Direitos e Deveres
por Vínicius
Reformador (FEB) Novembro 1939
Todas as rixas, leves ou graves, entre os povos e indivíduos, se
originam da defesa ou da disputa de direitos. Ninguém quer abrir mão dos que tem, todos
querem conquistar os que não têm.
Jesus foi o único que abdicou de
todos os direitos próprios, para cumprir os deveres alheios. Em tal se funda
sua escola: cumprir deveres e renunciar a direitos. Semelhante doutrina é a loucura
da cruz, que os sábios e prudentes do século não podem conceber nem aceitar.
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O homem primitivo desconhece
deveres: usa e abusa do direito, única forma de ação que concebe. O homem do
presente cumpre alguns deveres e exerce todos os direitos que pode. O homem do
futuro cumprirá deveres e desistirá de direitos.
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Fato curioso: quem acaba
adquirindo maior soma de direitos são justamente aqueles que mais se dispõem a
despojar-se deles. Renunciar é uma espécie de riqueza que quanto mais se
espalha mais se ajunta e multiplica. Quem desiste de um direito que legitimamente
lhe assiste, lança no coração da humanidade uma semente que vai produzir cento por
um e, assim centuplicada, voltará um dia às mãos do semeador.
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Existem muitas escolas de Direito.
Delas procedem os jurisconsultos, os juristas, os magistrados e os causídicos.
Todos eles proclamam o grande valor dessa ciência de cuja interpretação se
dizem mestres. Não há, no entanto, um templo para o Dever, nem uma academia
onde se aprenda essa disciplina. Não é, pois, de admirar que os homens não se
entendam e vivam em constantes querelas e disputas a cata da justiça.
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