sábado, 31 de dezembro de 2016

Lendo e Comentando (extratos)


Lendo e Comentando (extratos) 
por Hermínio Miranda
Reformador (FEB) Janeiro 1970

            No final da década de 60 e no início da de 70, o saudoso Hermínio Miranda dedicou parte de seu tempo ao acompanhamento do movimento espírita na Inglaterra. Seus comentários sobre artigos publicados na  revista “Two Worlds” e livros que por lá foram lançados com temática assemelhada ao Espiritismo são simplesmente encantadores. Selecionamos alguns para nossa instrução:



             A   “O nosso desenvolvimento espiritual é produto do nosso próprio esforço, dentro do contexto da lei de causa e efeito.”


            B   “...o universo é regido pela justiça divina. Não importa quem seja o indivíduo ou qual seja a sua posição no mundo, ele está sujeito à operação das mesmas leis naturais como qualquer outra pessoa. Não há exceções, nem maneiras de enganar ou fugir à sequência imutável da lei de causa e efeito. Se isso fosse possível, a justiça divina seria inferior à que foi elaborada pelos homens. Alguns pensam, em momentos de crise, que podem fazer uma barganha com a Divindade. Tem sido sugerido com toda a seriedade que o arrependimento no leito da morte ou a recitação de alguma crença teológica tem poderes para inutilizar o inviolável princípio de causa e efeito e absolver a responsabilidade pessoal.
            É bom que, de vez em quando, nos recordemos desses princípios. Para isso, nada melhor que vê-los expressos em palavras que sirvam de alimento à nossa meditação. Ainda hoje, decorridos tantos séculos e após tantas conquistas espirituais de notável significado, há quem julgue poder ‘negociar’ as coisas que deseja com Deus, num tipo de barganha impossível, como se Deus fosse simples dono de uma barraca de feira. Outros propõem negócios semelhantes aos Espíritos, mediante oferendas e promessas, muitas vezes visando a conseguir favores especiais legítimos ou lamentavelmente ilícitos e inconfessáveis. Todas essas tentativas e manobras vão para o nosso ‘fichário’ espiritual, onde se registram os atos de nossa responsabilidade, a fim de que no futuro sejam retificados os erros cometidos. “

            C   “A prece não é uma barganha; é nela que vamos encontrar os recursos de que tantas vezes precisamos para atravessar as crises surgidas de nossas imperfeições. Orar é uma atitude de defesa espiritual, na qual buscamos conforto, proteção e ajuda. Nossos mentores espirituais conhecem nossas deficiências e necessidades melhor do que nós próprios e somente podem ajudar-nos naquilo que não contrarie dispositivos da lei divina, nem interfira com o nosso programa de trabalho ou com o exercício do nosso livre-arbítrio. Não podem, por isso, prestar-nos favores ilícitos nem fazer por nós aquilo que nos compete realizar. Por isso há preces que, aparentemente, não são atendidas. Somos ajudados na medida das nossas boas intenções, dos nossos méritos e, principalmente, das nossas necessidades, isto é, em concordância com o nosso programa de trabalho evolutivo.”


         D    “...é bom sabermos que a nossa atividade espiritual e o esforço que fazemos, no sentido de nos renovarmos interiormente para ajudar aqueles que nos buscam, são levados em conta e nos credenciam a uma ajuda por parte dos nossos amigos espirituais. Muitas vezes somos ajudados de maneira decisiva em momentos de enorme dificuldade e nem ficamos sabendo da extensão do perigo que nos envolveu. Não se trata aqui, necessariamente, de perigo de natureza física que pudesse resultar em desencarnação. Os Espíritos sempre nos advertem de que a morte não é nenhuma tragédia e qualquer espírita que tenha estudado um pouco a doutrina sabe disso. Não estamos aqui em busca da imortalidade física.”


            E   “Creio que com muito maior frequência nos envolvemos inadvertidamente em perigos de natureza moral, correndo riscos seríssimos que nos colocam diante de perspectivas aterradoras, pois não podemos escapar da lei de causa e efeito. Algumas vezes, graças à nossa vinculação com o mundo espiritual e aos nossos esforços de aperfeiçoamento, somos merecedores da ajuda espiritual. De outras vezes, porém, ... a despeito de todos os pequenos méritos que já conseguimos juntar, temos de enfrentar sozinhos as situações. Nesse caso, os nossos amigos da espiritualidade nos assistem e nos acompanham com o seu amor, mas não podem interferir, pois a prova é nossa e a nós compete enfrentá-la.
            Tive disso pelo menos uma experiência pessoal. Devo ter tido outras, como todos nós, da qual nem tomei conhecimento consciente. Cabia-me atravessar um período algo difícil, em que um perigo considerável - correu todo o meu programa espiritual. Somente depois de vencida a crise, meus amigos superiores me disseram o quanto estiveram preocupados por mim, sem poderem interferir, pois o problema era meu e eu tinha de enfrentá-lo com as minhas forças. Confiavam e esperavam, mas temiam pela minha sorte. Graças ao bom Deus, correu tudo bem e, ao que sei, fui aprovado no teste. Provavelmente inúmeras vezes, no decorrer da nossa existência, causamos dessas aflições aos amigos espirituais que nos assistem. É bom que nos mantenhamos bem vigilantes para não decepcioná-los e não criar para nós próprios dificuldades que levarão talvez séculos para se ajustarem.”

            F   “Embora ainda estejamos todos à grande distância da perfeição, são muitos os que nos buscam com seus problemas e perplexidades porque no fundo sabem que nós temos algumas respostas e já nos foi dada uma fatia considerável do conhecimento espiritual, o suficiente para sustentar o nosso próprio espírito nas dores da sua escalada. Sobra ainda - e muito - para distribuir entre aqueles que sabem menos do que nós. Mesmo que desejássemos, não seria possível esconder a luz que brilha em nossa doutrina. Se somos espíritas convictos e procuramos executar com dignidade as nossas tarefas espirituais, transparecerá nos nossos gestos e atitudes a serenidade que nos trouxeram os ensinamentos dos irmãos superiores. Só resta um apelo que fazemos a nós próprios e deixamos como lembrete àqueles que nos ouvem: sejamos dignos do nosso mandato espiritual, testemunhando a verdade que já conseguimos apreender. Ao mesmo tempo, sejamos humildes naquilo que fizermos porque não temos ainda a estatura da perfeição espiritual. E quando a tivermos, seremos ainda mais humildes ..." 

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