O Livro de
Tobias
Reformador
(FEB) Junho 1944
Em seus eruditos comentários e
prefácios aos Livros da Bíblia, informa-nos o Rev. Abade Delaunay:
"Os Hebreus no seu catálogo das
Sagradas Escrituras não contavam o livro de Tobias; e isto, ao que parece,
porque dele não tinha tido notícia Esdras, quando, autorizado pela sinagoga magna,
reviu, coordenou e compilou os livros sagrados, depois da soltura do cativeiro
de Babilônia. Mas a Igreja do Cristo sempre teve o livro de Tobias por um dos
livros divinos, Do que são boas provas, por uma parte, os catálogos de S.
Inocêncio II, de Gelásio I, de S. Agostinho e de S. lsidoro de Sevilha; por outra,
as frequentes citações que deste livro, como de um livro canônico, fizeram os
padres dos primeiros séculos, a saber, S. Policarpo, S. lrineo, S. Clemente, S.
Cipriano, S. Hilário, S. Ambrósio.
"Foi este livro originalmente
escrito em caldaico; e pelo que se diz no Cap. XI, verso 20, segundo a versão
grega, os mesmos Tobias pai e filho foram seus autores.
"Hoje
não existe exemplar algum caldaico deste livro; mas é notório que o exemplar de
que se formou a versão grega era mui diverso daquele de que, muitos tempos
depois, formou S. Jerônimo a versão latina que hoje temos, e que foi feita por ele
sobre a fé de um Judeu, que lho interpretara do caldaico."
Até ai os comentários do Rev. padre
Delaunay. Esse desconhecimento do livro por parte de Esdras deu o lamentável
resultado de haver sido o livro julgado apócrifo e excluído das edições
protestantes da Bíblia. Como são estas edições protestantes que levam as
Sagradas Escrituras a todas as bibliotecas e a todos os lares, segue-se que um
dos mais interessantes livros do Velho Testamento fica desconhecido da imensa
maioria dos estudiosos. Nosso desejo neste momento é sugerir que se faça uma
edição popular do interessante livro, conforme a tradução católica do padre
Antônio Pereira de Figueiredo, somente modernizando a ortografia, para que o
público não fique privado dessa parte da Bíblia.
A nós outros, estudantes de
Espiritismo, o Livro de Tobias interessa por dois motivos:
1º - Pela moral cristã que encerra,
apresentando a Caridade acima de tudo; o que não é comum no Velho Testamento.
Na verdade, a caridade só é apresentada como condição única de salvação no Novo
Testamento, hoje confirmado pelos ensinamentos dos Espíritos.
2º - Pela aparição de um Espírito
materializado que é tomado por um homem e convive com o jovem Tobias, guia-o em
longa viagem, salva-o de muitos perigos, casa-o, cura-lhe a cegueira de seu
velho pai; tudo isso sob o nome de Azarias, filho de Ananias. Depois de
completa sua missão junto aos Tobias pais e filho, revela então sua identidade
espiritual, dizendo, conforme o capítulo XII, versos 8 a 21:
“É boa a oração acompanhada do jejum
e da esmola mais do que ajuntar tesouros de ouro; porque a esmola livra da
morte, e ela é a que apaga os pecados e faz achar a misericórdia e a vida eterna.
Mas os que cometem pecado e iniquidade são inimigos de suas almas.
"Eu pois vos descubro a verdade, e não vos ocultarei o que
está em segredo. Quando tu oravas com lágrimas, e enterravas os mortos, e
deixavas o teu jantar, e ocultavas os mortos em tua casa de dia, e os
enterravas de noite, presentei eu as tuas orações ao Senhor.
"E
porque tu eras aceito a Deus, por isso foi necessário que a tentação te
provasse. E agora me enviou o Senhor a curar-te, e a livrar do demônio a Sara,
mulher de teu filho; porque eu sou o anjo Rafael, um dos sete que assistimos
diante do Senhor.
“E
o anjo lhes disse: A paz seja convosco, não temais, porque eu estava convosco,
eu o estava por vontade de Deus: bendizei-o e cantai-lhe convosco.
“A
vós parecia-vos que eu comia e bebia convosco: mas eu sustento-me de um manjar invisível
e de uma bebida que não pode ser vista por homens.
É,
pois, tempo que eu volte para aquele que me enviou; vós porém bendizei a Deus e
contai todas as suas maravilhas. E tendo dito estas palavras, desapareceu de
diante deles, e eles não o puderam ver mais."
Como se vê desta breve transcrição,
o Livro de Tobias merece atento estudo dos espiritistas. Há na Bíblia outros
casos de Espíritos que tomam corpo aparentemente humano para cumprirem missões
entre os homens, numa materialização mais duradoura e mais densa do que as
materializações estudadas na experimentação dos espiritas e metapsiquistas.
Passam por homens de carne e osso entre os homens e só ao desfazerem seus
corpos, fica-se sabendo que eram Espíritos desencarnados. A mais gloriosa
dessas manifestações é a do Divino Mestre que também na opinião dos homens,
comia e bebia com eles,
não só antes, como até depois de sepultado seu corpo.
São numerosos os episódios
evangélicos que revelam essa natureza diferente do corpo de Jesus; corpo que
marchava sobre as águas, desaparecia do meio da multidão, desapareceu do
túmulo, atravessou portas fechadas, etc. Esses tópicos ficaram incompreendidos
até a vinda da Terceira Revelação. Só os fenômenos do Espiritismo vieram
esclarecer-nos sobre essas formações a que os metapsiquistas deram o nome de
formações ectoplásmicas, e só na obra recebida por João Batista Roustaing,
através da mediunidade mecânica de Mme. Collignon - Os Quatro Evangelhos - foi
minuciosamente revelado o processo pelo qual os Grandes Espíritos podem
condensar a matéria e formar para si mesmos esses corpos aparentemente de carne
e ossos, mas que podem desmaterializar-se repentinamente.
Os fenômenos dessa natureza são
eternos, encontram-se relatos nas literaturas profanas e sagradas de todos os
tempos e nas tradições dos povos selvagens, de aparições e desaparições de
deuses, anjos, espíritos, demônios, o que é sempre a mesma coisa. Não foram
inventados nem mesmo descobertos pelo Espiritismo; somente estão sendo melhor
estudados presentemente.
Como o nosso século é de cego e
orgulhoso materialismo, a vaidade humana tem tido a arrogância de negar tais
fatos universais e eternos. Essa audácia do materialismo orgulhoso e
impenitente domina tão imperiosa em nosso tempo que até pessoas que se dizem
espíritas, não raro abrem campanha contra a grande obra mediúnica dada a J. B.
Roustaing, e aparecem nos jornais e no rádio e no livro, fazendo tremenda obra
de descrédito contra a Terceira Revelação, aliás, contra a mediunidade, que é sua
base.
É evidente que tais pessoas, mesmo
quando bem intencionadas, são os únicos inimigos perigosos do Espiritismo, pois
que se dizem espiritas e apenas atacam uma parte da literatura mediúnica; mas
se essa parte caísse, com ela -cairiam as outras partes de igual base, isto é,
toda a literatura mediúnica. Nalguns países, tais inimigos têm conseguido as
mais funestas consequências contra o Espiritismo. Felizmente, no Brasil esses
infelizes demolidores
não têm logrado seus tenebrosos intentos; a obra de Roustaing continua de pé,
e, por isso mesmo, ainda não atacaram a de Kardec e as demais obras mediúnicas.
Nos lugares, porém, onde eles venceram a obra de Roustaing, imediatamente
lançaram a dúvida sobre toda a literatura mediúnica e, finalmente, conseguiram
reduzir todo o brilhante movimento regenerador do Espiritismo a simples núcleos
de "científicos", isto é, de experimentadores e discutidores eternos,
que nada constroem, sempre se aborrecem e finalmente se dispersam sem deixar
coisa alguma, além da dúvida nas almas e o desespero nos corações.
Infelizmente, até a pátria de Kardec
e Roustaing sofreu imensos prejuízos dessa campanha dos inimigos internos.
Divulgar o Livro de Tobias, a nosso
ver, é um dos passos necessários na obra de defesa do Espiritismo contra esses
perigosos inimigos internos; por isso está sendo preparada uma edição popular
dessa preciosidade da literatura sacra.
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