O Problema da Mediunidade
Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Março 1956
O dom da
mediunidade não é especial e exclusivo dos espíritas, razão pela qual vemos, frequentemente,
adeptos de outras religiões e indivíduos sem religião alguma demonstrarem a
posse de faculdades mediúnicas, embora não compreendam nem interpretem
corretamente as ocorrências de caráter mediúnico verificadas em seu ambiente.
Ignorando a natureza de sua sensibilidade nervosa, emprestam-lhe açodadamente
origem patológica, quando deveriam examiná-las com maior serenidade, a fim de
situá-las na classificação adequada e correta, Conhecemos pessoas católicas,
inegavelmente portadoras de mediunidade, que acham graça e sorriem com
descrença quando se lhes diz que são médiuns. Entendem que isso é impossível,
por incompatível com o credo a que estão ligadas. Em virtude desse grave erro
de apreciação, algumas se veem, em determinadas ocasiões, envolvidas por
perturbações caracteristicamente psíquicas, oriundas da mediunidade retida,
contida por preconceitos, mas que poderá de um momento para outro expandir-se,
até mesmo com consequências dignas de cuidado.
A "retenção da
mediunidade" constitui ameaça à segurança do médium, antena que ele é
suscetível de atrair e captar ondas de força psíquica, impedindo, por falta de
desenvolvimento, que essas ondas sejam distribuídas naturalmente, numa como que
operação de descarga fluídica necessária ao equilíbrio psíquico do médium. A
acumulação de força psíquica exige o trabalho de dispersão metódica capaz de
não perturbar esse equilíbrio, o que seria problemático
no caso de se verificar uma expansão descontrolada da energia acumulada. Eis
porque tanto é indispensável que o médium se desenvolva e exerça metodicamente
seu mister, como que evite trabalhar em excesso, para não prejudicar a saúde e
a mediunidade. É essencial que haja sempre harmonia, isto é, equilíbrio. A “retenção
da mediunidade" provoca uma sobrecarga no sistema nervoso, responsável por certas
atitudes irrefreadas. Os recalques e complexos, tão citados por figurarem na
nomenclatura de um método de psicologia que vai passando de moda, podem também
ter como causa a "retenção da mediunidade". Para se imaginar a
pressão suportada pelo sistema nervoso, em virtude da força psíquica retida e
desaproveitada, imaginemos o que sucede a uma represa, cujas águas forçam as
margens à medida que vão crescendo, ameaçando romper-lhe as paredes e a
comporta que impede sua liberação. Quando isto se verifica, é de se temer a
violência da irrupção das águas, capaz de destruir tudo quanto se lhe antepuser.
Certos casos de desequilíbrio mental decorrem da falta de desenvolvimento
mediúnico, da ausência de emprego metódico da força psíquica acumulada pelo
médium. Em vez de o Espiritismo ser, como seus gratuitos inimigos soem dizer,
causa de loucura, a verdade é que ele evita a loucura, desde que o médium
observe atentamente o regime estabelecido em "O Livro dos Médiuns",
de Allan Kardec, desenvolvendo dia a dia sua capacidade mediúnica e aprendendo,
assim, a controlar e aplicar utilmente a força psíquica que recebe e acumula.
Temos
insistentemente, podemos dizer mesmo - impertinentemente - chamado a atenção de
pessoas que possuem mediunidade em estado latente e de médiuns incipientes,
para a conveniência de se exercitarem com método, sob as vistas de um orientador
experimentado e criterioso. Quase sempre o médium é refratário a ponderações
nesse sentido e avesso à disciplina necessária à consecução do êxito. Outros,
ainda não pertencentes à comunidade espírita, supõem que é o proselitismo que
nos faz admitir a existência de sua mediunidade ou que se pretende fazê-lo
abandonar a religião em que se encontra para adotar a religião espírita. Puro
erro. Se o indivíduo desconhece ser portador de mediunidade e se mostra
indiferente, por preguiça mental, ignorância ou aversão ao Espiritismo, a
situação se agrava, pela dificuldade de se lhe oferecer defesa e não nos
surpreendemos sempre que vemos alguém assediado por agitações nervosas e
distúrbios que se definem como procedentes da "retenção da
mediunidade". Quem estuda a Doutrina Espírita sabe a que perigos está
exposto o médium negligente ou ignorante dos meios de defesa contra a ação de
Espíritos malévolos. Não são poucas as pessoas que, embora reconhecendo ser
médiuns, fogem da tarefa que os aguarda, porque a consideram sacrificante.
Entretanto, quanta beleza há no trabalho mediúnico, principalmente no campo da
caridade! Há os que preferem os prazeres mundanos, as frivolidades, ao esforço
que beneficia sua personalidade espiritual. Felizmente, outros, conscientemente
voltados para os deveres, consideram sagradas as horas do exercício de sua
mediunidade. Chova ou não, comparecem pontualmente às sessões e experimentam
sincero contentamento em concorrer para o bem de outrem. Estes são os médiuns
verdadeiramente integrados na Doutrina Espírita. Aceitam e executam suas
obrigações, absolutamente convencidos da natureza elevada de seu trabalho,
porque a mediunidade quase sempre pode ser interpretada como incumbência aceita
antes da reencarnação, e que deve, por conseguinte, ser integralmente
satisfeita.
O bom médium mantém
o equilíbrio a que já nos referimos. Não se deixa fanatizar, porque encontra no
estudo da Doutrina Espírita a orientação que precisa seguir. Afirmar-se que
alguém é ou não médium, semelha arrojada assertiva.
Como podemos negar
que tal ou qual indivíduo não seja médium, se a mediunidade se reveste de
inúmeras características? O fato de não se verificar o transe ou de não serem
percebidas certas vibrações não quer dizer que não haja mediunidade, "Essa faculdade é inerente ao homem, não
constitui, portanto, um privilégio exclusivo. Por
isso mesmo, raras são as pessoas que dela não possuam alguns rudimentos. Pode
pois, dizer-se que todos são, mais ou menos, “médiuns". ("O
Livro dos Médiuns" – cap. XIV). A mediunidade não é um prêmio concedido ao
Espírito encarnado, mas uma oportunidade oferecida para que ele alcance mais
depressa a evolução colimada, através de tarefas que demandam boa vontade,
perseverança, devotamento, renúncia e conduta fraterna. Na maioria dos casos, o
Espírito reencarna porque ainda tem débitos a amortizar ou resgatar. Nestas
condições, a mediunidade é um compromisso de trabalho que, devidamente
cumprido, permitirá a conquista de melhores níveis espirituais. Cada boa ação
pode ser um "bônus-crédito", como aqueles de que nos falou André
Luís. Fácil se torna compreender a importância de uma conduta moral elevada do
médium. Uma vida terrena sóbria, tanto quanto baseada nos ensinamentos evangélicos,
oferece encantos incomparáveis. Supor-se a desnecessidade do amparo evangélico
é lamentável equívoco. O médium pode trabalhar sem orientação
evangélica, mas não encontrará jamais o amparo e a segurança que têm
aqueles que se colocam sob as normas do Bem, tão bem expostas por Jesus. Fora
de dúvida, o exercício da mediunidade e o grau deste podem prescindir também do
valor moral do médium, mas a verdade incontestável é que o médium de vida moral
irregular e inferior jamais poderá equiparar-se ao médium de vida moral limpa e
fiel aos princípios evangélicos. Um poderá encontrar escolhos intransponíveis e
ver malogrados os seus esforços, enquanto que o outro se sentirá fortemente amparado pelas forças superiores do Invisível.
Ninguém é médium
por acaso, ninguém exerce a mediunidade sem responsabilidade. O estudo da
Doutrina Espírita, hoje, amanhã e sempre, porque há sempre o que aprender por
mais que leiamos, é a bússola do médium. A mediunidade é um ponto de referência
no Além e, consoante à Lei das Afinidades, poderá o médium atrair forças
benéficas e, portanto, positivas, ou forças maléficas e, consequentemente,
negativas. O bom exercício das tarefas mediúnicas oferece compensações morais e
espirituais indescritíveis, o que não sucede quando as tarefas são abandonadas
ou negligenciadas, mal cumpridas ou realizadas com propósitos inferiores.
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