Reexame e Retomada
Redação
Reformador (FEB) Dezembro 1970
As necessidades humanas e as
conveniências mundanas criaram as comemorações festivas do Natal. Resta
aproveitá-las para recordar uma vez mais a figura majestosa do Nazareno.
Dezembro sempre sugere, no mundo inteiro, um reexame de consciência. Se a
refrega cotidiana de todos os outros rotineiros meses não ofereceu ao homem um
intervalo, sequer, para a introspecção corajosa, sincera, - no último mês do
ano não há por que desprezar a derradeira oportunidade, que, mesmo fugaz, é
sempre benfazente.
Com efeito, as comemorações natalinas
propiciam essa atitude interior. Por mais não quiséssemos, a cobertura do
rádio, da televisão e da imprensa, o incremento da atividade comercial, a
divulgação das mensagens oficiais, os cumprimentos, o intercâmbio postal, além
de outras tantas costumeiras manifestações, acabam por envolver-nos a todos num
mínimo de atmosfera de cristandade, que, ao final, nos empurra para o amor,
para o bem, para o perdão, para a confraternização. O Cristo - paradigma de todas
as virtudes - amplia-se em nossa alma e somos estimulados a novo esforço para
senti-lo melhor, compreendê-lo outra vez, seguir o caminho por ele aberto desde a manjedoura, em sangue e em dor, na jangal espessa da
ingratidão e do egoísmo humanos. O homem anseia, então, mercê dos extremos da
fé ou da covardia, por aproximar o Cristo mais junto de si, e o seu coração
parece que deseja realmente pulsar com o do Senhor, na harmonia das belezas
divinas que enlevam a nossa meditação.
É bom que assim seja, porque nisso -
apesar das frivolidades de algumas dessas manifestações - alteamos o nosso
padrão vibratório e conseguimos identificar melhor a Doutrina do Mestre (a mesma
de Kardec), escoimada das distorções a que, às vezes, pretensiosamente, a
exegese especiosa se abalança.
Podemos então medir a extensão da
filosofia crística, preservada na sua pureza primitiva e eterna das enxertias a
que os menos avisados do moderno revisionismo se propõem, situando-se
inadvertidamente, embora alunos insipientes, acima do próprio Mestre. Por isso
mesmo, “obscurum per obscuris”(obscuridade do
escuro)
lobrigam nuanças extremadas numa Doutrina que, entretanto, será sempre de renúncia,
disciplina moral, tolerância e, acima de tudo, humildade diante das injunções
de conjunturas temporais. Doutrina por excelência individualista, que acena
para a salvação na promessa dos que se reformam intimamente, a fim de que, só
depois, seja alcançada a renovação social, como corolário do processo inalienável
da evolução de cada Espírito.
Jesus, que podia tomá-lo não quis o
poder. Em nenhum instante disputou-o. E quando a ocasião se lhe afigura
própria, deita a lição judiciosa: “A César o que é de César; a Deus o que é de Deus”.
Doutrina de não-violência, de passividade construtiva, de dinamismo ordenado -
assegura o Reino dos Céus àquele que Renunciar ao Reino da Terra. Como reiterou
o Espiritismo.
O Natal é sempre um tempo de paz no
calendário humano, para o reexame de consciência e a retomada de posição a que
a necessidade de evoluir nos concita. Meditemos nisso, buscando o Cristo em
cada minuto de vida terrena, ao menos neste novo dezembro que passa e que pode
ser o derradeiro para cada um de nós. Janeiro talvez já seja tarde.
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