim, que é o que
se pode compreender do contido no capítulo XIV da I Epístola aos Coríntios,
versículos 26-32, se não na congregação dos cristãos uma sessão espirita?
No versículo 29 fala-se dos médiuns; no versículo 30 refere-se às comunicações
espiritas; no Capítulo XII, versículo 7, fala-se das manifestações, e no
versículo 10 fala-se no dom de discernir os Espíritos, de examinar as
comunicações para conhecer se os Espíritos são verdadeiros, porque os
mentirosos caem em contradição. São João recomenda não crer em todos os
Espíritos, mesmo porque podem surgir muitos médiuns falsos e embusteiros e por
estes, os Espíritos mentirosos e levianos podem ensinar doutrinas erradas e
contraditórias.
Vemos também em I Timóteo, IV: 1-3. "Ora, o Espirito manifestamente diz
que nos últimos tempos apostatarão alguns da fé, prestando ouvidos a Espíritos
de erro e a doutrina de demônios, que com hipocrisia falarão mentiras e terão
cauterizada a sua consciência; que proibirão casar-se e que proibirão o uso das
viandas etc."
Essa profecia realizou-se no decreto eclesiástico do celibato clerical e
proibição do uso da carne ás sextas-feiras, contrariando ao apóstolo São Paulo
no que recomenda em sua primeira Epístola a Timóteo, III: 2; e I aos Coríntios,
X:25.
Em outros lugares fala-se em comunicações de Espíritos: Veja-se Filipenses, II:
1; I Reis ou Samuel, XVI: 13.
Iria longe se me propusesse demonstrar pelas Escrituras as manifestações
espiritas; as comunicações e sua confirmação. Não teriam conta as citações e
comentários, mas bastam estas para que saibam os senhores protestantes que o
Espiritismo é a doutrina de Jesus e a dos seus apóstolos: é a mesma doutrina
adotada e praticada pelos primeiros cristãos, antes da apostasia
católico-romana.
Se os Espíritos não se comunicavam entre os primeiros cristãos, São João não
soube o que escreveu quando recomendou não crer em todos os Espíritos.
Os protestantes podem responder que era para prevenir contra as ciladas do
diabo... Mas São João diz: Provai-os se são de Deus... Logo, algumas
comunicações vinham da parte de Deus e não eram exclusivamente do diabo, visto
como poderiam discernir e analisar as doutrinas que recebiam. "E a
Escritura não pode ser anulada". (S. João, X: 35).
Os primeiros cristãos realizavam sessões espíritas ou não as realizavam. Se não
realizavam, os apóstolos escreveram falsidades e a Escritura é anulada...
Pelo que acima ficou dito e provado, o Espiritismo era praticado
pelos primeiros cristãos; é a prova de que ele era de fato a religião de Jesus.
Faziam sessões com toda a precaução, aprendiam e eram exortados ao bem, cada um
desempenhando o cargo que lhe era confiado para exercer a sua mediunidade (dom
de profecia): eram os intermediários entre os Espíritos e os homens; eram, por
assim dizer, os aparelhos telefônicos que ligavam o mundo
invisível com o mundo corporal, por meio dos quais, os Espíritos de Verdade
prometidos por Jesus lhes explicavam suas doutrinas. Eram os castiçais que
existiam nas sete igrejas da Ásia. Em cada igreja havia um castiçal (um médium)
por meio do qual a luz brilhava, (o Espírito dizia às igrejas as doutrinas do
Mestre.) Apocalipse, II: 29; III: 3 e 13; III: 22. - Jesus ameaçou a igreja de
Éfeso de lhe tirar o seu castiçal. (Apocalipse, II: 5).
Já ao tempo do Velho Testamento os Espíritos do Senhor se comunicavam com os
homens por meio dos médiuns. Doutra forma, Deus que é Espírito e não carne, não
seria reconhecível a humanidade terrestre.
Os médiuns no tempo antigo chamavam-se profetas. Vejamos o que diz a Bíblia a
esse respeito:
"Antigamente, em Israel, todo o que ia consultar a Deus, dizia assim: -
Vinde e vamos ao vidente - porque, aquele que hoje se chama profeta, chamava-se
então Vidente. (I Samuel ou Reis, IX: 9)."
Os médiuns de hoje não são outra coisa: são os videntes da antiguidade, são os
profetas do tempo em que foi escrito o Livro de Samuel.
Nós lemos no Velho Testamento muitos fatos que se entendem por comunicações
espíritas, dadas por intermédio dos profetas. Ler e meditar bem os versículos
seguintes: I Samuel ou Reis, XVI: 13 e XIV: 14-15-23; e XVIII: 10, Zacarias,
IV: 1-4-5; Ezequiel, II: 2; e III: 12 e versículo 24. A leitura destes
versículos nos dá a entender que os médiuns de hoje são tão profetas quanto o
eram Zacarias e Ezequiel. A não ser assim, não sabemos como entender as
Escrituras.
Analisemos mais um trecho do Velho Testamento:
Os soldados de Saul que foram prender a David, encontraram uma congregação de
médiuns e Samuel presidindo a uma sessão espírita. Os soldados que
eram também médiuns (profetas), foram também tomados pelos Espíritos, e também
tomaram parte na sessão presidida por Samuel.
Se assim não se deve compreender, os senhores protestantes que expliquem de
outra forma, se quiserem torcer as Escrituras.
Nos versículos 21-22-23 do mesmo capítulo citado, em continuação, diz o
historiador que Saul enviou ainda muitos soldados atrás dos primeiros e por fim
foi ele também e todos assistiram à sessão espirita e todos ficaram mediunizados
sob a presidência de Samuel.
A Bíblia é, pois, o livro que muito bem ensina o Espiritismo, para quem tem
ouvidos de ouvir e olhos de ver; mas, quem tem o entendimento obcecado pelo
fanatismo; conserva os ouvidos tapados e os olhos fechados e diz que o
Espiritismo é incompatível com a Bíblia.
Os pastores e seus crentes, aos quais tenho pedido explicações destas coisas,
prometem dar a resposta em outra ocasião, e essa ocasião ainda não chegou,
porque muitos deles se tornaram espiritas convictos e foram todos excomungados
pelo protestantismo... Eu fui um dos excomungados!
Independente de interesse material, durante dez anos preguei o protestantismo.
A Bíblia é o livro que mais tenho estudado na vida, mas, depois que dei com
estes barrancos da Escritura e quando perguntava aos abalizados teólogos; sem
que eles me satisfizessem, fui procurar a explicação na doutrina do Espiritismo.
E assim fazem os que de fato são cristãos. Esse o motivo da decadência do
protestantismo em toda parte, essa a explicação da evasão dos prosélitos de boa
fé, que enchiam os templos protestantes...
O restante dos que ainda teimam, está com a consciência cauterizada e vê o
preto branco e o louco ajuizado.
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