Nótulas Espiritualistas - VII
Dr. Antônio J.
Freire
in Reformador (FEB) Fevereiro 1955
Pela sua pureza e estrutura
antilitúrgica e antidogmática; pela sua ação decisiva no ressurgimento espiritual
da Humanidade; pelo seu mecanismo essencialmente científico e cristão, o Espiritismo
merece uma ativa e bem orientada propaganda. É este um dever indeclinável para
os seus adeptos - que se contam mundialmente por milhões - a fim de iluminarem,
em bases científicas, as mentalidades obscurecidas pelo materialismo ateísta e
agnóstico, e, ainda, dulcificar, pela bondade e abnegação, os corações empedernidos
pelo orgulho e egoísmo, frutos venenosos da indiferença religiosa e do maligno
e antiprogressivo egocentrismo.
*
A moral espírita impõe-se como a
lógica resultante de toda a operatividade do Espiritismo, confirmando em bases científicas a Lei áurea
do amor - divino e humano - enunciada e exemplificada por N. S. Jesus-Cristo no
seu memorável e imarcescível Sermão da Montanha, que constituirá, num longínquo
futuro, o Código universal para toda a Humanidade.
*
A moral espírita assenta em duas
colunas basilares, superando o espaço e o tempo pela sua natureza divina, donde
deriva o seu caráter ecumênico, universalista: a Lei do divino amor, a Lei da
fraternidade humana, leis que dominam e impulsionam toda a Evolução no seu máximo
esplendor e integralidade. Leis que, num distante período histórico, se hão de
radicar nos corações e frutificar nas inteligências de toda a Humanidade, num
íntimo e estreito amplexo de altruísmo, base de toda a fraternidade.
*
Tanto a Lei da fraternidade como a
Lei da Solidariedade, sua complementar, são leis de resgate e de redenção, cuja
aplicação é essencialmente evolutiva, mas só compreensíveis por aqueles já
chegados a um estado de elevação espiritual. Cada uma destas leis tem um significado
próprio e uma esfera de ação determinada: a Lei de fraternidade e de natureza
divina, expressão do puro amor ao próximo; enquanto que a Lei de solidariedade
é de natureza humana, consubstanciada no mutualismo, na reciprocidade de serviços.
*
A Lei da fraternidade traduz a mesma
origem e finalidade divinas para toda a Humanidade, irmanando todas as
criaturas; sejam quais forem as suas diferenciações físicas (somáticas) ou
espirituais, unindo-as pelo afetuoso e altruísta sentimento fraternal;
entrelaçando-as pelo coração, pela afetividade, como membros duma mesma Família,
com um Pai comum - o supremo Criador. Nem vícios nem virtudes podem renegar a
mesma origem e destino da grande Família humana.
*
A Lei da solidariedade tem um
pronunciado caráter humano, algo mecanizado e mercantil. Enquanto a Lei de
fraternidade é toda natural, tecida de abnegação e altruísmo, inata no homem,
mas paralisada pelo orgulho e egoísmo, a Lei de solidariedade é artificial, imposta
não por Deus, mas por imperiosas necessidades sociais de auxílio mútuo.
Logo que o sentimento de fraternidade,
no seu alto significado espiritual, domine toda a Humanidade num surto
ascensional para Deus - o seu Criador -, a solidariedade, no seu significado
social, tornar-se-á inútil e desnecessária.
*
De fato, a Humanidade é solidária
coletivamente, tanto no Bem como no Mal, isto é, quer no sentido da divina
Evolução, lei fundamental do Cosmos, quer contrariando-a no sentido oposto e
regressivo - Eis o MAL.
Todos recebemos o fluxo e o refluxo
das ações benéficas ou maléficas dos nossos semelhantes, componentes desta
Humanidade, incluindo a repercussão de todos os seus pensamentos visíveis e invisíveis.
*
É hoje fato assente e incontroverso
a telepatia e outras modalidades telepsíquicas.
A mínima vibração mental ou
emocional propaga-se além, muito além, do círculo restrito e limitado do seu
produtor, através do éter onipresente, em que as vibrações do psiquismo humano
ultrapassam, por vezes, oceanos e continentes. A Mecânica ondulatória é uma
ciência deste século a que o Espiritismo não é estranho. Somos, pois,
solidários em todas as manifestações da atividade humana, porque todas essas
atividades, na sua variedade ao infinito, têm de partir do pensamento,
fonte germinal de todos os empreendimentos físicos, intelectuais e emocionais.
O progresso da Humanidade é a lógica
resultante da fusão e entrelaçamento dos pensamentos de toda a coletividade, de
todos os membros da Família humana, com as suas características e discriminações,
com os seus choques e contra choques, com as suas ações e reações.
Donde se conclui o dever sagrado de
vigiarmos todos os nossos pensamentos e emoções dentro da ética cristã, a fim
de não contaminarmos todos aqueles que, perto ou longe, possam receber o
influxo vibratório dos nossos vícios e degradantes paixões.
"Dize-me o que pensas,
dir-te-ei o que vales."
Lisboa,
1955.
Nota do Blog: A partir desse artigo, os textos ganham sua numeração. Não encontramos nenhuma artigo numerado e com data anterior a Fevereiro de 1955.
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