O homem, esse mistério
A Redação
Reformador (FEB) Fevereiro 1947
Reformador (FEB) Fevereiro 1947
O homem físico é padronizado: tem as mesmas
necessidades dos animais. Guia-se pelos instintos de conservação do indivíduo e
da espécie. Mas o homem moral varia ao infinito desde a máxima mesquinharia até
a sublimidade divina.
Há homens que
pertencem às coisas materiais que eles supõem possuir mas na verdade são
possuídos por elas. Sua escravidão aos bens é absoluta e tudo absorve. Todos os
seus pensamentos, palavras, atos, emoções, relações, giram em torno dos
processos de apropriação e conservação da propriedade. São muito infelizes e
dignos da nossa compaixão. Julgando os outros por si mesmos, não creem no amor,
na amizade, nos ideais; passam a vida e longo tempo depois da morte
acorrentados aos bens e aguilhoados pelo temor de perde-los. Em cada ser humano
veem um perigo, uma ameaça para seus domínios. A sociedade dá a esses infelizes
o título de avarentos. Sua variedade é infinita: desde o mesquinho que se priva
de alimentos para acumular fortuna e se suicida lentamente, até o profiteur de guerre que lança as nações
umas contra as outras para lhes vender armamentos.
Vêm-nos estas
reflexões ao sabermos que um idealista muito pobre, quase necessitado, que deu
todos os seus esforços ao ideal espírita durante a vida inteira, ao receber
inesperadamente um legado grande, generoso, que poderia por-lhe o resto da vida
ao abrigo de necessidades materiais, sem um momento de hesitação doou o legado
integral à Federação, sem se reservar um ceitil, -para a obra de divulgação da
nossa Doutrina, da Doutrina que já recebeu dele serviços de valor inestimável.
Justificando-se do ato, esclareceu que a Divina Providência sempre lhe deu tudo
de que necessita, inclusive amigos dedicados e serviçais, de sorte que ele não
precisa de dinheiro e acha que dará prazer ao Espírito do generoso amigo que
lhe deixou essa fortuna, pondo-a desde logo a serviço do Espiritismo que o
saudoso desencarnado propagava com ardor de verdadeiro apóstolo.
De quantos milênios
de evolução ainda necessita o homem comum da Terra, o escravo da propriedade,
para chegar a esse grau de fé em Deus, de desapego pelas coisas materiais que
lhe permita ser livre, quebrar todas as algemas que o prenderiam à crosta do
planeta?
Mesmo entre os
iniciados do Espiritismo, sem dúvida os homens mais generosos e desapegados dos
bens materiais, ainda são poucos os exemplos dessa elevação; embora sejam mui
frequentes - graças a Deus - os atos de generosidade espírita, atos
inconcebíveis pelo materialista comum.
Se o homem, quanto
ao corpo, é padronizado, o homem, quanto ao Espírito, varia tanto em grandeza,
que uns são pequeninos grãos de areia e outros são imensos himalaias; uns são
gotinhas d’água, outros, grandiosos oceanos.
O homem espiritual
é o mais sublime dos mistérios.
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