Liberdade Religiosa
Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Janeiro 1940
Em
discurso, cuja súmula apareceu no "Jornal do Brasil" de 17 de
setembro p. passado, o cardeal Cerejeira (cardeal
em Portugal / 1888-1977) declarou textualmente o seguinte:
“A concepção totalitária do Estado e a
ação católica são antagonistas. O totalitarismo e a vida cristã são incompatíveis".
Esse
Príncipe da Igreja reconhece uma verdade fundamental que nem sempre tem sido
respeitada pela Igreja, cuja tendência é as mais vezes para implantar um
totalitarismo religioso tão pouco admissível como o totalitarismo político. Não
só a ação católica, como toda a vida religiosa, filosófica, cultural, científica
dos povos reclama inteira liberdade para se desenvolver.
Uma
ciência oficial obrigatória, um sistema econômico totalitário, uma concepção social
indiscutível, em suma, todas as limitações à liberdade de pensamento e
discussão formam barreiras ao progresso e, por isso mesmo, conduzem os povos à
morte.
A
liberdade é tão necessária à vida espiritual, quanto o ar à vida animal. Sem a liberdade
de crítica, nenhum aperfeiçoamento seria possível, haveria a estagnação e a
morte.
O
enorme progresso do Espiritismo é devido precisamente, em grande parte, à
completa liberdade de crítica existente contra ele. Pela crítica, mesmo quando
injusta e exagerada, se processa o aperfeiçoamento e se faz a propaganda ainda
que Indireta.
Os
adversários - por vezes tão irritantes e injustos! - são os melhores
colaboradores de todas as grandes ideias, enquanto que os amigos não raro fazem
maior mal do que se poderia imaginar.
O
totalitarismo, a que se refere o cardeal Cerejeira degenera fatalmente numa
concepção materialista da vida e vai parar no “determinismo econômico" e
no "materialismo histórico" do marxismo, tenha embora no seu início
um ponto de partida diametralmente oposto ao do comunismo. Reduzindo o homem a
uma peça numerada da máquina econômica, toda a sua capacidade superior de
colaborar no bem geral fica suprimida, precisamente pela ilusão de torná-la
mais útil a esse mesmo bem comum.
Estamos,
pois, com o cardeal Cerejeira até ao ponto em que a sua Igreja começa a
praticar um totalitarismo tão detestável como qualquer outro...
A
liberdade de ação da Igreja precisa ser amplamente assegurada até ao limite
onde começa a liberdade, não menos respeitável de qualquer outra concepção filosófica
ou religiosa, isto é, a mais plena liberdade de propaganda pela tribuna, pela
imprensa, pelo rádio, pela reunião, mas nunca a liberdade de entrar na
legislação destinada à coletividade em que se achem outras correntes, ainda que
mínimas, de pensamento. Graças a Deus, esta liberdade tem sido respeitada no
Brasil e em quase toda a América, dando em resultado serem os deste continente
os países mais pacíficos e felizes do planeta.
Como
"Coração do Mundo e Pátria do
Evangelho", o Brasil tem amor e tolerância até para com os seus adversários
de hoje, que serão seus amigos de amanhã.
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