Há cerca de 150 anos, um pouco antes
do aparecimento de Espíritos às irmãs Fox, na América do Norte e dez anos antes
de Kardec ouvir falar em fenômenos espíritas, já existia no Brasil um escritor,
dos mais notáveis, que pregava em seus livros muitos dos ensinamentos que, só
mais tarde, foram transmitidos ao Codificador, através de mensagens recebidas
por vários médiuns.
Isto vem confirmar que o Consolador
soprava em todos os recantos da Terra, os mesmos ensinos que deveriam ficar
codificados pelo missionário que surgiu no maior centro de civilização do
século XIX.
Esse escritor brasileiro,
desencarnado no Rio de Janeiro exatamente no ano em que surgiram os fenômenos
das irmãs Fox, publicou a sua obra e a distribuiu gratuitamente em
várias e sucessivas tiragens.
Além de escritor, era poeta o nosso
patrício, espírito lúcido, conceituoso e perspicaz, doutor em Filosofia e em
Matemática pela Universidade de Coimbra. Foi ministro da Fazenda,
senador pelo Distrito Federal, Conselheiro de Estado, membro do Instituto
Brasileiro, grã-cruz da Ordem do Cruzeiro, cavaleiro da de Cristo,
administrador da
Imprensa
Régia, membro da Junta de Comércio e membro da Constituinte do Império.
Leiamos alguns dos seus pensamentos:
2695 - Mundos haverá
onde criaturas privilegiadas tenham olhos telescópicos para descobrir o que se
passa em outros orbes mais vizinhos.
2925 - Não podemos
conceber um mundo diverso deste em que vivemos; contudo, são inumeráveis os que
existem inteiramente diferentes: uma variedade ilimitada caracteriza a infinita
sabedoria do Ser eterno e incompreensível que os criou.
3787 - Se não existem
habitantes nos planetas de Júpiter, Saturno e Herschel (Astrônomo inglês
que descobriu Urano, assim como duas de suas luas (Titania e Oberon). Também
descobriu duas luas de Saturno - Wikipedia) , para que servem ao primeiro quatro
satélites ou luas, ao segundo sete, e ao terceiro seis? Uma iluminação lunar
sem viventes que a gozem, é fato fenomenal inexplicável.
4074
- "Vires acquirit eundo", diz-se de um rio, outro tanto se pode dizer
dos espíritos, na sua eterna viagem por mundos inumeráveis, com variados corpos
adaptados a seus diversos sistemas.
Do Princípio Vital:
2704 - Os espíritos ou
átomos indivisíveis e imortais preexistem à sua união com os corpos
organizados; antes dela não tem consciência da sua existência, nem podem ter o exercício
das faculdades sensíveis e intelectuais que os distinguem, e só podem ser
provocadas pela ação do mundo externo sobre os órgãos, sentidos e contextura
dos corpos a que são unidos.
2707 - Quando os
espíritos ou átomos indivisíveis se unem e se condensam, então se materializam,
ganham extensão, forma, figura e densidade, e tomam-se capazes de localidade,
ação e movimento.
Formação dos Mundos:
2778 - Os mundos, como
os homens, são também mortais.
2941- Os mundos e
sistemas solares concebidos na divina mente e realizados pela onipotência do
Ser Supremo tem, como as sementes vegetais e os ovos animais, um
desenvolvimento
lento, mas progressivo e variado, até chagarem por muitos e inumeráveis
milênios àquele grau de madureza e plenitude, em que, dissolvendo-se, se
resolvem nas substâncias elementares de que foram formados, e que servirão de
materiais para novas formações, futuros mundos, sistemas solares.
Pluralidade dos Mundos:
2681 - Os homens
enganam-se com a ideia de um progresso material e intelectual que esperam neste
mundo, e que só pode verificar-se em outros e outras vidas.
2691 - Pode haver e é
provável que haja nos outros sistemas e mundos criaturas vivas, que, não sendo
impassíveis pela sua organização corporal, se tomem tais pela sua superior inteligência.
2707 - Quando os
espíritos ou átomos indivisíveis se unem e se condensam, então se materializam,
ganham extensão, forma, figura e densidade, e tomam-se capazes de localidade,
ação e movimento.
Dos Espíritos.
3135 - O material e
sensual é o invólucro ou estojo do racional e espiritual: o Espírito é a
substância ativa e inteligente, o corpo o instrumento ou maquinismo executor e
condutor da sua ação e inteligência.
3850 - Os Espíritos são
átomos indivisíveis que se tomam viventes, sensíveis e inteligentes, colocados
em certos pontos distintos e centrais dos corpos organizados destinados a servir-lhes
de meio de comunicação com o Universo externo e material, e a provocar deste
modo o exercício das suas faculdades naturais, sensíveis e intelectuais.
3863 - Os homens não
tem nem podem formar ideia de substâncias imateriais. As almas e Espíritos são
considerados por eles como entidades corporais perceptíveis aos sentidos com
forma, figura e lugar no espaço, capazes de ação e reação e, quando muito, os
reputam de uma substância mais sutil e menos densa que a dos corpos viventes no
mundo.
Do Perispírito.
2493 - O que não tem
extensão não pode ter mobilidade, nem localidade; os Espíritos são incapazes de
movimento e lugar sem os corpos organizados que os habilitam para isso.
2544 - As entidades
espirituais não podem existir sem corpos organizados que se põem em relação com
o Universo material; do que observamos neste mundo podemos inferir o que se
passa nos outros globos.
2578 - De que nos
serviria a outra vida se o nosso Espírito não conservasse o cabedal de ideias e
conhecimentos que adquiriu na primeira, e perdesse a memória da sua identidade individual
e intelectual?
2680 - Na existência
neste mundo não podemos duvidar da necessidade de um corpo unido à substância a
que chamamos alma. Poderá esta existir sem ele nos outros mundos e I
sistemas?
Da Matéria.
4140 - Não sabemos o
que seja a matéria em abstrato e em substância; só a conhecemos em sua forma
concreta, figurada e fenomenal, sendo por isso perceptível aos nossos sentidos
corporais e capaz de ser idealizada com representações correspondentes aos
objetos materiais que fizeram impressão sobre nós.
Da
Reencarnação.
2656 - A categoria da
nossa existência nas vidas futuras será correspondente ao nosso bom ou mau
procedimento nas antecedentes.
2709 - As noções
sublimes de uma outra vida, e de um progresso intelectual ilimitado, não foram
outorgadas pela divindade da nossa ilusão; se o gênero humano crê e espera semelhantes
bens, é porque tais crenças e esperanças lhe foram sugeridas por Deus, que não
se engana nem pode ser enganado.
4002 - Devemos
congratular-nos de saber que ignoramos infinito; teremos de aprender
eternamente, com variados corpos, em inumeráveis mundos.
Da Emancipação da Alma.
2924 - A faculdade de
sonhar, dormindo, é um argumento poderoso de que existe em nós um princípio ou
unidade sensível e inteligente, que, unida ao nosso corpo, o dirige e administra
no exercício e processo da vida humana .
3081 - Sonhei que
admirando a Lua cheia na plenitude da sua luz reflexa, surgia em mim o desejo
ardente de a visitar e conhecer de perto, quando uma voz sonora, mas de objeto
não distinto, retiniu aos meus ouvidos: - "Pobre criatura! A tua
ignorância se desculpa; sabe que cada um dos mundos da imensidade tem um
sistema e construção especial; que os seus habitantes não podem existir em
algum outro que não seja aquele para que foram organizados. O teu Espírito tem
de habitar e admirar inumeráveis orbes pela sucessão dos tempos e progresso da
eternidade, mas somente com corpos privativos e adaptados ao sistema de cada um
deles. A sabedoria do Onipotente, sendo infinita, a variedade das suas obras
é ilimitada, tudo o que ideou e produz na imensidade do Espaço é original e sem
cópia." Calou-se, e acordei assombrado com esta inesperada e portentosa
revelação.
Do
Progresso dos Espíritos.
927 - Sem a crença em
uma vida futura, a presente seria inexplicável.
1611 - Os modernos
progressistas são apoucados na sua doutrina do progresso quando o limitam a
esta vida mortal.
3134 - As noções do Infinito,
eternidade e Imensidade, da Imortalidade da alma e de uma vida futura com as
transcendentes da Infinita sabedoria, poder e bondade de Deus, autor e criador
de tudo, provam demonstrativamente que a nossa vida não se limita à curta
existência neste mundo, mas que terá de prolongar-se pela eternidade com
variados corpos em inumeráveis mundos, crescendo a nossa inteligência
progressivamente em ciência, virtude, amor, gratidão e admiração de Deus, e,
consequentemente, em uma bem-aventurança tal, que não é possível qualificar nem
compreender. A inteligência humana é muito superior e transcendente à vida
animal e temporária deste mundo terreal, e, portanto, nos anuncia altos e
sublimes destinos, depois dele, em muitos outros subsequentes e inumeráveis.
4011 - A bem aventurança
eterna deve ser uma felicidade progressiva, ilimitada e insaturável; não como a
temporal, limitada e alternada com males.
Das
Desigualdades Sociais.
2673 - Sem extensão não
pode haver desigualdade; os Espíritos são perfeitamente iguais por sua natureza
imaterial; a variedade em suas faculdades e potências depende da diversidade
dos corpos organizados a que estão unidos, os quais promovem ou limitam a sua
expansão e exercício.
2877 - É questão
curiosa, se renascendo para uma segunda vida não seríamos os mesmos que fomos,
concorrendo em tudo as mesmas circunstâncias, condições e acidentes da primeira:
a afirmativa parece provável com ressaibos de fatalismo.
Da
Desencarnação.
782 - Um casulo é o
túmulo de uma lagarta e o berço de uma borboleta; também a morte para o homem é
o princípio de uma nova e melhor vida.
Das
Provações.
2485
- Quando estamos profundamente convencidos da Infinita sabedoria, bondade e
justiça de Deus, agradecemo-lhe os mesmos males e dores que nos afligem e
atormentam na presente vida.
2487 - Subi a Deus na
vossa ventura; Ele descerá a vós na vossa desgraça.
4007 - Não só os bens
provém de Deus, mas também os males, como ocasião e instrumentos de Deus.
4057 - Confundimos
muitas vezes o bem com o mal, porque um e outro ocasionam ordinariamente o seu
contrário.
Dos
Céus e Moradas do Pai.
2597 - São inumeráveis
os céus, cada mundo tem o seu privativo, abrilhantado também de estrelas
colocadas ou esparzidas por diverso modo do que se nos representa o que avistamos.
Das
Religiões dos Homens.
2407 - A intolerância
religiosa é uma censura ou condenação da Divindade pela sua tolerância
universal.
2728 - Em matéria de
religião deve crer-se tudo o que é compatível com ideia ou noção de um Deus
eterno, imenso, infinitamente sábio, poderoso, bom, justo e providente, e rejeitar
quanto for oposto ou repugnante com estes seus divinos atributos.
Sobre
Certos Dogmas.
2122 - Em matéria de
religião, a força pode fazer hipócritas, mas nunca verdadeiros crentes.
2297 - Quando os homens
personalizaram os atributos da Divindade, criaram o politeísmo.
2650 - Entidades
fabulosas, umas boas, outras malignas, incorporadas nas crenças e cultos
religiosos antigos e modernos, foram sempre criaturas da imaginação, ignorância
e impostura humana: a razão e a Natureza debalde as reprovam e recusam, a
credulidade dos homens é mais poderosa do que elas ambas.
4157 - O temor difere
muito do medo: teme-se a justiça de Deus, Criador e Benfeitor do gênero humano;
mas tem-se medo do que é mal, cruel, maligno, mal intencionado e mal-
fazente,
como os homens imaginam e qualificam a satanás ou o diabo.
A edição da obra a que nos
referimos, e de onde extraímos as reflexões acima enumeradas, data de 1896,
publicada pela Livraria Alves. Há edições anteriores, de 1844
e
1846, e uma outra, recentíssima, de 1940.
Tal como disseram os Espíritos a
Kardec, o autor anunciou no final do seu livro o seguinte:
"Comigo levo à cova muitas ideias,
para que não supus madura a geração atual, porque também para as ideias a
questão de oportunidade é vital; perdem-se por
temporãs,
como serôdias; o ponto é conhecer a terra onde a semente é lançada. Todavia, os
homens superiores que me lerem me compreenderão sem dúvida; e quando a roda dos
tempos
houver volvido mais um ou dois séculos, tornar-se-ão axiomas os princípios que
hoje a minha própria censura proscreve da publicidade."
E como o leitor desse estudo deve
estar ansioso por saber o título do livro e o nome de autor de tão precioso
trabalho, informamo-lo de que essa obra, realmente notável,
foi
escrita pelo Sr. Marquês de Maricá, sob o título de "Máximas, Pensamentos
e Reflexões".
A Revelação Divina é progressiva e
de acordo com a capacidade de assimilação de cada homem e de cada época, já
dizia Kardec. Continuemos à espera da bondade do Criador e, aos poucos, novos
conhecimentos nos irão sendo revelados. Como se vê, o Marquês de Maricá, do mesmo modo que J.-B. Roustaing e muitos outros, pertence ao Grupo de grandes
Espíritos enviados por Deus à Terra para colaborar com Allan Kardec. Uns vieram
um pouco antes, outros ao mesmo tempo, e muitos continuam vindo depois do
Mestre.
Nota: Reformador (FEB) em Julho 1978
comenta sobre o livro "Falando à Terra", recebido por Chico Xavier
por volta de 1951 que contém mensagem sob o título "Reflexões" ditada
pelo espírito Mariano José Pereira da
Fonseca que foi o Marquês de Maricá, desencarnado em 1848.
Em 1844
por Mínimus *
Reformador (FEB) Setembro 1944
* O ex presidente da FEB - A.
Wantuil de Freitas
utilizou esse pseudônimo em muitos
de seus escritos.
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