Jerusalém!
Jerusalém!
Vinélius de
Marco (Indalício
Mendes)
Reformador
(FEB) Agosto 1951
Continuamos a receber com evangélica paciência, dispostos sempre
ao perdão, as atitudes nada cristãs do clero católico. A Humanidade não desconhece
o grande e luminoso espírito que foi Francisco de Assis, frade italiano, que os
católicos canonizaram em 1228. Vejamos como os pretensos seguidores de Jesus,
na ambiência clerical católica, se distanciam de Francisco de Assis.
Enquanto o clero nos chama de cínicos (“Nem podemos imaginar maior
cinismo do que o dos espíritas quando, não obstante, continuam a proclamar, em
todos os seus livros e jornais, que “o Espiritismo e o Cristianismo ensinam a mesma
coisa” fugindo inteiramente ao espírito de tolerância e amor manifestados pelo Cristo,
Francisco de Assis, S. Francisco de Assis, tem as seguintes palavras em uma de suas
preces: "Senhor, fazei de mim um
instrumento da vossa paz; onde haja ódio, consenti que eu semeie amor; perdão,
onde haja injúria." Percebe-se a diferença de sentimentos e de linguagem.
Naturalmente, também a diferença de vibrações espirituais, porque Francisco de
Assis de fato exprime o pensamento cristão, enquanto aqueles outros, que se
dizem proprietários da Verdade, ofendem a majestade da moral cristã com ideias
e expressões de revolta.
Curiosamente, diz o clero: "Sejamos, portanto, integralmente
cristãos. Sigamos o Cristo, Evangelista da caridade." Mas, como, se começam
por demonstrar que são integralmente anticristãos? Como podem seguir o Cristo,
que reconhecem como "Evangelista da caridade", se persistem em faltar
aos mais comezinhos princípios de caridade, negando o “amor ao próximo”? Tudo é
facilmente compreensível: não é o Cristianismo que eles defendem, porque não pode
haver defesa do que não é atacado nem
ameaçado,
mas respeitado e reverenciado, como fazem os espíritas, verdadeiramente
discípulos de Jesus e colaboradores da grande obra em prol do Espiritismo, o
Cristianismo redivivo.
Depois de dizerem como devem ser tratados os “pertinazes e obstinados
adeptos da
doutrina espírita”
(graças a Deus que eles o reconhecem, porque isso evidencia a grande sinceridade
da nossa crença e a fé irresistível de nossa fé), aponta-nos o caminho dos infernos,
esquecidos de que, por maior boa vontade que demonstremos, não nos será possível
ocupar o lugar que de direito lhes pertence... Mandam os caridosos opositores
do Espiritismo que os espíritas sejam declarados "infames” e insinuam
sejamos tratados como feiticeiros e tiradas nossas vidas, citando trechos
adrede escolhidos: "Não deixarás viver os feiticeiros"...
Como eles se distanciam do boníssimo Francisco de Assis que dizia,
compenetrado da verdade cristã que seus pretensos seguidores ainda não compreenderam:
"Divino Mestre, permiti que eu não
procure tanto ser consolado quanto consolar; ser compreendido quanto
compreender; ser amado quanto amar, porque é dando que recebemos; perdoando é
que somos perdoados."
Não entendem Jesus, esses que se referem aos espíritas com ódio no
coração. Que Deus deles se apiede e os perdoe porque, quanto mais falam no
Cristo, menos cristãos se mostram, uma vez que o Nazareno pregou: "Como o Pai me amou, assim também eu vos
amei; permanecei no meu amor. Se guardares os meus mandamentos, permanecereis
no meu amor”. Está provado que os nossos rancorosos adversários não guardam
os mandamentos de Jesus, porque desferem anátemas contra os que não comungam
com as suas ideias. Portanto, se não guardam os mandamentos de Jesus, não estão
em seu amor, não permanecem no amor do Cristo. Esqueceram-se, há muito, das
palavras de Jesus: ''Este é o meu
mandamento, que vos ameis uns aos outros como eu vos amei. Ninguém tem maior
amor do que este, de dar alguém a sua vida pelos seus amigos. Vós sois meus
amigos, se fizerdes o que vos mando." Mas Jesus não determinou que os
seguidores ou supostos seguidores de sua Doutrina amassem somente a seus
amigos, tanto que esclareceu: “amai-vos uns
aos outros como eu vos amei.” Em outra oportunidade fora incisivo: “Amai os
vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, bendizei os que vos maldizem,
orai pelos que vos insultam."
Que têm feito os espíritas, senão demonstrar amor aos que os
atacam ferozmente '? Esse amor evidenciamo-lo com o interesse singelo de mostrar-lhes
as palavras de Jesus, para que se convençam da verdade e não persistam no erro.
Assim procedendo, demonstramos amor e fazemos o bem aos que nos odeiam quando
apenas desejamos dar cumprimento às lições de Jesus, através da Terceira
Revelação. Bendizemos as expressões amargas, cheias de fel, com que o clero
procura atingir-nos, pois, desta forma, nos apegamos mais e mais à nossa
Doutrina e tornamos o Espiritismo ainda mais forte com o robustecimento
incessante da nossa fé. Por fim, sempre, em nossas preces, pedimos a Deus misericórdia
para os nossos inimigos, isto é, para aqueles que se dizem e o afirmam por
palavras e atos serem nossos inimigos por nos não nos consideramos inimigos de ninguém.
Cotejamos as nossas ações com as ações dos que nos combatem, as nossas
palavras, com as palavras dos que se enraivecem ao pensar em nós.
Façamos sempre assim, ó espíritas, pregoeiros do vero
Cristianismo, do Cristianismo cheio da
humildade e do amor de Jesus, do Cristianismo puro que está no Evangelho, e
perdoemos ao clero católico, antes e depois do VI Congresso Eucarístico
Nacional de 1953, porque eles, segundo suas próprias palavras, que revelam
alarme ante o progresso do Espiritismo, estão desorientados e desejam
"opor um dique à expansão da heresia espirita nos meios católicos do
Brasil". Pretendem, como dizem, "desmascarar a Doutrina
Espírita". Isto é impossível, porque nossa Doutrina foi revelada do Alto, traz
a proteção de Deus e está sob o amparo de Jesus. O Espiritismo veio para
evitar, justamente, que eles destruíssem o Cristianismo, pois, acima de dogmas
mofados e superstições destinadas a embair povos ainda sem o necessário
esclarecimento espiritual, os grandes Espíritos da Seara de Jesus, entre os
quais Ismael, patrono da Federação Espírita Brasileira, Emmanuel e muitos
outros; têm dirigido e orientado o benemérito serviço de elucidação religiosa iniciado com
o apostolado de Allan Kardec.
Elevando o nosso pensamento a Jesus, pedimos ao Mestre que perdoe
aos que se desviam do caminho traçado no Evangelho, e repetimos, com Francisco
de Assis, com vistas ao clero católico este trecho da amorosa prece deste luminoso
Espírito: "Senhor, fazei de mim um instrumento
da vossa paz: onde haja ódio, consenti que não procuremos tanto ser consolados,
quanto consolar; ser compreendidos, quanto compreender; ser amados, quanto
amar. Porque é dando que recebemos; perdoando é que somos perdoados; e morrendo
é que nascemos para a Vida Eterna."
É do Evangelho (Mateus, 23:37, 38) esta advertência do Mestre:
"Jerusalém, Jerusalém! que matas os profetas e apedrejas os que te são
enviados! quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos como uma galinha ajunta os
do seu ninho debaixo das suas asas, e tu não o quiseste!
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