Dor:
lei de equilíbrio e educação
Sylvio
Brito Soares
Reformador (FEB) Maio 1971
A dor é o constante
espantalho da Humanidade. Ninguém com ela se conforma. Não há neste mundo quem
não a tenha sentido física ou moralmente.
O certo é que, através dos tempos,
por cima dos séculos, "rola a triste melopéia dos
sofrimentos
humanos".
A dor, queiram ou não, segue,
obstinadamente, todos os nossos passos. E, no entanto, o amor é a lei do
Universo, e por amor foi que Deus formou os seres.
Neste caso, é lógico e curial que o
homem pergunte por que existe a dor.
Nenhuma religião conseguirá dar uma
explicação aceitável, principalmente no que concerne
à sua distribuição, que a todos se afigura discricionária.
E que diz a Doutrina Kardequiana a esse
respeito?
Diz pura e simplesmente que a dor é
uma lei de equilíbrio e educação.
Sem dúvida, as falhas do passado,
isto é, de nossas existências pretéritas, recaem sobre
nós com todo o seu peso e determinam as condições de nosso destino.
Léon Denis, cuja vida lhe foi
pródiga de sofrimento, disse, no entanto, que ele não é
muitas vezes mais do que a repercussão das violações da ordem eterna; mas,
sendo partilha
de todos, deve ser considerado como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento,
condição de progresso. Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele.
Sua ação é benfazeja para quem sabe compreendê-lo; mas somente podem
compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos.
O notável poeta francês Alfred de
Musset, após a ruptura havida entre ele e
George
Sand, em Veneza, regressou só, para Paris, em abril de 1834. Durante algum
tempo sofreu
amargamente esse isolamento, o qual, no entanto, fez que se tornasse o grande poeta
que todos nós conhecemos.
Alfred de Musset, com essa separação
de George Sand, compreendeu o real papel que
o sofrimento representa em nossas vidas: e então, inspiradamente, cantou:
L'homme est un apprendi, la douleur est son
maitre,
Et nul ne se connait, tant qu'il n'a pas
souffert.
E Guerra Junqueiro, outro sensitivo
e também inspirado, afirmou, pleno de
convicção, que a dor eleva, a dor exalta, a dor diviniza!
Quem, todavia, melhor nos poderia
dizer, com conhecimento de causa, senão os nossos
irmãos que já se encontram libertos das gangas carnais?
Ouçamos, por exemplo, o testemunho
do Espirito da poetisa muito querida Carmen Cinira, em seu "Poema da Dor”,
do qual extraímos estes versos:
Enquanto
não se sofre e vai-se andando
Pela
vida
Como
que a esmo,
Olhando
tudo e nada penetrando
A
alma é um lago de ignotas profundezas ...
Só
depois, à medida
Que
sentimos ferido o coração,
A
Dor (sempre tão mal compreendida.)
Tal
como linda e legendária fada
Nos
descobre os tesouros , e as belezas
Com
a sua varinha de condão...
E
refletindo as coisas fielmente
A
alma torna-se um laço transparente...
E para mais reforçar o conceito de
que a dor bem compreendida é luz para o coração, vamos
apresentar outro testemunho, o do Espírito Cruz e Souza, cuja permanência aqui
na Terra foi um sofrer constante e, não obstante, lá da Espiritualidade, nos
enviou um hino à Dor, do qual separamos estes versos:
Dor,
és tu que resgatas, que redimes
Os
grandes réus, os míseros culpados,
Os
calcetas dos erros, dos pecados,
Que
surgem do pretérito de crimes.
.....................................................
Bendita
seja a hora em que me pus à espera
De
ser, em vez de réprobo que eu era,
O
missionário dessa Dor suprema! .
Realmente,
como bem disse o Espírito Emmanuel, só a dor nos ensina a ser humanos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário