O método nas tarefas mediúnicas
Indalício Mendes
Reformador
(FEB) Novembro 1956
Nas tarefas mediúnicas, o método de ação é importantíssimo. Sem ele os resultados poderão ser
intermitentes, deficientes ou nulos, em virtude da instabilidade fluídica, que
perturba a concentração dos componentes do grupo de trabalho psíquico. Quer
para os Espíritos, que tão benévola e eficazmente cooperam para amenizar as
dores do mundo físico, quer para os trabalhadores terrenos do Espiritismo, o
método é necessário ao serviço comum. Com ele poder-se-á conseguir maior
concentração de fluidos, maior homogeneidade de pensamento nas reuniões, maior
disciplina no trabalho, que se desenvolverá naturalmente, sem altibaixos,
facilitando a obtenção de efeitos mais seguros nas obras de caridade espiritual
e mais sólida normalização de esforços, sem sobrecarga para os médiuns.
Devemos lembrar
sempre que uma casa espírita é um templo sem imagens nem rituais, sem
sacerdócio militarmente organizado, mas dispondo de hierarquia funcional
imprescindível ao estabelecimento da ordem, da disciplina e do amor à Doutrina
codificada por Allan Kardec. Essa hierarquia, no entanto, terá de ser
rigorosamente subordinada aos princípios doutrinários. Quanto maior for a
obediência a esses princípios, mais seguros serão os resultados da colaboração
entre os médiuns e os Espíritos, porque estes sentirão menos empecilhos para
levar a bom termo seus elevados desígnios. Às vezes, pessoas egressas de outras
religiões e ainda não suficientemente libertas de hábitos nelas adquiridos,
procuram fazer enxertos nas práticas espíritas, mesmo inconscientemente do erro
que praticam, criando inovações absurdas por contrárias aos postulados
doutrinários firmados pelo Codificador.
Como o Espiritismo
não tem papa nem bispos, nem corpo organizado, de sacerdotes, sendo, como é,
uma Doutrina liberal, que confia na consciência do homem esclarecido e deixa a
seu livre arbítrio as decisões que toma e os rumos que segue, algumas pessoas
desconhecedoras das determinações doutrinárias se julgam aptas a adotar atitudes personalistas e a adotar
normas distantes dos ensinamentos que Allan Kardec resumiu na Codificação.
Nenhum espírita digno deste nome abusa da liberdade que tem dentro do
Espiritismo, começando por admitir que seu primeiro dever é ser humilde para se
colocar em condições de compreender melhor o alcance dos ensinamentos ditados
por elevadas e nobres Entidades do Além. Sem humildade não há Espiritismo, porque esta é a qualidade
principal daquele que se decide a aceitar a tutela de Jesus, através das lições
contidas na Codificação. Assim, o espírita consciente de seus deveres morais e
espirituais subordina-se aos princípios doutrinários, porque compreende que não
há nem pode haver liberdade absoluta, neste mundo de relatividades em que
vivemos. Basta meditar sobre as leis que regem a vida, para se reconhecer que toda liberdade é
limitada. Semelham-se as determinações de ordem moral e as de natureza
biológica. O homem não deve fazer umas tantas coisas, embora, se o quiser,
possa realizá-las, respondendo pessoalmente pelas consequências. Isso tanto
acontece na vida moral e espiritual, como na vida física. Se alguém voluntariamente
abrevia os dias de sua peregrinação terrena, ou os de outrem, arrastará todo o
peso da enorme responsabilidade contraída quando cometeu esse crime. A
propósito, mais um valioso subsídio para o estudo da responsabilidade do homem em
face das leis de Deus se encontra nesse prodigioso livro – “Memórias de um
Suicida”, ditado à médium Yvonne A. Pereira pelo Espírito de um famoso suicida,
sob a orientação do Espírito de Léon Denis, o “suave poeta do Espiritismo”.
A responsabilidade está
sempre presente em nossos atos e pensamentos, e a Doutrina Espírita,
elucidativa e confortadora, como nenhuma outra, dá-nos meios e forças para
atendermos às necessidades multifárias da nossa existência terrena e às que
temos com o mundo espiritual.
Tudo para nós,
seres humanos, é relativo, dada a nossa impossibilidade de compreender e
abarcar o Absoluto, que é Deus. Somente Ele conhece a essência do Universo. O
que promana do Alto, como os ensinamentos espirituais que servem de santelmo à
Humanidade nas horas aflitivas, atende, por isso, ao relativismo do mundo físico, surpreendendo-nos com as
revelações progressivas da Verdade, à medida que nos vamos tornando mais aptos
à recepção e assimilação paulatina do Conhecimento. Em todos os tempos, as revelações
têm permitido ao homem tomar contato e apreender novos aspectos da Verdade,
assim como de retificar pontos que erradamente aceitara como revelações, sem
os haver submetido ao crivo do raciocínio e à evidência verdadeiramente
irretorquível dos fatos. A proporção que a Humanidade vai evolvendo,
consolidando sua posição em face do Universo, as revelações vão surgindo, ora
aqui, ora ali, deste ou daquele modo, por isto ou por aquilo, aguçando-nos a
curiosidade sempre insatisfeita no terreno científico, estimulando a nossa
consciência na busca do futuro espiritual e nos dando, a pouco e pouco, novos
elementos para
progredirmos em direção ao porvir, com mais
segurança em nosso trabalho e mais confiança em nossas possibilidades.
Se o Criador age
tão cautelosamente, seguindo um método de sucessivas e progressivas revelações,
para não nos levar à desorientação pela incapacidade de compreender toda a
Verdade de uma só vez, porque nós, insulados em limitações de limitações, não
devemos subordinar nossos estudos e nossa conduta às lições de Mais Alto,
seguindo também um sistema de trabalho uniforme e racional. mas progressivo, capaz de permitir a cada um dos nossos
semelhantes, como a nós mesmos, a assimilação gradual das Verdades subsidiárias
da Grande Verdade?
O médium, por ser
um “chamado”, tem enorme responsabilidade moral e espiritual. Não lhe cabe
desistir de sua função mediúnica, nem coagi-la ou compromete-la em tarefas que
colidam com a Doutrina do Espiritismo, consoante o que se encontra em Kardec. Deve,
portanto, estabelecer a sua própria disciplina de trabalho, realizando
meditações diárias, precedidas e concluídas pela prece; comparecendo assídua e
fielmente às sessões de desenvolvimento ou de trabalho mediúnico, se já for
médium desenvolvido.
Isto não quer dizer
que, sendo necessário, não se entregue ao exercício da mediunidade fora dos
dias e horas já determinadas, porque não há horário nem dia estabelecido para a
prática da caridade, para a realização do bem. O médium é simples instrumento dos
Espíritos. Amparado pela Doutrina e pelas luzes evangélicas, saberá quando pode
agir assim, pois há ocasiões em que seu concurso é imprescindível, fora dos
programas preestabelecidos para os serviços mediúnicos. Nesses casos, o próprio Guia lhe dará a intuição precisa, no
momento oportuno, se deve ou não entregar-se a tarefa extraordinária. Fora
disto, no entanto, o médium necessita de resguardar-se, porque o exercício da
mediunidade importa em desgaste nervoso quando não há método de trabalho. Os
médiuns esclarecidos sabem quando devem repousar, porque recebem dos Guias a
orientação devida. Estes sabem que a mediunidade exige cuidado e que os médiuns
são instrumentos delicados, que devem ser cuidadosamente tratados, a fim de restarem sempre os melhores serviços.
Afora esta parte,
os médiuns devem adotar um método de vida pessoal compatível com a manutenção
da saúde, evitando excessos de qualquer natureza.
O método tão
necessário à vida do homem, é de suma importância para o médium
particularmente, esteja ou não entregue ao labor mediúnico. Muitos benefícios
podem decorrer da ação metódica, benefícios que podem ser mais bem sentidos do
que descritos.
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