segunda-feira, 11 de março de 2019

Estudos Bíblicos - Renascimento e Reencarnação




Estudos Bíblicos – Renascimento e Reencarnação
Almerindo Martins de Castro
Reformador (FEB) Janeiro 1940

            Disse Jesus a Nicodemos: “Em verdade te digo que, se alguém não nascer de novo não pode ver o reino de Deus.” Perguntou Nicodemos: “Como pode um homem nascer, sendo velho? Pode, porventura, entrar novamente no ventre de sua mãe?” Respondeu Jesus; “Em verdade te digo que, se alguém não nascer da água e do Espírito, não pode entrar no reino de Deus, O que é nascido da carne é carne; o que é nascido do Espírito é Espirito. Não te maravilhes de eu te dizer: É-vos necessário nascer de novo. O Espirito sopra onde quer e ouves a sua voz, mas não sabes donde vem, nem para onde vai: assim é todo aquele que é nascido do Espírito.” - Como pode ser isso? perguntou Nicodemos. Respondeu Jesus: "Tu és mestre em Israel e não entendes estas coisas?” (João III, 1-10)

            A estranheza de Jesus estava em que Nicodemos não devia ignorar o sentido das palavras de que Ele, o Cristo, usava. Segundo as crenças transmitidas nas Escrituras Sagradas, sabia-se que o Espírito (sopro divino dado às criaturas) era imortal, imperecível. Não era, pois, natural que Nicodemos, grande entre os Fariseus, se admirasse de poder um Espírito voltar à terra, nascendo de novo por um corpo-carne, visto que este constitui o veículo do Espirito, como está demonstrado em João I, 14, onde se diz: “O verbo se fez carne (tomou a forma corpórea) e habitou entre nós.”

            Segundo também essas crenças e conhecimentos, que vinham de tempos imemoriais, quatro eram os elementos que dominavam no mundo e resumiam as fontes da vida e das transformações de todas as coisas vivas: ÁGUA, TERRA, FOGO e AR.

            A ÁGUA, por essas noções, era o princípio gerador de todos os seres, fonte originária dos corpos vivos. Tal se encontra na Gênese (I, 1, 2, 6, 7, 20 e 21): "No princípio criou Deus o céu e a terra e o espírito de Deus era levado sobre as ÁGUAS. E disse Deus: Faça-se o
firmamento e dividiu as águas que estavam por baixo do firmamento das que estavam por cima do firmamento. Disse também Deus: Produzam as ÁGUAS repteis de alma vivente e aves que voem sobre a terra. Criou Deus os grandes peixes e todos os animais que têm vida e movimento, os quais FORAM PRODUZIDOS PELAS ÁGUAS, cada um segundo suas espécies.”

            Por isso, Jesus disse que era preciso nascer de novo da ÁGUA e do Espirito, considerando a água como o elemento gerador de todo corpo “que tem vida e movimento”, e do Espírito (porque este não pode vir das ÁGUAS, mas de Deus, CUJO ESPíRITO PAIRA SOBRE AS ÁGUAS), o que tudo significa, em resumo que o ESPíRITO (oriundo de Deus - Fonta Suprema) nasce de novo - tomando DAS ÁGUAS um corpo que tem vida e movimento.

            E esse foi o ensinamento que Jesus transmitiu aos Apóstolos e estes pregaram sem restrições, como se vê da I Epístola de João, cap. V, onde está afirmado que o Cristo “veio com a ÁGUA e com o sangue; não com a água tão somente, senão com a água e com o sangue. E o ESPIRITO é que dá testemunho de que o Cristo é a verdade."

            Sabendo-se que o SANGUE era o símbolo da vida animal, o ensinamento se completa nesse mesmo trecho, quando o Apóstolo diz, no vers. 8: "Três são os que dão testemunho na terra: o ESPÍRITO e a ÁGUA e o SANGUE; e estes três SÃO UMA MESMA COISA."

            E quem nos confirma que esse ensinamento foi dado a todos os Apóstolos, isto é, que SANGUE é símbolo ou sinônimo de VIDA, é aquela passagem de Atos (XVIII, 26): “Deus de um sangue fez todo o gênero humano.”

            Muitos outros ensinamentos complementares confirmam e ilustram essa doutrina, pela qual o Mestre quis esboçar a finalidade do Espírito no caminho da perfeição.

            Diz a I Epístola aos Coríntios, VI, 19: "Acaso não sabeis que os vossos corpos são templo do Espírito Santo QUE HABITA EM vós, o qual tendes por VO-LO HAVER DADO DEUS e que não sois mais de vós mesmos?"

            E para que não houvesse dúvida, explica no cap. XV, 39 a 49, que não se deve confundir a forma corpórea terrestre, com a forma do Espírito, porque "corpos há celestes e corpos terrestres". O Espírito é semeado em corpo corruptível, mas ressurge em corpo incorruptível, pois, "se há corpo animal, também o há espiritual”; Deus fez primeiro o animal e depois o espiritual.

            Que concluir de tais ensinamentos? Que os Espíritos, desconhecedores ou adversos da Verdade, que está no Evangelho do Cristo, precisam voltar à Terra. Porque? Porque a lei que será aplicada a todas as criaturas, diz assim: A cada um se paga segundo as suas obras (Mat., XVI, 27).

            Mas, os Espíritos não têm, pelas religiões, apenas a salvação eterna ou a condenação eterna? Não, porque Jesus disse estas palavras (João, VIII, 58): "Em verdade, em verdade vos digo, que se alguém guardar a minha palavra, não verá a morte eternamente."

            Como explicar que, guardando a palavra do Cristo, a criatura não tem - morte eterna - e sim transitória? Será por estar ensinado que Deus não quer o perecimento do pecador, mas o seu arrependimento e a sua salvação, em qualquer tempo?

            Já no Velho Testamento havia esta promessa de Deus, em favor do pecaminoso (Job, XXXIII, 23-24): "Se houver algum anjo (Espírito), um entre milhares, que fale a seu favor, e instrua o homem no seu dever, se compadecerá dele e dirá: Livra-o, para que não desça à corrução; eu achei por lhe fazer graça.” E como podiam os anjos (Espíritos puros) descer até criaturas, uma vez que as religiões isolam o Céu da Terra?

            A explicação de que Deus fala às criaturas (de certo por intermédio desses anjos) está nesse mesmo capitulo, vers. 15 – 16:  “Por sonho de visão noturna, quando cai sobre os homens, e estão dormindo no seu leito; então abre os ouvidos dos homens e, admoestando-os, lhes adverte o que devem fazer.”

            Mas, os anjos terão a sua ação limitada à vida terrena da criatura, ou Deus consente que protejam o pecador e por ele peçam, mesmo depois que o Espirito deixa o corpo carnal?

            Quem poderá fazer a restrição, uma vez que tal limite não está nas Sagradas Escrituras? É certo que a Escritura diz (Hebr. IX, 27 - 28; X, 26 - 27): “Assim como está decretado que o homem morra só uma vez, seguindo-se o juízo - assim só passa pelo horror do sofrimento o que pecou voluntariamente, depois de haver conhecido a verdade." Esta morte é a do pecado, a morte espiritual. O que peca morre espiritualmente, por que decai da condição em que foi criado, contrai culpa e, por isso, fica sujeito à reparação, diante da lei do Juízo Supremo, conforme disse o Cristo, figuradamente, em Mat., V, 25 - 26: “Concilia-te depressa com o teu adversário, enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te entregue ao juízo e o juízo te entregue ao oficial e te encerrem na prisão. Em verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali, enquanto não pagares o último centil."

            Deus não cria Espíritos culpados; nós é que adquirimos um inimigo e nos tornamos adversários - no caminho a percorrer - da Lei fraudada, o que nos conduz à prisão do pecado, onde há sofrimento para o Espírito, “fogo e ranger de dentes”. E vamos a essa prisão pelo esquecimento da Palavra de Deus, ensinada desde Moisés. Mas, mesmo no cárcere do sofrimento, a nossa vida prossegue e os Espíritos se avistam e recebem ensinamentos, conhecem em plenitude suas culpas, aprendem a necessidade de reparar os crimes praticados contra a Lei de Deus, e percebem a diferença entre os que já sofreram e os que vivem esquecidos dos Mandamentos, mergulhados no egoísmo dos prazeres materiais - o que está comprovado na parábola do rico e do Lázaro (Lucas, XIV, 19 - 31.) O rico, sepultado no Hades (lugar inferior), viu a Lázaro e Abraão e ouviu a voz deste, apesar da distância, o que significa que os Espíritos se falam do “céu para o inferno”, e Deus o permite.

            E porque Jesus não podia ter dito apenas uma fantasia ou uma calva mentira, aí se compreende que os Espíritos culpados não podem passar - diretamente - da região dos pecaminosos para as moradas superiores, sem pagar o último centil das suas dívidas de culpa, enquanto não conhecerem, aceitarem e cumprirem o Evangelho, por isso que o Cristo é o Caminho, a Verdade e a Vida.

            Os que não aceitam a doutrina, nem a praticam, são iguais aos que não ouviram a palavra de Moisés: a esses não adianta que os Espíritos lhes falem, porque - a Salvação não vem por acreditar na pessoa do Cristo, mas por praticar a doutrina, seguir-lhe os exemplos da vida que viveu -- para nosso modelo e legado.

            "Aquele que fizer a vontade de Deus (cumprir a Lei), esse é minha irmã, minha mãe, meu irmão”, disse Jesus (Mat. XII, 50). Assim é que foi ensinado nestas passagens do Novo Testamento: "Morreu o Cristo por nós; pois, muito mais agora que somos justificados pelo sangue (Rom., V, 9); “o sangue do Cristo limpará a nossa consciência das obras da morte (Hebr. IX, 14.).

            Nesses trechos e, mais, na 1ª. Epist. de João (1, 7), onde se dia: "o sangue de Jesus Cristo purifica de todo pecado" - a expressão Sangue do Cristo significa sua obediência até à Morte”, elucidação adotada por eminentes exegetas.

            Aí está, pois, o fundamento da Lei da Salvação, pela perfeição da vida, dentro dessa Lei exemplificada e vivida por Jesus.

            E se à criatura só lhe for possível conhecer o Evangelho, a Lei, nas derradeiras horas, sem tempo para reconciliar-se - enquanto no caminho - ficará por isso fora do caminho de que falava Jesus?

            Como reencetar o caminho, em busca da verdade, para conquistar verdadeira vida? Voltando ao caminho; nascendo de novo da ÁGUA e do ESPíRITO.

            É o que decorre dos ensinamentos bíblicos sobre a reencarnação.

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