sexta-feira, 2 de março de 2018

O Homem, esse mistério


O homem, esse mistério
A Redação 
Reformador (FEB) Fevereiro 1947

  O homem físico é padronizado: tem as mesmas necessidades dos animais. Guia-se pelos instintos de conservação do indivíduo e da espécie. Mas o homem moral varia ao infinito desde a máxima mesquinharia até a sublimidade divina.

Há homens que pertencem às coisas materiais que eles supõem possuir mas na verdade são possuídos por elas. Sua escravidão aos bens é absoluta e tudo absorve. Todos os seus pensamentos, palavras, atos, emoções, relações, giram em torno dos processos de apropriação e conservação da propriedade. São muito infelizes e dignos da nossa compaixão. Julgando os outros por si mesmos, não creem no amor, na amizade, nos ideais; passam a vida e longo tempo depois da morte acorrentados aos bens e aguilhoados pelo temor de perde-los. Em cada ser humano veem um perigo, uma ameaça para seus domínios. A sociedade dá a esses infelizes o título de avarentos. Sua variedade é infinita: desde o mesquinho que se priva de alimentos para acumular fortuna e se suicida lentamente, até o profiteur de guerre que lança as nações umas contra as outras para lhes vender armamentos.

Vêm-nos estas reflexões ao sabermos que um idealista muito pobre, quase necessitado, que deu todos os seus esforços ao ideal espírita durante a vida inteira, ao receber inesperadamente um legado grande, generoso, que poderia por-lhe o resto da vida ao abrigo de necessidades materiais, sem um momento de hesitação doou o legado integral à Federação, sem se reservar um ceitil, -para a obra de divulgação da nossa Doutrina, da Doutrina que já recebeu dele serviços de valor inestimável. Justificando-se do ato, esclareceu que a Divina Providência sempre lhe deu tudo de que necessita, inclusive amigos dedicados e serviçais, de sorte que ele não precisa de dinheiro e acha que dará prazer ao Espírito do generoso amigo que lhe deixou essa fortuna, pondo-a desde logo a serviço do Espiritismo que o saudoso desencarnado propagava com ardor de verdadeiro apóstolo.

De quantos milênios de evolução ainda necessita o homem comum da Terra, o escravo da propriedade, para chegar a esse grau de fé em Deus, de desapego pelas coisas materiais que lhe permita ser livre, quebrar todas as algemas que o prenderiam à crosta do planeta?

Mesmo entre os iniciados do Espiritismo, sem dúvida os homens mais generosos e desapegados dos bens materiais, ainda são poucos os exemplos dessa elevação; embora sejam mui frequentes - graças a Deus - os atos de generosidade espírita, atos inconcebíveis pelo materialista comum.

Se o homem, quanto ao corpo, é padronizado, o homem, quanto ao Espírito, varia tanto em grandeza, que uns são pequeninos grãos de areia e outros são imensos himalaias; uns são gotinhas d’água, outros, grandiosos oceanos.

O homem espiritual é o mais sublime dos mistérios.        

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