Indalício Mendes
Reformador (FEB) Janeiro 1957
Em qualquer atividade humana, é
imprescindível o método de trabalho, a anotação dos resultados conseguidos, das
falhas ocorridas, apesar das previsões feitas, e a análise rigorosa das
observações positivas, neutras e negativas. Assim, fácil se tornará estabelecer
uma comparação que nos elucide acerca do grau de aproveitamento do esforço
empregado e permita pesquisar as causas da esterilidade desse esforço e das
modificações havidas no curso das tarefas.
Dentro do Espiritismo, mais do que
em qualquer outro setor, esses cuidados são indispensáveis. Deve haver método
no trabalho dos médiuns, nas atividades coletivas dos grupamentos espíritas, na
distribuição dos encargos, enfim, em todo e qualquer dos diferentes e múltiplos
campos de ação. Rigor nos trabalhos e, sobretudo, rigor nas observações de
quanto neles se passa. Não devemos esperar que os nossos encarniçados
adversários nos indiquem os meios de controle a efetuar nas sessões mediúnicas.
Pelo contrário,
temos de ser os primeiros a nos cercar de todas as cautelas e de exercer a mais
severa vigilância, porque não nos interessou jamais nem nos interessa senão a
realidade espírita. Desde que a ela nos dediquemos devotadamente, com a maior
sinceridade e o mais exigente escrúpulo, estaremos com a consciência tranquila
diante dos negadores impenitentes, dos que reclamam provas sobre provas, dos
que nos atribuem comércio com
entidades diabólicas (?) e nos assacam injúrias pesadas e nos cobrem de
mentiras soezes e ridículas. Na verdade, não nos interessa perder tempo com
essa gente, que persiste no erro e nega a existência da luz, porque permanece
de olhos fechados. O Espiritismo não força ninguém a aceitá-lo, não se impõe
cegamente a quem quer que seja, não ilude nem faz proselitismo. Aqueles que o
aceitaram e o seguem, podem testemunhar como se tornaram espíritas, porque
aceitaram a Doutrina de Kardec, quais os motivos que os levaram a renunciar a
antigos e falidos credos, para se iniciarem no estudo do Espiritismo
e em sua prática, usufruindo o bem-estar físico e moral decorrente da
compreensão legítima da vida terrena e dos motivos das lutas e provações, dos
desenganos e dos sofrimentos que marcam o itinerário humano.
O Espiritismo nada pode fazer em
favor de religiões que hoje se encontram em irremediável decadência, sem
autoridade moral nem amparo espiritual. Elas falharam à sua missão e respondem
pelas consequências, segundo a Lei de Causa e Efeito ou Lei de Ação e Reação.
Aos médiuns cabe importantíssimo
papel no movimento espírita. Mas eles somente desempenharão bem o seu trabalho,
se se mantiverem fiéis aos ensinamentos de Allan Kardec, evitando tudo quanto
possa concorrer para o enfraquecimento de seu caráter e de sua mediunidade.
Nada mais perigoso para o médium do que a vaidade. Ele precisa não esquecer
jamais que não é um semideus, mas um homem e justamente um homem (ou mulher,
conforme o caso) com responsabilidade determinada pelo mediunismo que possui.
Não deve supor que ser médium é trazer uma missão à Terra. Ser médium é trazer
maior responsabilidade, porque, além da responsabilidade natural que o ser
encarnado tem em face do mundo físico e do mundo espiritual, o médium tem esta
outra responsabilidade, grave e, portanto, digna da melhor consideração: o
exercício dos dons mediúnicos de
forma
a satisfazer a compromissos assumidos no plano invisível, antes de retomar à
peregrinação carnal.
A responsabilidade do médium,
consequentemente, é extraordinária. E justamente porque tem mediunidade, deve estar vigilante, por
isso que em seu derredor fervilham as seduções, a possibilidade de queda está
sempre presente e sua exemplificação responde por seu futuro na Terra e no
Espaço.
Muitos médiuns se queixam da
morosidade com que se desenvolvem. Outros, apressados, põem-se a assumir
responsabilidades de trabalhos para os quais ainda não se encontram
amadurecidos. Muitas vezes, o vagar resulta justamente da falta de trabalho
metódico, da orientação imperfeita, da invigilância, da ausência de
autocontrole, não apenas nos momentos em que os médiuns atuam nas instituições
espíritas, mas fora delas também, na vida comum de relação, campo mais amplo e
mais perigoso para as experiências da reencarnação.
Na vida profana é que o médium passa
pelos "tests" mais positivos e definitivos. Sua maneira de agir, de
se comportar diante dos semelhantes, das reações que oferece nos momentos
críticos e dramáticos, traça o nível da sua personalidade mediúnica, ou, melhor
dizendo, traça o nível da sua personalidade espiritual em face de seus deveres
mediúnicos, porque o médium não deixa de o ser quando ausente do exercício dos
trabalhos de mediunidade. Ele é médium sempre e por isto precisa estar atento
em todos os momentos de sua existência. Quando afirmamos que "ele é médium
sempre" não estamos dizendo que o médium conserva indefinidade sua
capacidade mediúnica, porque a mediunidade pode
falhar, pode oferecer aspectos de intermitência e, em casos tais, às vezes até
o próprio médium é iludido quando toma e confunde animismo com mediunismo. Isto
é assunto que se encontra bem debatido em "O Livro dos Médiuns", de
Allan Kardec.
Supor que a condição de médium possa
dissociar-se da condição de criatura humana sujeita a constantes provas, desde
que se levanta, pela manhã, até que se recolhe ao leito, à noite, é outro erro
em que incidem muitos médiuns. Já o dissemos que o indivíduo provadamente
dotado de mediunidade está mais exposto a provas do que aquele que não é médium
ou possui a mediunidade ainda em estado latente. Vale repetir: médium não o é
apenas quando se concentra e realiza os deveres medi únicos; o mundo profano
influi poderosamente na sua constituição moral, afeta a sua personalidade
espiritual, interessa sobremaneira
à sua organização material e, tudo isso junto, repercute profundamente em sua
posição mediúnica. Daí a necessidade de vigilância permanente. Os maiores
perigos não deve o médium procurá-los longe de si, mas em si mesmo. Torna-se,
pois, evidente a importância fundamental do respeito e da exemplificação
cotidiana do Evangelho e da Doutrina Espírita, numa palavra, de "O
Evangelho segundo o Espiritismo", o Livro Branco da Terceira Revelação.
A vida do médium é solidária com o
meio ambiente terreno em que se desenvolve e - reflitam bem - com o meio
ambiente espiritual, porque sua função mediúnica conserva-o ligado a entidades
invisíveis.
São enormes e progressivas as
responsabilidades do médium. Mas, pela observância fiel dos princípios
doutrinários e evangélicos, poderá ele, entretanto, resguardar-se e dominar os
perigos que o rodeiam.
A Vida Solidária do
Médium
Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Junho 1957
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