Nótulas
Espiritualistas - XVIII
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Julho 1956
O Espiritismo - uma das mais
fecundas e promissoras conquistas do pensamento contemporâneo no estudo
experimental da alma humana - só pode ser devidamente compreendido e apreciado
quando analisado no conjunto e interdependência das suas leis fundamentais. Este critério tanto é aplicável à sua parte
doutrinária, como à mediunidade, tal é a harmonia de lógica solidariedade e recíproca
cooperação da sua orgânica e estruturas. Se o Espiritismo vale muito pelo seu
estudo analítico e experimental, vale incomparavelmente mais no seu estudo
sintético, na sua conclusiva filosofia inerente ao destino humano, base do seu
comportamento individual, coletivo e sociológico.
Até agora, sistema algum científico
ou filosófico penetrou, mais íntima e profundamente nos mistérios da alma
humana do que o Espiritismo, embora reconhecendo que existem ainda nesta
transcendência e novel "ciência da alma humana" algumas equações a resolver
e profundos mistérios a desvendar.
*
A análise é sempre superficial,
perdendo-se numa infinidade de pormenores, decompondo e deformando o objetivo
do conhecimento; enquanto que a síntese ganha em profundidade e em generalização. É precisamente uma das características diferenciais
entre a Ciência contemporânea, essencialmente analítica e por este motivo materialista
e agnóstica, e a Sabedoria antiga, fundamentalmente sintética, orientada numa
alta e nobre espiritualidade, conduzindo ao apogeu da glória as velhas civilizações
orientais, desde as criptas do Himalaia aos hipogeus egípcios e oráculos gregos, assombros da
moderna civilização, onde sábios, filósofos e artistas vão inspirar-se para novos
cometimentos e inovações dentro da ciência e da filosofia mas obliterando o seu
significado espiritual.
*
A nova falsa Civilização, sejam
quais forem as maravilhosas descobertas e assombrosas inovações que tenha no
seu ativo, dominando, talvez, a força mais portentosa do Universo, expressa na
desintegração do átomo, não pode subsistir por carência espiritual.
A nossa Humanidade atravessa a mais
pavorosa crise moral que a História nos aponta.
O materialismo, altar onde
pontificam ciências, filosofias e literaturas - com raras exceções - com o seu
perverso e satânico cortejo de vícios e paixões dissolutas, sem o mais leve
respeito pelo decoro e dignidade humana, vai impelindo a desvairada Humanidade
para um cataclismo abissal que tragará brutalmente a nossa Civilização cristã,
duas vezes milenária.
*
Depois da falência imperdoável das
Religiões sacrificando, de longa data, o espiritual ao temporal, devemos
reconhecer que só o Neo-espiritualismo poderá opor rigoroso dique à derrocada e
ao descalabro moral que invadem todas as classes sociais, quer no Ocidente,
quer no Oriente.
Só o Neo-espiritualismo poderá
salvar a Humanidade oferecendo-lhe uma norma espiritual que lhe esclareça o entendimento, seu sentido científico e experimental, e santifique o sentimento pela fraternidade
cristã, comprovando-lhe que todos temos a mesma origem e finalidade divinas.
À mentalidade satânica e descrente
que domina e perverte a Humanidade através dos seus refalsados e astuciosos
mentores, desde os materialistas aos comunistas, devem os neo-espiritualistas fazer
convergir todas as suas forças para que se restabeleça com a devida Luz e
Verdade, em toda a parte, uma mentalidade neo-espiritualista, demonstrando a
unidade pela fraternidade, tecida de
Amor, Perdão e Caridade - a luminosa trilogia cristã - e fazendo salientar o
alto significado das Leis básicas do Espiritismo - Evolução, Reencarnacionismo
e Carma - para a compreensão do destino humano, e daí deduzirem o melhor comportamento
individual e coletivo, baseado no finalismo humano, ultrapassando espaço e o tempo.
*
Dentro das estruturas do Espiritismo,
um dos fatores determinante da regeneração social é, com toda a evidência, o pleno conhecimento do mecanismo da
grandiosa, magnânima e providencial Lei da Evolução (morfológica e
espiritual), emanando da Vida infinita e eterna, "alma-mater" de
todos os progressos, no seu sentido mais lato, pela dinamização, devido ao nosso
esforço próprio, das virtualidades divinas potencializadas na alma humana.
*
A Ciência, na sua miopia espiritual,
que tão prejudicial tem sido para a Humanidade, só estuda a parte mais grosseira
e material da evolução - a parte morfológica; o Espiritismo estuda a Lei da
evolução no seu ponto de vista espiritual, e no seu transcendente mecanismo,
tendo por lei de apoio - a Lei reencarnacionista ou das vidas sucessivas - e
por lei diretriz - a Lei Cármica. O Carma é o idealíssimo executor da Justiça
lmanente: - "pagarás até o último ceitil". É uma lei digna de
profundas e repetidas meditações no seu transcendente mecanismo e complexidade.
O seu conhecimento evitará muitos desânimos e revoltas.
*
Como dissemos, a Evolução no seu significado integral apresenta
um duplo aspecto: espiritual e morfológico, abrangendo a parte material da
forma.
No seu primeiro aspecto - o
espiritual -, a Evolução atua numa linha continua e progressiva através da
alma, desafiando o infinito e a eternidade; enquanto que a Evolução, no seu
segundo aspecto - morfológico e material - atua numa linha descontinua,
limitada à forma e à transformação das espécies, efêmeras e transitórias,
limitadas no tempo e no espaço.
A primeira, de essência espiritual,
penetra no Absoluto; a segunda mergulha na matéria. Por este motivo, a primeira
age no infinito do espaço e na eternidade do tempo; enquanto que a segunda é limitada
no espaço e no tempo, ainda que subsidiária da primeira, seu instrumento de
trabalho, para os Mundos terrestres e materiais.
Neste formidável e incoercível rotativismo
evolucionante, alternando de Mundo para Mundo, abrangendo Universos e Humanidades,
a matéria tende a eterizar-se ao impulso providencial do espírito, como
comprova a radioatividade.
No ponto de vista humano, tanto o
espírito como a matéria são solidários no seu evolucionismo, e a matéria
subsistirá até que a alma humana atinja a divindade, como é o seu destino último pela sua origem e
finalidade expressas na mônada divina.
O Homem é um deus em potência. Todas
as dores e sofrimentos se diluem neste fim glorioso e triunfante.
Mas o homem tem de conquistar a sua
Divindade pelo seu esforço próprio, dinamizando, pela inteligência e pelo Amor,
pelo sacrifício e pela renúncia os germes divinos contidos no seu Cristo
interior.
Lisboa 1955
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