Nótulas Espiritualistas
- XII
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Setembro 1955
O consagrado Mestre, A. Kardec, o
excelente sistematizador e codificador do Espiritismo, foi tão profundo
filósofo, quanto arguto e sutil investigador no vasto domínio da complexa
fenomenologia supranormal anímica e espírita.
O estudo metodológico do Espiritismo
impõe a necessidade de iniciarmos esse estudo pelo Animismo. Assim,
evitar-se-iam alguns erros de interpretação e lamentáveis confusões na
Metapsíquica.
Há um perfeito e completo
paralelismo entre os fenômenos anímicos e espíritas. A alma que anima os
encarnados, no seu estágio terrestre, é precisamente a mesma que anima os
Espíritos desencarnados.
Todos os fenômenos anímicos, sem
exceção, se podem realizar sem a mínima intervenção de Espírito algum desencarnado.
Mas já assim não sucede reciprocamente: todos os fenômenos espíritas exigem
elemento de apoio e de ligação, baseado na mediunidade dum encarnado (Lei da
exteriorização psíquica).
A explicação está dentro da
diferença que existe na constituição de encarnados e desencarnados. Estes têm a
menos os corpos somático e vital, sendo comuns o perispírito ou corpo astral e
a alma ou espírito.
O elemento de ligação, entre os
habitantes dos dois Mundos, não é como muitos supõem o perispírito, mas o duplo
etérico ou corpo vital, corpo a que não se tem dado o devido relevo e
importância dentro do Espiritismo (1). Deste fato têm
resultado lamentáveis confusões entre certos investigadores indevidamente
preparados. Por outro lado, alguns médiuns sérios e honestos têm sido,
precipitadamente, acusados de mistificadores e fraudulentos (2).
Infelizmente, existem ainda
investigadores da fenomenologia supranormal que desdenham e depreciam os
fenômenos anímicos, não obstante terem tanta ou mais importância de que os
fenômenos espíritas.
Seja como for, o fato irrefutável é
que entre estas duas categorias de fenômenos supranormais existe um íntimo
paralelismo dentro do seu experimentalismo e uma flagrante convergência para a
demonstração da alma humana e da sua sobrevivência, objetivo dominante do
Espiritismo.
*
Diminuto número de cientistas e
filósofos souberam imprimir ao conceito de causalidade o realce e profundeza
que lhe deu A. Kardec, aplicando-o ao vasto e transcendente Cosmos na sua magnificência
e esplendor divinos: "todo efeito
tem uma causa; todo efeito inteligente tem uma causa inteligente; o poder da causa inteligente está na razão
direta da grandeza do efeito produzido.”
Dentro deste postulado, os termos aparentemente
irredutíveis - Deus, o Homem e os
Universos - unificam-se implicitamente, nos conceitos correlativos de causa e
de efeito, opondo-se pela sua transcendente espiritualidade ao materialismo
dialético e a todos os monismos ateístas e agnósticos, nefastos promotores da
perversão da Humanidade.
(1) Do autor - "Da Alma
Humana" (Metapsicologia experimental) - 1950.
(2) Do autor - "Da Fraude no
Espiritismo Experimental".
*
O conceito de causalidade dentro da ciência
oficial e da filosofia científica contemporânea, mais ou menos limitado na sua ação
e duração. A sua repercussão e encadeamento é mínimo na relatividade do espaço
e do tempo. Tem hiatos, soluções de continuidade, não ultrapassando as causas
segundas. A sua profundidade e generalização não vão além da superfície dos fenômenos.
Dentro das novas ciências da alma -
o Animismo e o Espiritismo, de que o primeiro é o complemento natural do segundo
- todos os fenômenos, inerentes às suas estruturas e finalidades, são causais e
não casuais. O acaso é o biombo onde se oculta a nossa ignorância ou a má-fé.
*
O conceito da causalidade perante a ciência
moderna tem indiscutivelmente um valor analítico; mas, por outro lado, não oferece
ponto de apoio seguro e válido para a interpretação da dualidade irreversível -
Vida e forma, Espírito e matéria, Real e transitório, Permanente e efêmero. A confusão é tremenda.
Na Sabedoria antiga prevalecia a síntese,
ponto de partida para a abstração e generalização dos princípios fundamentais
dos mais transcendentes problemas espirituais.
A ciência contemporânea, roída e falsificada
por um monismo materialista e ateu, não ultrapassa os curtos limites da matéria
inerte passiva.
*
Os fenômenos supranormais - supranormais
no ponto de vista da Vida terrestre, mas normalíssimos e absolutamente necessários
e indispensáveis na atividade da vida astral e dos Mundos superiores - obtidos
neste planeta pelo método positivo da observação e da experimentação, no seu
complexo polimorfismo e transcendente finalidade, expressa na nossa evolução espiritual,
devem ser estudados dentro dum critério isento de todos os dogmas científicos,
e expurgado de todos os fanatismos religiosos.
*
É um crime de lesa-humanidade e nefando
atentado à consciência científica, alguns investigadores de talento, mas de reconhecida
má-fé, animados de prevenções mais de que suspeitas, deturparem e perverterem o
alto, redentor e progressivo significado dos fenômenos supranormais inerentes
ao Espiritismo, o mais vigoroso adversário do materialismo e do ateísmo,
precisamente os maiores inimigos da Verdade e da Evolução, no seu sentido
redentor e cristão.
*
O Espiritismo, anti-dogmático e anti-litúrgico,
ainda que respeite todas as religiões e reprove todos os fanatismos, impõe uma
Moral que se radica no coração e floresce na inteligência, tendo por fundamento
a Lei do duplo amor divino e humano, apostolizada e exemplificada por
Jesus-Cristo no "Amor do próximo".
O Amor é a essência da Vida e a alma
máter de toda a Evolução espiritual. Seguir Jesus é subir para Deus.
Lisboa,
1955.
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