terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Transformações



              A inquietação que nos agita a alma, nestes momentos decisivos de transição espiritual, é um dos sinais dos tempos novos, marcando o compasso da grande evolução da Humanidade.

            Cada criatura - em todas as latitudes mentais - sente no imo d’alma essa vaga intuição de que o mundo humano caminha inexoravelmente para outros horizontes, ao encontro de outros panoramas.

            A intuição, porém, algumas vezes é deformada no mundo das emoções individuais, gerando, então, essa multiplicidade de almas angustiadas que se desnorteiam, desejando algo diferente - incapazes, todavia, de definir para si mesmas o que realmente almejam.

            O Evangelho, no centro desses embates, é aquele roteiro único e seguro, o caminho da nova vida.

            O homem que não se banha na luz do Cristo, nele acolhendo o inovador da existência, sofre e chora, qual nau sem rumo ao sabor das tempestades.

            Por mais se atirem contra o Evangelho os filhos do negativismo, a sua refrega verbal não chegará jamais a adulterar o divino determinismo da evolução.

            Milhões de braços, unidos com o propósito de sustar o movimento do Universo, não impediriam o astro maior de ressurgir no horizonte, para madrugadas de luz sobre os campos que a loucura bélica lava de sangue.

            Inevitável o novo dia do Cristianismo.

            Ele renasce de alma em alma; de criaturas simples a criaturas simples, aprestando o próprio coração, para que aí se instale o Reino de Deus.

            Empenhemo-nos, pois, ardorosamente, em todos os trabalhos da seara do Senhor, a fim de abreviarmos os dias da amargura que campeia sobre a Terra.

            Corporifiquemos o mundo de amanhã, no mundo de hoje, através da caridade efetiva em todos os lugares em que nos encontremos. Se o mundo dementado roga por vida nova, a nova vida que já existe em nós deverá externar-se a benefício de muitos.

Transformações
J. Alexandre

Reformador (FEB) Novembro 1972 

Reflexões no caminho 2



Nas áreas de causa e efeito,
A vida opera veloz,
Bem ou mal que pratiquemos
Reverterão sobre nós.

Reflexões no Caminho
Plínio Motta por Chico Xavier

Reformador (FEB) Julho 1971

Reflexões no caminho



Cobiça, ambição, domínio...
Lembra esta nota vulgar:
Quem enche demais a boca
Não consegue mastigar.

Reflexões no Caminho
Plínio Motta por Chico Xavier

Reformador (FEB) Julho 1971

Pergunta no ar


          Tempos depois do regresso de Jesus às Esferas Superiores, transformara-se Pedro, o apóstolo, em Jerusalém, no esteio firme da causa evangélica. Todos os dias, a faina difícil. Os necessitados de todas as procedências e, com os necessitados, os perseguidores, os adversários, os donos do sarcasmo, os campeões da galhofa e quantos compunham a multidão de obsessos e infelizes.

            Simão, ora brando, ora enérgico, servia sempre.

            A feição humana do amigo de Jesus era, porém, examinada, sem qualquer compaixão, pelos críticos intransigentes.

            Era Pedro fraco ou forte, vaidoso ou humilde, compreensivo ou intolerante?

            Nesse clima do diz-que-diz, achava-se Eliaquim, filho de Josias, à procura de ervilhas, em pequeno mercado de verduras, quando se viu à frente de Natan, fariseu letrado e rico da cidade, que passou a inquiri-lo de maneira direta:

            - Então, é você agora um cliente daqueles que seguem o Messias?

            - Sim - confirmou o interpelado. - Vi-me doente de um dia para outro, e, além de tudo, despojado de todos os meus bens pela ambição de parentes ingratos... Em terrível penúria, recorri a Simão, que me acolheu...

            - Simão Pedro?

            - Ele mesmo.

            - E, porventura, você se sente tranquilo?

            - Como não? Tenho hoje, com ele, um novo lar.

            Natan pousou a destra no ombro do amigo e murmurou:

            - Eliaquim, francamente não entendo a razão pela qual tantos compatriotas se deixam embair pelas manhas do pescador que se faz de santo. Tenho lido e ouvido algo, acerca do Profeta Nazareno, e não lhe regateio admiração. Mas... Pedro? Um brutamontes mascarado de mestre? Descansei por várias semanas na Galileia, junto do lago, em cujas bordas andou Jesus ensinando a nova doutrina...

            E, em torno de Simão, apenas recolhi apontamentos escabrosos. É um poço de prepotência e brutalidade, na forma de um homem. Contam-se dele coisas incríveis. Não se trata unicamente da negação em que se fez conhecido por traidor do próprio Jesus, a quem diz reverenciar. Dizem que foi sempre um modelo completo de crueldade e ingratidão. Mau filho, mau amigo. Alguns companheiros, que pude ouvir mais intimamente, declaram-no viciado e vaidoso. Além de tudo isso, é notório em Jerusalém que ele não tem cultura alguma. Arrasa com as nossas tradições e ensinamentos, quando se expõe a falar em público. O homem abre a boca e o desastre aparece. Confunde Isaías com Jeremias, atribui a David palavras de Moisés. Israelitas distintos, recém-chegados da Grécia, que se puseram a escutá-lo, por respeito a Jesus, retiraram-se daqui escandalizados, segundo me disseram. Que fazem vocês com um ferrabrás dessa ordem? Acaso, não buscam saber se Pedro possui moral bastante e educação suficiente para tratar dos encargos de que ousadamente se ocupa?

            E porque Eliaquim emudecesse, respeitoso, Natan insistiu:

            - Diga-me, por favor, qual é a sua própria opinião?

            O interpelado fitou o poderoso fariseu, demoradamente, e, depois de alguns instantes de expectação, respondeu sem alterar-se:

            - Natan, é verdade que Simão é um homem rude, com muitos defeitos, apesar dos tesouros de amor e serviço que derrama do coração, mas... e você, meu amigo? Você que possui milhares de livros e estudou ao pé dos sábios de Jerusalém e de Alexandria, você que conhece Roma e Atenas, talvez palmo a palmo, você que é proprietário de fazendas e terras, casas e rebanhos, você que pode ser virtuoso, provavelmente porque não tem nenhuma de nossas necessidades materiais, que faz você, por amor a Deus, em auxílio ao próximo?

            Natan fixou um sorriso amarelo, deu de ombros, lançou saliva na terra seca, ergueu a cabeça altiva e afastou-se, enquanto a pergunta ficou no ar.

 Pergunta no ar
Irmão X
por Chico Xavier

Reformador (FEB) Julho 1970

A arca da aliança e o Testemunho do Cristo

A Epístola aos Hebreus expressa a fundamentada e profunda preocupação de Paulo pelos irmãos de raça.

Esclarecem os estudiosos que, até ao final do século IV, negou-lhe autoria paulina a Igreja do Ocidente, diferentemente daquela Instituição do Oriente que, se lhe aceitou a autoria, evocou estranhezas no tocante à sua forma literária. Para que se entenda o mecanismo epistolar, na mente de Paulo, não se pode prescindir da consideração de que todas elas são fruto da inspiração do Cristo, através da intermediação de Estevão. Neste sentido, assim como a aferição de valores espirituais por medidas humanas se faz inteiramente falha, torna-se impossível a só avaliação das indefiníveis possibilidades de realização de um Espírito que, pelo assentimento integral, se coloca nas mãos do Cristo, fazendo-se sustentáculo absoluto do Cristianismo, por aquelas épocas, incipiente. Se se estranha a beleza da conformação literária da Carta aos Hebreus, por que não se estranhar, igualmente, a impressionante acuidade que jorra da 1ª aos Coríntios? Ou a base filosófica sobre humana da Epístola aos Gálatas? E, ainda, a transcendência da conceituação da aos Filipenses?

O escrito aos hebreus apresenta finalidade muito específica: sensibilizar os prisioneiros da letra, despertar da modorra dos séculos os adeptos formais da Antiga Aliança. Por isso é tão formal, referindo-se tão constantemente às fórmulas judaizantes, até desembocar na Aliança com Cristo.

O termo aliança corresponde a berith, do hebraico, que significava, a grosso modo, o testamento, tradução que os estudiosos vinculam, talvez, a Tertuliano, e referente à palavra grega dithêkê, utilizada pelos Setenta. (1)

(1) Dizem as tradições que o Rei Ptolomeu II requisitara ao Grande Sacerdote de Israel o envio de uma comissão de sábios com a tarefa de efetuar a versão do livro sagrado. 72 anciãos, encerrados em celas, trabalhando durante 72 dias, teriam terminado 72 traduções coincidentes. Desse episódio, classificado de apócrifo pela maioria esmagadora de peritos, derivou a estória dos 70, número que corresponde a uma cifra arredondada.

A primeira Aliança é a primeira promessa de fidelidade absoluta que os hebreus fazem a Jeová. O significado do 9º capítulo da Epístola aos Hebreus foge à percepção da grande maioria. A Bíblia de Jerusalém apresenta-nos a seguinte ementa: "Cristo penetra no Santuário Celestial", ao passo que a tradução de João Ferreira de Almeida, estranhamente, aponta: "Os ritos, ofertas e sacrifícios moisaicos eram imperfeitos e ineficazes." Vejamos, para boa compreensão do episódio, o que significava para os judeus a aliança, a arca, o altar, o véu, etc...

Desde o Êxodo, tudo fora previsto. "Disse também Deus a Moisés: Sobe ao Senhor, tu e Arão, e Nadabe, e Abiú, e setenta dos anciãos de Israel; e adorai de longe. (...) Moisés escreveu todas as palavras do Senhor e, tendo-se levantado pela manhã de madrugada, erigiu um altar ao pé do monte, e doze colunas, segundo as doze tribos de Israel. ( ... ) E tomou o livro da aliança, e o leu ao povo; e eles disseram: Tudo o que falou o Senhor faremos, e obedeceremos. Então tomou Moisés aquele sangue (o sangue das oferendas) e o aspergiu sobre o povo, e disse: Eis aqui o sangue da aliança que o Senhor fez convosco a respeito de todas estas palavras." (Êxodo, XXIV: 1 a 11.) O parêntesis é nosso.

Selara o povo um compromisso com o Senhor, de acordo com as rígidas fórmulas do Antigo Testamento. Pouco depois, novamente, sobe Moisés ao monte para receber os mandamentos. Estando envolto pela nuvem do Senhor, eis que lhe pede Deus oferta: ouro, prata, bronze, estofo azul, púrpura e carmesim, linho fino, pêlos de cabra, peles de carneiro tingidas de vermelho, peles de animais marinhos, madeira de acácia, azeite para a luz, especiarias para o óleo de unção e para o incenso aromático, pedras de ônix, pedras de engaste. Prometeu ainda Deus que daria a Moisés o modelo do Santuário, e que, tal qual Ele o dissesse, assim Moisés o faria. A seguir, menciona o Espírito uma arca de madeira de acácia, de dois côvados e meio de comprimento, e um côvado e meio, respectivamente de largura e altura (o côvado, medida altamente variável, corresponde, aproximadamente, à distância que separa o cotovelo da extremidade do dedo médio). A seguir, menciona o Espírito que a arca deverá ser coberta de ouro puro, por dentro e por fora, com uma bordadura de ouro ao redor. Para que fossem colocadas nos quatro cantos da arca, Moisés fundiria quatro argolas também de ouro, além de elaborar varais de madeira de acácia, cobertos de ouro, com a finalidade de, uma vez passando as argolas, de duas a duas, se efetuar o transporte da arca. A pormenorização, dando um sentido altamente místico, envolto em brumas, ao objeto, chega ao ápice, quando diz o Espírito comunicante: "Os varais ficarão nas argolas da arca, não se tirarão dela." Tudo previsto, como ficou dito. Nesse comenos, arremata a entidade: "E porás na arca o Testemunho, que eu te darei."

Prossigamos, observando a meticulosa realização do tabernáculo e da arca, para que, ao final, possamos avaliar do significado da penetração de Jesus, em seu pensamento, nesse santuário, fechado eternamente ao profano.

O Espírito que se comunica com Moisés necessita, como se vê, chocar diretamente as mentalidades embrutecidas da massa. Terminadas as disposições sobre a arca, diz a Moisés que faça um propiciatório de ouro puro, de dois côvados e meio de comprimento, e um côvado e meio de largura, além de dois querubins de ouro batido, para serem colocados nas duas extremidades, tudo formando uma só peça (atenção aos pormenores, que valerão, ao tempo de Paulo, por uma comunicação divina de tradição inderrogável, praticamente). As faces dos anjos estariam voltadas uma para a outra, e as asas estendidas sobre o propiciatório, que, por sua vez, seria colocado sobre a arca. E, novamente, menciona o Espírito o Testemunho, para ser encerrado na arca. Seria de cima do propiciatório que o Senhor falaria com Moisés "acerca de tudo o que eu te ordenar para os filhos de Israel". Prosseguindo, o legislador hebreu ouve o pedido de uma mesa de madeira de acácia, com o comprimento de dois côvados, a largura de um, e a altura de um e meio,
também a ser coberta de ouro puro, com uma bordadura de ouro, com moldura, de largura de quatro dedos, identicamente com quatro argolas de ouro, a serem colocadas nos cantos que estão em seus pés, pelas quais passarão os já mencionados varais. Ainda de ouro puro serão feitos os pratos, recipientes para incenso, as taças e galhetas, sendo que os pães da proposição estariam eternamente sobre a mesa. Não cessa aí o peso de todo um ritual, e, já neste ponto, podemos imaginar por que motivo não foi a Epístola aos hebreus escrita nos mesmos moldes das aos Tessalonicenses, por exemplo, ou a Timóteo! Como poderia Paulo se referir à perpétua aliança com Jesus, senão se utilizando dos meios adequados à penetração nas mentes dogmáticas e ortodoxas dos hebreus, condicionados há séculos e séculos aos atavios da forma?..

Mas, não cessam aí, dizíamos, as prescrições ao protegido de Termutis. Chegamos ao momento do candelabro: ouro batido e puro, de uma peça inteiriça, do pedestal às flores, com seis hásteas de cada lado, projetando-se de seu tronco, em cada uma das quais haverá três cálices com formato de amêndoa, uma maçaneta e uma flor. Especifica a entidade comunicante que, de igual modo, serão de ouro puro as maçanetas e as flores, havendo ainda a necessidade de sete lâmpadas, para iluminação: espevitadeiras e apagadores, desnecessário quase dizer, de ouro puro. E, impondo o peso da revelação, arremata a entidade espiritual: "Vê, pois, que tudo faças segundo o modelo que te foi mostrado no monte."

A descrição do tabernáculo, esclarecem os elaboradores da Bíblia de Jerusalém,."...se bem que muito minuciosa, não nos é inteiramente inteligível, em razão dos termos técnicos em que se estrutura. Observa-se uma série de tapetes que formam caminho para o recinto, de pêlo de cabra, e cobertas pelos toldos de peles de carneiro tintas de vermelho, aos quais alude o versículo 14, do capítulo 26, tambem de Êxodo." As cortinas serão em número de 11, com 30 côvados de comprimento, e largura de 4 côvados: todas as peças com idêntica medida. A sexta cortina ficará dobrada na parte dianteira da tenda.

Prossegue assim a orientação do Espírito, em importância crescente, evocando uma demarcação rígida de tradição sufocante, irretratável, incontestável, até que alcança o célebre véu do templo, que se romperia quando da crucificação de Jesus:

"Farás também um véu de estofo azul, púrpura e carmesim, e de linho fino retorcido; com querubins o farás de obra de artista. Suspendê-lo-ás sobre quatro colunas de madeira de acácia, cobertas de ouro; os seus colchetes serão de ouro, sobre quatro bases de prata. Pendurarás o véu debaixo dos colchetes, e trarás para lá a arca do testemunho, para dentro do véu; o véu vos fará separação entre o Santo Lugar e o Santo dos Santos." Chegamos ao cerne do problema.

Semelhante véu existia tanto no Templo de Salomão, quanto no de Herodes, que, aliás, foi o templo que Jesus conheceu, e não o de Salomão, do qual só restavam ruínas, dentre elas o pórtico diante do qual passeava, na época da Festa da Dedicação, conforme narra João, X: 22 a 42.

No templo dos judeus, a hierarquia cerrada ia apresentando empecilhos para que os não graduados se detivessem à medida que se adentravam na construção. Assim, o povo parava num pátio, e os "iniciados" prosseguiam até onde lhes permitisse a própria graduação. O Lugar Santo era separado já por um véu; o Santo dos Santos, a morada de Jeová, escondia a arca da aliança, cuja elaboração estudamos, nos tempos de Moisés, contendo o Testemunho: as tábuas da Lei de Deus! Escondia essa arca o célebre véu, denominado parroqueth, composto dos elementos que, igualmente, já examinamos. Somente o sumo-sacerdote poderia penetrar a morada de Jeová e contemplar a arca da aliança, e, mesmo assim, uma vez por ano, no grande dia da Expiação, que era o dia do rito para que se desfizessem todas as impurezas. A proibição era rude e severa: ninguém, além do sumo-sacerdote, e no dia indicado, poderia penetrar o Santo dos Santos.

De volta à Epístola aos Hebreus: "Cristo penetra o Santuário Celestial"... Que notável significado o desta frase paulina! Jesus no Santuário Celestial implica em derrocada de todo o obscurantismo, de todo o império da letra! Aquele que viera aperfeiçoar a Lei (o termo grego corresponde a aperfeiçoar, e não a cumprir, uma vez que Jesus não poderia estar submetido a quaisquer profetas... ) chegara realmente para vencer, e se instalara, desmistificando a pretensa santidade das coisas da Terra, que tiveram seu império no tempo adequado!

Já no momento em que o Cristo expira na cruz o véu do templo se rasga de cima a baixo! E o véu que se rasgou foi o intocável véu parroqueth, em que ninguém colocaria a mão, sob pena de morte... o véu que era respeitado por toda a comunidade, carregado da impressionante tradição dos tempos bíblicos, no deserto, após a saída do Egito! Foi no Santo dos Santos, na morada de Jeová, que o próprio Jeová deu o sinal de sua presença nobremente indignada, rompendo o véu que se constituíra sob sua inspiração, no alto do monte Horebe! Já teremos pensado na significação desse evento?.. Acaso já nos ocorreu que a surpresa de Zacarias deveu-se também ao fato de que ele encontrara um ser angélico, mas um ser, dentro desse recinto sacratíssimo para os judeus, demonstrando ao homem falível que aquele que nasceria provinha de Deus?

Já nos passou pela mente, acaso, o lado vivo da cruz e a faceta imperecível do túmulo?.. Todos os objetos são passíveis de múltiplas interpretações, na razão direta das disposições psicológicas dos indivíduos. Cruz e Túmulo... Para a maioria, duas imagens que evocam fases negativas da realização do ser. A cruz, símbolo, além das adaptações deformativas, oriundas das correntes dos inimigos da luz, de punição e luto. O túmulo, evocando as cenas de funeral e perda.

Existem os que, de modo grotesco, dedicam-se a explorar a credulidade humana, interpretando desarvoradamente o surgimento místico de tais imagens no delicado mecanismo do sonho. Além da estratificação, no mecanismo desencarnatório, ao qual já se encontra condicionado o ritmo perispiritual, cabe ressaltar a presença indisfarçável da problemática temporal nas dificuldades quotidianas. Ninguém nega a própria realidade, se não exercita a perseverança através da reforma interior. Em razão disso, o Consolador é a chave da libertação do homem, o romper de todos os véus, conduzindo a sociedade à libertação das correntes do carma coletivo.

Considerando a manjedoura como a expressão primeira da grandeza humilde do Justo, é de se analisar os dois momentos de clímax na História do Cristianismo, à luz do Espiritismo. Cruz e túmulo segundo o Espiritismo. Assim como Paulo, faz-se ainda necessário adaptar aos hebreus modernos a realidade maior, sem que se fuja, contudo, à Verdade.

Para a sociedade crística, a crucificação nada foi senão o atestado da falência da doutrina pregada pelo Modelo. O grito de um dos ladrões entre os quais se elevou o Mestre impôs às mentalidades incautas a falsa impressão de abandono. O Modelo fracassara, para o humano imediatismo... e, no entanto, permanecera vivo no coração dos muitos que, por Ele, uma expressão morta, no entendimento de alguns, se viram envolvidos pelas patas dos leões da Numídia, nos circos sanguinários de Roma!

Afeita às incoerências, a massa se agita, e os "espíritos fortes" aproveitam as fraquezas alheias para instilar veneno entre o martírio moral dos que se deserdaram. Logo a seguir, ensombra-Ihes os corações o negror amarelado da tormenta... a claridade dos relâmpagos parece desejosa de imprimir nas retinas humanas toda a dimensão da obra amaldiçoada que o mundo criou... o estrondo é uno... a voz dos elementos retira ao ser humano atônito, apavorado, os escombros de suas quimeras... Nunca mais nos esquecemos da cruz. O véu se rompe... rompem-se as ilusões humanas: crise do homem na manifestação de Deus. Impunemente se rasgou a cobertura da morada de Jeová... "O poder que deténs, só o tens porque Meu Pai te o concedeu..."

Deus, porém, não deseja a morte do ímpio, mas que ele se salve: a cruz de ignomínia transformou-se em símbolo de redenção, perspectiva nova de calmaria, após a tempestade. O túmulo. Lacra-se-lhe a entrada, fechada com a enorme pedra. A efígie de César se estampa na matéria em estado de plasticidade. Ninguém poderia romper o sinal: a insígnia do soberano de Roma era, como o véu, inviolável. No entanto, ele se parte, impunemente, e o templo se reconstitui em três dias! O Senhor não estivera preso na gruta, por três dias; mas, o homem ainda hoje permanece enterrado no remorso.

O túmulo, segundo o Espiritismo. O Espiritismo, segundo a lição do túmulo sagrado! Muitos pretenderam libertar o Santo Sepulcro mediante a espada, mas a libertação de nosso passado só se fará mediante o desimpedimento de nosso coração. Quando nos esquecermos de nós, Jesus terá ressuscitado em nosso íntimo, o véu ter-se-á rompido, com estrondo, e terá sido sacramentada a verdadeira aliança com o Céu. A arca é o nosso coração. O testemunho é a fé em Deus.

O testemunho do Cristo é a fé que depositamos em seu exemplo de confiança imperecível: confiança na Providência Divina, confiança na confiança dos pobres de espírito, confiança nas boas disposições dos homens em geral, confiança absoluta no
Amor Imperecível com que Ele alimentou a Terra. Não importa se exaltem ânimos farisaicos e se digladiem feras, brutalmente. A evolução é profundamente lenta... Uma existência de 60 ou 70 ou 80 anos talvez nem seja um milímetro diante do que resta percorrer. Só a confiança sustenta, só a Fé nutre.

Inconcebível, por outro lado, será pensarmos em testemunhos de segundos ou minutos: a reescalada do Espírito é uma epopéia regada a intenso drama. Ninguém se eleva às hierarquias do Espírito por simples querer: é preciso ratificar a aliança, expandir a força do Amor, habilitar-se ao quinhão hereditário, com as realizações da Moral exteriorizando o estado ético, para que surja a Ética do Estado e, finalmente, o entendimento franco entre as Nações. Nenhuma aliança com o Senhor, entretanto, se estabelece em quotas desproporcionais, na base das tiradas de "esperteza". A aliança de que tratamos só se ratificará quando dermos testemunho do Mandatário investido de amplos poderes para elaborá-la e nela aceitar-nos, segundo nossas atitudes. Abordando problema de estreita vinculação com o novo posicionamento do homem-espírito, Albert Schweitzer escreveu:       

"Mentes engenhosas em botas-de-sete-léguas disparatam em torno da História da Civilização, e tentam fazer-nos crer que a civilização seja algo que cresça e floresça espontaneamente em certos povos, em determinado tempo, e depois murcha,
inevitavelmente, de modo que sempre novos povos, com novas civilizações, devam substituir aqueles que se esgotaram. Quando esses tais são intimados a provar sua teoria, para dizer-nos quais os povos destinados a ser nossos herdeiros, vêem-se em embaraços. Não existem, de fato, povos aos quais semelhante tarefa possa ser confiada, nem remotamente. Todos os povos da Terra sentiram grandemente a influência, tanto da nossa civilização quanto da falta dela, de maneira que todos, mais ou menos, participam do nosso destino. Em nenhum deles se encontram pensamentos capazes de guiar a qualquer movimento cultural original de importância.
"Voltemos as costas ao brilho intelectual e a interessantes exames da História da Civilização, e lidemos realisticamente com o problema da nossa civilização em perigo... Pelo entusiasmo em nosso progresso no conhecimento e capacidade, chegamos a conclusões erradas no tocante à verdadeira natureza da civilização. Damos excessivo valor às conquistas materiais, e já não estamos suficientemente conscientes da significação do que é mental e espiritual. Agora os feitos estão diante de nós, advertindo-nos de que devemos entrar em nós. Em termos terrivelmente severos estão nos dizendo que uma civilização que se desenvolve apenas no plano material e não proporcionalmente no plano mental e espiritual, é como um navio com o leme avariado, que não mais obedece ao comando, e se precipita para a catástrofe." ("O Profeta das Selvas", de Hermann Hagedorn, Fund. Alvorada, 2.a ed., páginas 170/1.)

Sim, não há povos destinados a ser nossos herdeiros: os que transitam pela História são os mesmos que se reúnem, numa outra fase histórica, para retomar a tarefa interrompida antanho. Foi exatamente o que se deu com a Palestina: transplantada a árvore do Evangelho, em bela figura de linguagem de que os Espíritos lançaram mão para definir um somatório de situações, grande parcela dos antigos judeus e fariseus, desperta para a Verdade, dá as mãos e ratifica a aliança com Deus, testemunhando Jesus.

Os homens, esquecendo-se da simplicidade do Cristo, ocultaram-se em torres de marfim e romperam a aliança. "Durante séculos - diz Schweitzer - a Cristandade entesourou os grandes mandamentos de amor e misericórdia como verdade tradicional, sem ver neles razão para combater a escravidão, a queima de feiticeiras, a tortura, e tantas outras atrocidades antigas e medievais." É chegado momento de ampliar a noção da ética, para que obscurantismo seja votado à escuridão que lhe pertencerá, até que dê campo ao Amor, testemunho do Cristo, para a aliança com a Luz: e onde a Luz se fizer não mais haverá escuridão! Incrível que Deus haja dito FIAT LUX, e a luz se tenha feito, e os homens a tenham renegado! ... O Universo é Luz... Não se compreende que o homem vote a retina do Espírito às trevas morais. Tudo o que o dogma erigiu através dos séculos, a própria materialização da arca da aliança, nos últimos tempos um mero símbolo cercado de sofreguidão e maldade, foi esboroado no momento em que o Senhor expirou ... Tantos séculos de "tradição" indo por terra num singelo minuto! Será que já pensamos nesse contraste chocante entre Deus e o homem que se julga superior a Deus?..

Se Paulo escreveu aos hebreus, e seguiu-lhes o linguajar e os condicionamentos espirituais, só o fez porque é na linguagem que os homens entendem que o Cristo se há de afirmar como a vida que se deixou crucificar, mas que não cessou um segundo sequer, e reintegrou-se no túmulo, que só existiu para que os homens compreendessem que o que é vida não perece.

Por termos afastado o Amor da arca de nosso coração, Jesus escreveu a mais linda epístola de que há notícia. O Espiritismo é a nossa carta aos hebreus, que o Senhor confiou a Kardec, com emoção e ternura, porque, nele - o Consolado r prometido -, tornou a falar aos seus irmãos de raça: os filhos que negam a paternidade divina, mas que até para negá-la têm necessidade de respirar em Deus...

A arca da aliança e o Testemunho do Cristo
Boanerges / (Indalício Mendes)

Reformador (FEB) Julho 1976

Descrucifique-mo-Lo!


Consideremos a grandeza do momento que atravessamos, e que, em verdade, vem-se desdobrando em diversas etapas por que mergulhamos na transitoriedade da matéria densa. Situemo-nos, todavia, em nossa presente experiência no mundo. E quando assim falamos, referimo-nos às magnânimas oportunidades que respondem pelo cumprimento da promessa feita pelo Cristo, há quase dois mil anos: a de que Ele partiria a fim de que retomasse no Consolador, que viria por intercessão sua junto ao Pai, no momento em que nos houvéssemos esquecido dos princípios do Cristianismo.

Muito tempo se passou na nossa Terra amiga, materialização do Amor Divino, suprema concessão do Senhor de nossas vidas, perante o qual deveremos estar na posição simples de quem se reconhece no estado de mendicância espiritual. Observemos que, não fossem as esmolas vindas de Cima, e talvez não tolerássemos a pressão que se exerce como reação de nossas ações. Observemos, no trajeto que diuturnamente percorremos, as cenas de desespero humano, atestando que não poderemos ser felizes enquanto rolarem lágrimas pelas faces atônitas dos que nos cercam, e dos quais, por vezes, fugimos estarrecidos, quando não incomodados pelas aparências compungentes de que se revestem os marcados pela grande dor, que o cotidiano nos reserva.

Quanto será necessário testemunhar, meus filhos, a tolerância, quando não o amor vencendo a repulsa que os semelhantes nos despertam. Sim, despertam... pois que os semelhantes em si jamais serão motivo de repulsa, como criaturas de Deus, em erro, mas no doloroso processo de regeneração através da dor ...despertam... sim, porque a repulsa é sentimento contrário ao Amor, e, às vezes, a vaidade e o orgulho se prevalecem de falsos padrões de pureza, de meras convenções antifraternas, para destilar o veneno pestilencial nos corações imaturos.

Jesus, ao vir ao mundo, não o fez para que se regozijassem os justos, mas para que se conscientizassem os doentes, face à justiça do Céu, que não os abandonaria jamais. Onde haja a Justiça, a justificação estará, igualmente, no peito dos que a abriguem. Estes já estarão com Deus.

Jesus, meus filhos, chegou à nossa morada como Absoluto: o supremo médico, o médico das almas, dos longos, mas seguros tratamentos. O supremo advogado, aquele da grande causa comum a toda a Humanidade: a redenção pelo Amor. Chamou os coxos e os estropiados: chamou-nos, portanto. Curou, pela virtude que dele saíra, a hemorroíssa, trouxe elementos para que sanássemos as hemorragias de ódio, que nos infestam o ser. Com a filha de Jairo e o filho da viúva de Naim, ensaiou o grande final, ao retirar da catalepsia profunda o Lázaro da Betânia, enchendo de vida a Maria e a Marta.

Observemos e sintamos a grandiosidade do momento em que nos reunimos sob a brisa perfumosa do Cristo, permitam-nos insistir.

Há quanto tempo teremos esquecido a palavra do Verbo que se fez carne e habitou entre os homens? Quantas vezes teremos chicoteado a pessoa do sublime Nazareno? Quantos novos cravos teremos pregado no corpo vivo do Senhor, meus filhos? Descrucifiquemos a Vida de nossas vidas... retiremo-la da jaula de nossa ferocidade... Renunciemos aos venenos, às insinuações cheias de fel, que, cedo ou tarde, retornarão sobre nós, amargurando ainda mais nossos momentos futuros. Já há tantos dissabores, meus filhos, permitam-nos a manifestação de carinho, pois que muito vos amamos... Até onde prosseguirá nosso desrespeito não a este ou àquele, mas a nós mesmos? Não cruzemos as fronteiras do ódio, para que não tombem desastrosamente sobre nós os obuses e as saraivadas das armas que fazem a guerra fratricida. Espantemos com os aromas dúlcidos da esperança os abutres da consumição, que esvoaçam à cata de nossa carniça moral. Elevemos a Deus nosso pensamento, recordando-nos de que os minutos que passamos em contacto com o Consolador são novos segredos que aprendemos na sagrada lei do Amor, com que abriremos a porta de nossa libertação.

(Página recebida na reunião pública de 21 de novembro de 1975,
na Federação Espírita Brasileira, no Rio de Janeiro, RJ.)

Descrucifique-mo-Lo!...
Bezerra de Menezes

Reformador (FEB) Agosto 1976

segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

Estagnações na concepção religiosa



 Caravana  da "Escola Jesus-Cristo", de Campos (RJ), integrada, entre outros, por Clóvis Tavares, Salvadora Assiz e Dejanira Bastos de Souza, dirigiu-se a Pedro Leopoldo (MG), em fevereiro de 1939, com o fim de confraternizar com o médium Francisco Cândido Xavier.
               Durante os dias que passaram naquela pequena localidade, fartas luzes espirituais desceram do Alto, na forma de comunicações de Espíritos diversos, em prosa e verso, oportunamente estampadas no valioso opúsculo de trinta páginas, organizado e gratuitamente distribdo, na época, por aqueles companheiros do florescente município fluminense.
          Entre os trabalhos figurantes na publicação aludida - denominada Mensagens -, quatro indagações diretas feitas a Emmanuel tiveram dele respostas prontas, claras e persuasivas, as quais - devido às solicitações de esclarecimento que, nos dias de hoje, são ainda endereçadas aos Centros Espíritas, formuladas por pessoas influenciáveis por questões "misteriosas", "secretas" ou de cunho exótico-fenomênico - passamos a reproduzir em nossas colunas.
                                A Redação.

O Redentorismo de Luiz de Mattos

Pergunta: - "Como Emmanuel considera o Redentorismo, fundado por Luiz
de Mattos?"

Resposta:

Atendendo-se às suas variadas expressões fenomênicas, ninguém poderá contestar que essa ou aquela manifestação de ordem espiritística deixe de ser uma expressão da Doutrina, em seus numerosos aspectos de fenomenismo. O que falta, todavia, a essas numerosas correntes pessoais, no terreno das interpretações doutrinárias, é a iluminação evangélica, para que encarnados e desencarnados, que nelas cooperam, sejam conduzidos à certeza de que toda a finalidade do Espiritismo é a restauração da fé, em Jesus Cristo, pelo coração e pelo sentimento.

Toda a desgraça da civilização do Ocidente é o dizer-se cristã, sem que o seja.
Infelizmente, dentro dos arraiais da Doutrina, há muita singularidade que padece desses contra sensos.

Em tocando a superficialidade desse ou daquele fenômeno, julgam alguns dos nossos irmãos conhecer toda a Doutrina, e daí o se afirmarem espiritistas, sem apreenderem as profundas ilações de ordem moral e religiosa das revelações do plano invisível. 

Sem o necessário esclarecimento da fé e sem o concurso do sentimento evangélico, atiram-se, desprevenidos, às mais vastas experiências, sendo, muitas vezes, colhidos na rede sutil das vaidades pessoais, esquecidos de que todos os fundamentos da Verdade residem em Jesus Cristo.

Em todos os agrupamentos, porém, militam os de boa-fé e os de generosas intenções, e, desde a antigüidade, falam-nos as tradições religiosas que o Senhor poupa as cidades transviadas do mundo pelos justos que elas possuem. E, também, o Mestre recomendou que se deixasse crescer, juntos, o trigo de seus ensinamentos e o joio dos homens, na seara vasta do mundo, porquanto Ele há de julgar e escolher o bom grão na época da ceifa.

Assim, pois, trabalhemos na edificação das almas, confiados na misericórdia do Cristo, cientes de que todas as correntes de pensamento que não se coadunem com as verdades de sua lição divina, transformar-se-ão, mais tarde, ou cairão por si mesmas, sem que o Divino Mestre, para destruí-Ias, necessite dos penosos processos de agressividade do mundo.

As Igrejas protestantes da atualidade

Pergunta: -- "Como encara Emmanuel as Igrejas Protestantes da época atual?"

Resposta:

Todas as dificuldades espirituais das Igrejas Protestantes, na atualidade, são filhas da herança dogmática, guardada pela Reforma, quando de sua libertação da tutela arbitrária da Igreja de Roma.

Além disso, a união de algumas de suas forças mais poderosas com a política dos Estados do mundo, à maneira da instituição romana, corta-lhes as radiosas possibilidades de enriquecer os seus patrimônios espirituais.

o fossem essas circunstâncias constrangedoras e os seus postulados teriam beneficiado, sobremaneira, os corações, caminhando com a evolução do pensamento para a fé raciocinada, dentro do Evangelho em espírito e verdade, sem o penoso cárcere da letra.

Mas, é lícito esperarmos por melhores dias. Virá o momento em que todas as seitas religiosas hão de reconhecer que o Espiritismo Cristão é a dádiva celeste que lhes envia Jesus, a fim de que as suas expressões mais generosas não pereçam no naufrágio da desorientação dogmática, considerando-se que todas as estagnações da concepção religiosa terão de desaparecer, em futuro próximo, com a evolução do pensamento do mundo.

As Assembléias Pentecostais

Pergunta: - "Que acha Emmanuel das Assembléias Pentecostais, que se dizem
visitadas pelo Espírito Santo?"

Resposta:

Nos pródromos de todas as organizações religiosas há o ascendente místico da influenciação dos poderes ocultos do plano espiritual. Toda essa influenciação do Alto é de natureza divina, mas, a palavra do céu, como o orvalho, mistura-se com o elemento que a recebe, sobre a face do mundo. Sobre o diamante puro, o rocio do firmamento se conservará sempre puro, mas, de um modo geral, a gota de orvalho descansa sobre outros elementos do solo, misturando-se, compulsoriamente, aos defeitos da terra em que caiu. Os organizadores das Assembléias Pentecostais receberam a intuição divina das relações entre a Terra e o plano espiritual, mas, não souberam compreender os apelos do Alto, consubstanciados, então, de maneira simples e edificante, na Doutrina Espiritista, à luz do Evangelho.

O Esoterismo

Pergunta: - "Como considera Emmanuel o Esoterismo?"

Resposta:

O Esoterismo, como vasto movimento de educação espiritualista, é um louvável esforço da mentalidade humana para apreender a ciência espiritual, na sua complexidade e no seu transcendentalismo, mas, todo estudioso deve ter o cuidado preciso quando algumas de suas escolas pleiteiam o talismã do poder e da felicidade sobre a Terra.

             Todo poder que não vem do amor e do bem é um novo agravo de responsabilidades para as criaturas que o detêm, e toda felicidade que não descansa sobre a felicidade dos outros é um filtro venenoso que pode enganar os menos avisados de entendimento.

            É por isso que acima de todas as escolas espiritualistas colocamos o Evangelho de Jesus Cristo. Ele é o sopro que vivifica e renova todas as abençoadas revelações das grandes almas. Representando uma estrada para o Espiritismo Cristão, o Esoterismo será igualmente convocado para o Caminho, para a Verdade e para a Vida, em Jesus, quando todos os seus órgãos de expressão compreenderem que, enquanto a maioria de suas escolas prepara os homens para os poderes terrestres, o Consolador edifica todos os corações do mundo para esta vida e para a outra, que se desdobra, com a lei das compensações, nas luzes do Infinito.

Estagnações da concepção religiosa
Redação

Reformador (FEB) Junho 1976

Ecos do Apocalípse


Não vemos nós o fragor das batalhas que se travam nos campos terrestres? As nações que se digladiam, se entrechocam, perdendo a respeitabilidade, a noção de dignidade, de glória no dever cumprido com lealdade?            
Não vemos os caminhos terrestres lavados de lágrimas, lágrimas que queimam porque partem dos corações feridos que não encontram no mundo senão o peso da dor, o sofrimento da cruz?!
Não vemos as crianças atônitas, perdidas nos desvãos dos caminhos, como cães escorraçados no fragor de uma batalha que não cessa, que explode em todos os recantos do planeta?
Onde a paz, onde o amor, onde a quietude da prece? Onde o amor imutável e a caridade do céu a florir os corações?
Espíritas, ouvimos, em verdade, na bênção de uma nação sagrada, os ecos do Apocalipse, que tonteiam, maltratam, ferem e sangram o planeta, impiedosamente.
Espíritas, convocados ao serviço dinâmico do bem, da tarefa cristã, dos trabalhos regeneradores com o Cristo de Deus, estejamos a postos não apenas nos minutos de lazer, mas a todos os instantes, pela exemplificação, pela prática sistemática do bem, pelo zelo da Doutrina...
A luta não se trava somente além-mar, nos continentes diversos; mesmo no Coração do Mundo os reflexos se fazem sentir, com força inimaginável, isto porque nem todos estão preparados para os embates que prosseguem, nem todos sabem conquistar a serenidade do cristão como escudo real de defesa preciosa.
Lutamos, céus e Terra, Espíritos encarnados e desencarnados, uns buscando o incentivo do mal, outros procurando servir com o Cristo nas hostes organizadas do bem. A dor não atinge somente os doentes do corpo somático, mas alcança também os corações que se confrangem sob as lágrimas rubras do sofrimento...
Caim desembainha sua espada, e a Terra freme sob o impacto da batalha! Todavia, o Cristo é o sol a brilhar no Infinito, a comandar seus tutelados, a transmitir suas bênçãos de socorro a todo o orbe terrestre.
A Esperança Divina não desfalece, os soldados do bem postam-se vigilantes, mas o Sublime Comandante espera daqueles que muito têm recebido a confiança plena, o zelo puro, a tarefa cumprida.
Espíritas, busquemos o entendimento através dos estudos, a paz através da vigilância; estejamos em prece constante, como defesa.
O Cristo, nosso sol, nossa esperança e nossa luz, está conosco. Façamos do Coração do Mundo a pátria santificada pelo amor ao próximo, pelo amor verdadeiro, pela dignidade espiritual.
Hoje, amanhã e sempre o Mestre estará conosco, porque Ele é o Senhor.
No momento, apenas ouvimos os ecos do Apocalipse; preparemos nossa defesa moral, aprestemo-nos para servir, prosseguindo com o Cristo.
Que Ele nos abençoe e fortaleça.

Ecos do Apocalípse
Bezerra de Menezes
por    Mª Cecília Paiva

Reformador (FEB) Junho 1973