‘Do
mercantilismo religioso- 2’
por Hermínio
C. Miranda
trechos de artigo
publicado sob título
‘Não tenho prata
nem ouro...’ in Reformador (FEB) Maio
1976
“Qualquer artifício, ..., para
extrair proveito de faculdades mediúnicas ou da pregação da palavra
esclarecedora, tem a condenação formal do Mestre e Senhor, reiterada através de
seus emissários de confiança, como Kardec e sua equipe.
Não desconhecemos os sofismas
aparentemente muito hábeis. Há os que dizem:
... Mas os médiuns precisam viver
...
É certo; vivam, porém, de suas
atividades profissionais. Se o salário é pequeno é porque a lei exige de nós o
reajuste na pobreza. Poderemos lutar pela conquista de melhores situações, pois
é legítimo o esforço pela realização pessoal, mas não viver da mediunidade
remunerada, nem complementar os rendimentos com o passe pago, ou a mensagem
psicofônica a tanto por hora.
Quem tentar esses recursos acaba
enfrentando inesperadas e dolorosas decepções. A mais comum destas é a súbita
perda da mediunidade. Se o médium habituou-se a usufruir os proventos
resultantes do exercício de suas faculdades, sincronizou também seus
compromissos financeiros àquela renda e, sem coragem para recuar no atendimento
de suas
necessidades materiais, entrega-se, com frequência, à fraude e acaba ficando à
mercê de seus adversários das sombras.
Felizmente, o Espiritismo no Brasil
adotou, quanto a esse aspecto doutrinário, posição firme, inflexível mesmo, não
admitindo remuneração de espécie alguma, não apenas no exercício da
mediunidade, como nos postos de direção de grupamentos espíritas, ou quanto a
direitos autorais de trabalhos doutrinários. O escritor espírita não é pago
pelos seus artigos, nem pelas seus livros ou palestras, sob qualquer forma. A
tarefa que cabe a cada um de nós, das mais humildes às mais destacadas no seio
do movimento, é oportunidade que nos foi concedida pelos nossos mentores e não
posições para brilharmos, muito menos, ainda, empregos que nos garantam o
sustento material.
Essa posição tem de ser
continuamente reiterada, insistentemente repetida, intransigentemente
defendida, sem concessões, sem exceções, sem tibiezas, porque, por mais que
pareça secundária, é vital à preservação da pureza doutrinária. Então não
sabemos que foi o vírus da cupidez que destroçou as instituições religiosas do
passado? Tais organizações não precisavam ter sido abandonadas à sua própria
sorte e praticamente neutralizadas, quando não destruídas, para darem lugar a
outras, se tivessem conseguido manter-se limpas- da cobiça. Como a revelação da
verdade é progressiva, dosada segundo a nossa capacidade de absorção, ela vem
sempre por etapas, em patamares, como degraus de uma escada infinita que se
projeta para a Alto. Não destruímos o primeiro degrau quando passamos para o
segundo. Pelo menos, não seria necessário fazê-lo, se o primeiro não estivesse
corrupto e apodrecido. Se isto acontecer, e se não for possível recuperá-lo e
restaurá-lo, não resta alternativa senão deixá-lo desintegrar-se, por melhores
serviços que tenha prestado. Estejamos certos, porém, de que o germe da
deterioração tem sido, no passado, a tenebrosa
resultante da inconcebível mercantilização da fraternidade universal. Se,
como disse Kardec, Deus não vende a sua bênção nem o seu perdão, por que
haveremos de vender perdões que não temos o direito de distribuir e bênçãos que apenas
partilhamos em nome d’Ele?”
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