domingo, 6 de agosto de 2017

A missão do pregador do Evangelho


A missão do pregador do Evangelho
Benedicto de Godoy Paiva
Reformador (FEB) Fevereiro 1942

"É chegada a hora. Eis que o Filho do Homem vai ser entregue às mãos
dos pecadores. Levantai-vos; vamos. Eis que está perto o que me trai" (Marcos 14:41).

Eis ai o trecho final do último colóquio de Jesus com os seus três abnegados companheiros - Pedro, Tiago e João, pouco antes de ser conduzido preso. Eis, também, como terminou a grande missão do maior pregador do Evangelho - do homem que "falava como ninguém ainda falou". Terminou a sua missão vitimado pela traição, por parte de um dos seus próprios auxiliares de divulgação da doutrina que ele trouxera ao mundo.

Não somos melhores do que Jesus, bem longe estamos dele: portanto, sirva esse fato de consolo aos pregadores do Evangelho do Cristo, todas as vezes que, atingidos por forças adversas, se sentirem enfraquecidos na sua gloriosa, mas espinhosa missão, de continuadores da divulgação dos ensinos que o Mestre nos legou.

Jesus foi perseguido por toda parte. As forças do mal empregavam os maiores esforços e lançavam mão de todos os artifícios possíveis para desencoraja-lo e Ele, sabendo disso, prevenia seus discípulos: "Eis que vos mando como ovelhas ao meio de lobos". "Haveis de ter aflições no mundo; mas, tende confiança: eu venci o mundo". "Se chamaram de Belzebu ao pai de família, que não dirão dos seus domésticos?"

O pregador do Evangelho do Cristo deve estar alerta às ciladas das forças do mal. Sua missão é cheia de tropeços e perigos. Inimigos encarniçados tramarão a sua perda. Ele será alvo da maledicência, da calúnia, da traição, mesmo dos que lhe pareçam mais dedicados amigos e companheiros. As suas melhores lições serão desprezadas e as suas intenções adulteradas, mesmo pelos que se dizem cristãos, e disso nos dá prova o "texto" que encima estas linhas. O grande apóstolo Paulo já nos prevenia de que “satanás” se transforma em "anjo de luz", e Judas, caminhando ao lado do divino Mestre, com a intenção de o trair, nos dá um exemplo bem frisante do que pode ser o "anjo de luz" que serve de instrumento às forças contrárias ao bem, sob o disfarce de cristão.

O Espírito que assistia a Allan Kardec, quando este codificava a doutrina espírita, disse-lhe, certa vez: "Para levares a termo a tua missão, é preciso fé e vontade inabaláveis; é preciso abnegação e coragem para sofreres as injúrias, os sarcasmos, as decepções, sem te abateres aos botes da inveja e da calúnia. Deixa que digam e falem o que quiserem. Tudo passa, exceto a felicidade eterna. Tudo te será contado e bem sabes que é necessário, para ser alguém feliz, ter contribuído para a felicidade dos pobres seres de que Deus povoou a Terra."

O pregador do Evangelho nunca deve esquecer as recomendações feitas pelo apóstolo Pedro, no capítulo 4, vers. 14, de sua Primeira Epístola: "Se fordes vituperados pelo nome do Cristo, bem aventurados sereis, porque o que há de honra, de glória, de virtude de Deus, e o espírito, que é dele, repousam sobre vós. Se padecem como cristãos, não vos envergonheis disso; mas, glorificai a Deus".

E, mais adiante: "Sede sóbrios e vigiai, porque o diabo, vosso adversário, anda ao redor de vós, como um leão que ruge, buscando a quem possa tragar. Resisti-lhe, fortes na fé, sabendo que os vossos irmãos espalhados pelo mundo sofrem a mesma tribulação."

As denominações de "diabo", "belzebu”, "Satanás" e outras não têm, para nós espíritas, a significação que os homens lhes deram; porém, as influências más, expressas por esses vocábulos, são uma terrível realidade e o pregador do Evangelho precisa estar prevenido contra elas, para não ser apanhado de surpresa e não sucumbir à "tentação".

Quantos Centros Espiritas não se tem desmantelado devido a uma pequenina pedrinha, jogada com habilidade e maestria contra as pessoas dos seus presidentes! Quantos pregadores do Evangelho não se afastam da sua missão, feridos por um espinho habilmente escondido na estrada que tem de palmilhar e colocado ali habilidosamente!

O pregador do Evangelho precisa estar alerta contra esses golpes traiçoeiros e manter-se firme no seu posto, pois o bom pastor não abandona as suas ovelhas, mesmo à vista do lobo! A missão do pregador do Evangelho foi-lhe confiada por Deus e não pelos homens; portanto, a Deus ele terá de dar conta dos "talentos" que lhe foram confiados, não podendo desculpar-se com a necessidade de "enterrá-los", para os ocultar aos olhares cobiçosos ou invejosos dos outros!

Sejamos fortes e sigamos o conselho de São Tiago (cap. 4, vers. 7 de sua Epístola): "Resisti ao diabo e ele fugirá de vós" e, quando nos sentir-mos desanimados, por qualquer motivo, no desempenho da gloriosa missão da pregação do Evangelho de Jesus, ouçamos os conselhos do Apóstolo Paulo a Timóteo: "Trabalha como um bom soldado de N. S. Jesus Cristo, porque virá tempo em que muitos homens não sofrerão a sã doutrina; mas, tendo comichão nos ouvidos, acumularão para si doutores, conforme as suas próprias concupiscências; tu, porém, vigia em todas as coisas, sofrendo as aflições. Faze a obra de um Evangelista; cumpre o teu ministério".

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