sexta-feira, 21 de setembro de 2018

A prece de Voltaire


A Prece de Voltaire
A Direção
Reformador (FEB) Abril 1944 
Do “Reformador” de abril de 1884)

No primeiro volume de sua Política e Legislação, artigo intitulado A tolerância Universal, diz Voltaire:

"Já não me dirijo aos homens; mas somente a ti, oh! Deus de todos seres, de todos os mundos e de todos os tempos.

Se a fracas criaturas, perdidas na imensidade e imperceptíveis ao resto do Universo, é permitida a audácia de pedir alguma coisa a ti que nos deste tudo, a ti cujos decretos são imutáveis e eternos, tem piedade dos erros que são inerentes à nossa própria natureza, afasta os danos que deles nos podem provir.

Não nos deste um coração para nos odiarmos, nem mãos para nos degolarmos; faze que nos ajudemos mutuamente a suportar o fardo desta vida penosa e passageira; que as diferenças insignificantes dos vestidos com que cobrimos nossos débeis corpos, de nossas linguagens imperfeitas, de nossos usos ridículos, das leis tão incompletas que nos regem, de nossas opiniões insensatas, de todas as nossas condições sociais, tão desproporcionada aos nossos olhos e tão nivelada aos teus; que todas essas pequenas variantes por que se distinguem uns dos outros os átomos chamados homens, não sejam para eles um motivo de ódio e perseguições; que os que, em pleno dia, acendem velas em honra tua, não repilam os que preferem celebrar-te a luz do teu Sol; que aqueles que cobrem seus vestidos com uma tela branca para dizer-nos que devemos amar-te, não detestem aos que dizem o mesmo, cobertos com um manto negro; que tenham o mesmo valor a adoração expressa por palavras de uma língua antiga e a que é feita nas de uma língua moderna: que os que se vestem de vermelho ou de violeta, que dominam sobre uma pequena parcela de lama deste mundo e possuem em quantidade os fragmentos arredondados de um certo metal, desfrutem sem orgulho do que eles chamam grandeza e riqueza, e que os outros os não invejem. 

Tu sabes que não há nessas futilidades motivo para o orgulho nem para a inveja. Possam os homens todos lembrarem-se sempre que são irmãos, e repelir com horror a tirania exercida sobre as almas, como execram a pilhagem que arrebata pela força o fruto do trabalho e da indústria pacífica.

Se os flagelos da guerra são inevitáveis, não nos odiemos, ao menos, não nos despedacemos no seio da paz.

Empreguemos o tão curto instante da nossa existência em abençoar igualmente, em mil diversas línguas, de Sião à Califórnia, a bondade daquele que nos deu a vida".

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