Quem
é este a quem os ventos e o mar obedecem?
por Vinícius
Reformador
(FEB) Abril 1951
- E eles, deixando a multidão levaram Jesus consigo no barco. Eis
que se levantou grande temporal subindo as ondas por cima do barco, de maneira
que já se enchia. E o Mestre estava na popa, dormindo sobre uma almofada.
Despertaram-no os discípulos, dizendo; Senhor, não se te dá que pereçamos? Ele,
despertando, repreendeu o vento e disse ao mar: Cala- te, aquieta-te. E o vento
e o mar se aquietaram, sucedendo grande bonança. E disse-lhes: Porque sois
tímidos? Ainda não tendes fé? E sentiram grande temor, e diziam uns aos outros:
Quem é este, que até o vento e o mar lhe obedecem? (Marcos, IV).
É curioso e interessante o relato acima. Jesus terminara uma de
suas prédicas falando, como de costume, de dentro do barco. Em seguida,
levaram-no naquela mesma embarcação para outra banda a fim de fazer ligeiro
repouso. Logo após se afastarem da praia, sobreveio um grande temporal, pondo
em risco a pequena e frágil nau. O Mestre descansava tranquilamente na popa,
tendo a cabeça reclinada sobre um travesseiro. Apavorados com a tempestade,
despertam-no, dizendo: Senhor! não se te dá que pereçamos? Erguendo-se Jesus,
dirige-se aos elementos em fúria, e ordena ao mar que se aquiete, e aos ventos
que se amainem, sendo imediatamente obedecido, de modo que, ao terrível
vendaval, sucedeu calma, bonança.
Admira-se de que aqueles pescadores, afeitos à vida marítima, não
previssem uma tempestade de tão grandes proporções, antes de tentarem a travessia.
Os marujos conhecem os sinais precursores das alternativas do tempo. Este caso
leva-nos a pensar que o Mestre mesmo provocara a tempestade, pondo à prova a fé
dos seus discípulos. Tratava-se de dar uma lição de escola viva, cujos
resultados são mais eficientes e elucidativos que os da escola teórica. O bom
educador, não só se prevalece, como cria oportunidades para exemplificar.
Demais, porque não poderia provocar um temporal, aquele que teve poder para
sufocá-lo? Onde revelaria Ele maior autoridade, deflagrando ou apaziguando a
tempestade? O Filho de Deus, pois, acendeu e apagou a violência das ondas e o
furor dos ventos. Os colaboradores escolhidos para atuarem no prosseguimento da
sua missão terrena, deviam assistir ao imponente espetáculo a fim de formarem
um juízo relativamente exato daquele que OB orientava e instruía acerca dos
magnos problemas do Destino, vistos e estudados, não segundo a mixórdia
judaizante, mas nas páginas vivas do majestoso livro da Natureza.
Saber realmente quem é o Cristo de Deus não é tarefa muito fácil.
Os que estão no alto sabem o que há em baixo, porém os habitantes das regiões
inferiores desconhecem as particularidades das esferas Superiores e dos seres
que nelas vivem. “Vos sou cá de baixo. Eu
sou lá de cima." "Sou o pão
vivo que desceu do céu." "Ninguém
conhece o Pai senão o Filho, e ninguém conhece o Filho senão o Pai e aquele a
quem Ele o revelar."
Simeão, o velho profeta, tomando em seus braços o menino (Jesus),
disse a Maria: Eis que este é posto para queda e elevação de muitos, e como
sinal de contradição. E uma espada traspassará a tua alma, para que se
manifestem os pensamentos de muitos corações.
E, de fato, assim tem sido. As opiniões acerca do Verbo encarnado
são várias e contraditórias.
Os pensamentos íntimos, ocultos nos corações, vão-se
exteriorizando através dos tempos, provocados por circunstâncias de momento. As
conjeturas se sucedem, baralhadas, confusas, umas respeitosas, irreverentes
outras.
Ainda há pouco, a imprensa profana assim se pronunciava,
transcrevendo uma série de pareceres a propósito do assunto. - Fraco, feio e
humilde, reza a tradição mais antiga sobre o aspecto físico do Salvador. Mas,
"Tu és o mais belo dos filhos dos
homens" nos diz, através dos séculos, a versão mais moderna. Dois
conceitos opostos. O que é belo não pode ser feio, e como o feio ser belo?
perguntamos nós. Será possível conciliar esta antítese? Talvez o possa uma frase
de Orígenes: "Nele não havia apenas
duas fisionomias; o seu aspecto variava de acordo com o mérito de quem o
contemplava; e, embora fosse como era, nem sempre parecia tudo e que era.”
Orígenes pretendeu exprimir, sem dúvida, que a fisionomia divina do
Salvador transparecia na sua fisionomia humana; contudo, só era visível aos que
a contemplassem com pensamentos puros, celestiais.
Se existem contradições em tomo de sua figura humanada, que dizer
a respeito do Cristo Espírito, redivivo, reflexo fiel da divina Paternidade?
Estudemos e meditemos o seu Evangelho de amor, a sua palavra de
vida eterna.
Quem, porventura, é este, a quem os ventos e o mar obedecem?
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