Homenagens
Orvile Derby A. Dutra
Reformador (FEB) Janeiro 1941
Desde sempre, a humanidade, por demonstrar sua
gratidão, presta homenagens às criaturas, vivas ou mortas, que ela considera
heroicas, altruísticas, abnegadas, eminentes pelo saber ou pela virtude.
É
uma tradição que, passando de geração em geração, chegou até nós, continuando
tais homenagens a ser tributadas quase diariamente.
Não
somos radicalmente contrários a que também nós, os espíritas, rendamos
homenagem aos que se distinguiram como trabalhadores no campo do Espiritismo.
Precisamos, porém, ter muito em vista o modo por que as prestemos. Esse ponto
reclama o máximo cuidado.
Gozando
da felicidade de conhecer e professar a Doutrina do Cristo, a quem procuramos
seguir pela prática do Evangelho segundo o espírito que vivifica e não segundo
a letra que mata, esforçando-nos por espiritualizar tudo o que esteja ao nossa
alcance, para que em tudo o espírito exerça predomínio sobre a matéria, devemos
evitar, no máximo possível, as homenagens de cunho puramente terreno e
material.
Muitas
vezes, conhecendo de perto o esforço, o devotamente, a abnegação, o altruísmo,
a renúncia, mesmo o espírito de sacrifício com que um irmão nosso há
trabalhado, ou trabalha em prol da doutrina e, quiçá, a bem de seu próximo,
sentimo-nos impelidos a dar-lhe um testemunho do nosso reconhecimento à maneira
por que se consagrou à realização do ideal que a mesma doutrina consubstancia,
mediante a exemplificação dos ensinamentos do nosso divino Mestre Jesus.
É
natural que isso aconteça e não há como fugir a esse impulso de nossa alma, por
quanto o reconhecimento, a gratidão são virtudes que devemos cultivar e
demonstrar, sempre que for oportuno. Cumpre, no entanto, o façamos de modo todo
espiritual, elevado, pois que as homenagens que dediquemos a um Espírito que,
por exemplo, foi bondoso, dócil, caridoso e puro, ele só as poderá acolher de
boamente, como um tributo de gratidão, se, além de sincero, esse tributo for
puro, o que só acontecerá se se revestir de pura espiritualidade, sem o que
quer que lhe imprima cunho de mundanismo, ou de simples exterioridade, capaz de
gerar a suspeita de corresponder apenas à vaidade dos respectivos promotores.
É
ainda comum darem-se a agremiações espíritas e a instituições de caridade nomes
de pessoas que se impuseram pelo seu proceder e pelas suas obras a essa
distinção. Já devíamos estar mais adiantados; mas, até certo ponto, essa
maneira de agir se justifica, porque, mediante a exaltação do nome, se defere
justa honra aos merecimentos daquele que o usou entre nós. Em se tratando,
porém, de pessoa ainda viva, nenhum cabimento tem semelhante prática, nem de
nenhuma forma pode justificar-se.
Vamos
mais longe. Não nos parece justificável, absolutamente, que, numa agremiação
espírita ou instituição de caridade, haja, no salão onde os crentes se reúnem
tão só para cuidar de coisas exclusivamente espirituais, para orar, para
estudar e meditar o Evangelho, ou para explanar os ensinamentos do Espiritismo;
onde, pois, o ambiente material deve exprimir a máxima singeleza, a maior
humildade, haja mais do que aquilo que seja estritamente indispensável à sua
finalidade, como mesa, cadeiras ou bancos, estantes com livros, por serem estes
veículos de instrução, elementos, portanto, de evolução e progresso.
As
paredes, essas devem apresentar-se nuas, limpas, despidas de quaisquer ornatos,
bem como de quadros, retratos e dizeres. Uma vez que os que ali vão levam
apenas o intuito de entrar no conhecimento da Verdade, não se pode prescindir
dessa singeleza, por isso mesmo que a Verdade, quando o é, de fato, sempre se
mostra balda de ornamentos quaisquer.
Pode-se,
de algum modo, aquilatar do progresso espiritual dos dirigentes e componentes
de um núcleo de crentes, até mesmo de uma religião, pelo aspecto do recinto
onde celebram suas reuniões. Quanto mais enfeitado, cheio de retratos ou
imagens, de estatuetas e adornos se mostre esse recinto, tanto, mais longe da
verdade e do Evangelho se revelam os seus frequentadores, pois que só os que
ainda não puderam penetrar-se do espírito dos ensinos evangélicos procuram
suprir-lhe a falta com exterioridades e coisas materiais.
Cumpre-nos,
portanto, a nós espiritistas, envidar de continuo os maiores esforços por nos
espiritualizarmos, dado que somente quando nos acharmos espiritualizados em
tudo é que nos demonstraremos aptos para a compreensão e a prática do
Evangelho, em o qual nada há que não seja essencialmente espiritual. É só assim
poderemos ter a consciência de estarmos a caminho da perfeição.
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