quinta-feira, 13 de junho de 2019

A família de Jesus




A família de Jesus
Vinícius (Pedro de Camargo)
Reformador (FEB) Abril 1925

Discursando Jesus à multidão eis que se aproximam sua mãe e seus irmãos, pretendendo falar-lhe, E disse-lhe alguém: Estão aí fora, tua mãe e teus irmãos querendo falar-te. E o mestre respondeu: Quem é minha mãe e quem são meus irmãos? Em seguida, estendendo a mão para seus discípulos, acrescentou: “Eis aqui minha mãe e meus irmãos; porque qualquer que fizer a vontade de meu Pai que está no céu, esse é meu irmão, irmã e mãe.” (Evangelho)

Eloquentíssima lição. Os laços que verdadeiramente ligam os seres entre si, na constituição da família, não são os da carne, nem do sangue, mas sim os do Espírito.  

Os laços da carne e do sangue são contingências da vida terrena: afrouxam com o atrito das paixões, rompem-se no momento da morte. Não podem, por sua natureza, irmanar e confundir os corações, fazendo da coletividade uma unidade. Só os laços do Espírito logram tal resultado.

A prova desse fato está nas desinteligências que se verificam comumente no seio das famílias cujos membros se acham ligados somente pelos frágeis e tênues vínculos da carne e do sangue.

Há irmãos - filhos do mesmo pai e da mesma mãe - que mutuamente se repelem e até se hostilizam. Há cônjuges que se acham radicalmente divorciados, aparentando vida conjugal apenas para salvar as exterioridades.

Na organização da família, como na organização da pátria, só s de ordem moral podem estabelecer aquela coesão indispensável que dá a tais organizações solidez, vitalidade e permanência.

É no equilíbrio de aspirações comuns que se funda a base da família. Onde as almas não vibram no mesmo diapasão, onde os ideais não conjugam, obedecendo a afinidade que se atraem, poderá haver conúbios híbridos, mais ou menos duradouros, jamais haverá família, nem pátria.

Escusado é dizer que os ideais que deveras congraçam são os puros e nobres, escoimados de rasteiros interesses. O egoísmo é dispersivo. Só o amor, perfeitamente compreendido, gera vínculos indissolúveis.
           
Daí o dizer de Jesus: “Aqueles que fazem a vontade de meu Pai, esses são os meus irmãos, irmãs e mãe.”

Fazer a vontade de Deus é agir segundo a suprema lei do AMOR, fora da qual tudo é efêmero, fugaz e insustentável.

Há leis que regem o bem, mas não existe nenhuma para reger o mal. Este, como efeito da ignorância humana, vai se dissipando a medida que a luz se vai fazendo nos cérebros e nos corações.

Nada pode ser estável no mal. Quanto mais fora da lei mais perto da dissolução.  Quanto mais dentro da lei, mais perto da consolidação.

Entre Jesus e Deus há íntima e perfeita comunhão.

“Eu e o Pai somos um." Semelhante ideal que visa tão completa identificação, confundindo as individualidades numa unidade, representa o alvo supremo do Cristianismo, como se infere desta sentença da oração sacerdotal do divino Mestre: “Pai, quero que todos (seus discípulos de então e de todos os tempos) sejam um em mim comigo como eu já sou um contigo. Eu nele e Tu em mim para que, desse modo, todos se aperfeiçoem na unidade.”

A verdade unifica. O erro dispersa. Se os homens conhecessem e procurassem obedecer à lei da organização da família, evitariam inúmeros dissabores e dolorosos sofrimentos. Infelizmente, porém, quando tratam de o fazer, cuidam de tudo, menos dos fatores de natureza espiritual.

Casam-se corpos, não se casam almas. Previnam-se os interesses temporais, menosprezando-se por completo os interesses espirituais.

Consequência: o lar, em vez de ser o doce remanso da paz, onde se retemperam as forças, é pandemônio, onde se querela, noite e dia, ou, então, é masmorra, onde todos vegetam e ninguém vive com alegria, de viver.

O lar, organizado sob a égide sagrada da lei, há de ser a verdadeira igreja do
Cristo, conforme a promessa: “Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei Eu no meio deles.

Cada chefe de família, assim constituída, será o sacerdote desse templo augusto. A esposa e mãe - cônscia dos seus deveres - será o anjo que protege esse ninho abençoado, abrindo sobre ele suas brancas asas, a fim de abriga-lo das intempéries do mal. Os filhos serão discípulos que, em tal meio, se exercitarão na aprendizagem da virtude, no cumprimento do dever, na disciplina e santa do trabalho e da mútua dedicação.   

Tal é a família, como a quer Jesus, e da qual ele se considera membro.


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