Retrato de uma época
Vitor Hugo
Reformador (FEB) Fevereiro 1956
Trechos de um
discurso de Vítor Hugo pronunciado junto ao túmulo de Jean Bousquet, proscrito francês,
no cemitério de Saint-Jean, em Jersey, a 20 de Abril de 1853:
“... os homens do
progresso, os homens da democracia, os homens da revolução sabem que o destino
da alma é duplo, e a abnegação que eles mostram nesta vida prova quanto eles esperam
profundamente na outra. Sua fé nesse grande e misterioso futuro resiste mesmo
ao espetáculo vergonhoso que nos dá, desde 2 de Dezembro, o clero católico aviltado. O
papismo romano neste momento assusta a consciência humana. Ah! é cheio de
amargor que contemplo tanta abjeção e tanta vergonha, que vejo esses
sacerdotes, que por dinheiro, palácios, mitras e báculos, que por amor aos bens
temporais abençoam e glorificam o perjúrio, o assassínio e a traição nas igrejas onde se cantam Te-Deus
ao crime coroado; e esse espetáculo bastaria de per si só, sim, de per si só,
para abalar as mais firmes convicções nas almas profundas, se não se visse
acima da Igreja o Céu, e acima do padre, Deus."
"Cidadãos,
neste momento, momento fatal, e que será contado nos séculos, o princípio
absolutista, o velho princípio do passado, triunfa em toda a Europa; triunfa
como lhe convém triunfar, pela espada, pelo cutelo, peja corda e pelo cepo,
pelos massacres, pelos fuzilamentos, pelas torturas, pelos suplícios. O
despotismo, esse Moloque cercado de ossadas, celebra à face do Sol seus
terríveis mistérios sob o pontificado sangrento dos Haynau, dos Bonapartes e
dos Radtzky, Forcas na Hungria, forcas na Sicília; em França a guilhotina, a
deportação e o desterro. Só nos estados do Papa (e cito o papa que se intitula rei da doçura), só nos estados do Papa,
em três anos, mil seiscentos e quarenta e quatro patriotas morreram fuzilados
ou enforcados; O número é autêntico, sem contar as inúmeras vítimas enterradas
vivas nos calabouços e nas masmorras. No momento em que falo, o continente,
como nos piores tempos da História, está coberto de cadafalsos e
cadáveres."
("Actes et Paroles – Pendant l’Exil”,
vol 1)
Nenhum comentário:
Postar um comentário