O Conde de Rochester
- A aventura, a tragédia, o remorso...
por Hermínio C. Miranda
Reformador (FEB) Fevereiro 1976
Em
meados de 1680, um nobre inglês de 33 anos de Idade morria lentamente de velhice, numa longa e dolorosa agonia física e
espiritual. Chamava-se John Wilmot, Conde de Rochester.
No
dia 19 de junho, ditou um documento pungente de remorso e, mágoa ante o tempo
perdido, a inutilidade de uma preciosa existência consumida em loucuras inomináveis,
e de um talento desperdiçado tão abundantemente na elaboração do verso genial,
mas corrupto.
Esse
testamento espiritual, escrito "em benefício daqueles que possam ter sido
arrastados ao pecado pelo meu exemplo e estimulo", foi assinado na
presença da velha mãe e da jovem esposa. Por desejo expresso de seu signatário,
deveria ser lido a toda a criadagem, "até ao tratador de porcos".
Dizia, em suma, que "do fundo de minha alma, detesto e abomino todo o
curso de minha vida iníqua".
A
25 do mesmo mês, em carta ditada ao Reverendo Gllbert Burnet, seria ainda mais
explícito:
-
"Meu ânimo e meu corpo definham tão juntamente que lhe escreverei uma
carta tão fraca como me sinto. Começo por dizer que coloco os sacerdotes acima
de todas as criaturas no mundo e o senhor acima de todos os sacerdotes que
conheço."
O
fim chegava lento, penoso e inexorável. De há muito estava minado seu vigoroso
organismo.
Em
abril de 1678, dois anos antes, circulara mesmo a notícia de sua morte. A
informação, que Anthony Wood registrara em seu
diário, era falsa, mas não as suas mazelas, pois estivera mesmo "at the
gates of death", às portas da morte... Já em 1669, no entanto, frequentava
ele os "banhos" da Sra. Fourcard, em busca de alívio para a
depredação que as doenças venéreas estavam causando em seu corpo. Aos 24 anos
de idade, segundo ele próprio declarou por escrito - seus olhos não suportavam
mais vinho nem água.
-
"Se abandonasse o vinho e as mulheres - escreve Graham Greene, no seu
estupendo livro - poderia ter sido salvo, mas não tinha força de vontade para
isso, mesmo que o quisesse."
Levado
pela paixão desesperada pela vida, consumira-a de um só trago, "queimando
a vela pelas duas pontas", como diz a expressão inglesa. Tornara-se,
agora, a sombra do que fora, enquanto jazia atormentado pelas dores
físicas e morais, no leito da agonia, úlceras atrozes consumiam--lhe a bexiga,
que era expelida aos pedaços, em crises insuportáveis, segundo relato de
Burnet, o anjo bom dos seus últimos dias. Não obstante, dessa ruína física
emergiam os clarões de decisões importantes para a vida daquele Espírito tão bem dotado.
-
"Quando seu moral estava tão baixo e exausto que ele não podia nem andar
ou mover-se - escreve Burnet -, e pensava não viver mais que uma hora, disse
ele que sua razão e sua capacidade de julgamento estavam tão claras e fortes
que, daquele momento em diante, estaria totalmente convencido de que a morte
não significa o desaparecimento ou a dissolução da alma, mas apenas sua
separação da matéria. Sentia, durante a doença, grandes remorsos ante sua vida
pregressa, mas como me disse, depois, tais remorsos eram mais da natureza de
horrores generalizados e trevosos do que uma convicção de que ele tivesse
pecado contra Deus. Lamentava que tivesse vivido de modo a dissipar as suas energias tão cedo, e criado tão má reputação em
torno de si mesmo; sua mente estava de tal modo agoniada que ele nem sabia como se expressar.
Não
foram poucos os que duvidaram desse arrependimento de última hora. É difícil aos
companheiros da libertinagem e do erro admitirem que um deles, de repente,
saltou a cerca espinhos da dor e caiu, ofuscado e atônito, do lado claro da
verdade. William Fanshawe foi um desses.
Em
carta de 19 de junho à sua irmã, Lady Rochester, mãe do doente, narra a cena do reencontro dos dois amigos, um ainda preso ao
desespero de viver todos os prazeres e outro atirado ao leito, à espera da
morte, exatamente porque tentara também fruí-los
todos.
-
Mr. Fanshawe, seu grande amigo, escreve Lady Rochester -, esteve aqui para
vê-lo e, enquanto, em pé, ao lado da cama de meu filho,
este olhou-o intensamente e disse "Fanshawe, pense em Deus, deixe-me dar-lhe
este conselho, e arrependa-se de sua vida passada, e se emende. Acredite no que
eu digo: Deus existe, um Deus poderoso, um Deus terrivel para os pecadores
impenitentes. Está chegando a hora do julgamento, com grande terror para os
maus; por isso, não adie o seu arrependimento: o desagrado de Deus desabará
sobre você, se você não o fizer. Você e eu somos antigos companheiros, e
praticamos juntos muitos erros. Amo a criatura humana e lhe falo diretamente de
minha consciência, para o bem de sua alma."
Segundo
Lady Rochester, Fanshawe ficou ali em pé por alguns minutos mais, sem dizer
uma. palavra; pouco depois, "stole away out of the room", ou seja,
retirou-se de mansinho do quarto. Quando Rochester percebeu que ele havia saido,
perguntou só para confirmar:
-
"Ele foi embora? Coitado. Temo que seu coração esteja muito endurecido."
O
antigo companheiro de farras memoráveis estava convencido de que o amigo tinha ficado doído, e não fez segredo algum de sua
convicção, porque a notícia chegou ao conhecimento de Lady Roehester, que se
queixa disso em nova carta de 26 de junho. Foi depois da visita de Fanshawe que
Rochester ditou o seu testamento espiritual, mas não foram poucos os que
continuaram a duvidar da sinceridade da contrição de um jovem muito brilhante que
envelhecera e envilecera na devassidão.
Um
dia se escreverá a história de como John WiIlmot, Conde de Rochester, se
transformou em J. W. Rochester, autor espiritual das extraordinárias narrativas
histórlcas escritas com a dócil mão de Wera Krijanowski.
Enquanto não temos essa história, que só ele mesmo poderá contar, vejamos como foi que o ex-faraó
Mernephtah e o ex-beneditino da tenebrosa Abadia do século 13 se tornou John Willmot,
Conde de Rochester.
*
O
livro que conta essa história chama-se "Lord Rochester's Monkey"
("O Macaco de Lord Rochester"), edição da Bodley Head, Londres,
de autoria do escritor inglês Graham Greene.
O
autor informa, no prefácio, que o livro foI escrito entre 1931 e 1934, mas foi
então recusado pelo seu editor, Heinemann, o que o deixou tão desapontado que
ele não teve coragem de oferecê-lo alhures. Greene supõe que a editora ficou
temerosa de enfrentar a opinião pública, pois o livro era considerado obsceno,
principalmente em vista da reprodução de vários poemas de Rochester. Graham
Greene, não obstante, não perdeu o interesse pelo seu tema, pois julga, com
muita razão, que Rochester foi um poeta genial, dos maiores da língua inglesa.
De qualquer forma, os originais de seu livro magistral dormiram quarenta anos nos
arquivos da Universidade do Texas que, permitindo fossem copiados, possibilitou
a publicação, em 1974.
Trata-se
de um volume de 231 páginas, primorosamente elaborado, tanto do ponto de vista
literário/como gráfico. Impresso em papel excelente, contém Inúmeras
ilustrações em preto e branco, e maravilhosas reproduções a cores, Inclusive
retratos e autógrafos de Rochester. O título, aliás, foi inspirado num quadro a
óleo, que mostra Rochester, com um ar algo sarcástico, colocando uma coroa de
louros na cabeça de um macaco que, sentado sobre dois livros, estraçalha um
terceiro com um ar de deboche. Rochester segura, na outra mão, esquerda,
originais manuscritos de alguns poemas.
*
Rochester
nasceu em 1617 - há dúvidas quanto à data precisa, que seria 1º ou 10 de abril -, num período difícil da história da
Inglaterra. Duas das mais fortes paixões humanas - religião e política --
haviam concorrido para criar um clima de tensões violentas, que precipitaram o país em crises e lutas sangrentas.
Nem mesmo a execução do rei Charles I, em 30 de janeiro de 1649, acalmou os ânimos, e,
depois de um interlúdio, em que Cromwell governou com vigorosa disciplina,
Charles II recuperou o trono, em maio de 1660. Governaria o pais, a seu modo,
até 1685. Nascera em 1630, sendo, portanto, cerca de 17 anos mais velho que
Rochester, e foi o rei do poeta, que o serviu em várias condições, como
veremos.
A
Enciclopédia Britânica diz que ele era "demasiado preguiçoso e amante dos
prazeres para se dedicar com firmeza às suas funções, mas às vezes enérgico, e
sempre inteligente".
Não
teve filhos legítimos, mas uma meia dúzia de bastardos, os quais agraciou com
títulos de nobreza. Queixa-se a Britânica de que os que denunciam sua moral
demoram-se nos seus vícios, esquecidos de seus talentos.
Rochester
era filho de Henry Wilmot e de Anne, filha de Sir John St. John, viúva de Sir Francis Henry Lee, com quem esteve casada
apenas dois anos. Este casamento deixou--lhe dois filhos e uma propriedade em Ditchley. Casou-se
com Lord Wilmot, em 1644. Era, segundo Greene, mulher obstinada, impulsiva,
cheia de preconceitos, e sobreviveu ao marido, ao filho e ao neto, bem como à
nora. Anthony Wood ouvira dizer, conforme escreveu em seu diário, que John
Wllmot, o segundo Conde de Rochester, seria filho ilegítimo de Sir Allen
Apsley, mas Greene não endossa o registro, atribuindo-o à malícia . daqueles
tempos socialmente tumultuados, pois a virtude de Lady Rochester jamais foi
questionada, a despeito de seu temperamento desabrido.
Além
do mais, ele se parecia com o pai, não apenas fisicamente, como até no gênio
aventuroso e folgazão; Henry Wilmot era ambicioso, orgulhoso e incapaz de se
contentar com o que quer que fosse. Bebia abundantemente e tinha temperamento
dominador, "suportando com impaciência a contradição"; sem escrúpulos
religiosos, entregou-se à devassidão.
-
"Era bem o pai do homem que, segundo disse a Gilbert Burnet, o
historiador, durante cinco anos consecutivos se manteve embriagado..." -
escreve Greene.
Devido
ao importante papel que desempenhou na fuga do rei Charles I, Henry Wilmot teve
de deixar a Inglaterra. Entre 1653 e 1654, Lady Wilmot esteve em Paris com seus
filhos - dois do primeiro matrimônio, e o pequeno John, então com seis para
sete anos - em busca do marido aventureiro que, aliás, se encontrava na
Alemanha, tentando levantar dinheiro para ajudar a causa do rei, seu amigo e
senhor. A essa altura, Henry Wilmot já havIa sido distinguido com o titulo de
Conde - "Earl", em inglês, e empenhava-se, no continente, no esforço
de repor seu rei no trono e, certamente, garantir para si próprio uma fatia de
poder. Lady Rochester, porém, não tinha paciência nem gosto pela vida na Corte;
muito menos, a de um rei pobre e destronado, ocupado com a sua décima sétima
amante.
Henry
Wilmot morreu em Sluts, em 1658, e foi enterrado temporariamente em Bruges, na
Bélgica, deixando ao segundo Conde de Rochester, então com 11 anos, pouca “herança
além das honrarias e do titulo". Desde que deixara Paris, em 1656, de
volta a Ditchley, que herdara de seu primeiro marido, até a morte do segundo em
1658, Lady Rochester tivera oportunidade de estar com Henry apenas uma vez.
Daí
em diante, ao se referir ao Conde de Rochester, o livro quer dizer o segundo,
ou seja, John Wilmot, que se tornaria tão popular ao público brasileiro de
nossos dias sob o nome de J. W. Rochester, autor de tantos livros, fascinantes,
como "Romance de uma Rainha”, "Herculanum”, "O Sinal da
Vitória", "O Chanceler de Ferro", "A Vingança do
Judeu" e outros.
Enquanto
seu pai vivia seus derradeiros anos de aventura, o jovem John Wilmot crescia em
Ditchley, que nunca foi suplantada na sua preferência, nem mesmo pelas atrações
e prazeres que mais tarde teria em Londres, nos meios aristocráticos.
-
"A cidade - escreve Graham Greene - seria o divertimento nublado pela
bebida, as intrigas do teatro, as amizades artificiais com
os poetas profissionais, os casos de amor e luxúria, as disputas na Corte, a
amizade do rei a quem ele desprezava, os bordéis de Whetstone Park, as doenças
e os remédios, os "banhos" da Sra. Fourcard. O interior seria a paz,
uma espécie de pureza mesmo, e, finalmente, o lugar para morrer."
Essa
a perspectiva da vida do menino que, aos 11 anos, carregava os títulos pomposos
de Conde de Rochester, Barão Wilmot de Adderbury, na Inglaterra, e Visconde Wilmot
de Athlone, na Irlanda.
Na
Escola primária de Burford, o jovem Conde foi aluno exemplar. Era disciplinado
e aprendia com facilidade. Há depoimentos escritos
de seus professores, atestando sua natureza virtuosa, boa e sempre pronta a
acolher um conselho aproveitável; enfim, como disse Gifford, seu tutor
doméstico, "a very hopeful youth", ou seja, "um jovem que muito
prometia."
Gifford,
no entanto, não o acompanhou a Oxford, como esperava, e, mais tarde, diria que
a vída do Conde teria sido muito diferente se ele o tivesse seguido mais além,
em seus dias de formação. No que, acredita-se, ele não deixou de ter alguma
razão, pois era homem austero e disciplinador, e, ao que tudo Indica, Rochester
respeitava-o.
A
cultura do jovem Conde foi bastante ampla para a época. Manejava com facilidade
o latim e o grego, e era versado nos clássicos dessas línguas. Nos seus versos,
mais tarde, apareceriam adaptações de Lucrécio. Ovídio ou
Sêneca, a despeito dos resmungos de Gifford, que, enciumado dos progressos de
seu antigo pupilo, dizia que ele pouco sabia de latim, e multo menos de grego.
Na
realidade, o ressentimento era profundo. Certa vez em que Rochester reclamou
que o velho não vinha vê-Io com mais frequência. Gilford respondeu com azedume
e mágoa: - "My lord, sou um sacerdote. Vossa Graça tem o péssimo caráter
do devasso e do ateu, e não ficará bem para mim estar em companhia de Vossa
Graça, enquanto esse procedimento durar, enquanto o senhor continuar nessa
vIda."
E,
assim, em 1660, sem Gifford, Rochester partiu para o Wadham couege, em Oxford.
Não completara 13 anos, e não estava ainda suficientemente amadurecido para
experimentar a vida livre de um grande colégio, nem suportar o assédio da
malícia e da irresponsabilidade de um ou outro companheiro mais impetuoso.
Quando
um mestre mais impertinente tentou coibir o uso da cerveja, e chamou os alunos
para uma conversa a sério, os estudantes disseram que os homens do
Vice-Chanceler da Faculdade também tornavam das suas na Taverna da "Split
Cow". O Mestre foi ao Více--Chanceler que, por sua vez, não sendo
indiferente às atrações da cerveja, deu de ombros, dizendo que não via mal no
que o Mestre rotulava de "aquele licor infernal que se chama
cerveja". Diante disso, o Mestre tornou a reunir os jovens e deu-lhes
permissão para beber, "de modo que pudessem ser beberrões
autorizados", e não clandestinos. Esse era o ambiente de Oxford, de onde
Rochester saiu em 9 de setembro de 1661, com 14 anos de idade, levando o título
de "Master or Arts". Em novembro, ele partiu para o Continente, em
companhia de Sir Andrew Ballour, conhecido botânico e homem integro. A viagem
seria principalmente à França e à Itálla.
Ao
regressar, a doce vida estava aberta diante dele. Um relato da época descreve-o como um jovem gracioso, alto e esguio, de feições
extremamente atraentes, inteligente, irresistivelmente charmoso ("charms
not to be withstood"}, brilhante, sutil, sublime, muito bem educado, e "adornado com uma natural
modéstia que o tornava encantador". Além do latim e do grego, já referidos, dominava perfeitamente
o francês e, o italiano, estando familiarizado com autores clássicos e modernos
nessas línguas, sem contar o inglês. Era, pois, uma figura encantadora, com
todos os atributos para conquistar a frívola sociedade de seu tempo; e até
mesmo admirações autênticas.
Cedo,
pois, estava ele profundamente engajado nas intrigas da corte de Charles II, de quem passou a desfrutar amizade e confiança. Em carta
de 26 de dezembro de 1664, o rei escrevia à sua querida irmã, casada com o Duque
de Orléans: "Somente ontem recebi sua carta, por intermédio de Lord Rochester." O
Lord tinha apenas 17 anos...
No
ano seguinte, raptou Elizabeth Mallet, herdeira de propriedades que rendiam
2.000 libras por ano, o que não era de se desprezar para um Conde bonito e
talentoso, mas empobrecido.
Era
a noite de 26 de maio. A moça havia ceado em White Hall, em companhia de seu avô, com Frances Stewart, uma das Damas de Honra
da corte. Achava-se a caminho de casa, com Lord Hawley, quando um grupo de
homens armados. sob o comando de Rochester, fez parar a carruagem em Charing
Cross. Puseram-na em outra condução e levaram-na para fora de Londres, a um
lugar secreto, onde duas mulheres à esperavam. A noticia circulou, e Lord
Rochester foi capturado em Uxbridge, sem Elizabeth. O rei, que havia, tentado
arranjar o casamento de ambos, ficou furioso. Em, 27 de maio, foi expedida uma
ordem de prisão; e Rochester recolhido à Torre. Elizabeth, resgatada, voltou
aos seus. Mais tarde precisamente em 29 de Janeiro de 1667, ao cabo de inúmeras
peripécias, ela se casaria com Rochester, "contrariamente à expectativa de
todos os seus amigos", segundo a velha Senhora Rochester.
Antes,
porém, viveu ele a aventura do mar, no combate à marinha holandesa, no que se
saiu com valor, embora sem atingir o posto de almirante, como alguns
acreditaram e divulgaram. Atribui-se, no entanto, sua admissão à Câmara dos
Lordes (Parlamento), antes dos 21 anos de idade, à sua atuação na campanha. Foi
nessa oportunidade que Rochester, assediado por premonições de morte, celebrou
com seu amigo e companheiro Wyndham um pacto formal, com aspectos de cerimônia
religiosa, segundo o qual aquele que morresse primeiro prometia aparecer ao
outro, para dar notícia do futuro estado, se é que existia um futuro estado. Um
terceiro amigo, um certo Edward Montagne, recusou-se terminantemente a fazer
parte do acordo.
Rochester
regressou são e salvo à Inglaterra para encontrar seu país sacudido por urna
das grandes pragas que dizimavam populações inteiras naquela época; mas a vida
seguia seu curso entre o pavor da morte e o aceno dos divertimentos.
Em
reconhecimento por seus serviços, o rei atribuiu a Rochester um prêmio de 750
libras que devem ter sido utilizadas para aliviar a pressão de seus credores.
Em
fevereiro de 1666, a Corte retornou a Londres, de onde fugira espavorida, e, em
março, Rochester foi nomeado "Gentleman of the King's Bedchamber", ou
seja Camareiro do Rei, posto honorífico que o monarca reservava aos seus
íntimos amigos, e que rendia os vencimentos nada desprezíveis de 1.000 libras
por ano. A principal função do Camareiro era apresentar ao rei, todas as manhãs, a sua
primeira peça de roupa, uma espécie de camisa com a qual o vestia. Além disso, supervisionava a
ordem dos aposentos reais; vendo que nada faltasse ao conforto de Sua
Majestade.
O
jovem Conde preferia, no entanto, a aventura, e, no verão de 1666, fez-se ao
mar novamente, em companhia de Sir Edward Spragge, para novas lutas com os
holandeses, e desta vez para derrotas humilhantes.
Ao
se casar com Elizabeth Mallet, Rochester não completara ainda 20 anos, e Graham Greene queixa-se de que os 13 anos restantes de
sua vida são difíceis para o biógrafo, pelas fantásticas histórias que circulam a respeito, as
aventuras amorosas com várias cortesãs e senhoras da sociedade, suas amizades literárias, suas
disputas, algumas das quais resultaram em duelos mais ou menos românticos, suas
desavenças com o rei, seu papel de charlatão, quando resolveu ser médico,
"como se todos esses anos - escreve Greene - fossem nublados pelos vapores
da bebida".
Suas
visitas à esposa, que permanecera na propriedade rural, eram intermitentes e
espaçadas. Desse período aventuroso e vago, somente se conhecem com precisão as
datas do batismo de seus filhos: Anne, em 30 de agosto de 1669; Charles, o único
filho varão, em 2 de janeiro de 1671; Elizabeth, em 13 de julho de 1674 e, em 6
de janeiro de 1615, sua última filha legítima, Mallet, pois teve ainda uma
filha com a atriz Elizabeth Barry, em Londres, em 1677.
Em
suma: a vida era uma enorme “chatice" que, no entanto, precisava ser
vivida, e
"Rochester bebia para torná-la
suportável"
Piores
momentos viriam, porém.
-
"A paixão do ódio começou cedo, escreve Graham Greene. Atrelada, como
estava, à ingratidão, suspeita-se de que a bebida tenha
começado a afetar o caráter de Rochester aí pelo fim de 1667, dez meses depois de seu
casamento."
O
ódio era difuso e impessoal, mais pela sociedade, suas hipocrisias e
falsidades, pois, na palavra repetida de seu biógrafo, "odiava
a imoralidade... nos outros", enquanto se permitia todos os desatinos. É
essa a imagem que, provavelmente, tentou retratar o pintor que o figurou
coroando um macaco que destrói livros. A 5 de outubro, foi convocado para a
Câmara dos Lordes, com 21 anos incompletos, o que provocou alguns protestos
veementes; mas, o rei manteve sua decisão. Estava "de bem" com
Rochester. De outras vezes, expulsá-lo da Corte, dado que o poeta não poupava
nem mesmo o seu real amigo nos seus terríveis epigramas, às vezes em versos pornográficos irreproduzíveis,
como os que constavam da sua "The History of the Insipids".
Com
outro rei mais impulsivo, a carreira de Rochester estaria para sempre
encerrada, e, talvez, a sua vida; mas, Charles acabava por readmiti-lo na sua
intimidade, e até conferiu a ele cargos e bens. Além da posição de Camareiro,
que Rochester abandonou, o rei designou-o para a Câmara dos Lordes, como vimos.
Em fevereiro de 1668, foi nomeado Guardião da Caça Real, em Oxford, e, em
abril, Rochester fez uma petição solicitando quatro distritos em Whitthewood
Forest. Em 1673, foi-lhe atribuído, em comum com Laurence Hyde, o domínio de uma
propriedade da coroa, em Bestwood, o quatro carregamentos de feno de Lenton
Mead, tudo Isso a troco de um aluguel nominal de 5 libras por ano. Em 1674, Rochester foi nomeado
Guardião de outra propriedade, chamada Woodstock Park. Em abril do ano
seguinte, nova nomeação para um cargo honorífico, e, em junho, o usufruto de
algumas propriedades. Três dias depois da nomeação, ele quebrou um raríssimo
relógio de sol, no jardim do palácio, na inconsciência da embriaguez.
Graham
Greene não pode deixar de observar o estranho relacionamento entre Rochester e
seu rei, que, tão pacientemente, suportou suas loucuras e Impertinências.
"Talvez, acrescenta o biógrafo, somente no abismal cinismo do rei se
poderia encontrar a explicação." Ou, diríamos nós, numa amizade sincera, que
resistia aos mais duros embates da provocação e do ridículo em que o poeta às
vezes o colocava perante a Corte e a nação, em versos que circulavam por toda
parte.
Numa
dessas expulsões da Corte, Rochester e seu amigo Buckingham adquiriram uma
estalagem na Newmarket Road, onde se esmeravam em tratar tão bem os clientes
que os homens passaram a trazer também as esposas. Enquanto os maridos bebiam,
Rochestcr e amigo cortejavam as esposas. Uma delas, particularmente difícil,
porque o marido teimava em mantê-la em casa, aos cuidados de uma irmã,
Rochestcr conquistou com um artifício: enquanto o amigo embebedava o marido, o
poeta vestiu-se de mulher e conseguiu insinuar-se, colocando a tia-guardiã fora
de combate com uma dose de ópio, habilmente ministrada.
Daí
em diante, as loucuras desatam-se mesmo, constituindo, às vezes, incidentes sérios,
como o de Epson, em que Rochester só por milagre não foi levado à Justiça para
responder por crime de morte. Andou foragido, por algum tempo, e, depois,
reapareceu na Corte. O rei o havia perdoado novamente...
Depois
disso, foi a aventura como "médico", especialmente de senhoras, e
corno astrólogo. Os anúncios que então publicou foram preservados.
-
"Quanto às previsões astrológicas - dizia um texto "publicitário"
- fisiognomonia, adivinhação por meio de sonhos e outras (na
quiromancia não acredito, porque não possui a base invocada em seu suporte), minha
própria experiência me convenceu dos seus consideráveis efeitos e maravilhosas
operações, principalmente no sentido dos acontecimentos futuros, na preservação
de perigos ameaçadores e na utilização de vantagens. que se possam oferecer.
Afirmo que minha prática me convenceu mais dessa verdade do que todos os
eruditos e sábios escritos existentes sobre a matéria: porque isto posso dizer
por mim (sem nenhuma ostentação): que raras vezes tenho falhado nas minhas predições, e com frequência tenho sido muito
útil em meus conselhos. Até onde posso ir neste assunto, estou certo de que não
poderia dizê-lo por escrito."
Com
um "anúncio" desses, quem deixaria de procurar o jovem astrólogo,
além de tudo muito simpático, inteligente e bonitão? Especialmente mulheres
românticas e ambiciosas, ou ingênuas. .
É
certo, porém, que ele não acreditava no produto que anunciava, mesmo porque o
Espírito de seu amigo Wyndham - aquele do pacto de morte - não voltara para
dizer se havia ou não vida póstuma. No entanto, outro episódio de premonição impressionara-o
bastante para merecer um relato a Burnet.
Um
capelão que frequentava a casa de Lady Warren, sua sogra, sonhara que em tal
dia morreria; mas, como trataram de dissuadi-lo da ideia, ele acabou por
esquecer o sonho. Uma noite, porém, jantavam 13 pessoas em torno da mesa e,
segundo antiga superstição, uma deveria morrer breve. Uma jovem presente
apontou o capelão como candidato à desencarnação, o que trouxe de volta à sua
mente a lembrança do sonho, e o deixou perturbado. Lady Warren repreendeu-o
pela sua preocupação com a crendice, mas o certo é que o homem, em perfeitas
condições de saúde, amanheceu morto no seu aposento.
Isso,
porém, somente iria fazer algum sentido para Rochester quando ele próprio se
avizinhava da hora final. Enquanto essa hora não chegava, a vida tinha de ser
vivida, e o mais intensamente possível.
Na
sua aventura como charlatão da Medicina, seu interesse mais uma vez se
focalizou na clientela feminina, à qual prometia maravilhas de restauração e
conservação da beleza física, segundo técnicas que teria aprendido na Itália,
onde "mulheres de 40 anos têm a mesma aparência das de 15". Lá não se
distinguia a idade pelo rosto, "enquanto na Inglaterra, ao olhar um cavalo
na boca e uma mulher na face, sabe-se com precisão suas idades". Para
remediar tal situação vexatória, lá estava o Dr. Rochester, com seus remédios miraculosos
que limpavam a pele, clareavam os dentes, tornando-os "brancos e redondos
como pérolas, fixando os que estivessem' frouxos". Enquanto isso, as
gengivas ficariam vermelhas como coral, e os lábios da mesma cor "e macios
como você os desejar para os beijos lícitos" ("lawfull kisses")',
pois o jovem médico não poderia fazer mau juízo de suas clientes", Além do
mais, eliminaria gorduras indesejáveis, ou poria carnes onde necessário, sem
nenhum prejuízo para a saúde, E concluía:
-
"Mesmo que o próprio Galeno desse uma espiada de sua sepultura e me
dissesse que isto tudo fossem recursos indignos da profissão médica, eu lhe
diria, friamente, que, com muito mais glória, preservo a imagem de Deus na sua
beleza imaculada, numa boa face, do que o faria remendando todas as decadentes
carcaças do mundo."
E
assim segue a vida, esquecida de si mesma, atordoada em loucuras,
desinteressada do futuro. Se ao menos o amigo Wyndham tivesse voltado para continuar
a vida póstuma...
Aos
30 anos, tem notícia do nascimento de sua filha ilegítima com Elizabeth Barry, em Londres. Rochester estava doente, já
prematuramente desgastado, numa de suas propriedades rurais. Em carta ao seu
amigo Saville - outro companheiro de desatinos - escreve que está "quase
cego, completamente coxo e com remotas esperanças de ver Londres outra
vez". Mas, ainda se recuperaria para voltar a Londres e à vida
tresloucada, com entreatos em sua propriedade em Woodstock, onde promovia
bacanais memoráveis e distúrbios inenarráveis na vizinhança, com inocentes
criaturas.
Enquanto
isso, Lady Rochester, a jovem esposa, vivia por ali mesmo, a cerca de 15
milhas, em Adderbury, com os filhos, uma existência pacata, recolhida e sem
horizontes.
E,
por estranho que pareça, Rochester amava-a, à sua maneira, é claro, e
respeitava-a. Ademais, adorava os filhos, e todos gostavam muito dele. Suas
rápidas passagens pelo lar devem ter sido sempre momentos de alegria e
descontração, pelo seu gênio alegre e pelas histórias que deveria contar, não as
escabrosas, mas as que pudessem passar pelo crivo da moral. Nos seus filhos,
segundo Graham Greene, ele via a única forma de imortalidade em que podia
acreditar: a continuidade da vida nos descendentes.
Uma
de suas cartas ao seu filho Charles preservou-se, com sérias recomendações
sobre o bom procedimento e o amor a Deus. Greene comenta, depois de transcrevê-la,
que não se trata do documento de um hipócrita. Ele realmente desejava para o
filho uma vida diferente da sua, queria que o menino crescesse crendo em Deus e
"não imitasse seu pai a caminhar no frio de um universo ateu". Diria,
mais tarde, a Burnet que considerava muito felizes aqueles que tinham fé,
"dado que isso não estava ao alcance de toda agente".
É
certo, porém, que, para um homem de seu talento e de suas inclinações para a
vida libertina, as religiões predominantes na época
não tinham muito a oferecer, ainda mais que disputavam ferozmente entre si não a supremacia
dos corações e das consciências, mas a do poder temporal. É óbvio, também, que, mesmo na
tormenta da sua vida Inconsequente, ele ouvia em si a voz de Deus a chamá-la. Mas,
chamá-lo para onde? Para o Catolicismo? Para o Protestantismo?
Num
poema intitulado "On Rome's Pardons" ("00 Perdão de
-Roma"), dizia que “se Roma pode perdoar pecados, como diz, e se tais
perdões podem ser comprados e vendidos, não seria pecado adorar e venerar o ouro. Quando
surgiu esse artifício, ou quando começou? Quem é o seu autor? Quem o trouxe?
Teria o Cristo criado uma alfândega para o pecado?"
Seja
como for, ele deve ter encontrado mais lógica na doutrina reformista, pois
conseguiu, já no final, converter sua mulher do Catolicismo para o
Protestantismo anglicano.
Pouco
depois, com o corpo devastado pelas doenças, e com o Espírito ansioso,
amargurado e cheio de remorsos, iniciaria, ao lado de Gilbert Burnet, a última
aventura: a busca de Deus e da verdade escondida atrás do mistério da vida.
Esse
dedicado sacerdote passou horas e horas ao lado do Jovem Conde agonizante, e,
meses depois da morte de Rochester, publicou, ainda em 1680, um precioso livro
sobre a vida do malogrado amigo: "Algumas passagens sobre a vida e a morte
do nobre John, Conde de Rochester, morto em 26 de julho de 1680."
Muito
gostaríamos de ter em mãos esse livro raríssimo, pois é ele o verdadeiro
testamento moral de um Espírito extremamente bem dotado, mas mergulhado numa
crise terrível de insatisfação consigo mesmo, sua vida e seus atos, diluído
tudo numa loucura que durou umas poucas décadas, e que acabou em agonias
penosíssimas.
Seria
preciso, também, percorrer os seus versos geniais, para ver faiscar na lama
escura da obscenidade a pedra cintilante das suas intuições, como, para citar
um só exemplo, a intuição da reencarnação, colocada num verso que, de tão
pornográfico, se torna irreproduzível.
Burnet
foi o confidente da hora última, dia após dia, até o amargo fim, desde outubro de 1679, quando Rochester mandou buscá-lo. Depois
dos primeiros encontros, "ele adquiriu confiança em mim - escreve Burnet -
e abriu para mim todos os seus pensamentos, tanto em religião como em moral,
proporcionando-me uma visão completa de tua vida, e não parecia aborrecer-se
com minhas frequentes visitas".
É
claro que, a princípio, o depoimento de Burnet foi considerado apócrifo,
especialmente pelos amigos de Rochester, que não podiam aceitar a conversão,
naqueles termos tão dramáticos, de quem realmente busca, aturdido e contrito, o
sentido da vida, afinal revelado nas últimas horas. A passagem do tempo, no
entanto, confirmou a autenticidade do livro, porque as pesquisas realizadas em
dois séculos e meio em torno de Rochester deram credibilidade ao que o bom
sacerdote documentou de maneira tão comovente.
Burnet
foi o grande doutrinador junto de Rochester. Só que, em vez de doutrinar um Espírito já desfigurado, esforçava-se por levar
uma parcela de luz e de esperança ao coração de um que partia e se preparava
para enfrentar a realidade póstuma. Seu mérito é ainda maior, quando nos
lembramos de que ele dispunha apenas da precária teologia dogmática que a sua
intuição e sua sabedoria devem ter suprido na extensão suficiente e necessária
para acordar aquele Espírito ainda na carne.
Rochester
estava, afinal, disposto n ouvir: o debate à beira do túmulo contém 302 linhas
atribuídas a Rochester, e 1671 a Burnet. Mesmo assim, não deve ter sido fácil a
tarefa para o virtuoso e culto sacerdote, pois seu oponente desejava uma
realidade que pudesse admitir com apoio na lógica, e não uma crença que teria
de aceitar à base da fé sem especulação intelectual.
Achava
o Conde que nossa concepção da ideia de Deus era tão insignificante que seria
mera presunção pensar muito nele. Era melhor adorá-lo independentemente de
qualquer culto religioso, mas com uma celebração genérica, como, por exemplo,
com um hino.
Quanto
à vida depois da morte, "apesar de achar que a alma não se dissolve com a
morte, duvidava muito das recompensas, tanto quanto das punições: as primeiras,
por achá-las muito elevadas para que as alcançássemos com os nossos minúsculos
serviços, e as outras demasiadamente excessivas para serem impostas ao
pecado".
Em
suma: não podia aceitar céu nem inferno. Portanto, admitia claramente que
deveria haver outras formas de ajustar a alma ao bem, dado que ela sobrevivia à
morte do corpo físico.
Desse
ajustamento, também teve intuições maravilhosas, não apenas no verso
pornográfico há pouco lembrado. Certa vez interrompeu Burnet para dizer o que
pensava disso:
-
"Pensava ele - escreve o sacerdote-biógrafo - que o mais certo é que a
alma
começar de novo, e que a lembrança do que ela fez
neste corpo, registrada nos desenhos do cérebro, tão logo ela é desalojada,
tudo desaparece, e a alma é levada a algum novo estado para começar um novo ciclo" (destaques
desta transcrição).
Ninguém
poderia ter figurado melhor a ideia da reencarnação, há quase 300 anos! O único reparo que cabe fazer na suposição de
Rochester é o de que as lembranças, embora gravadas no cérebro físico enquanto o Espírito
está encarnado, apagam-se realmente deste, mas permanecem nos registros perispirituais,
e quando a alma começa de novo, com um novo cérebro físico, ela se esquece por
sua própria conveniência, mas apenas temporariamente, porque nenhuma lembrança
se perde.
John
Wilmot, Conde de Rochester, voltaria mais tarde para documentar, com narrativas
realmente históricas, as doutrinas que confusamente sentia e que não tinha como
expressar naqueles meses agoniados em que sua vida física se extinguia
lentamente. Afinal de contas, como dissera George Etherege do jovem Conde:
"Sei que ele é um demônio, mas ele tem algo do anjo que ainda não se
apagou nele." Ou seria o contrário: um anjo em potencial, no qual a face
do demônio ainda não se apagara de todo?
Num
verso inteligente e brejeiro, Sir Francis Fane parece ter tido não apenas a
intuição da verdade, mas também a premonição do traçado futuro da vida de
Rochester. Para ele, Rochester foi um alegre emissário do Demônio que, de
repente, para grande confusão do Maligno, mudou o rumo da sua nau, e, em vez de
liderar para o caos as almas perdidas, enfunou as velas na direção das regiões
da felicidade eterna.
*
E
assim tivemos a história sumária de John Wilmot, segundo Conde de Rochester, um
Espírito que acabou por se encontrar a si mesmo, a despeito do alarido de suas
paixões desencadeadas. Não apenas Isso. De regresso ao mundo espiritual, depois
de pelo menos mais uma vida na carne, resolveu escrever, através de sua amiga
Wera Krijanowski, a mais bela mensagem do mundo: a de que o Espírito sobrevive
e se reencarna - tantas vezes quantas necessárias ao seu reajuste perante as
leis de Deus, insistentemente desobedecidas ao longo do tempo imemorial. Nada
se esquece, nada se perde, tudo serve para a reconstrução do nosso mundo
íntimo, até mesmo as nossas loucuras, porque também com elas aprendemos a dura
lição da vida, que não precisava ser dura se o quiséssemos.
São
muito populares no Brasil as obras mediúnicas ditadas por Rochester, mas uma parte considerável da sua produção
histórico-literária ainda é desconhecida, segundo referências que colhemos no
prefácio de "A Vingança do Judeu", edição da FEB, 1966. (1)
Das obras já traduzidas, além da retrocitada, são
mencionadas as seguintes, cujos títulos darei em português:
Tibério
A Abadia dos Beneditinos
O Faraó Mernephtah
O Sinal da Vitória
Romance de uma Rainha
O Chanceler de Ferro
Herculanum
Naêma, a Bruxa (lenda do século XV)
A Lenda do Castelo do Conde de Montinhoso
(1)
A FEB lançará, em 1976, novas edições de "O Chanceler de Ferro",
"Herculanum" e " Vingança
do Judeu".
Entre
as que ainda aguardam divulgação, citam-se os seguintes títulos em francês,
neste trabalho traduzidos:
O Festim de Baltasar
Saul, Primeiro Rei dos Judeus
O Sacerdote de Baal
Um Grego Vingativo
Fraquezas de um Grande Herói
O Barão Ralph de Derblay
Diana de Saurmout
Dolores
O Judas Moderno
Narrativas Ocultas
Só
a leitura desses títulos nos aguça a curiosidade pelo mundo de revelações
históricas que devem conter essas obras e as trajetórias de tantos Espíritos
notáveis, no bem e no mal. Em "Dolores", por exemplo, o autor
espiritual narra acontecimentos ocorridos na Espanha e em Cuba, no século 18,
quando teria vivido sua mais recente encarnação. (2)
(2) Sabe o leitor desses Iívros perdidos de Rochester? Possui alguém
exemplares de alguns deles, em francês, Inglês ou qualquer língua viva? Quem
tiver alguma informação, queira, por favor, transmiti-la à Redação de
"Reformador".
Há
mais, porém: Rochester teria prometido aos amigos encarnados que compunham o
círculo onde se manifestava, escrever "As Memórias de um Espírito"
que, no dizer do prefaciador de "A Vingança do Judeu", seria "o
seu trabalho capital". Teria escrito essa obra? Se não o fez, sempre
haverá tempo de fazê-lo, porque a vida se desdobra pelo infinito, as memórias
permanecem indeléveis no substrato do Espírito, e o ser caminha para a
realização do amor que marca o nosso retorno a Deus.
Prefiro um libertido do que a boca podre de um moralista.
ResponderExcluirEu adoro ele,eu li o faraó de mernefhet, é maravilhoso demais
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