Vida Social
por Lucas Pardal (Alberto Nogueira da
Gama)
Reformador (FEB)
Janeiro 1970
P.
- Podemos recrear o espírito? Ser-nos-á facultado
participar de algum grêmio recreativo, literário, esportivo? Haverá inconveniente
em integrarmos uma entidade de classe, desempenharmos atividades políticas,
pertencermos a qualquer dos nossos partidos democráticos, devidamente
legalizados?
R.
- Coisa alguma nos faz mal, desde que não seja má alguma coisa que tenhamos em vista fazer. Nada nos prejudica, quando não pensamos em causar prejuízos a
outrem, ou compactuar com os maus, agindo por eles e como eles.
Declaradamente,
necessitamos de recreação para espairecer o espírito.
Um
bom filme tem seu lugar. (Ainda os há assim, embora em pequeno número, de nós
depende saber e poder encontrá-los.) Uma boa peça teatral vale a pena ser
vista. (Hoje em dia, as representações cênicas geralmente deixam muito a
desejar; acham-se muito entremeadas de pornografias e, por vezes, de
obscenidades mesmo, com toda a complacência da censura que as tolera e aprova.
Mas, procurando-se bem, sempre se encontra alguma que preste e se recomende à nossa escolha.
Mas, procurando-se bem, sempre se encontra alguma que preste e se recomende à nossa escolha.
Uma
festa de aniversário, de casamento, de formatura, de bodas de prata ou de ouro,
em regozijo à promoção de algum amigo, em comemoração a um acontecimento justo
e digno, também tem sua razão de ser e merece a nossa solidariedade.
Outros
atos sociais, públicos ou privados, notadamente de cunho associativo,
decorrentes de nossa posição na vida, em que prestigiamos vultos e
empreendimentos, comportam nossa participação direta e ativa, a bem de alguém
ou de alguma coisa que nos merece acatamento.
Passeios
e excursões a lugares pitorescos, banhos de mar, exercícios ao ar livre, são
outras tantas coisas que nos proporcionam grande bem-estar ao corpo e à alma.
Todavia,
devemos observar todo o escrúpulo e a máxima precaução no sentido de que os
divertimentos dessa ordem, ordinariamente benéficos, não degenerem em
desvirtuamentos contrários aos fins por nós pretendidos alcançar, passando a
influir perniciosamente em nosso âmago e sobre o nosso ânimo.
O
Cristianismo não é doutrina de almas tristes e penadas.
“-
Não tenhais medo, pois venho trazer-vos uma notícia, que, para vós, como para todo
o povo, será motivo de alegria - é que hoje, na cidade de David, vos nasceu um Salvador
que é o Cristo, o Senhor."
Assim
anunciava, o anjo, aos pastores o nascimento do Senhor.
Depois,
já com doze anos, Jesus, por iniciativa própria, comparece à Sinagoga para
entreter palestra com os doutores da lei.
Como
conviva, vamos encontrá-Lo, no início do Seu messianato, nas Bodas de Caná, transformando a água em vinho.
Em
Betânia, vamos surpreendê-Lo em casa de Simão, o fariseu, dignando-se aceitar a
manifestação de afeto e de desprendimento que Lhe é tributada por Maria de
Magdala.
Está
presente ao banquete oferecido por Levi, em regozijo à sua adesão à Boa Nova.
Em
Naim, vê-mo-Lo na residência de Simão, o leproso, onde vai ter Maria para
homenageá-Lo com o seu vaso de alabastro, que derrama sobre os seus cabelos,
ungindo-Lhe depois os pés.
Em
Jericó, pousa na vivenda de Zaqueu, onde Lhe é tributada carinhosa e sincera
demonstração de apreço.
Em
Jerusalém, cavalgando um jumento, recolhe, no silêncio do Seu recato e na
majestade de Sua singeleza, a calorosa recepção da multidão alegre e confiante.
À
Sinagoga, o imponente templo dos judeus, comparece e age, ora falando das
coisas do Reino de Deus, ora dialogando com os escribas e fariseus, ora
promovendo curas admiráveis.
Em
Cafarnaum, recebe visitas, a elas dispensando toda a Sua carinhosa atenção.
Em
suas atividades, não se recusa a acolher a presença de patrícios romanos, de
áulicos imperiais, aos quais ouve e fala, entretendo-se em confabulações
edificantes.
Não
desdenha de privar com os publicanos, que se aprazam em tê-Lo como conviva ou
visitante, sempre que há oportunidade.
São
as magistrais lições do Mestre, para que estejamos com todos, mostrando-lhes
Deus em nossas vidas, demonstrando-lhes nossas vidas em Deus.
Desfrutemos
das justas e nobres alegrias da existência humana, sem prevenções nem receios
infundados.
*
O
instinto gregário dita a necessidade de aproximação. A identidade de gostos e
pendores, a afinidade de tendências e predileções elevadas atraem as almas,
enlaçam-nas, congregam-nas em torno de motivos comuns. O espírito de
companheirismo e os sadios impulsos de amizade determinam uniões e reuniões de
uns com outros, para fins nobres e construtivos.
Não temos o direito de querer que todos
sejam espíritas como nós, mas temos o dever de nos mostrar espíritas para com
todos.
Por
outro lado, não nos cabe formar um mundo à parte, uma comunidade à margem da
vida, segregando-nos do convívio social, de consequências tão salutares e
necessárias ao desenvolvimento de nossas faculdades espirituais.
Será
mais acertado fazermos parte de grêmios recreativos, culturais, artísticos e
desportivos, que pretendermos instituí-los nos Centros Espíritas, desviando
estes de sua precípua finalidade, que é a do estudo e divulgação do
Espiritismo.
Será
mais compreensível e aceitável estarmos filiados a uma entidade de classe,
relacionada com a natureza de nossa profissão ou atividade, que pensarmos em
dividir e subdividir o meio espírita em departamentos estanques, num trabalho
ingrato e inglório de fracionamento dispersivo, sem pontos comuns de junção e
conjunção que nos entrelacem num sentido único de entrosamento.
Será
mais aconselhável pertencermos a partidos políticos de genuína inspiração
nacionalista, de insuspeita idoneidade ideológica, que desejarmos formar ligas
eleitorais nos recintos de nossas Casas de estudo e trabalho, ou fazer deles
bases de eleitorado.
Se
não estivermos dentro da Vida para agir, influindo para melhor na ordem dos
acontecimentos, influenciando os outros para o Bem, sob as inspirações do
próprio Bem de que estejamos influenciados, em que outra situação achamos que
podemos estar e onde, com maior proveito, próprio e alheio, entendemos poder
atuar?
Caracterizemos
nossa condição de espiritista por sinceras expansões de afeto, por benéficas
exteriorizações de bom-humor, por envolventes e cativantes manifestações de
delicadeza, por francas e espontâneas demonstrações de cordialidade e ânimo
jovial, de afabilidade e doçura.
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