segunda-feira, 10 de abril de 2017

Nótulas Espiritualistas VII


 Nótulas Espiritualistas - VII
Dr. Antônio J. Freire
in Reformador (FEB)  Fevereiro  1955

            Pela sua pureza e estrutura antilitúrgica e antidogmática; pela sua ação decisiva no ressurgimento espiritual da Humanidade; pelo seu mecanismo essencialmente científico e cristão, o Espiritismo merece uma ativa e bem orientada propaganda. É este um dever indeclinável para os seus adeptos - que se contam mundialmente por milhões - a fim de iluminarem, em bases científicas, as mentalidades obscurecidas pelo materialismo ateísta e agnóstico, e, ainda, dulcificar, pela bondade e abnegação, os corações empedernidos pelo orgulho e egoísmo, frutos venenosos da indiferença religiosa e do maligno e antiprogressivo egocentrismo.
           
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            A moral espírita impõe-se como a lógica resultante de toda a operatividade do Espiritismo,  confirmando em bases científicas a Lei áurea do amor - divino e humano - enunciada e exemplificada por N. S. Jesus-Cristo no seu memorável e imarcescível Sermão da Montanha, que constituirá, num longínquo futuro, o Código universal para toda a Humanidade.

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            A moral espírita assenta em duas colunas basilares, superando o espaço e o tempo pela sua natureza divina, donde deriva o seu caráter ecumênico, universalista: a Lei do divino amor, a Lei da fraternidade humana, leis que dominam e impulsionam toda a Evolução no seu máximo esplendor e integralidade. Leis que, num distante período histórico, se hão de radicar nos corações e frutificar nas inteligências de toda a Humanidade, num íntimo e estreito amplexo de altruísmo, base de toda a fraternidade.
           
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            Tanto a Lei da fraternidade como a Lei da Solidariedade, sua complementar, são leis de resgate e de redenção, cuja aplicação é essencialmente evolutiva, mas só compreensíveis por aqueles já chegados a um estado de elevação espiritual. Cada uma destas leis tem um significado próprio e uma esfera de ação determinada: a Lei de fraternidade e de natureza divina, expressão do puro amor ao próximo; enquanto que a Lei de solidariedade é de natureza humana, consubstanciada no mutualismo, na reciprocidade  de serviços.

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            A Lei da fraternidade traduz a mesma origem e finalidade divinas para toda a Humanidade, irmanando todas as criaturas; sejam quais forem as suas diferenciações físicas (somáticas) ou espirituais, unindo-as pelo afetuoso e altruísta sentimento fraternal; entrelaçando-as pelo coração, pela afetividade, como membros duma mesma Família, com um Pai comum - o supremo Criador. Nem vícios nem virtudes podem renegar a mesma origem e destino da grande Família humana.

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            A Lei da solidariedade tem um pronunciado caráter humano, algo mecanizado e mercantil. Enquanto a Lei de fraternidade é toda natural, tecida de abnegação e altruísmo, inata no homem, mas paralisada pelo orgulho e egoísmo, a Lei de solidariedade é artificial, imposta não por Deus, mas por imperiosas necessidades sociais de auxílio mútuo.

            Logo que o sentimento de fraternidade, no seu alto significado espiritual, domine toda a Humanidade num surto ascensional para Deus - o seu Criador -, a solidariedade, no seu significado social, tornar-se-á inútil e desnecessária.

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            De fato, a Humanidade é solidária coletivamente, tanto no Bem como no Mal, isto é, quer no sentido da divina Evolução, lei fundamental do Cosmos, quer contrariando-a no sentido oposto e regressivo - Eis o MAL.

            Todos recebemos o fluxo e o refluxo das ações benéficas ou maléficas dos nossos semelhantes, componentes desta Humanidade, incluindo a repercussão de todos os seus pensamentos visíveis e invisíveis.

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            É hoje fato assente e incontroverso a telepatia e outras modalidades telepsíquicas.

            A mínima vibração mental ou emocional propaga-se além, muito além, do círculo restrito e limitado do seu produtor, através do éter onipresente, em que as vibrações do psiquismo humano ultrapassam, por vezes, oceanos e continentes. A Mecânica ondulatória é uma ciência deste século a que o Espiritismo não é estranho. Somos, pois, solidários em todas as manifestações da atividade humana, porque todas essas atividades, na sua variedade ao infinito, têm de partir do pensamento, fonte germinal de todos os empreendimentos físicos, intelectuais e emocionais.

            O progresso da Humanidade é a lógica resultante da fusão e entrelaçamento dos pensamentos de toda a coletividade, de todos os membros da Família humana, com as suas características e discriminações, com os seus choques e contra choques, com as suas ações e reações.

            Donde se conclui o dever sagrado de vigiarmos todos os nossos pensamentos e emoções dentro da ética cristã, a fim de não contaminarmos todos aqueles que, perto ou longe, possam receber o influxo vibratório dos nossos vícios e degradantes paixões.
            "Dize-me o que pensas, dir-te-ei o que vales."

                                                                                                                                 Lisboa, 1955.

Nota do Blog: A partir desse artigo, os textos ganham sua numeração. Não encontramos nenhuma artigo numerado e com data anterior a Fevereiro de 1955. 

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