domingo, 21 de outubro de 2018

Espiritismo e fanatismo



Espiritismo e fanatismo
por Djalma Farias
Reformador (FEB) Maio 1947

            A planta daninha do fanatismo não deve medrar na seara espírita, sob pena de comprometer a essência, a base e a finalidade da filosofia estruturada pela sabedoria do Espírito de Verdade. Devemos estudar e refletir muito e falar bem pouco. Se o fanatismo é condenável nas outras religiões, muito mais o é dentro dos arraiais espíritas.          

            Fanático não é o que se preocupa com a propaganda da Doutrina, que trabalha na seara com amor, entusiasmo e dedicação, jamais repousando, quando sabe o muito que é preciso fazer para auxiliar a obra gloriosa da cristianização do mundo; não é aquele que consagra as suas energias, a sua vida à obra de solidariedade humana, com a prática da caridade material e moral, assistindo os necessitados; que esquece a sua própria pessoa para dedicar-se aos seus semelhantes, cumprindo com amor e de todo o coração as recomendações divinas de Jesus-Cristo. Fanático não é, também, aquele que se aprofunda no estudo da filosofia espírita para bem conhecê-la; que frequenta assiduamente as reuniões de estudo e de propaganda da Doutrina, colocando o Espiritismo acima de todas as suas ocupações e preocupações.

            O que, ao meu ver, caracteriza o fanatismo é a preocupação de alguns que querem estar em contato permanente com os Espíritos, ouvindo-os e consultando-os a respeito de todas as coisas, até de assuntos absolutamente materiais, que se prendem muitas vezes a negócios, visando interesses e lucros econômicos e financeiros.  

            Fanático é o que perde a vontade e a liberdade de movimentos, a razão, o raciocínio, para entregar-se, como um autômato, nas mãos do primeiro Espírito que lhe aparecer com ares de guia e diretor.

            É preciso ter muito cuidado com os médiuns, porque nem todos são sempre bem assistidos.

            É preciso verificar, antes de tudo, as qualidades morais dos médiuns, os interesses e preocupações a que se prendem, o seu amor à causa, a sua dedicação e identificação com os santos preceitos dos Evangelhos de Jesus.

            Infelizmente, é um pesar confessá-lo, há muitos médiuns interesseiros, que exploram, que mercadejam com essa divina faculdade, comprometendo-a com a causa do Espiritismo, perturbando criminosamente a obra cristã do Espírito da Verdade, agravando as suas dívidas com o maior pecado de todos os tempos: o pecado contra o Espírito-Santo.

            Fanático é aquele que desejaria ter um Espírito sempre ao seu lado, para conduzi-lo de modo a sair-se bem de todos os seus negócios materiais e em alguns casos morais, embora essa vitória importasse na derrota e no infortúnio dos seus semelhantes.

            Fanático é aquele, espírita ou não, que nada faz, nem mesmo mudar de casa, sem consultar previamente os Espíritos, que devem estar às suas ordens como servos dedicados ou escravos humilhados. Se há um crente que não pode ser fanático nem supersticioso, esse é o espírita. O fanatismo e a superstição revelam a ignorância e a cegueira do espírito.

            E se, porventura, houver espíritas nessas condições, é que ainda não se libertaram inteiramente dos vícios e dos erros das religiões em que nasceram. O fanatismo e a superstição são ervas daninhas que não devem nascer nem viver na alma dos verdadeiros espíritas.

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