domingo, 10 de setembro de 2017

Espiritismo 'Sui-Generis'


Espiritismo “Sui-Generis” Parte 1
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1944

            A maior tarefa do Espiritismo, hoje mais do que em outros tempos, está na evangelização dos lares, sem o que progresso espiritual dos homens se irá processando com grande lentidão, pela dificuldade de se expurgir dos corações a poluição do pecado. Com a evangelização dos lares, proporcionar-se-á o encaminhamento moral da criança nos moldes da orientação verdadeiramente cristã, fortalecendo-lhe o espírito, tornando-a menos vulnerável às paixões, preparando-a, enfim, para participar com real eficiência da obra de renovação do homem.

O maior e mais importante setor da atividade espírita é, pois, o lar. Através dele o Espiritismo poderá alcançar o seu grande e nobre objetivo, que é a cristianização das massas. Espiritas, verdadeiramente, não os temos muitos, porque podem, talvez, ser contados aqueles que trazem o Evangelho nos lábios e no coração simultaneamente. Crer na fenomenologia espiritista, frequentar sessões práticas e de estudo, renunciar a outras religiões sem seguir os preceitos da moral espírita, convenhamos, não basta ao Espiritismo. Temos "espíritas" que se combatem, que procuram destruir o próximo e sua obra, em nome não sabemos de que princípios. Haja vista quanto se passa por aí acerca de Roustaing, tão malsinado por incompreendido, tão enxovalhado por tão pouco lido... Entretanto, que nos deu Roustaing? Que fez ele pelo Espiritismo? Qual sua ação a respeito de Allan Kardec? Sua obra é um monumento de sabedoria, representa um serviço notável à causa espírita, prestigia e reforça a doutrina codificada por Kardec. E esses pseudo-espíritas investem aqueles que não querem ficar no meio do caminho, acusam-nos, atacam-nos, esquecidos de que não há sentimento espírita onde não houver sentimento cristão.

Não é espírita quem não ratifica pelo exemplo a doutrina que prega ou ouve pregar. O espírita não alimenta sentimentos subalternos, não busca envaidecer-se, não procura a evidência, satisfazendo-se com o realizar bem os deveres que lhe cabem.
             
Infelizmente, a vaidade tomou conta dos supostos espiritas. Uma de suas piores manifestações é de caráter literário, porque há quem faça questão de parecer emérito vernaculista, escritor primoroso, estilista impecável, ainda que tripudiando sobre a ética cristã. Essa preocupação tola e anti-espírita tem induzido muitos adeptos da doutrina a lastimável situação espiritual. A vaidade tomou conta de os pretensos espíritas a que nos referimos. Domina-os, conduz-os a práticas que se contradizem, que ferem os princípios doutrinários, o código moral do Espiritismo.             

São esses falsos seguidores da doutrina que maior mal causam ao Espiritismo, levando a desilusão e a descrença a simpatizantes, muitas vezes egressos decepcionados de outras religiões...

Eles nos fazem recordar estas palavras de Jesus:

"Nem todo aquele que me diz: Senhor! Senhor! entrará no reino dos céus; aquele, porém, que fizer a vontade de meu pai que está nos céus, esse entrará no reino dos céus. Muitos me dirão nesse dia: Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome, não expulsamos em teu nome os demônios e não fizemos em teu nome muitos prodígios? Então lhes direi: Nunca vos conheci; afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade. Aquele que escuta as minhas palavras e as pratica é comparável ao homem ajuizado que construiu sua casa sobre a rocha. Veio a chuva, transbordaram os rios, os ventos sopraram e se arremessaram sobre essa casa e ela não caiu por estar edificada sobre a rocha. Aquele, porém, que ouve as minhas palavras e não as pratica se assemelha ao insensato que construiu sua casa na areia. Veio a chuva, os rios transbordaram, sopraram os ventos, precipitaram-se sobre essa casa e ela desabou e grande foi a sua
ruína. Ora, terminando Jesus esses discursos, a multidão se admirava da sua doutrina, porque ele a instruía como tendo autoridade e não como os escribas e os fariseus" (Mateus, VII, 21-29).

*

Falsos espíritas são os que aborrecem a humildade e se embriagam com aplausos fáceis; são os que trazem o Cristo nos lábios, mas o coração deserto de sentimentos fraternos. Escravos do orgulho, servos da vaidade, presumem servir a Deus, quando, na realidade, servem a Mamon. Que adiantam livros cheios de lições evangélicas, artigos magníficos de doutrinação, discursos empolgantes de catequese, se o objetivo maior não é servir a Jesus, mas atender a exigências dum personalismo sorrateiro e debilitante?

Até para os que a esses ouvem ou leem Jesus deixou no Evangelho outra advertência que não perde o sentido de oportunidade:

"Observai e fazei, pois, o que eles vos disserem, porém, não os imiteis nas suas obras, porquanto dizem, mas não fazem. Atam pesados e insuportáveis fardos e os colocam sobre os ombros dos homens e no entanto nem ao menos com o dedo os querem tocar. Todas as suas ações eles as praticam para, serem vistos pelos homens; daí o alargarem seus filactérios (caixa, geralmente de couro, que contém pergaminho com textos bíblicos judaicos, transportada no ritual judaico junto à testa e ao braço esquerdo) e alongarem suas franjas. Querem os primeiros lugares nos banquetes e os primeiros assentos nas sinagogas. Gostam de que os saúdem nas praças públicas e de que os homens os chamem de mestres". (Mateus, XXlll, 3-7).

Esses pseudo-cultores do Espiritismo são como crianças educadas com excesso de mimos pois, quando contrariados, põem de lado a doutrina e mergulham de olhos fechados no abismo trevoso da intolerância, esquecidos de que somos todos imperfeitos, todos temos defeitos e qualidades, mas, para melhor progredirmos, precisamos de serem benevolentes com as faltas alheias e severos com os próprios erros, Faz-se o contrário, entretanto. Depois, abrem o Evangelho, estudam-lhe os versículos, fazem preleções e, como sucede em outras religiões, consideram-se absolvidos de todos os pecados".

Espiritismo “Sui-Generis” Parte 2
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Junho 1944

Não se pode compreender Espiritismo sem tolerância, sem fraternidade, sem propósitos conciliadores. E, diante do que ora se observa nos meios espíritas, valha-nos o velho rifão:

"Deus escreve direito por linhas tortas". De fato, assim o é.

O "caso Humberto de Campos" veio a talhe de foice. Fazia-se mister separar o joio do trigo, apartar a boa da má ovelha, de modo que a questão suscitada pelas obras psicografadas por Francisco Cândido Xavier tem servido de "teste" a muitos dos que trombetearam a segurança de sua crença espírita, sem, contudo, saberem cumprir os postulados mais simples da doutrina.

É claro que o joio tem também sua utilidade, como a má ovelha não deve ser deixada ao abandono. Torna-se necessário, no entanto, fazer a distinção entre uns e outros para que o bom não seja corrompido pelo mau e este possa ser assistido para se tornar como aquele.

O Espiritismo não foi obra do homem, mas dos Espíritos, através dos médiuns que facilitaram a codificação dos ensinamentos por Allan Kardec. Entretanto, há Espiritismo e ... espiritismo. Tem-se visto mais adeptos do espiritismo do que seguidores do Espiritismo... Se assim não fora, a união de espíritas e "espíritas" seria completa nesta conjuntura e os pseudo-profitentes da Terceira Revelação não estariam auxiliando o esforço dos tradicionais inimigos do Espiritismo, aproveitando-se de todos os motivos, por mais fúteis, para, ostensiva ou dissimuladamente, investirem a Federação Espirita
Brasileira, instituição por todos os títulos respeitável.       

Esse espiritismo "sui-generis" desmascarou-se desta feita. Os "quislings" da doutrina, no afã de dar expansão a sentimentos inamistosos e, por conseguinte, anti- espíritas, se esqueceram de que é chegado o momento crítico dos testemunhos indeclináveis.

A divisa de Kardec – “trabalho, solidariedade, tolerância” - somente é lembrada nas discurseiras pomposas, nos escritos frequentes, em jornais e revistas, porque, na vida de relação, principalmente quando se oferece uma oportunidade de aplicá-la com espírito sincero e humildade, parece que o seu sentido se altera.

O Espiritismo tem mais a temer daqueles que se mascaram de espíritas, para melhor feri-lo - lobos entre ovelhas... - do que de seus inimigos declarados. Estes são conhecidos, fáceis de neutralizar; aqueles se confundem com os crentes sinceros e só de quando em quando pelas suas atitudes contrárias ao que Kardec determina em suas obras fundamentais.       

Dessa maneira, devemos elevar o pensamento ao Alto, agradecendo a dádiva preciosa que, para o Espiritismo, representa a conduta hostil à Federação, tomada por elementos que dizem comungar com a mesma doutrina que professamos, doutrina de paz, amor e caridade. E, chegada que foi a hora decisiva, instilemos em nossos corações o sentimento de tolerância que nos ensinam os nossos maiores, em obediência que às lições desse Allan Kardec tão citado, tão “defendido” e, desgraçadamente, tão esquecido nos momentos em que mais deveria ser lembrado.

A obra grandiosa da Federação Espírita Brasileira não será jamais destruída pelos que se deixam sugestionar pela Treva. Obra sã, amparada pelo refulgente Espírito Ismael, cumpre o seu destino fecundo, indiferente aos apodos, às injúrias, às injustiças, porque, afinal, tudo isto é do mundo. Quantos, depois de haverem-na apedrejado, não acabaram reconhecendo o erro praticado e nela vieram buscar o conforto espiritual de que precisavam!    

Não se atiram pedras em árvores sem frutos ... E a cada pedrada recebida, a Federação deixar cair opimo (excelente, rico, fértil, de grande valor) fruto da sua semeadura evangélica.


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