Inspirações
– 7
por Angel Aquarod
Reformador (FEB) Julho 1923
SOBRE A COMUNICAÇÃO COM OS ESPÍRITOS
Entretanto, assim como há bons e maus
agricultores em todos os domínios do conhecimento humano, das especialidades
que abraçam, na divisão das tarefas impostas por Deus às criaturas humanas,
também há, no Espiritismo, bons e maus e, entre estes dois extremos, medianos
cultores da parte experimental.
Mas, como poderá o homem, em qualquer ramo de
atividade, chegar a aperfeiçoar-se no cultivo que se lhe confiou, se não se lhe
permitir a necessária aprendizagem? Pretender-se é, porventura, que todo
espírito encarnado, que começa a cultivar um ramo de conhecimentos, ou a atuar
em qualquer ordem de manifestação, desde o primeiro momento faça obra de
mestre? Impossível.
Por isso, não estão de todo com a razão os que
entendem de eliminar do campo da experimentação dos fenômenos espíritas todos
os que não se mostram bem habilitados para o caso. Não estão com a razão,
quando pretendem aquela eliminação, de maneira absoluta; têm-na pretendendo que
todo aquele que se coloque à frente de tais trabalhos esteja suficientemente
habilitado para isso.
Não se pode, contudo, reclamar uma habilidade
extraordinária em todos os casos e circunstâncias, porque, em muitas ocasiões, impossível
é que tenham essa habilitação perfeita os indivíduos chamados a atuar em tal
terreno. Preciso é se deixe que, pelo estudo, pela prática e pelo conselho de
irmãos mais conhecedores do assunto, ou dos próprios guias invisíveis, eles se
instruam e tornem mestres.
Não se deve esquecer de considerar este assunto
sob outro aspecto. Geralmente, dentro do campo espírita, existe, entre a maior
parte dos inclinados a laborar no terreno experimental, a pretensão de que é
recomendável o método que eles particularmente adotam e seguem, olvidados de
que os métodos de experimentação e de trabalho, empregados desde a aparição do
Espiritismo, são múltiplos e variados e que, mediante qualquer deles, o fenômeno
se tem produzido, a comunicação entre os dois mundos se tem verificado. E não é
tudo. Em inúmeras ocasiões o fenômeno se há produzido entre pessoas que, ou não
haviam jamais ouvido falar de Espiritismo, ou não lhe davam atenção alguma, se
não lhe eram hostis. Nada obstante, o milagre se operou e os chamados mortos se
manifestaram, iniciando nos mistérios do além os que o ignoravam completamente.
Os Espíritos, para produzirem os fenômenos que
consideram próprios a transmitir à humanidade terrestre as mensagens que a
Bondade divina lhe envia, não atentam nas pequenezas que trazem divididos os
homens, causando entre eles desavenças fundas e irredutíveis rivalidades.
A questão dos métodos de comunicação com o
mundo invisível é coisa assaz secundaria, para que os Espíritos se preocupem
com isso. Eles acodem onde é preciso, seja entre os espíritas, capazes ou não,
seja entre os que em nada creem do que ao Espiritismo possa referir-se; seja no
seio de qualquer confissão religiosa hostil à doutrina que teve como
codificador Allan Kardec.
O de que principalmente necessita quem deseje
pôr-se em comunicação com o mundo invisível, entre os que a tal tarefa queiram
dedicar-se, é um vivo propósito de realizar o bem e ser causa do progresso das
almas. Nestas condições, sempre se obtêm bons resultados nas sessões, porque
tão magnificas disposições suprem de sobra a falta de conhecimentos dos que as
dirigem, como dos que a elas concorrem.
Existindo essas boas disposições, se houver aparelhos
aproveitáveis entre os que se reúnem, os Espíritos do Bem os utilizam, em obediência
nos desígnios divinos, dando as instruções que correspondam no modo de ser e
crer dos componentes do grupo e auxiliando-os, para que possam ser instrumentos
da caridade espiritual, levando a saúde ao enfermo, acalmando dores, espargindo
consolações e iluminando as consciências com a luz do céu, graduada pela
capacidade visual de cada Espírito chamado a receber este benefício.
Não se pode, pois, excluir dos trabalhos
chamados de Espiritismo prático os adeptos que não reúnam condições excepcionais
de conhecimento do assunto, ou uma inteligência notável. Há espíritas para os quais
fora de desejar que unicamente os sábios se ocupassem com a fenomenologia
espirita, considerando que toda ela deve ser tratada cientificamente e com
precauções tão escrupulosas e minucias tais, que as experimentações excluam
qualquer dúvida a respeito de sua autenticidade. Estão certos os que assim
pensam, quando pretendem que esses requisitos se cumpram para oferecer ao mundo
profano provas inconcussas da realidade do fenômeno; porém, quanto ao mais, não
lhes assiste razão.
O fenômeno espirita, a comunicação entre os
dois mundos têm maiores alcances do que tudo isso, suas projeções são muito
mais vastas e seus resultados de uma transcendência muito superior à que se
traduz pela simples experimentação científica com provas irrecusáveis da
autenticidade do fenômeno e ainda da certeza da comunicação ultraterrena.
Quando o homem já está convencido da verdade
espírita e não alimenta dúvida alguma a respeito do intercâmbio com o mundo
invisível, não necessita apelar para aquelas precauções rigorosas preconizadas
pelos adeptos a que antes me referi. Em tais condições e tendo confiança nos
instrumentos ou seja nos médiuns de que se utilizam os Espíritos para
comunicar-se, já têm bastante e para esta classe de trabalhos não são os mais sábios,
segundo o mundo, os mais aptos, sim os que possuam maior fé, os melhor
intencionados, os mais em dispostos à elevação espiritual a exercer a caridade
com o próximo, seja este encarnado ou desencarnado.
Ficamos, pois, deste modo, em que, por não ter
superior cultura, nem, sequer, conhecimentos muito profundos do Espiritismo,
não se deve excluir a ninguém dos trabalhos chamados práticos, quando se lhes
reconheçam as bons qualidades e excelentes disposições morais que mencionei.
Precisamente, os chamados sábios são os menos
indicados para o labor transcendental, de alta espiritualidade e de consequências
caritativas, que podem e devem obter-se nas sessões espíritas, por carecerem de
humildade, por estarem aferrados a certos determinismos e prevenções, que
afugentam, em vez de atrair, os Espíritos de elevação moral, que são exatamente
os que dão as verdadeiras instruções doutrinárias e produzem os efeitos mais
benéficos entre os que se reúnem em sessão.
E, a respeito de métodos de trabalho, não seria
mal que se aperfeiçoassem todos os que existem, procurando-se que em cada nova
sessão, facilitassem as comunicações e fossem utilizados com mais conhecimento
de causa por todos. Porém disto a chegar à unificação, isto é, a estabelecer um
método único, uniforme, com a obrigação de o seguirem - todos os experimentadores,
há um mundo de permeio.
No que é secundário, deve-se deixar completa
liberdade aos grupos e centros espíritas que trabalhem com a compreensão que
Deus lhes conceda, sem os ridiculizar, nem estigmatizar. Basta que se lhes deem
bons conselhos e se lhes demonstrem os bons resultados obtidos pelo método que
se lhes possa aconselhar, deixando-os depois em completa liberdade, deixando a cargo
dos seus guias o resto, que eles sabem melhor do que ninguém o que podem
aconselhar a seus dirigidos. Isto quando se trate de adeptos de boa fé, por
conseguinte, com as melhores intenções. Quando se trate de pessoas e núcleos de
exploração da ideia, em benefício de instintos baixos e grosseiros, do que é
puramente material, já a coisa é outra.
Esses não são núcleos espíritas e a seus
componentes não se deve considerar como tais. Deles, portanto, não me ocuparei,
que meu objetivo foi somente chamar a atenção para errôneos modos de pensar e
proceder, trazendo o meu grão de areia no acervo comum de quantos se interessam
pela boa e reta marcha do Espiritismo e procuram dirigir a seus adeptos toda
espécie de observações e conselhos que possam facilitar-lhes um bom labor.
O Espiritismo veio para favorecer o avanço da
humanidade, para seu progresso moral e o consegue ensinando aos indivíduos tudo
o que os pode fazer progredir espiritualmente. Isso faço, na fraca medida do
que posso. Se conseguir o meu propósito, dar-me-ei por satisfeito, uma vez que
terei contribuído para o bem os meus irmãos em Deus, de ambos os mundos, que é
tudo ao que aspira minha alma.
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