A
imortalidade – Uma prece notável
por Sócrates
Reformador
(FEB) Jan 1920
Sócrates, o grande filósofo grego, esta
alma pura e cristalina, servida por uma inteligência de escol, pregando aos seus
discípulos a existência de um Deus único, criador do universo e da imortalidade
da alma, assim como dos nossos imortais destinos, foi acusado de perverter a
mocidade grega com prédicas subversivas. Arrastado à barra do tribunal
fora condenado à morte, devendo para tal fim beber uma taça de cicuta.
Longe de retratar-se, continuou com a
mais heróica e abnegada convicção a pregar
as mesmas ideias que sustentou perante o areópago.
É um dos quadros mais emocionantes
da história vê-lo no seu leito de morte, rodeado
dos seus discípulos que, adquirindo a sua fé e a sua coragem, ouvem aos prantos
a última preleção do excelso mestre que discorre sobre a imortalidade da alma. Eis
que se aproxima o carrasco trazendo-lhe a taça fatal.
Sócrates, suspendendo a sua preleção
e empunhando a taça de cicuta, volve os olhos para o céu e recita a mais bela prece
pronunciada com firmeza, doçura e convicção por um condenado à morte:
Ei-la:
“Ser dos Seres, eu procurei pela
razão que me destes elevar-me até à tua presença, tendo por archote a imortalidade
da minha alma. Julgo que nunca me apartei da voz severa das deduções legítimas;
mas se a minha fraca razão me houvesse enganado, nem mesmo assim
eu perderia toda a esperança. Não é mais em nome da minha fraca razão que eu te
peço a imortalidade, é em nome da humanidade inteira que sempre sentiu a
necessidade desta imortalidade, em nome da ordem social que a reclama; em nome
de todos os homens que como eu, sacrificariam ainda sua felicidade e sua vida à
lei do dever. Enganarás tu as esperanças do universo que crê em Ti e na
imortalidade e que, nunca separou estas duas ideias sublimes?
Terminada a sua prece ardente, o
santo velhinho caiu em estado de torpor, ao qual seguiu-se a agonia franca, uma
agonia doce e suave, como foram doces e suaves todos os sentimentos que
dominaram, durante toda a sua vida, a grande alma do genial filósofo, que teve
a ventura de ser sempre inspirado por um gênio ou mensageiro divino (demônio familiar de Sócrates).
Quando a morte já se estampava na
fisionomia deste mártir de ideias sublimes, quando os últimos lampejos da vida
terrena se presentavam, espaçados pelo movimento respiratório cada vez mais
débil, um de seus discípulos aproximou-se de seu ouvido perguntando-lhe: “Mestre, em que pensa?”
Descerrando-se lentamente os lábios
do moribundo e, através o último sopro de vida, ouviu-se distintamente a
resposta: “Na imortalidade!”.”
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