domingo, 19 de abril de 2015

Dor: lei de equilíbrio e educação

Dor: 
lei de equilíbrio e educação

Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Maio 1971

                        A dor é o constante espantalho da Humanidade. Ninguém com ela se conforma. Não há neste mundo quem não a tenha sentido física ou moralmente.

            O certo é que, através dos tempos, por cima dos séculos, "rola a triste melopéia dos
sofrimentos humanos".

            A dor, queiram ou não, segue, obstinadamente, todos os nossos passos. E, no entanto, o amor é a lei do Universo, e por amor foi que Deus formou os seres.

            Neste caso, é lógico e curial que o homem pergunte por que existe a dor.

            Nenhuma religião conseguirá dar uma explicação aceitável, principalmente no que concerne à sua distribuição, que a todos se afigura discricionária.

            E que diz a Doutrina Kardequiana a esse respeito?

            Diz pura e simplesmente que a dor é uma lei de equilíbrio e educação.

            Sem dúvida, as falhas do passado, isto é, de nossas existências pretéritas, recaem sobre nós com todo o seu peso e determinam as condições de nosso destino.

            Léon Denis, cuja vida lhe foi pródiga de sofrimento, disse, no entanto, que ele não é muitas vezes mais do que a repercussão das violações da ordem eterna; mas, sendo partilha de todos, deve ser considerado como necessidade de ordem geral, como agente de desenvolvimento, condição de progresso. Todos os seres têm de, por sua vez, passar por ele. Sua ação é benfazeja para quem sabe compreendê-lo; mas somente podem compreendê-lo aqueles que lhe sentiram os poderosos efeitos.

            O notável poeta francês Alfred de Musset, após a ruptura havida entre ele e
George Sand, em Veneza, regressou só, para Paris, em abril de 1834. Durante algum tempo sofreu amargamente esse isolamento, o qual, no entanto, fez que se tornasse o grande poeta que todos nós conhecemos.

            Alfred de Musset, com essa separação de George Sand, compreendeu o real papel que o sofrimento representa em nossas vidas: e então, inspiradamente, cantou:

L'homme est un apprendi, la douleur est son
maitre,
Et nul ne se connait, tant qu'il n'a pas
souffert.

            E Guerra Junqueiro, outro sensitivo e também inspirado, afirmou,  pleno de convicção, que a dor eleva, a dor exalta, a dor diviniza!

            Quem, todavia, melhor nos poderia dizer, com conhecimento de causa, senão os nossos irmãos que já se encontram libertos das gangas carnais?

            Ouçamos, por exemplo, o testemunho do Espirito da poetisa muito querida Carmen Cinira, em seu "Poema da Dor”, do qual extraímos estes versos:

Enquanto não se sofre e vai-se andando
Pela vida
Como que a esmo,
Olhando tudo e nada penetrando
A alma é um lago de ignotas profundezas ...

Só depois, à medida
Que sentimos ferido o coração,
A Dor (sempre tão mal compreendida.)
Tal como linda e legendária fada
Nos descobre os tesouros , e as belezas
Com a sua varinha de condão...
E refletindo as coisas fielmente
A alma torna-se um laço transparente...

            E para mais reforçar o conceito de que a dor bem compreendida é luz para o coração, vamos apresentar outro testemunho, o do Espírito Cruz e Souza, cuja permanência aqui na Terra foi um sofrer constante e, não obstante, lá da Espiritualidade, nos enviou um hino à Dor, do qual separamos estes versos:

Dor, és tu que resgatas, que redimes
Os grandes réus, os míseros culpados,
Os calcetas dos erros, dos pecados,
Que surgem do pretérito de crimes.
.....................................................
Bendita seja a hora em que me pus à espera
De ser, em vez de réprobo que eu era,
O missionário dessa Dor suprema! .

Realmente, como bem disse o Espírito Emmanuel, só a dor nos ensina a ser humanos.  


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